sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Gestão de crises de imagem - INTERUNESP e o "rodeio das gordas"

Toda organização (seja ela uma instituição, uma empresa, uma agência, um local de serviço público, entre outros) ou até mesmo cada indivíduo tem uma imagem, uma pintura, um retrato a zelar. Dependendo do caso, qualquer arranhão, borrão ou um simples rabisco nesta construção pode acabar com o prestígio sedimentado por vários anos e, assim, determinar uma crise de imagem que pode levar empresas e instituições ao ostracismo e, em alguns casos, à falência.

Antes de mais nada, é necessário identificar o conceito de crise de imagem. Para isso, nesse post, utiliza-se a dissertação de Maria Carolina Rodriguez, intitulada Comunicação em Tempo de Crise: o caso da Autovisão no Brasil (2006, p. 16), que analisa o caso Autovisão, que determinou, em 2003, uma crise de imagem da Volkswagen do Brasil. No primeiro capítulo desta dissertação entregue ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Metodista do Brasil, a autora define alguns termos relacionados ao estudo de caso, dentre eles a crise de imagem:

"As crises de imagem acontecem quando afetam a reputação da empresa perante a opinião pública. Uma empresa pode enfrentar um problema, sem que a opinião pública tome conhecimento do fato. Nesse caso, ela foi resolvida internamente, sem se transformar em uma crise de imagem. Em contrapartida, se o problema chegar ao conhecimento da opinião pública, provavelmente se transformará em uma crise de imagem, pois afetará a reputação da empresa* (...)".

*É válido ressaltar as diferenças entre imagem e reputação: enquanto a primeira tem um caráter efêmero, é o resultado da comunicação e se constrói fora da organização, a reputação tem uma esfera duradoura e é gerada no interior da organização. (notas nossas)

Quando o momento da crise acontece, gerenciá-la é uma tarefa importante e que exige uma atenção maior nas consequências que esse ato pode causar, não só no presente momento, mas em eventos futuros. O profissional de Relações Públicas é apto a ser este gerenciador que pode, em alguns casos, salvar a instituição de uma consequência negativa maior colhida pelo fato indesejável.

Um fato que precisa de uma gestão de crises de imagem aconteceu durante os jogos universitários INTERUNESP, promovidos no ano de 2010 na cidade de Araraquara/SP. Segundo as notícias, houve neste evento o chamado "rodeio das gordas", em que jovens mais gordinhas são paqueradas de início, depois agarradas e, se debatendo, ficavam presas aos garotos, como nos rodeios. Vencia aquele que conseguia segurar sua "parceira" por mais tempo.

Muitas garotas atingidas por essa "brincadeira" procuraram as reitorias e a Unesp abriu processo para investigar o caso, além dos vários protestos feitos por alunos da própria faculdade de Assis, de onde vieram os alunos criadores da brincadeira. Até uma reunião da Congregação de lá foi assistida por centenas de mulheres e homens protestando silenciosamente contra o "rodeio".

A repercussão nas mídias sociais foi imediata, com muitos twitteiros repudiando o "rodeio", a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) soltou uma nota lamentando o ocorrido e a cantora e atriz Preta Gil saiu em defesa das mais gordinhas, encorajando-as a se defender destas truculências, além das comparações entre UNESP e UNIBAN por conta do episódio de Geisy Arruda. Abaixo, o vídeo com a notícia completa, dada pela Rádio Morada do Sol de Araraquara.


É necessário, nesta visão de uma blogueira unespiana de Relações Públicas, uma ação rápida e eficiente por parte da reitoria da UNESP para que esta crise de imagem que afetou a instituição não se perpetue por muito tempo e que os responsáveis pelas brincadeiras sejam punidos rigorosamente.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Quando o cara morre é que a gente reconhece - O espetáculo da mídia e as celebridades

Como muitos sabem, o cenário midiático mundial, dependendo de vários fatores, privilegia algumas pessoas notórias em detrimento de outras, por conta de suas atitudes e comportamentos ou até mesmo pelo contexto, que pode ou não ser propício para as suas aparições nos meios de comunicação. Mas existe um momento da vida do artista em que ele é lembrado, independente de sua repercussão, seja em páginas inteiras de jornais, seja em notas minúsculas na televisão ou na Internet: o momento da morte.

