terça-feira, 28 de junho de 2011

Comunicação e boatos na cobertura jornalística - Amin Khader não morreu

É muito difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido algum boato sobre algo ou alguém, seja em conversas informais, programas de entretenimento ou mesmo jornalísticos. Mas até que ponto "contar um conto e aumentar um ponto" é considerado uma brincadeira sem consequências mais sérias? Fábia Angélica Dejavite, em seu artigo O jornalismo de celebridade e a propagação do boato: uma questão ética (2002, p. 05) discorre sobre os riscos de um boato, contado por muitos, ser retratado como uma verdade absoluta.

"Ocorre que, atualmente, os meios de comunicação são os grandes propagadores do rumor, acelerando-o e dando-lhe créditos (aumento do seu efeito psicológico). Assim, o boato ganha
status de informação, tornando-se sinônimo de verdade, pautando as conversas, ou mesmo a imagem/reputação, que um grupo/pessoa/instituição pode fazer do outro.
Entretanto, quando se pensa em jornalismo, parte-se do princípio que as notícias, antes de serem publicadas, passaram por uma série de cruzamentos, pois a matéria-prima do jornalismo é a informação, e seu compromisso maior é com a verdade dos fatos.
Só que nem sempre isso acontece."


Uma notícia que repercutiu no início da manhã desta terça-feira, dia 28 de junho, foi o anúncio da morte do promotor de eventos e repórter da Rede Record Amin Khader, vítima de um ataque cardíaco na Barra da Tijuca aos 52 anos na madrugada desse dia. A informação partiu de uma empregada que avisou o amigo e também promotor David Brazil do ocorrido, e ele postou em seu Twitter se espalhou por vários sites de notícias, como o da Band e Jornal do Brasil, entre outros, e foi, inclusive, divulgada pelo programa Hoje em Dia, em rede nacional, no vídeo que é mostrado a seguir.



O fato mais impressionante desta história não é o falecimento do artista, e sim que ele não morreu. Amin foi visto com a atriz Susana Werner numa praia carioca e desmentiu a sua própria morte, classificando esta informação de uma brincadeira de mau gosto. Já David Brazil desabafou em seu Twitter sobre a farsa e praticamente rompeu a amizade com o promoter:


"Vou contar toda a história dessa farsa do Amim, ontem a noite ele me ligou que estava com dor no coração e estava indo para o hospital / Falei que era ar, que estava chegando de Manaus muito cansado e ia dormir, pois hoje cedo tinha que ir trabalhar na @radiofmodia / Acordo hoje tem um recado dele na minha caixa postal dizendo que tinha dado uma vontade louca de falar comigo, uma coisa estranha / Tô na @radiofmodia quando a sobrinha dele MARIANA, me liga aos prantos "David o tio morreu, meu tio morreu" fiquei em apavorado / Ela contou detalhes, que a empregada dele Maria, ligou pra ela desesperada, que ele nao acordou, ela chamou os porteiros e viram que / Ele tinha morrido, sai da radio desesperado pra casa dele, chegando lá, vem um porteiro e fala: recebemos um comunicado da administração / Que o Amim tinha falecido e seu corpo tinha ido pra Petrópolis, liguei pra @radiofmodia avisando que nao ia voltar pois era verdade a morte / Corro pra casa da minha amiga Flavia Costa e Paulão, tomo calmante, peço pra irem pra Petrópolis comigo atras da casa do irmão / Estou indo pra minha casa pegar um casaco, vejo o Amim correndo, como tomei calmante, achava que era coisa da minha cabeça, quando / Paulão gritou! David David olha o Amim, nao acreditei, comecei a gritar como um louco, seu escroto, como você faz isso, ele CAGOU pra mim / Antes a @AraujoVivianne me ligou aos prantos pra saber se era verdade o que tinha ouvido, falei que era, meu telefone nao parou de tocar / Postei no Tweet pra pararem de ligar pra confirmar / Fim da história, pra mim O AMIM KHADER MORREU PRA MIM, querer ser noticia com uma palhaçada dessa e usando um amigo É DEMAIS NÉ? / MEU DEUS!!! pensava que gente com este caráter so existia em novela. QUERIDOS SEGUIDORES PODE ACREDITAR, O AMIM CRIOU ESTA FARSA E EU CAI!"


Após esse desabafo, Amin apareceu no programa Cidade Alerta, relançado recentemente com o apresentador José Luis Datena, para esclarecer o boato de sua morte, esbanjando alegria e brincando com a própria situação, perguntando se, quando ele morrer mesmo, as pessoas iriam acreditar nesta notícia e ainda disse, com seu lado humorístico, que "está curtindo em cima de uma situação que eu achei completamente errada".



