sexta-feira, 29 de abril de 2011

Ética e moral na comunicação - Caso Comédia MTV e a "Casa dos Autistas"

A prática da comunicação possui variados desafios e responsabilidades que precisam ser enfrentadas e suplantadas, dentre eles o zelo pela ética e por valorizar uma moral determinada. Aliás, é preocupante o uso desenfreado destas palavras sem um conhecimento solidificado, como mostra Roberto Romano no artigo Contra o abuso da ética e da moral (2011, p. 95):

"As palavras “ética” e “moral” amontoam-se nas bocas, nas telas de televisão, no cinema, na internet, nos jornais, nos livros, nos seminários de “pesquisa”. Quanto mais circulam e recebem novos adjetivos, mais loucas elas ficam. Para usar a metáfora do mercado, a de Marx, as doutrinas filosóficas sobre a ética perdem a sua qualidade de origem e na concorrência desenfreada transformam-se em produtos de pacotilha."

Utilizando-se de uma definição resumida, mas não menos esclarecedora, de Lílian Barreto Manara na monografia Ética e moral (2002, págs .20-21), enquanto a ética é "a teoria ou a ciência de uma forma específica de comportamento humano: o comportamento moral dos homens em sociedade" (a autora se utiliza de Novaes (2002) para esta definição), a moral se comporta como um conjunto de regras em que se destacam "a conduta, a prática, a ação.".

E como estes conceitos se encaixam numa análise comunicacional? No último dia 22 de março, o programa humorístico "Comédia MTV" exibiu uma esquete intitulada "Casa dos Autistas", em homenagem a um reallty show transmitido no SBT entre 2001 e 2004 chamado "Casa dos Artistas" (inclusive com o comediante Marcelo Adnet imitando Sílvio Santos). Na paródia, cinco atores do programa gritam, olham para as paredes e reproduzem trejeitos como se fossem autistas.

Segundo matéria veiculada no portal Folha Online, a cena, vista pela própria MTV como portadora de um conteúdo inapropriado, foi retirada do ar nas reprises do programa. Porém, o vídeo foi postado no Youtube e, mesmo um mês depois da exibição da cena (no segundo bloco do programa, como se verá no vídeo a seguir), causou uma grande repercussão, majoritariamente negativa, a seu respeito.



De acordo com a reportagem já citada, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) encaminhou um pedido de investigação ao Ministério Público Federal sobre o programa e o movimento Pró-Autista também se pronunciou sobre o caso. No plenário da Câmara, Cláudio Puty, outro parlamentar,  também se pronunciou negativamente contra a esquete no dia 25 de abril. No vídeo, Puty declara que "esse tipo de incentivo ao preconceito, de ridicularização daqueles que não tiveram a opção de escolher nascer ou não com autismo, é algo que causa repugnância".

Após esta repercussão negativa, o "Comédia MTV" do dia seguinte (26 de abril) se desculpou no ar por conta do quadro e, no Twitter, Adnet, além de pedir desculpas aos ofendidos, declarou que já conseguiu impedir que a cena fosse veiculada no ano passado, só que não o fez novamente em 2011 - foi o chamado "voto vencido". Já Rafael Queiroga, humorista, redator final e diretor do programa, se responsabilizou pela concepção da esquete e também se desculpou.

O que esta situação recente pode ensinar aos comunicadores em relação à ética e à moral? Primeiramente, o quadro da MTV, para muitos, violou uma lei moral, ou seja, tratou com desrespeito um semelhante, fazendo piadas que não são totalmente aceitáveis, e teve um comportamento anti-ético ao exibir esta cena em rede nacional (e mundial, já que está disponível em rede de computadores através do Youtube).

Cabe aos comunicadores refletirem sobre este caso e pensarem muito antes de mostrar situações delicadas na mídia, pois, se a intenção da MTV era conscientizar as pessoas sobre o autismo, o alvo, pelo menos na esquete, não foi atingido. Se a responsabilidade social não se apresenta pelo amor (ou pelo riso), ela pode se apresentar na crise momentânea de imagem e na sua gestão.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Relações Públicas e Pesquisa de Opinião - Especial #RPitacos1ano

Ouve-se, por muitas vezes durante o dia, pessoas dizendo que foram, estão ou irão fazer pesquisas a respeito de algum assunto, seja para conhecimento e usufruto próprios, seja para trabalhos acadêmicos ou profissionais. Em alguns casos, estas pesquisações exigem que o agente se utilize de questionários e/ou de entrevistas mais complexas para poder alcançar considerações específicas a respeito. Ou seja, nessas ocasiões, ouvir a opinião dos públicos é de fundamental importância.

Uma das principais funções do profissional de Relações Públicas é justamente compreender as opiniões das pessoas e tentar relacioná-las com a realidade a ser discutida, não de maneira mecânica, mas com uma visão estratégica, como afirmam Maria Amélia Miranda Pirolo e Marcos Alexandre Bazeia Fochi no artigo A pesquisa de opinião: o "ver" e o "fazer" do Relações Públicas, apresentado no XXIV Congresso Anual em Ciência da Comunicação, Campo Grande, MS (2001, p. 04):

"Para um profissional que tem a pesquisa de opinião como uma de suas funções o relações públicas deve ter no seu aprendizado algo mais do que o desenvolvimento de uma técnica pois, para ele a pesquisa é estratégia desde o momento da identificação da necessidade, durante o seu desenrolar e principalmente na interpretação dos resultados e definição das ações a serem desenvolvidas."

Dado este contexto e, a partir dele, o blog RPitacos abre oficialmente as comemorações do seu primeiro aniversário querendo justamente ouvir você, leitor: suas opiniões, críticas e sugestões são muito importantes para o desenvolvimento desta ferramenta de comunicação que visa discutir assuntos relevantes sob a ótica comunicacional, enfim, repensando o mundo e tentando fazer a sua parte para mudá-lo.