As celebridades são vistas por muitas pessoas como seres mitológicos, com um aura de imortalidade expressa em cada gesto, e, quando elas falecem, há toda uma comoção em volta do fato e a necessidade de se afirmar os fatos e de se explicar o que aconteceu, ainda mais se for trágico como, por exemplo, a morte do piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna, como descrevem Ronaldo Helal e Graziella Cataldo no artigo A Morte e o Mito: as narrativas da imprensa na cobertura jornalística da morte de Ayrton Senna, apresentado no NP 18 - Comunicação e Esporte no XXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação em Porto Alegre (2004, p. 4):

"A morte de uma personalidade é celebrada e produz significados para a sociedade mais ampla. Ela transcende a comoção familiar, a esfera privada, e torna-se de domínio público, tal qual foi a narrativa produzida pelos meios de comunicação da personalidade em vida. (...).
A divulgação feita pela imprensa é vista como fator de grande importância para as manifestações sociais."

O piloto brasileiro, claramente, era considerado um dos grandes pilotos da história enquanto estava vivo; porém, depois de sua morte trágica em 1º de maio de 1994, o mito se eternizou e até hoje, principalmente com a proximidade do aniversário de morte, são feitas várias homenagens a Senna, como nomes de ruas, de avenidas, de rodovias e de indivíduos, entre outros. 

Outro "mito" que pode se eternizar com sua morte é o polvo Paul, conhecido por acertar várias previsões durante a Copa do Mundo de 2010 na África do Sul. Ele morreu na madrugada da última terça-feira (dia 26 de outubro), de causas naturais em seu aquário na Alemanha, e já recebeu várias homenagens, como uma estátua no oceanário em que vivia e a torcida do Barcelona lembrou-se do polvo que acertou a conquista da Espanha no Mundial. Até o Globo Esporte fez sua homenagem ao polvo profeta, com a narração de Tiago Leifert.

E ainda se vê casos de artistas que afirmam que serão mais reconhecidos na música quando morrerem, como o ator da saga "Crepúsculo" Robert Pattinson, em entrevista ao jornal "The Sun". Entre críticas e comentários, o que é importante ressaltar são os casos de músicos que só tiveram um maior reconhecimento depois de sua morte, como o brasileiro Raul Seixas. A morte, portanto, pode ser, dependendo das circunstâncias, um "bom negócio" para a imagem da celebridade, que pode se perpetuar por várias gerações.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

É hora da comunicação animada! - Uso de charges como reflexos da sociedade

Todos os dias, milhares de informações (relevantes ou não) são passadas e repassadas em e para todo o mundo através, principalmente, da televisão e da Internet. A repercussão dos fatos se dá, muitas vezes, de maneira quase que imediata, graças ao advento das mídias e redes sociais, e pode ser traduzido de muitas formas e para muitos modelos. No post de hoje, será abordado uma destas formas de se repercutir uma notícia, uma expressão ou uma pessoa marcante (tanto positiva quanto negativamente): o uso das charges.

Antes de se ver alguns casos interpretados sob a ótica dos desenhos, é necessário entender como foi o surgimento desta prática. Desde antes de 1865, com a fundação do Diabo Coxo (primeiro jornal brasileiro de caricaturas), estas charges (antes denominadas de caricaturas) serviam para mostrar a realidade de maneira às vezes engraçada, às vezes reflexiva, mas sempre mostrando fatos atuais e relevantes para o contexto da época.

Esta repercussão pode ser melhor explicada tomando como referência o artigo As Manifestações Polifônicas e Intertextuais da Charge Jornalística e Sua Atuação Sobre a Vida do Brasileiro - Uma Análise da República Velha e do Lulismo, escrito por Mariane Frascareli Lelis, apresentado no XXI Congresso de Iniciação Científica da UNESP (2009, p. 1):

"Também é importante a repercussão desses fatos vista através das charges, uma vez que o enunciador/chargista leva o enunciatário/leitor a ter uma visão crítica a respeito do acontecimento; mediante a sátira, cuja finalidade, ao provocar o riso, é a de obter a adesão do enunciatário."