Se este boato foi disseminado para benefício do próprio apresentador ou por apenas uma brincadeira, é muito difícil julgar. Porém, o que fica de lição aos comunicadores é que qualquer informação, por mais chocante ou impactante que seja, precisa ser checada quantas vezes for preciso, para que esta tenha credibilidade perante os públicos pois, a curto prazo no mínimo, a imagem de Amin Khader, David Brazil e do jornalismo da Record estão num nível de grande desconfiança.

sábado, 25 de junho de 2011

Festas juninas no Brasil: manutenção da tradição x influência midiática (Introdução)

Neste mês de junho, em muitas cidades brasileiras, são comemoradas as tradicionais Festas Juninas, com as suas quadrilhas, comidas típicas, pau-de-sebo, danças, músicas, tradições e valores. Mas como se deu a origem destas festividades e como estas se espalharam pelo Brasil?
Segundo o site Sua Pesquisa, existem duas versões para explicar o nome "junina": os festejos acontecem quase sempre no mês de junho e são, muitas vezes, em homenagem a São João Batista, por conta de sua origem ser localizada em países católicos da Europa que, inclusive, influenciaram a vinda das tradições juninas ao Brasil, principalmente no Nordeste que tem, como motivo "original" de agradecimento e de festa, as raras chuvas que acontecem na região.

"De acordo com historiadores, esta festividade foi trazida para o Brasil pelos portugueses, ainda durante o período colonial (época em que o Brasil foi colonizado e governado por Portugal).
Nesta época, havia uma grande influência de elementos culturais portugueses, chineses, espanhóis e franceses. Da França veio a dança marcada, característica típica das danças nobres e que, no Brasil, influenciou muito as típicas quadrilhas. Já a tradição de soltar fogos de artifício veio da China, região de onde teria surgido a manipulação da pólvora para a fabricação de fogos. Da península Ibérica teria vindo a dança de fitas, muito comum em Portugal e na Espanha."

Quando se olha este contexto histórico e o compara com os dias atuais, com as festas juninas deste início do século XXI, faz-se uma pergunta importante: até que ponto a influência da Indústria Cultural e de uma maior repercussão midiática destas festas pode disseminar as tradições ou prejudicá-las, levando-as ao deboche e ao esquecimento? Antes de tentar discutir esta questão, é necessário entender que, sim, houve mudanças na forma de comemorar esta época do ano, devido a vários fatores, como mostra Oswaldo Meira Trigueiro no artigo Apropriações do folclore pelos meios de comunicação de massa e pelo turismo (1998, p. 05-06):


"Com a apropriação pela indústria cultural das tradições populares, as festas juninas ganharam uma nova dimensão e passam por transformações para adequar-se à nova realidade sóciocultural e aos interesses turísticos.
O culto ao fogo está cada vez mais presente nos festejos juninos, não se limitando apenas às rodas em volta da fogueira, mas aos sofisticados espetáculos pirotécnicos. (...) As quadrilhas com suas inovações deixam de lado o cenário de matutos desdentados, com roupas remendadas e chapéus de palha rasgados para mostrar luxo e beleza, com coreografias ensaiadas e incorporando novos passos até mesmo de aeróbica. O enredo atualizado da parte dramática de encenação do "casamento matuto"é também uma inovação. (...)
As tradições dos festejos juninos como: superstições, adivinhações, crenças, agouros, fogueiras, danças e comidas típicas, representam nos seus tempos e espaços, um passado que está no nosso imaginário e que continua sendo representado nos dias atuais."
Sabendo que essas mudanças são visíveis e, algumas vezes, irreversíveis, é possível prever até que ponto elas ajudam ou prejudicam o desenvolvimento das tradições históricas de cada região? Muitos diriam que o equilíbrio entre modernidade e tradição é necessário e importante para que esta não possa desaparecer, outros criticariam a banalização das festas, que valorizam mais os elementos seculares do que os valores e símbolos religiosos, como os Santos Antônio, João e Pedro. Um dos próximos posts do blog será dedicado a um case sobre essa discussão, que está aberta.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Relações Públicas e a busca pela criatividade e inovação - O humano contribui com o tecnológico

Uma matéria publicada no portal da revista Exame no dia 20 de junho mostra especialistas que ressaltam a importância do investimento das empresas em inovação, tecnologia e criatividade. Há uma frase marcante nesta reportagem que delimita exatamente quais marcas podem se sobressair em seu nicho de atuação, em relação a esses três fatores já citados:

"Hoje, definitivamente, estamos divididos em dois mundos: o virtual e o da realidade. Na prática, saem na frente aquelas marcas que jogarem bem nos dois mundos, utilizando a inovação a favor da comunicação e do público."