A pesquisa de opinião anexada abaixo (se ela não abrir, também está disponibilizada neste link) é simples e rápida de ser respondida, e está em atividade desde a última segunda feira, dia 25 de abril. Participe e venha repensar o mundo conosco!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Evolução dos relacionamentos e reposicionamento das marcas - Análise do novo slogan da Rede Globo

Há um ditado popular que diz: "manda quem pode, obedece quem tem juízo". Pois esta frase foi seguida (e, em algumas empresas, até hoje funciona assim) por muito tempo nas plataformas de comunicação entre as empresas e os seus públicos, com a utilização de modelos radicalmente assimétricos

Com o passar dos tempos, especialmente após a popularização do acesso à Internet e às mídias sociais, algumas empresas de vários segmentos, inclusive os meios de comunicação, começaram a entender a importância de uma maior proximidade com os receptores de suas ideias, conteúdos e valores, e, por consequência, compreenderam que esses públicos poderiam se tornar valiosos emissores para as organizações. 

Seria, portanto, uma tentativa de um modelo de comunicação altamente simétrico de duas mãos, que pode se iniciar através da reformulação de um slogan, demonstrando um reposicionamento da marca/empresa em relação aos clientes/públicos desejados e, com o auxílio das Relações Públicas, inserindo efetivamente a organização/empresa/meio de comunicação na sociedade, como mostra Grunig no artigo A função das relações públicas na administração e sua contribuição para a efetividade organizacional e societal. (Tradução de John Franklin Arce), pertencente à revista Comunicação e Sociedade (a. 24, n. 39, p. 67-92), publicada pela Umesp (2003, p. 88):

"(...) o modelo simétrico de duas mãos é a abordagem mais ética de relações públicas e que o modelo é eficaz quando aplicado à realização dos objetivos da organização.
(...)
O princípio de simetria significa que os valores e problemas das organizações e dos públicos são ambos relevantes. O diálogo de duas mãos faz com que as relações públicas sejam inerentemente éticas e faz com que a organização seja mais responsável para com a sociedade."

Um exemplo recente da modificação de uma assinatura para que estas ideias comecem a tomar forma na consciência dos públicos ocorreu no último domingo, dia 24 de abril. Neste dia, a Rede Globo de Televisão apresentou oficialmente seu novo slogan, substituindo a assinatura A gente se vê por aqui que, por sete anos, identificou a linha de comunicação da emissora com o público. De acordo com Luis Erlanger, diretor geral da Central Globo de Comunicação, em declaração divulgada pelo site Meio & Mensagem, o slogan A gente se liga em você foi idealizado a partir da realização de pesquisas qualitativas e quantitativas, a fim de identificar uma linha coerente de comunicação com os seus públicos.

O lançamento da nova campanha institucional da emissora, com a locução do jornalista e apresentador Pedro Bial, ocorreu no intervalo do Fantástico e mostrou alguns dos principais programas, novelas e apresentadores do canal, além de imagens de várias coberturas jornalísticas feitas pela emissora durante o último ano, como o resgate dos mineradores chilenos, as enchentes que destruíram a serra fluminense e a ocupação do Complexo do Alemão pelos militares, mostrando a responsabilidade da emissora com a sociedade no âmbito de transmitir informações.



O que é importante ressaltar acerca desta mudança de assinatura, ainda em relação à evolução dos relacionamentos entre os públicos, é o caráter mais pessoal, individual, que foi atribuído ao novo slogan com o uso da palavra você, e de união entre emissora e telespectador, com a inserção, no final do vídeo, de vários entrelaçamentos de mãos, representando a unidade entre estes dois elementos da comunicação.

Algo também para ser lembrado é a rápida citação dos esportes no começo do vídeo instituicional, com maior destaque ao futebol, à Fórmula 1 e à natação (sem destacar um atleta específico), sem mostrar nenhum jornalista ou programa esportivo em específico, o que pode significar uma certa unicidade entre a equipe esportiva da Globo, sem elevar ou rejeitar quaisquer pessoas.

Por fim, a própria expressão "se liga" do slogan denota, além de, novamente, a união entre os públicos, que os acontecimentos vividos pelas pessoas, as sugestões de quadros e programas oferecidos pelos telespectadores, as críticas e elogios vindos das mídias sociais; enfim, o que o receptor-emissor comenta possui importância para a emissora. A expressão também apresenta uma passividade bem menor do que a do slogan anterior ("A gente se vê"): ou seja, não é apenas espiar, observar o que acontece no mundo, mas tentar, de alguma forma, modificar e transformar as realidades com a ajuda do público. E é desta forma, portanto, que, com a evolução dos relacionamentos entre emissores-receptores e receptores-emissores, as marcas se reinventam e buscam o equilíbrio entre o observar, o ouvir, o falar e o agir.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Engajamento social: do virtual ao real - Campanha de conscientização #Doe1Ovo

No cotidiano digital-midiático, seja em hashtags espalhadas na rede de microblogs Twitter, seja nos sites de relacionamento ou mesmo em mensagens do tipo "correntes" enviadas via e-mail, quase todos os dias aparecem campanhas de engajamento acerca de uma causa social, ecológica ou moral, ou ainda surgem iniciativas de solidariedade a vítimas de algum fato marcante.

Claramente, é louvável que estas ideias surjam na Internet, porém, não se pode desperdiçá-las limitando o seu alcance apenas ao universo on-line, ao virtual. Apesar de este ser um cenário interessante para que estratégias desse tipo sejam feitas, o engajamento em relação a uma causa qualquer precisa extrapolar as barreiras do virtual para se tornar real, físico, palpável, realmente transformador.

Mas quais são as barreiras para um maior engajamento das pessoas, tanto em meios virtuais, como na esfera offline? Uma das visões sobre este assunto está presente no artigo O avanço da democracia digital e a ampliação do espaço público: realizações e obstáculos, de Danilo Rothberg e Maria Teresa Miceli Kerbauy (artigo online, grifo nosso):

"'As barreiras a um maior engajamento online dos cidadãos na formulação de políticas são culturais, organizacionais e constitucionais, não tecnológicas. A superação desses desafios vai requerer esforços maiores para elevar a conscientização e a capacidade tanto dentro dos governos quantos dos cidadãos' (OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico], 2003: 9). Entre os esforços já empregados, estão campanhas de comunicação nos meios tradicionais e eventos em locais estratégicos para incentivar a participação; (...). Por fim, um feedback detalhado de como as contribuições serão aproveitadas em determinada formulação legal ou de política pública figura como um dos mais eficientes meios de incentivo. Se o cidadão percebe que seu input conta no processo, recebe o melhor estímulo."

