quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Limites entre a imparcialidade e o ser torcedor - Cobertura da participação do Internacional no Mundial de Clubes FIFA

O futebol é considerado a grande paixão nacional por muitos brasileiros, e a maioria deles tem um time pelo qual se demonstra maior afeto e predileção. E quando um jornalista, que precisa ser ético e imparcial, possui uma paixão declarada por certo clube? E quando este time ganha ou perde um jogo importante na temporada? Como lidar com o ser torcedor, sem perder a lisura, se isso for possível? Para entender o fanatismo dos jornalistas esportivos em algumas coberturas e os seus distintos comportamentos, o blog mostra um caso recente.

No último dia 14 de dezembro, o time do Internacional/RS estreava no Mundial de Clubes organizado pela FIFA e sedidado nos Emirados Árabes Unidos. Os gaúchos tinham, como primeiro adversário, o desconhecido Mazembe, campeão africano vindo do Congo e que, para surpresa de muitos torcedores e especialistas, já tinha eliminado o mexicano Pachuca na fase anterior por 1 a 0.

O que quase nenhum amante sul-americano e europeu do futebol esperava aconteceu: o representante africano, pela primeira vez na história dos Mundiais, conseguiu chegar a uma decisão de título, derrotando a equipe brasileira por 2 a 0. A derrota repercutiu nos jornais do mundo todo e foi o assunto mais comentado no Twitter por vários dias.

Quando se fala em transmissões radiofônicas de partidas do Internacional, um dos nomes lembrados é o de Pedro Ernesto Denardin, narrador titular da Rádio Gaúcha desde 1995 e conhecido nacionalmente por suas locuções polêmicas e incomuns.

O caso mais falado ocorreu na Libertadores de 2006, no primeiro jogo da final entre Internacional e São Paulo, em que Denardin narra o 2º gol do time gaúcho, afirmando que o "Inter humilhou o campeão do mundo [São Paulo ganhou o título mundial em 2005 diante do Liverpool]" e pisou em cima da camisa tricolor. Esta narração também foi lembrada em 2010, quando o Inter venceu novamente o São Paulo nas semifinais e garantiu sua vaga ao Mundial, pois o outro finalista era o mexicano Pachuca, da Concacaf.



Porém, as narrações mais desesperadoras do locutor ocorreram no jogo do Mundial de Clubes de 2010, em que Denardin não acreditava na derrota do Internacional para o Mazembe. No Youtube, podem ser vistos as locuções de dois momentos dessa histórica vitória do time africano: os dois gols do time e os últimos minutos da partida. É necessário reparar que o locutor não ressalta as qualidades do Mazembe, mas, de certa forma, o humilha, dizendo, entre outras frases, que o time gaúcho não poderia perder para o time do Congo.
Passando para a televisão, no dia seguinte à eliminação do time gaúcho, a apresentadora do programa Jogo Aberto (BAND), Renata Fan, declaradamente colorada, decide apresentar o jornal neste dia e acaba quase que chorando ao vivo, pela própria situação de derrota e, indiretamente, por artifícios executados pela equipe - no caso, a música de fundo executada quando Renata tentava falar era a marcha fúnebre e alguns comentários infelizes do ex-jogador e comentarista Neto.



Renata, numa de suas falas no vídeo, afirma que não sabia se conseguiria falar como jornalista naquele dia, por alimentar uma expectativa grande sobre o time. A apresentadora ainda discorda do posicionamento do Internacional em abandonar o Campeonato Brasileiro para disputar o Mundial e ressalta o sacrifício que muitos torcedores fizeram para viajar à Abu Dabi, além de valorizar o bom futebol jogado pelo mazembe, ao contrário de Pedro Ernesto.

Seja pelo lado da histeria e do descontrole, seja pelo choro contido e pela tristeza, o fato é que misturar jornalismo esportivo com paixão declarada a um time específico pode, em algumas situações, ser prejudicial. Talvez muita gente se perguntou o porquê de a Renata não se poupar, e ter apresentado o Jogo Aberto naquele dia. Talvez muitos questionem até hoje as peculiares narrações de Pedro Ernesto. O que se pode dizer é que ter um time de coração não é de todo ruim; o problema é como incorporar esta paixão a um trabalho que preza, quase sempre, pela imparcialidade.

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