Vê-se, nesta afirmação, que o fator comunicacional é importante para que uma empresa possa ser bem sucedida, afinal, como uma marca pode desejar um sucesso duradouro e uma imagem consolidada no mercado se não tiver uma estratégia de comunicação sólida e focada em compreender o público para que este compreenda os valores por detrás de uma propaganda da empresa, por exemplo.

Como o profissional de Relações Públicas pode contribuir para que este processo de inovação e criatividade, juntamente com o desenvolvimento das novas tecnologias? Sonia Aparecida Cabestré e Regina Célia Baptista Belluzzo no artigo Desenvolvimento e inovação no cotidiano do profissional de Relações Públicas, presente no Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional (2008, p. 151):

"(...) pode-se dizer que, na atualidade, o conhecimento é o principal fator de inovação disponível ao ser humano. Não é apenas um recurso renovável - é um processo dinâmico que acompanha a vida humana, requerendo a criação de ambiência de comunicação e compartilhamento de infornação in continuum nas organizações.
Diante do exposto, destaca-se a necessidade de uma reflexão crítica para redimensionar políticas e estratégias de ação, com a finalidade de viabilizar eimplementar propostas de trabalho que considerem a adoção de práticas degestão do conhecimento no contexto organizacional."

Logicamente, os aspectos tecnológicos, as máquinas físicas são importantes para que a inovação aconteça; porém, sem a racionalidade e a criatividade humana, os resultados positivos se tornam praticamente improváveis. Um exemplo disso está na premiação, desta semana, do Festival de Cannes, na França, em que muitos exemplos de criatividade e inovação foram premiados.

Na categoria de Relações Públicas (PR Lions), para destacar uma das premiações, o Leão de Ouro ficou, pela primeira vez na história, com um case brasileiro. O projeto Skankplay foi uma iniciativa do coletivo DontTryThis e já foi vista neste blog. A ação é um videoclipe colaborativo, em que os internautas tocam uma música com os integrantes da banda Skank e criam versões do clipe da música "De Repente". Abaixo, o clipe oficial número 1, com os integrantes da banda intergaindo com outros músicos.



Já o Leão de Prata ficou para o case "Paz Social", desenvolvido para o governo do Estado do Rio de Janeiro. Segundo o site Brasil Econômico, houve uma implementação de estratégias e ações de comunicação nas redes sociais e nos canais oficiais do órgão público durante o processo de retomada e ocupação da região do Complexo do Alemão pelas forças policiais, em novembro de 2010.

Como pode-se observar, as inovações e as ideias criativas, formuladas pelos profissionais de Comunicação, são importantes para todos os setores da economia, seja em órgãos públicos, seja à serviço de uma banda ou, no caso do Grand Prix de 2011 do PR Lions, de uma instituição financeira, como o National Australian Bank. 

A campanha "Break Up" consistia numa carta impactante publicada em grandes jornais em que ele "rompia" com seus rivais. A campanha teve uma grande repercussão nas mídias, inclusive no online e em redes sociais como o Twitter. Para encerrar este post, o vídeo do vencedor do Grand Prix 2011 do PR Lions.


sexta-feira, 17 de junho de 2011

Comunicação governamental e as novas mídias na construção da cidadania

*Com este post, encerra-se o primeiro RPrestigiando, um projeto do RPitacos que visa valorizar os eventos de Comunicação em geral, principalmente os de Relações Públicas.

Na última quinta feira, dia 9 de junho, aconteceu a terceira noite de palestras da X Semana de Relações Públicas da UNESP Bauru, e teve como norte das discussões o tema Comunicação Governamental. Os palestrantes da noite foram o jornalista Eduardo Pugnali, coordenador de imprensa da Secretaria da Casa Civil – Subsecretaria de Comunicação do Governo do Estado de São Paulo e o jornalista e sociólogo Danilo Rothberg, docente do Departamento de Ciências Humanas da Unesp-Bauru.

Em sua palestra, Pugnali discorreu sobre a importância da utilização das novas mídias para a divulgação de serviços públicos, principalmente a veiculação de vídeos de serviço na Internet. De fato, a comunicação governamental vem sofrendo mudanças importantes no que diz respeito ao relacionamento com o cidadão, principalmente no "como comunicar" e no "como se comunicar", como mostra Rosana Eduardo S. Leal no artigo Um estudo sobre a inserção de elementos da cultura popular na divulgação turística governamental na web: o caso do site oficial do estado da Bahia, publicado na revista Diálogos Possíveis (2005, p. 57):