Uma estratégia que serve de exemplo para que se entenda o processo de auxílio no entendimento desta transposição de campanhas de conscientização do online para o offline, surgiu na Internet neste ano de 2011: a campanha Doe um Ovo, idealizada pela agência Ioiô Digital. Segundo release disponibilizado para o blog, o grande desafio desta campanha é justamente "trazer a interatividade e o engajamento das redes sociais para o plano físico, incentivando as relações interpessoais."

E como alcançar este objetivo? Para os criadores do projeto, é simplesmente doar um ovo de Páscoa a alguém (amigo, parente ou um completo desconhecido), postar no perfil do Twitter ou do Facebook com a hashtag #doe1ovo e, por fim, comentar a sua experiência no próprio site da campanha, no prazo entre 14 e 24 de abril (domingo de Páscoa). Além de um espaço para comentários, o endereço ainda traz formas de promover a ação, tanto na esfera online (banners e avatares), quanto na offline (cartazes para se afixar em universidades, empresas).

Lucas Moreira, um dos integrantes da agência, relata por e-mail que o projeto não é vinculado a nenhuma empresa ou produto, mas somente à ação social por si, e que a proposta já conta com o engajamento de dezenas de personalidades das redes sociais, espalhando a ideia de que "o contato físico ainda é um importante elo nos relacionamentos entre as pessoas."

Este projeto, como já dito, é um dos grandes exemplos de como um engajamento online pode ser também uma fonte para o resgate desta mesma iniciativa fora da rede mundial de computadores, promovendo, assim, a intensificação das relações interpessoais.

Tome Nota I: O RPitacos avisa que não terá postagens na Sexta-Feira Santa (dia 22 de abril), retornando às atividades normais na segunda feira, dia 25, com os votos de uma Feliz Páscoa!

Tome Nota II: Está chegando o aniversário de 1 ano do RPitacos, comemorado no dia 04 de junho! O blog está aberto a parcerias para esta comemoração. Quem se interessar, mandar um e-mail para rpitacos@yahoo.com.br ou avisar via Twitter. Participe desta comemoração! #RPitacos1ano

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Qual é o limite da propaganda? - SOS Fauna presa num elevador de discussão

É inerente associar o sucesso de uma determinada marca, empresa, causa nobre ou ação social à eficiência de sua propaganda/publicidade, ou seja, da divulgação criativa, inovadora e marcante de suas ideias para os públicos que se deseja atingir. Para que este objetivo seja alcançado, tornaram-se rotineiras as ações externas e de guerrilha, envolvendo pessoas que estão em atividades habituais do cotidiano e que são surpreendidas por uma intervenção da marca ou instituição.

Porém, é necessário que se haja um debate acerca da necessidade de um limite para esta propagação de ideias e, se ele existisse, qual seria o critério estabelecido para este fim. Uma das visões acerca desse assunto é descrita por Edson Crescitelli no artigo Crise de credibilidade da propaganda: considerações sobre seu impacto na eficácia da mensagem, publicado na revista da Facom, n. 12, 1 sem. 2004 (p. 58):

"Existe, no entanto, um outro aspecto que é mais inerente à propaganda, que é a abordagem inadequada e socialmente condenável utilizada para persuadir os consumidores. Nesse sentido, para atingir seus objetivos, a propaganda, não raro, se torna racista, preconceituosa, discriminatória, ridiculariza minorias, ou seja, coloca a ética de lado e ignora os efeitos colaterais de suas mensagens."

Esta declaração, para muitas pessoas, torna o caso que será mostrado a seguir um exemplo de como a propaganda pode passar de seus limites para tentar convencer os públicos da importância de sua causa na sociedade.

No mês de abril de 2011, a Media Contacts, em parceria com a ONG (Organização Não-Governamental) SOS Fauna Brasil, que, segundo o seu site oficial, atua na defesa e conservação da fauna silvestre brasileira, combatendo o tráfico de animais silvestres, fizeram uma ação com a ideia de conscientizar as pessoas sobre este tráfico e o quanto os animais sofrem de maus-tratos nas prisões e nas gaiolas, onde muitos passam, às vezes, a vida inteira.

Para esta (tentativa de) conscientização, o cenário escolhido foi alguns elevadores de prédios. Com uma câmera escondida alocada no teto, pessoas eram surpreendidas com a paralização do elevador. Pelas filmagens disponibilizadas na Internet, muitas pessoas ficaram apreensivas  e nervosas por conta desta situação complicada, dentre elas um menino acompanhado, aparentemente, de seu pai e um homem que até coloca o seu capacete para se proteger.

Depois de alguns segundos, o elevador volta a funcionar e, ao chegar ao andar do prédio determinado, as pessoas receberam um cartão da ONG com os seguintes dizeres: "Se ficar preso por alguns segundos já é assustador, imagine por toda a vida". As imagens desta ação estão disponibilizadas a seguir e já foram vistas por quase 70 mil vezes no canal oficial da organização no Youtube.



A partir da apresentação desta estratégia de conscientização do público formulada pela SOS Fauna Brasil, o que se pergunta é: a ação foi invasiva ao público ou se destaca por sua genialidade e ousadia? È necessário lembrar que poucos prédios aprovaram a ideia de parar seus elevadores por alguns segundos para a realização deste video.