"A comunicação governamental vem sofrendo várias mudanças nos últimos anos. Isso vem ocorrendo, sobretudo, pela necessidade identificada pelos governos em se adequar à nova realidade social, política, econômica e tecnológica. Para isso, as instituições governamentais vêm utilizando modernos processos comunicativos, através de técnicas de marketing e de publicidade que servem para planejar o formato e o conteúdo das informações que serão apresentadas aos cidadãos."
No caso do Governo do Estado, há um canal oficial de vídeos no Youtube com mais de 346 mil visualizações dos conteúdos apresentados e 392 inscritos. Dentre os vídeos mais vistos, estão uma explicação de como funciona a Nota Fiscal Paulista, mostrando ao cidadão um serviço que, ao mesmo tempo em que tenta combater a evasão fiscal, oferece prêmios aos contribuintes - a cada R$ 100 em notas fiscais, o consumidor ganha um cupom eletrônico.




Outros órgãos governamentais também se utilizam das mídias sociais para prestar serviços de utilidade pública aos seus concidadãos. É o caso do governo norte-americano que começou, em abril deste ano, a utilizar o Facebook e o Twitter para alertas de ataques terroristas. Segundo matéria publicada no portal UOL, os avisos via redes sociais seriam aplicados somente depois das notificações de líderes federais, estaduais e locais.

Também na área da segurança pública, o Governo do Rio de Janeiro, em novembro do ano passado, usou o Twitter para tentar acalmar a população diante dos boatos que se espalharam desde o início da onda de ataques criminosos ocorridos naquela época. A matéria publicada no site da revista Veja mostra um exemplo de como as mídias sociais, se bem utilizadas pelos órgãos públicos, podem esclarecer as dúvidas dos internautas (mais ainda, dos cidadãos fluminenses e cariocas) e até desmentir informações dadas pela imprensa.

"O Twitter foi a principal plataforma escolhida pela Secretaria de Segurança. 'Contem com esse canal para tirar dúvidas e obter dados oficiais', foi uma das mensagens. Diante da informação, divulgada pela TV Globo, de que a próxima Unidade de Polícia Pacificadora seria instalada no Complexo do Alemão, a secretaria reagiu imediatamente: 'Não há previsão de instalação de UPP no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro, por causa da grande demanda de efetivo necessária para ocupar estas áreas'.".


Com estes dois exemplos, - de certa forma, positivos - pode-se entender a importância de uma comunicação pública de qualidade no âmbito governamental, e as mídias sociais podem contribuir, e muito, para que a cidadania possa estar sempre em evidência.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Evolução da Comunicação Pública - Mudanças, avanços e desafios

*Este segundo post da seção RPrestigiando - X Semana de Relações Públicas da UNESP Bauru teve a colaboração das alunas Daiane Santana e Bianca Cesário, ambas do 2º ano do curso. A elas, nossos agradecimentos.

O primeiro dia da X Semana de Relações Públicas, ocorrido no dia 07 de junho, trouxe a professora Elizabeth Brandão como uma das expositoras sobre os Conceitos e o Histórico da Comunicação Pública. Ela dividiu suas explicações em três momentos: a consolidação do conceito na década de 1990, as mudanças ocorridas ao longo dos tempos - em relação, dentre outros quesitos, à exigência de uma maior participação da sociedade nos programas governamentais, como o Bolsa Família - e a importância de se entender a Comunicação Pública como uma "teia de cidadania" e facilitadora de políticas públicas. 

De fato, a comunicação pública teve, durante um certo período de tempo na História brasileira, uma imagem relacionada ao autoritarismo e ao controle da atuação da imprensa, porém modificada graças ao advento de um novo período democrático no Brasil, como relata Jorge Duarte em seu artigo Comunicação Pública (2003, p. 01):

"Durante os anos 1930 o governo federal definiu políticas de controle de informações cujo apogeu se deu entre 1939 e 1945, por meio do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e uma rede nacional que buscava controlar e orientar a imprensa. Durante o regime militar, é organizado o Sistema de Comunicação Social no âmbito do governo, cujos focos eram propaganda e censura.
Com o fim da censura e a redemocratização, o panorama mudou. A Constituição de 1988, a transformação do Papel do Estado, o Código de Defesa do Consumidor, a terceirização e a desregulamentação, a atuação de grupos de interesse e movimentos sociais e o desenvolvimento tecnológico estabeleceram um sistema de participação e pressão que forçou a criação de mecanismos para dar atendimento às exigências de informação e tratamento justo por parte do cidadão em sua relação com o Estado e instituições, do consumidor com as empresas e entre todos os agentes sociais. (...)"

Assim, com esta nova visão da Comunicação Pública em construção, tornou-se fundamental aos órgãos públicos criar mecanismos de participação popular nas ações do governo e de divulgação destas práticas através dos vários meios de comunicação, tentando não soar como um aproveitamento político ou pessoal dos governantes envolvidos. E este é um grande desafio para a prática da Comunicação Pública, principalmente na esfera governamental, como mostra Maria Helena Weber no artigo Na comunicação pública, a captura do voto
(2007, p. 39):


"Todo processo de comunicação, inerente aos regimes democráticos, mais do que a necessidade de prestação de contas, de exercitar a relação com o público está dirigida á propaganda de um projeto político, de um sujeito, de um partido. A análise destas estratégias expõe a parte visível da política e as estruturas necessárias para manter essa visibilidade. Nesse aspecto, as redes midiáticas se tornam importantes e a política poderá ser submetida lógica midiática e à estética publicitária, adaptando-se a versão dos fatos à personalidade das mídias, dos jornalistas, dos blogueiros. São adaptações para diminuir os estranhamento das noticias corriqueiras e o fascínio da propaganda. A dramatização intima da política se impõe cada vez mais. o impacto da informação política sempre será dado pela mídia."

Cabe aos profissionais de Comunicação idealizarem estratégias para que esta confusão entre "politicagem" e prestação de contas não denigra a imagem de certo governo ou governante. O público receptor, muitas vezes, já não aceita uma simples divulgação dos fatos ou um semblante bonito nas telas da televisão, e sim deseja uma real prestação de contas sobre o destino do dinheiro público e uma comunicação pública de qualidade.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Relações Públicas nas ONG's - Muito além de uma simples comunicação

*Os próximos três textos do RPitacos (hoje, amanhã e sábado) fazem parte de um novo projeto do blog chamado RPrestigiando, que tem o objetivo de valorizar os eventos da profissão, através da divulgação e da cobertura dos principais tópicos de cada um.

Nos dias 7, 8 e 9 de junho, acontece a X Semana de Relações Públicas da UNESP Bauru, organizada por alunos do 2º ano do curso como parte da disciplina Técnicas de Relações Públicas, e que traz, neste ano, um tema pertinente no cenário comunicacional e social: a comunicação pública, nas suas mais variadas vertentes, desde os principais conceitos até a aplicação destes, tanto inseridos nas Organizações Não-Governamentais (ONG's), quanto na comunicação governamental. Segundo o site oficial do evento, os objetivos desta Semana são:

"Aproximar os graduandos do curso de Relações Públicas com o mercado de trabalho através de oficinas, palestras e visitas técnicas, visando crescimento técnico e teórico-profissional.
Capacitar o grupo para a organização de eventos enquanto técnicas de comunicação dirigida.
Mensurar os resultados através de pesquisa de opinião aplicada no último dia do evento."

Como se pode ver, o evento traz, além de temáticas interessantes e pertinentes, uma experiência duradoura para o grupo organizador que pode aprender, com os erros e os acertos, como organizar um evento importante e aplicar as técnicas apreendidas nas disciplinas da Graduação. Por isso, o blog RPitacos oferece, humildemente, seu espaço para cobrir as palestras noturnas do evento e mostrar a importância da Semana de Relações Públicas para o desenvolvimento teórico e prático dos alunos, além de valorizar a profissão em seus mais diversos campos de atuação.

Nesta última quarta-feira, a temática das palestras foi voltada para a atuação do profissional de Relações Públicas nas ONG's, com a participação de Viviane Nebó - formada em Relações Públicas (UNESP) em 2003 e que desenvolveu durante sete anos projetos na Escola da Cidadania do Instituto Pólis e em outras ONGs como Cebrap e Ação Educativa - e do Grupo AGR (Ação, Gestão e Responsabilidade), formado por alunos do 4º ano de Relações Públicas da UNESP, que aplica as teorias de Relações Públicas para transformar a sociedade através de vários projetos, alguns deles reconhecidos nacionalmente e premiados no EXPOCOM Regional e Nacional 2010.

O que é importante ressaltar das palestras proferidas são dois aspectos importantes para o graduando que deseja trabalhar nesta área da comunicação no Terceiro Setor: Nebó salientou, em sua palestra, a importância de conscientizar as empresas parceiras dos projetos desenvolvidos por essas organizações que os resultados em relação à imagem destas, geralmente, são processuais, não aparecem num curto prazo.

Além disso, o profissional de Relações Públicas que deseja realizar seu ofício nesta área necessita possuir uma visão política e crítica apurada das situações que o rodeiam, além de entender que as pessoas que o acompanharão nestes projetos são humanas também, passíveis de erros, com seus egos e comportamentos, porém a visão de uma sociedade melhor deve nortear os pensamentos dos atores sociais destas organizações.