No vídeo postado acima, até o fechamento deste post, foram contabilizados 430 comentários. Destes, 159 gostaram da ação proposta por várias razões (ousadia da ONG, conscientização dos homens ao "sentirem na pele" o que os animais sofrem) e 140 não gostaram do vídeo, entre outros motivos, pela escolha errada do público alvo e até pensando como processar a organização pelo crime de cárcere privado. Além disso, 27 comentários foram destinados a cena em que um homem coloca o capacete para se proteger de uma eventual queda (alguns defensores do vídeo declaram que os "animalzinhos não tem capacete para se proteger").

É necessária, sim, uma análise mais profunda dos prós e dos contras deste comercial. Porém, a inserção desta estratégia serve, além para divulgar a ONG e o seu trabalho de 20 anos em prol da Natureza, para também inserir este debate sobre a propaganda e os seus limites éticos e morais. A discussão está em aberto.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Relações Públicas e a constituição da Arquitetura da Marca

Muito se fala em como é difícil realizar a gestão de marcas numa empresa, em meio a tantas novas tecnologias que trazem também novas fronteiras a serem ultrapassadas. A chamada arquitetura de marca é  uma das grandes ferramentas que estão disponíveis para facilitar um pouco este gerenciamento, conforme discorre Ricardo Guimarães, na época sócio e diretor-presidente da Thymus Branding (empresa do grupo Prax, ligado à W/Brasil), em entrevista à Revista da ESPM de Março/Abril de 2003 (p. 90), disponível on-line:

"A arquitetura de marca é, hoje, a principal ferramenta da gestão de um portfolio de qualquer empresa. Ela estabelece a dinâmica de relacionamento entre a organização - com todas as suas manifestações -, seus produtos e serviços, e outras ações de comunicação de iniciativa da empresa. Tudo isso está construindo o relacionamento. A dinâmica de todos esses fatores - sejam produtos, serviços e outras atividades, com todos esses fatores se relacionando criam um valor para aquela relação entre o consumidor e a empresa."

A palavra arquitetura, segundo o dicionário Michaelis (disponibilizado on-line), significa: "1 Arte de projetar e construir prédios, edifícios ou outras estruturas; arquitetônica. 2 Constituição do edifício. 3 Contextura de um todo. 4 Intenção, projeto.". Se estas características forem inseridas no âmbito comunicacional, muitas semelhanças serão vistas entre a construção de um prédio e a de uma marca.

O primeiro significado de arquitetura mostrado remete-se à criação de projetos: para uma marca poder se consolidar no mercado, ser uma construção forte, um bom planejamento é vital para que isso aconteça, e o profissional de Relações Públicas tem uma grande importância neste trabalho. Assim como numa construção, todos os recursos (sejam eles humanos, físicos ou financeiros) precisam ser bem detalhados.

Pensando no segundo significado, o de constituição do edifício, o planejamento também é fundamental, pois cada parte do alicerce, cada tijolo, cada saco de areia, enfim, cada esforço feito é importante para a constituição de uma estrutura, e todos estes materiais tem o seu valor. Assim também se deve fazer quando há esta oportunidade de conceber a arquitetura da marca: todos os públicos, alvos ou de interesse, são importantes e não podem ficar à margem do plano de comunicação de uma empresa.

A contextura, por sua vez, é outro ponto importante a ser tratado. Este termo pode ser lido como a união de partes que constituem um todo. Pode-se imaginar, por exemplo uma construção se manter em pé sem que os tijolos estejam interligados com o cimento (assim como a figura ao lado mostra)? 

Isto é muito difícil de acontecer, e é o mesmo raciocínio que se desenvolve a partir da construção da arquitetura da marca: quando não existe uma união interna na empresa para se realizar uma gestão, uma arquitetura de marcas eficiente, a "união externa" planejada para estar em volta do produto e usando-o não se concretiza.


Enfim, o último significado em destaque é a intenção de se fazer um projeto. É importante que os receptores (a começar dos internos) entendam perfeitamente, sem margens para dúvidas ou outras interpretações, o objetivo, o porquê do posicionamento daquela marca diante de certa situação. Isto evita ou, ao menos, ameniza a possibilidade de crises na veiculação, por exemplo, de uma propaganda ou de um serviço. Concluindo, a arquitetura de marca é aliada dos profissionais de comunicação, principlamente dos Relações Públicas, para um bom desenvolvimento empresarial.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Tudo nos míííínimos detalhes! - Transparência e questionamento nas empresas

Muitas pessoas, nos contextos profissional e pessoal, costumam averiguar cada detalhe de seu cotidiano, de sua vestimenta, de seus materiais antes de sair ou de entrar em algum lugar. Outras são questionadoras, não ficam quietas se alguma dúvida as aflige ou se algo não ficou bem entendido. Se no âmbito individual, estas atitudes, com equilíbrio, são importantes, não seria diferente para uma empresa que necessita se relacionar com seus consumidores/clientes/usuários e prestar contas à opinião pública de seus atos.

Um personagem que, mesmo considerado um chato pelos outros personagens que o cercam e muito engraçado pelo público, pode ser um exemplo de como as empresas e os profissionais precisam agir perante a opinião pública, em relação à transparência e ao anseio de questionar, chama-se O Explicadinho, interpretado, inicialmente, pelo ator Roni Rios (morto em 2001), o mesmo que fez a Velha Surda, tema de um post antigo deste blog. O ator foi destaque dos programas Praça da Alegria (TV Tupi) e A Praça é Nossa (SBT) durante as décadas de 1950 a 1990.

Ainda quando Rios estava vivo, Marcelo de Nóbrega, filho do apresentador do programa Carlos Alberto de Nóbrega, aparecia como um "irmão gêmeo" do personagem. Com o falecimento de Roni, Marcelo, anos depois e até os dias atuais, continua dando vida ao personagem que irrita as pessoas fazendo perguntas demais e exigindo delas maiores explicações sobre seus atos. A seguir, um vídeo que mostra Rios e Nóbrega juntos numa esquete do Explicadinho. Ou melhor, dos Explicadinhos.