Outro tópico importante levantado por Taís Moura Machado, representante do grupo AGR na discussão, serve não somente aos interessados no trabalho com as ONG's, mas para todos os alunos de Relações Públicas: é possível, sim, realizar um trabalho grande e significativo, tanto pessoalmente quanto profissionalmente e socialmente, ainda no tempo da graduação. Não é necessário esperar o fim do curso para pensar mais longe, para realizar trabalhos que podem mudar a vida de muitas pessoas, a estratégia de empresas, o clima organizacional de departamentos, um ambiente específico numa cidade, dentre outros projetos.

Pode-se concluir, a partir destas declarações, que o trabalho de Relações Públicas numa ONG vai além do simples (não tão simples) ato de comunicar algo, mas consiste, muitas vezes, em sair dos escritórios, arregaçar as mangas, lutar pelos valores em que se acredita, valorizar a participação de outras pessoas neste processo, entendendo que a cidadania é construída por muitas mãos.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Da Internet para a televisão - Webcelebridades e seus (mais de) 15 minutos de fama

Nos últimos anos, o predomínio da televisão no quesito audiência foi, de uma certa maneira, reduzido, dando lugar a um maior tempo de conectividade a Internet. Para evitar um possível "êxodo televisivo" e desenvolver uma nova maneira de interligar estas duas mídias, sem detrimento de nenhuma dessas, processos de convergência são idealizados, como mostra o artigo A convergência de mídias potencializada pela mobilidade e um novo processo de pensamento, escrito por Eduardo Campos Pellanda (2003, p. 05):

"Torna-se importante ressaltar que embora a mídia que trasmita o vídeo não seja a TV e o áudio não seja o rádio, a linguagem destes meios estará presente nos ambientes convergentes. Foram estes meios que esgotaram as possibilidades de uso de suas formas de transmissão. Para se transmitir um evento em rádio os profissionais deste meio sempre souberam usar artifícios e desenvolveram formas de o ouvinte imaginar o que esta acontecendo. Em um ambiente de convergência digital cada uma das linguagens desenvolvidas ao longo dos últimos anos pela TV, rádio e jornal estão presentes para proporcionar ao receptor uma experiência rica em detalhes e interações. Seguindo um caminho natural é possível vislumbrar o nascimento de uma nova linguagem resultante desta fusão de mídias tradicionais."

Um exemplo desta convergência cada vez mais frequente entre a Internet e outros meios de comunicação, mais especificamente a televisão, é o quadro Famosos da Internet, pertencente ao programa Eliana, veiculado pelo SBT. O objetivo da atração é mostrar, no palco do programa, os protagonistas (pode-se chamar de webcelebridades) dos vídeos mais acessados no canal Youtube explicando como aconteceram as gravações e como reagiram à repercussão obtida na Web.

Por falar na repercussão, pode-se dizer, numa primeira vertente, que existem gravações colocadas despretenciosamente na Internet, apenas para serem vistas, na teoria, por amigos e familiares; porém, em algumas situações, o número de acessos e o resultado final da "webexposição" daquelas cenas extrapolam todas as intenções dos autores dos vídeos em questão. Como exemplo, retirado do quadro do programa exibido no dia 22 de maio de 2011, tem-se o video intitulado "Tá Lokona", gravado na cidade de Jaú/SP; um susto idealizado por Danielle que vitimou seu namorado Rogério, e que obteve mais de 3 milhões de acessos, um resultado inesperado na visão do casal.



Outros vídeos são, mesmo que de maneira não estratégica, postados com a intenção de contabilizar milhares de acessos. Este caso que será retratado a seguir é especialmente interessante porque realiza dois caminhos de ida e volta entre televisão e Internet. Em outubro de 2010, o programa Comédia MTV mostrou a música Forró do Twitter, interpretada pelo humorista Marcelo Adnet, que obteve grande sucesso devido à criativa utilização de inferências desta rede social destacadas num gênero musical tipicamente brasileiro, que é o forró.

No Carnaval de 2011, o cearense Bruno Costta se utilizou desta música para gravar um clipe menos profissional mas, na visão de mais de 18000 visualizações, sem perder tanto a criatividade. E o segundo caminho entre Internet e televisão se cumpriu com a aparição do internauta no encerramento do programa Eliana, também do dia 22 de maio.



Pode-se concluir, através deste case, que a convergência entre Internet e televisão é uma grande alternativa para que nenhuma das partes, principalmente a televisão, seja prejudicada em se tratando de audiência. As duas mídias saem ganhando: a Internet, por conta da repercussão maior de seus conteúdos pela televisão a muitas pessoas que ainda não possuem acesso a ela, e a televisão, que se utiliza da Web como aliada, não como adversária.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

É hora de comemorar! - Post especial #RPitacos1ano

Parece que foi ontem. No dia 04 de junho de 2010, depois de um dos "trabalhos de parto" mais rápidos da História (cerca de 5 minutos), um blog despretencioso nascia, com o intuito de apenas mostrar uma visão da autora acerca dos assuntos mais atuais e interligá-los, das mais variadas formas à comunicação. Pois é, a criança cresceu, e muito.

Como já disse no começo do ano, houve algumas indicações de posts daqui como uns dos Melhores da Semana, em lista organizada pelo Horizonte RP. Outros textos foram reconhecidos por profissionais e acadêmicos qualificados, além das qualificações dos artigos da autora para uma das edições da Revista A Bordo, entre outros reconhecimentos pessoais e profissionais por parte de amigos e de colegas de profissão. Talvez um prêmio que eu, pessoalmente falando agora, nunca imaginaria receber era ser finalista do V Prêmio RP do Brasil, na Categoria Estudantil. Não ganhei, mas o 4º lugar obtido me deixou muito feliz e com orgulho de ser Relações Públicas!

Por falar em orgulho da profissão, o RPitacos ainda promoveu ações para declarar a paixão dos profissionais pelas Relações Públicas, como a #ILoveRP, em que foram postados textos sobre a importância desta profissão no mundo contemporâneo, nas proximidades do Dia Nacional das Relações Públicas, celebrado em 02 de dezembro. Por fim, na última semana de 2010, uma lista promovida pela Rede RP-Online mostra o RPitacos como um dos 29 blogs de estudantes e profissionais de Relações Públicas que merecem ser seguidos no próximo ano.

Gostaria, neste dia, de agradecer, primeiramente, a Deus (que me perdõem os meus amigos ateus) pelo dom da vida, aos meus pais pela dedicação e carinho para comigo, aos amigos da turma de RP 2009-2012 da UNESP Bauru - a sala mais linda da cidade de Bauru e do mundo -, aos veteranos que sempre dão críticas e dicas preciosas para o blog (como Fábio Procópio e João Vitor Caires, para lembrar de alguns), aos "bixos" que sempre prestigiam os posts e aos amigos que conheci via Twitter (não vou falar nomes porque, com certeza, me esqueceria de alguém). Enfim, a todos que colaboraram para que este blog pudesse continuar, o meu muito obrigada!

E, para completar este post especial, eis que abro o e-mail do blog e me deparo com esta linda homenagem de um dos profissionais mais respeitados e competentes do cenário das Relações Públicas. Não mereço, porém agradeço a gentileza e o carinho:

"Vida longa ao #RPitacos

Há um ano surgiu o blog RPitacos. A minha intuição, que raramente me deixa na mão, me permitiu perceber, logo na primeira impressão, que seria um projeto de destaque.

Capitaneado pela competente estudante de relações públicas Maira Masiero, o RPitacos é dinâmico, atrativo, sempre atualizado e sempre com discussões de muita qualidade e pertinência.

Toda vez que entro no RPitacos, e olhe que entro com frequencia, sempre me surpreendo e tenho o desejo de divulgar pro mundo o que está sendo discutido ali.

Portanto, quero aproveitar essa data tão significativa para desejar VIDA LONGA AO #RPITACOS!

Marcello Chamusca
@mchamusca"

Depois disso, o que mais posso dizer? Só posso agradecer, e muito, a todos que me ajudaram nestes 365 dias, a serem completados mais precisamente amanhã - porém, a comemoração central é hoje por conta do fluxo da comunicação e dos horários de pico das visualizações do blog, mas hoje não é dia de teoria.

E como o Chamusca terminou seu depoimento, vida longa ao RPitacos!

RPitacos - 1 ano RePensando o mundo

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Relações Públicas e planejamento de eventos - A modernização dos festivais musicais

Muitas pessoas devem se lembrar dos chamados festivais de música popular brasileira que se destacaram na década de 1960 por revelar novos talentos e trazer músicas de viés mais coletivo, instaurando um "veículo de comunicação", na época, realmente das massas populacionais, como mostra o artigo Os festivais de Música Popular Brasileira: Veículo de vez e de voz, escrito por Selma Suely Teixeira (a.d., artigo on-line) e depois um vídeo da apresentação da música Ponteio, de Edu Lobo e Capinam, na noite de 21/10/1967, no III Festival da Música Popular Brasileira:

"No ano seguinte surgem os festivais de música popular brasileira, lançando compositores como Chico Buarque, Edu Lobo, Geraldo Vandré e Caetano Veloso, que colocando as incertezas e esperanças do povo como centro de suas composições, fazem sua opção pelos "sem poder na sociedade" identificando-se assim com as aspirações fundamentais do povo de existir numa sociedade onde "ele se dirija por si mesmo".
Característica do espírito nacional dos anos 60, esse cantar o povo encontra nos Festivais de Música Popular Brasileira da década, o seu veículo de vez e de voz."