O que esta simples esquete de 2 minutos pode ensinar a respeito de comunicação e de planejamento? Na primeira fala do ator que acompanha os humoristas, ele diz: "Já tô (sic) preparado e, desta vez, o Brasil vai botar pra quebrar". O Explicadinho pergunta: "Mas quebrar em pedaços grandes ou em caquinhos?". O contexto ainda não foi esclarecido, porém o ator está vestido com as cores que simbolizam a bandeira brasileira (verde e amarelo), além de segurá-la em seus braços. Depois, ele explica que está chegando a Copa da Itália (1990) e, por isso, ele está feliz. Mesmo assim, os humoristas não entendem e fazem outras perguntas.

Logicamente, é até exagerado perguntar a qual Copa o ator se referia, naquele contexto da veiculação da cena. Porém, num planejamento, é necessário especificar todas as coisas, até mesmo as mais óbvias, para que o cliente ou o acionista majoritário não tenha dúvidas sobre o projeto a ser elaborado.

Outro fato importante na esquete é a respeito do próprio ato de questionar, tratado como uma hipérbole neste caso. Porém, é importante perguntar a pessoas mais experientes sobre os processos a serem feitos, e também se questionar a respeito dos passos cumpridos e os a cumprir. Em relação à opinião pública, ela necessita ter este viés questionador, tanto ás empresas, quanto para os políticos, para a mídia, entre outros setores da sociedade pois, assim, ela não se tornará algo influenciável, mas sim influenciador.

Enfim, se houvesse muitos Explicadinhos nas empresas (tirando a faceta de "irritante" do personagem em relação aos outros), na opinião pública e na sociedade como um todo, muitos planejamentos teriam resultados completamente diferentes e muitas situações poderiam ser evitadas.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Comunicação como multiplicadora da cidadania - Projeto A Corrente do Bem

Muitos meios de comunicação desenvolvem projetos voltados não somente para o seu bel-prazer ou para um lucro imediato, mas que visam melhorar a vida das comunidades em que atuam, gerando ferramentas de solidariedade e de bem-estar, ainda que, algumas vezes, de forma provisória e pouco eficiente na prática a longo prazo. Enfim, é o exercício da cidadania que se apresenta em muitos cases desse tipo. Mas, afinal de contas, o que é cidadania de fato?

Dentre várias possíveis observações sobre este termo, Alessandra Possebon e Silas Nogueira utilizam-se das ideias de Marshall (1967) para definir o que é cidadania no artigo Comunicação e Cidadania: Diálogo Necessário, apresentado no X Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (2010, p. 10): "(...) a cidadania é colocada como a participação integral do individuo na comunidade política e o reconhecimento dos direitos dos cidadãos para com o Estado, em que cidadão seria aquele que detém os três direitos: civis (liberdade individual), políticos (participação política ampla) e sociais (bem estar)."

Para exemplificar a atuação das estratégias comunicacionais a fim de promover a cidadania (no caso que se segue, o reconhecimento dos direitos sociais, do bem estar), o post de hoje do RPitacos apresenta uma corrente que, ao invés de aprisionar pessoas, faz com que estas sejam conscientizadas da importância de pequenos gestos cotidianos que podem mudar a vida de muitos.

O projeto A Corrente do Bem foi criado a partir de uma inspiração do australiano Blake Beattie em 2007, que leu um livro chamado Pay It Forward, de Catherine Ryan Hyde (há também um filme, lançado em 2000, inspirado neste livro). Nessas produções, o protagonista ensina que se forem feitas boas ações para três pessoas e essas replicarem para outras três, é possível gerar um grande impacto de acordo com uma escala matemática. Algumas pessoas duvidavam dessa teoria, mas Beattie decidiu desafiar os críticos e lançou o chamado Dia Mundial da Boa Ação, comemorado no próximo dia 28 de abril em 30 países, inclusive no Brasil.

Segundo entrevista concedida ao site do Prêmio Empreendedor Social, Leonardo Eloi, um dos idealizadores no Brasil define, numa única frase, o significado deste dia para o mundo: "Transformar a cultura das pessoas em relação ao altruísmo, à solidariedade e à irmandade de uma forma simples, cool e geradora de resultado". E como as pessoas podem contribuir nesta última quinta-feira de abril para que este projeto seja visto por muitos? O site oficial da Corrente no Brasil - já citado - explica como:  "Faça entre uma e três boas ações para pessoas diferentes, sem esperar ou pedir nada em troca. Incentive a pessoa ajudada a continuar a Corrente do Bem, também ajudando outras três pessoas."


Vários parceiros já aderiram ao projeto e contribuem para que as pequenas atitudes de cidadania e solidariedade se espalhem por todo o mundo. Na mesma reportagem, é mostrado o exemplo da Primavera Editorial, que doará um lote de 60 exemplares da obra "Um Chef Sem Segredos", de Luiz Cintra, à ONG Banco de Alimentos.

A Corrente do Bem também tem materiais específicos para escolas, empresas e parceiros, além de pedir a ajuda dos internautas para disseminar o projeto através de ideias como jingles, campanhas publicitárias, entre outros. O projeto possui perfis em várias redes sociais, como no Twitter e no Facebook, além de um canal de vídeos no Youtube. Este video a seguir, como encerramento do post, mostra a iniciativa do jovem Trevor no filme homônimo ao projeto e mostra o quanto é possível ajudar o mundo a ser melhor através de pequenos gestos, e isso também vale para as atitudes no âmbito comunicacional.



sábado, 9 de abril de 2011

Let's SkankPlay! - Relações Públicas na comunicação colaborativa espontânea

Muito se fala na utilização de instrumentos de Relações Públicas para que a comunicação colaborativa seja utilizada com êxito. Porém, é necessário tomar os devidos cuidados para que a colaboração não seja entendida como algo forçado ou sem sentido para a pessoa convidada ou convocada a participar, como mostram Ana Maria Boavida e João Pedro da Ponte, no artigo Investigação colaborativa: Potencialidades e problemas (2002, p. 05), em que dois tipos diferentes de colaboração são mostrados através da visão de Andy Hargreaves:

"Um investigador que se tem dedicado a estudar os processos de cooperação e colaboração no seio das organizações educativas é Andy Hargreaves (1998). Uma distinção por ele sugerida é entre a colaboração espontânea e a colaboração forçada, sendo a primeira da iniciativa dos respectivos intervenientes e a segunda determinada por instâncias superiores com autoridade para o fazer. Trata-se de uma distinção importante porque, as colaborações forçadas, por melhores que sejam as intenções que presidem à sua instituição, correm fortes riscos de não ser bem aceites (nem sequer bem entendidas) por aqueles a quem são impostas, dando origem a fenómenos de rejeição com efeitos diametralmente opostos em relação ao pretendido."