Porém, a realização de festivais de música não se localiza num contexto distante da atualidade. Graças a projetos de comunicação encabeçados, dentre outros profissionais, por relações-públicas, estes eventos culturais resistem ao tempo e às mudanças estratégicas das mídias no que se diz respeito à música.

Nos últimos dias 24, 25 e 26 de maio, ocorreu na cidade de Bauru/SP um Festival Cultural em comemoração aos 20 anos da Rádio UNESP FM realizado em conjunto com a RPjr (Empresa Júnior de Relações Públicas da UNESP Bauru) e com vários parceiros e apoiadores, dentre estes a Prefeitura Municipal de Bauru, através da Secretaria de Cultura, os principais órgãos que constituem a faculdade e empresas privadas relacionadas a área musical.

A abertura do evento aconteceu na noite de terça feira, no SESC Bauru e contou com uma apresentação do músico Marcelo Jeneci. Nas outras duas noites do Festival, nas dependências da UNESP, mais precisamente no anfiteatro Guilherme R. Ferraz (o popular "Guilhermão") houve, além de outras intervenções culturais e de uma exposição de artes, um concurso de bandas.

Doze grupos foram classificados para se apresentarem no palco do evento, e um corpo de três jurados vindos do Instituto de Artes, pertencente à UNESP da capital paulista, analisou as performances e decidiu os vencedores do concurso, que ganharam os seguintes prêmios: 24 horas de gravação em estúdio profissional, sua música tocada na programação da Unesp FM durante 1 ano e uma entrevista no Unesp Notícia (1º lugar),1200 reais em compras na loja Musicalle (2º lugar) e uma viagem ao Instituto de Artes da Unesp para o terceiro colocado.

O que é importante frisar são as diferenças e semelhanças entre os festivais do início-meio do século XX e os atuais concursos de bandas. Na visão de Victor Frascarelli, aluno do 3º ano de Relações Públicas da UNESP e integrante da RPjr, em entrevista via e-mail, os festivais dos tempos de outrora serviam para que fossem descobertos novos talentos da música, e os mais recentes servem como uma "válvula de escape" para bandas que não conseguem seu espaço na mídia contemporânea.

"(...) antigamente, esses eventos eram promovidos com o intuito de descobrir novos talentos para fomentar a indústria da música.
A MPB era a sensação do momento; mais do que uma expressão artística, era cultural e até política. Então, os festivais ganhavam essa projeção maior, recebendo atenção dos militares, para conter manifestações, e pelos produtores, para fazer dinheiro. Daí começaram a engatinhar as grandes gravadoras, que buscavam nos eventos o seu próximo sucesso.
Os anos passaram e o foco mudou. A música sertaneja universitária, o funk de balada e os rostinhos bonitos tomaram conta da mídia, e é isso o que dá dinheiro no mundo atualmente. Os festivais agora, como foi o Festival Cultural de 20 Anos da Rádio Unesp FM, servem como válvula de escape para quem quer escutar um som alternativo, para quem quer se destacar principalmente no cenário independente. As bandas interessadas querem mostrar um trabalho que a mídia contemporânea abafa para dar lugar aos ritmos que estão em alta."


De fato, os festivais musicais foram, e são, estes "celeiros" de novos talentos; são, muitas vezes, as minas de diamantes de onde se garimpam joias brutas e lapidadas para fazê-las brilharem num futuro não muito distante. E o papel dos comunicólogos neste processo de busca pelas joias é importante, pois são, muitas vezes, eles que propagarão ao público em geral novos nomes, sons e músicas para o cenário midiático.

É necessário também acrescentar, nestas diferenças entre os festivais de antigamente e os atuais, o trabalho do Relações Públicas nestes eventos, organizando-os (como foi o caso do festival da Rádio UNESP), idealizando maneiras de como divulgar a programação do evento - através das mídias tradicionais e das redes sociais -, como premiar as melhores apresentações e de como facilitar o trabalho da imprensa que cobre o evento, dos jurados, das bandas e artistas convidados e dos participantes efetivos do festival, além de gerenciar crises quando elas aparecem.

Resumindo, a aplicação das técnicas de Relações Públicas no planejamento e na "modernização" dos festivais é uma importante ferramenta para que estes eventos não sejam relegados a um tempo distante, mas que possam, a cada novo concurso, revelar novos sons para o cenário musical brasileiro. Para encerrar o post, uma parte da apresentação da banda L's, terceira colocada do Festival Cultural 20 anos da Rádio UNESP FM.