Em relação a tipologia desta prática, existem vários tipos de colaboração que podem ser vistos na Internet, como o crowdsourcing advertising (publicidade colaborativa), já discutido neste mesmo blog, que permite aos clientes ajudar na promoção de um produto específico. Alguns mais simétricos do que outros, é verdade: muitas vezes, a participação do público alvo na definição de algum aspecto de um produto se configura, na verdade, apenas para confirmar uma ideia inicial desenvolvida pelo grupo emissor da situação.  

Muitos são os casos de grupos musicais famosos que, além de interagirem com seus fãs com promoções e menções em programas da mídia tradicional, pedem a colaboração dos usuários de redes sociais (como amigos de comunidades no Orkut ou seguidores no Twitter) acerca de vários aspectos de uma produção musical, como a capa de um disco, por exemplo.

Uma das bandas que mais produz ferramentas para interagir com seus admiradores é a brasileira Skank, que além de ter no seu portifólio músicas de sucesso como "Garota Nacional", "É uma partida de futebol", "Vou deixar" e "Sutilmente", destaca-se também por desenvolver plataformas de interação com o público, tanto que obteve reconhecimentos por estas iniciativas (premiação pelo Multishow por Iniciativa em Novas Mídias, em 2009, e com o Prêmio de Música Digital na categoria Artista Mais Engajado Digitalmente, em 2010)

Neste ano, a banda liderada por Samuel Rosa traz mais uma estratégia de interação com os fãs (segundo a banda, é algo pioneiro no Brasil). A nova música de trabalho do grupo chama-se "De Repente" (Samuel Rosa / Nando Reis), pertencente ao CD e DVD "Multishow ao Vivo - Skank no Mineirão" e, assim como muitas músicas escolhidas para alavancar um trabalho, era preciso produzir um videoclipe. 

Porém, os integrantes da banda queriam mais do que apenas uma gravação. Segundo entrevista concedida ao jornal Folha de São Paulo, os integrantes da banda sempre viam vídeos de grupos tocando suas músicas e, a partir desta observação, pensaram na possibilidade de colocar vários desses vídeos lado a lado tocando ao mesmo tempo.

E isso se tornou possível através de um site chamado SkankPlay, feito em parceria com o coletivo DonTryThis que permite a qualquer pessoa tocar juntamente com a banda, formando, assim, um videoclipe oficial de "De Repente". São seis canais de vídeo diferentes: vocal, backing vocal, guitarra, teclado, baixo e bateria. Segundo o site oficial da banda já citado, é só gravar um vídeo cantando, tocando ou realizando uma performance da música e colocar o vídeo no lugar de um dos seis iniciantes. As produções são mixadas e se juntam numa só.

A versão personalizada do clipe pode ser adicionada em blogs, no Facebook, entre outras redes sociais. Para quem não sabe tocar ou cantar a música, vídeos tutoriais, feitos pelos próprios integrantes do Skank, ajudam a quem deseja participar desta plataforma. A seguir, está um dos clipes oficiais da música, realizado por vários músicos, juntamente com integrantes do Skank.



Este é um exemplo de colaboração espontânea, pois os músicos aceitaram espontaneamente o convite da banda para tocar juntamente com o Skank e os outros internautas, posteriormente, mandam os seus vídeos porque gostam da banda, aprovaram a iniciativa e realizam, mesmo que virtualmente, o sonho de dividir os vocais e a parte instrumental com um grupo musical famoso.

Em relação às funções de Relações Públicas utilizadas nesta estratégia, uma das mais evidentes é a consolidação da imagem do Skank como uma banda interessada não só em se comunicar com seus fãs, mas também produzindo iniciativas para que estes possam se comunicar com os músicos, escolhendo músicas para seus shows, por exemplo.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Comunicação, memória e tradição se complementam? - Ação publicitária da Pirelli

Na semana passada, este blog mostrou algumas dimensões da memória, ou seja, como que a memória pode ser pensada (como fundamento da tradição e conservação de sentidos e identidades ou como algo reflexivo) e foi utilizada a declaração do deputado Jair Bolsonaro como exemplo de aplicação destes conceitos na esfera comunicacional.

Hoje, este post mostra mais um exemplo claro de como a utilização do sentido de memória como conservação das tradições de uma cultura pode ser bem utilizado para propagar uma marca e associar a imagem desta com sentimentos e pensamentos positivos, através de uma ação publicitária promovida pela fabricante de pneus Pirelli. Antes de especificá-la, porém, algumas considerações e contextualizações precisam ser feitas.

No mês de junho de 2010, a montadora em questão foi eleita como a fornecedora oficial e exclusiva de pneus, por um período de três anos (2011-2013), de importantes competições automobilísticas, dentre elas a Fórmula 1. Esta exclusividade pode ser uma grande alavanca para tornar a comunicação corporativa mais eficiente, segundo o release já citado:

"A Pirelli planeja fazer importantes investimentos em comunicação corporativa, para aproveitar ao máximo a visibilidade e a tecnologia de ponta que anda de mãos dadas com o fornecimento à Fórmula 1, com a utilização de recursos e orçamento que já haviam sido reservadas para esta finalidade.
Esta campanha de comunicação contribuirá principalmente para dar suporte ao crescimento da Pirelli em mercados emergentes: América Latina, Oriente Médio e região Ásia-Pacífico, que são áreas frequentemente visitadas pela Formula 1."

Por falar em América Latina, um dos países com maior tradição na chamada principal categoria do automobilismo é o Brasil. Vários campeões de Fórmula 1 nasceram no país, como Emerson Fitipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. Além disso, Rubens Barrichello é, atualmente, o piloto mais experiente da história da categoria, disputando sua 19º temporada consecutiva. Ao lado dele, Felipe Massa é o outro representante brasileiro na temporada 2011 da competição (Massa que quase conseguiu ganhar o título mundial em 2008, ficando a apenas um ponto do inglês Lewis Hamilton).

Aproveitando esta tradição brasileira na Fórmula 1, a montadora decidiu realizar uma ação publicitária nas ruas de São Paulo (descrião do case com informações do Blog Mídia8!), inserindo nas ruas pilotos com capacetes e macacões de corrida da marca, com o lema "A emoção está de volta", justificado pelo fato de que a Pirelli desenvolveu pneus que teriam uma menor durabilidade, o que forçaria os carros a fazerem mais paradas nos boxes e levaria, consequentemente, a uma maior troca de posição dos pilotos, inserindo uma maior emoção às corridas e, com isso, a uma disputa mais acirrada dos títulos de pilotos e construtores. 

Como ver pilotos de corrida uniformizados em pleno local público, muitas vezes, não faz parte do cotidiano, muitas pessoas tiraram fotos desta situação e repercutiram o fato entre seus amigos. Num ponto específico do Viaduto do Chá, os pilotos se encontraram e, em plena rua, houve uma apresentação musical da Orquestra Furiosa, tocando o famoso Tema da Vitória, idealizado pelo maestro Eduardo Souto Neto e gravada originalmente com a participação do grupo Roupa Nova, que ilustra as vitórias brasileiras na Fórmula 1 desde Nelson Piquet. Porém, a música é mais lembrada e emociona mais por embalar as conquistas do saudoso Ayrton Senna. O vídeo desta ação, com mais de 150 mil visualizações, está disponível a seguir.


Para reforçar esta mensagem, além da criação da hastag #AEmocaoEstadeVolta no Twitter, há ainda um site exclusivo para esta ação, mostrando os comentários das pessoas no próprio endereço eletrônico e no Twitter, além do vídeo principal da campanha e de um link explicativo sobre os pneus da Fórmula 1, apresentado pelo personagem Dr. Pirelli.

Pode-se perceber, a partir desta descrição, como é que os estudos da memória podem explicar a criação deste vídeo, conservando a tradição da representatividade brasileira na categoria e incentivando uma torcida maior para os pilotos locais, mesmo sem títulos desde 1991. Ao mesmo tempo, a marca consolida uma identificação com o público brasileiro e mostra uma imagem sensível à cultura e às paixões locais.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Qual é o limite do infotenimento? (II) - Dia da Mentira no Globo Esporte São Paulo

Neste blog, foram vários os posts retratando até que ponto o uso do infotenimento é saudável para dinamizar as coberturas jornalísticas (principalmente, as esportivas). Nesta última semana, houve um programa que pode trazer esta discussão novamente à tona.

Na última sexta-feira, muitas pessoas "comemoraram" o chamado dia da mentira - até mesmo o Google e o Youtube se aproveitaram da data para disseminar informações inverídicas. O interessante é que o dia 1º de abril foi escolhido para "celebrar" esta prática por conta de uma falha de comunicação. Segundo o site Brasil Escola, o rei da França, Carlos IX, após a implantação do calendário gregoriano, instituiu o dia primeiro de janeiro para ser o início do ano. Como as notícias demoravam muito para chegar às pessoas, fato que atrapalhou a adoção da mudança da data por todos.

Antes dessa mudança, o ano novo era comemorado do dia 25 de março até mais de uma semana depois, ou seja, no dia primeiro de abril. Algumas pessoas não gostaram da mudança no calendário e continuaram a comemorar na data antiga. Isso virou motivo de gozação, por parte das pessoas que concordaram com a nova data, e passaram a fazer brincadeiras com os radicais. Estas causaram dúvidas sobre a veracidade da data, confundindo as pessoas, por isso o surgimento do dia 1º de abril como dia da mentira. 

Geralmente, nesta data, os programas jornalísticos costumam exibir reportagens sobre esta faceta humana do ponto de vista comportamental, psicológico, muitas vezes sem se deixar influenciar diretamente pela data, publicando notícias falsas. Entretanto, a edição paulista do Globo Esporte decidiu pautar o jornal de 1º de abril incorporando o contexto da data.

O apresentador Tiago Leifert, diferentemente do habitual, vestiu-se de terno e gravata (assim como os repórteres Leonardo Bianchi e Renato Peters) e apresentou as notícias sentado em frente à uma bancada tradicional de telejornal. Com um semblante mais sério (dissolvido somente em alguns momentos), Leifert fez questão de ressaltar nos três blocos que "hoje é primeiro de abril, PRIMEIRO DE ABRIL!" (quase gritando para as câmeras). 

O Globo Esporte aproveitou a data para ironizar alguns clubes grandes paulistas e se utilizou, em algumas chamadas da escalada, de várias expressões de duplo sentido, como "Muricy está perto do fogão" (seria do Botafogo ou uma exibição de um dote culinário deste técnico de futebol, como mostra a figura que aparece na sequência da chamada?) ou "Neymar diz que fica no Santos, mas aparece no Real" (a seguir, é mostrada uma cédula com a fisionomia do atacante santista). 

Ainda no primeiro bloco, foram apresentadas notícias sobre o São Polo (um time de caiaque), do Corinthians alagoano (com a reportagem de Klebs Lós) e do Juventus, time paulistano com sérios riscos de ser rebaixado para a Série B1 do Campeonato Paulista e que trouxe novamente um técnico que deixou o time no começo do ano para trabalhar no Barueri, rival da mesma divisão estadual. Esta última notícia gerou uma "enquete interativa" no Globoesporte.com sobre se era correto este acolhimento por parte do Juventus.


No terceiro bloco, além da cobertura do grande clássico do Campeonato Paulista entre São Caetano e São Bernardo e de mais "gols da rodada" (só que agora, a de futebol society), a mentira que mais repercutiu (positiva e negativamente) nos portais de notícias e nas mídias sociais foi exibida, justamente, no encerramento do jornal. Um dos grandes argumentos para torcedores de outros times ridicularizarem o Corinthians é o fato de que o time ainda não conquistou a Copa Libertadores da América. 

Com este contexto, Leifert encerrou este Globo Esporte dizendo: "O Globo Esporte tá (sic) terminando, mas não sem antes de prestar uma merecida homenagem. Hoje é dia 1º de abril, Dia da Mentira, aniversário do 1º título do Corinthians na Libertadores da América". Em seguida, um vídeo mostrava uma montagem comemorativa do título inédito. Logo após o fim do jornal, o termo "GESP", que já estava entre os mais comentados na rede de microblogs Twitter, gerou vários comentários, bons e ruins, sobre a ironia final do Globo Esporte. Os portais de notícias na Internet, como o Portal Imprensa e Uol Esportes, repercutiram o fato, além de gerar comentários de colunistas esportivos e televisivos, como Milton Neves e Maurício Stycer.

A TV Corinthians respondeu às mentiras proferidas por Leifert e brincou, também no encerramento de um de seus programas, com o apresentador, insinuando a sua homossexualidade, ao parabenizá-lo pelo primeiro aniversário de casamento com Paulão, jogador de basquete da segunda divisão paulista. Muitas pessoas, inclusive corinthianos, não gostaram desta ironia apresentada pela televisão, achando-a muito pior do que a do Leifert. O vídeo está disponível a seguir.



O que se pode concluir destas situações é que o uso do infotenimento foi totalmente explícito nesta edição do Globo Esporte e, como já foi debatido neste mesmo blog, é necessário delimitar as fronteiras desta prática para que o jornalismo não se perca em meio às ironias e brincadeiras.
Já no segundo bloco, houve uma reportagem mostrando algumas mentiras históricas contadas na história do futebol, além da apresentação dos gols da Copa do Brasil, houve notícias sobre o Corinthians paranaense e o Palmeira piauiense e uma matéria sobre a faceta "piloto de avião" de Cacá Bueno.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Dimensões da memória como meios de conservação e reflexão - Caso Bolsonaro

Muitas vezes, ouve-se dizer de que certa pessoa tem "memória de elefante" ou que o Brasil não possui memória suficiente para valorizar seus artistas e sua própria História. Mas para-se para pensar a respeito no que se refere, de fato, ao ato de lembrar, de rememorar algo ou alguém?  Guarniello, em seu texto Memória coletiva e história científica*, descreve duas dimensões da memória: a primeira como fundamento da tradição de uma cultura e conservação dos sentidos e das identidades, e a segunda como uma ação reflexiva, uma inquisição proposta ao tempo. E como pode-se relacionar estes conceitos à esfera comunicacional?

Na última segunda feira, dia 28 de março, o programa jornalístico-humorístico CQC (Custe o que Custar), da TV Bandeirantes, apresentou um de seus quadros chamado "O Povo Quer Saber", que tem a função de apresentar opiniões de pessoas famosas (artistas, empresários, esportistas, políticos, entre outros) sobre variados assuntos, inseridos no discurso pela participação de populares.

O entrevistado do dia era o militar e deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), conhecido pelo seu filho Carlos ser o mais jovem vereador eleito da história do Brasil (com 17 anos, em 2000), por suas críticas ao comunismo e as esquerdas, alem de variadas declarações polêmicas a respeito de vários assuntos. Entre elas, no ano de 2000, numa entrevista concedida à revista Istoé Gente, ele se declara defensor da tortura e da pena de morte.

Em 2011, mais uma polêmica se desenhou (e ainda se desenha) na trajetória política de Bolsonaro. No quadro já citado do programa semanal, o deputado respondeu a variadas perguntas, como: "Quem é seu guru na política?", "O que você acha da Dilma?", "Está com saudades do Lula?", "Do que você tem mais saudades da época da ditadura?", "Continua achando que o FHC deveria ser fuzilado?", "O que você faria se tivesse um filho gay?", entre outras questões polêmicas que pdoem ser vistas no vídeo a seguir. 



Porém, a última questão foi a mais comentada pelos populares e por vários portais de notícias, como o G1 e o ODia. A cantora Preta Gil fez uma pergunta ao deputado: "Se seu filho se apaixonasse por uma negra, o que você faria?" Bolsonaro respondeu: “Preta, não vou discutir promiscuidade com quer que seja. Eu não corro esse risco, e meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o teu.”.


A cantora, assim que soube da declaração (principalmente pela repercussão no Twitter e pelos mais de 100 mil acessos do vídeo no Youtube), prometeu que vai processar o deputado, segundo ela, não só pela sua imagem, mas pela a de todos os negros e gays do Brasil. O apresentador Marcelo Tas, no blog oficial do programa, se surpreendeu com a grande polêmica que o quadro suscitou, já que este foi mostrado no encerramento do CQC, e também classificou como inadmissível a resposta de Bolsonaro à Preta Gil.

No dia seguinte, Bolsonaro protocolou um requerimento para que o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados o convide para prestar esclarecimentos sobre as declarações, algo que já foi feito no próprio site do deputado e no Plenário da Câmara, justificando ter se confundido acerca da última pergunta.

E o que esse incidente, ainda em curso, pode estar relacionado às dimensões da memória? No caso da memória como conservação, Bolsonaro evidencia uma tradição militar, mais conservadora e, por vezes, de preconceitos e indiferenças com segmentos sociais. No caso da memória como uma ação reflexiva, basta acompanhar a repercussão das declarações nas mídias sociais: embora algumas pessoas concordem com ele, em relação à disponibilidade ou não de cotas, muitos protestam contra as falas de Bolsonaro e, assim, a linha comunicacional perpassa e modifica a história.

*GUARINELO, Norberto L. Memória coletiva e história científica. In: Revista Brasileira de História,  n.28. p. 180-93