As charges, que antes eram exibidas somente em jornais impressos e na televisão, começaram a ter o seu espaço ampliado na Internet, através de vários sites especializados, dentre eles o Charges.com.br. Segundo o release disponível no site, o trabalho do cartunista Maurício Ricardo começou em fevereiro de 2000, com o objetivo de juntar a "agilidade da charge impressa de jornais, os recursos de multimídia e interatividade da Internet, num resultado pioneiro no Brasil.".

Desde então, o site mostra, todos os dias, os fatos mais recorrentes do notíciário de forma crítica e divertida, seja com charges comuns ou com as "Charges-Okê", em que personalidades nacionais e internacionais cantam paródias de músicas conhecidas. Uma das mais votadas no site mostra o humorista Tiririca, recém-eleito para a Câmara dos Deputados com a maior votação do Brasil, cantando uma paródia de sua própria música Florentina e explicando o tal do quociente eleitoral, que beneficiou outros parlamentares de seu partido nas eleições.



Este site conseguiu também ultrapassar a fronteira da Internet e chegar à televisão, com a atuação do cartunista satirizando as edições do Big Brother Brasil e produzindo charges para o programa Esporte Espetacular, ambos da Rede Globo.

Outro site especializado em charges é o AnimaTunes, nascido em 2007 de uma brincadeira entre dois amigos: Baltazar Paprocki e Mike Mattos. Segundo o espaço dentro do site para a imprensa, "Os dois irrequietos sócios já trabalhavam com humor no rádio, na publicidade e na Internet e iniciaram, sem nenhuma expectativa, um projeto web para veicular os trabalhos desenvolvidos em parceria."

O ponto forte do site, mesmo com atualizações a cada dois dias, é a interatividade com os internautas e a participação da dupla na concepção de charges para o programa esportivo Jogo Aberto, da Rede Bandeirantes de Televisão, como a sátira da troca constante de treinadores no Campeonato Brasileiro, utilizando aspectos do filme Tropa de Elite, e que foi exibida em 13 de outubro de 2010.



Pode-se afirmar, com estes dados, a importância de se comunicar uma ideia ou uma visão de mundo através das charges e o uso destes desenhos pode ajudar a reforçar o senso crítico de muitos indivíduos através de vários elementos discursivos, como intertextualidade e polifonia, e ainda mostrar uma imagem mais lúdica dos principais fatos ocorridos no Brasil e no mundo.

sábado, 23 de outubro de 2010

Saber falar e saber ouvir (III) - Roberto Carlos e o "Mundialito" do Corinthians

Continuando uma série de posts deste blog que tiveram, como casos analisados, as empresas "Velhas Surdas" e o caso Rita Lee x Corinthians, é necessário recapitular a importância de se pensar duas vezes antes de tornar pública uma declaração sobre qualquer assunto. Uma das atividades em que essa capacidade é muito valorizada é o teatro, como se pode identificar neste excerto do artigo Os Cadernos de Teatro & a Descentralização do Saber Teatral, de José Ronaldo Faleiro (2002, p. 48):

"Em cena, o mais importante não é saber falar: é saber calar. Em cena, o jogo do ator consiste em falar e ouvir. Ele não pode falar sem representar mas pode representar sem falar."

Pode-se dizer, com base nesta afirmação, que, no grande teatro da vida (tanto pessoal como profissional), os indivíduos-atores precisam tomar cuidado para que a repercussão de suas falas não se transforme numa confusão digna de tragédia, através do jogo realizado por atores profissionais e amadores, relatado pelo autor. E, ao contrário da peça propriamente dita, o teatro da vida passa sem que se possa ter uma segunda oportunidade para se corrigir totalmente os erros.

Na última quinta-feira, dia 21 de outubro, o lateral esquerdo Roberto Carlos, que joga atualmente no Corinthians, concedeu uma entrevista ao canal pago ESPN Brasil, no programa Bola da Vez em que falou um pouco acerca do Mundial de Clubes da FIFA conquistado pelo time em 2000, derrotando, entre outros adversários, o espanhol Real Madrid, aonde atuava o jogador na época. Ou seria esta grande conquista do clube centenário um simples "Mundialito"? O vídeo abaixo mostra as declarações polêmicas do jogador.



No começo do vídeo, é visível o aspecto "malicioso" desta pergunta (podendo interferir na respota do jogador), que foi feita pelo comentarista Marcelo Duarte com esta afirmação: "Janeiro de 2000: Vocês sairam da Europa e vieram jogar um torneio aqui no Brasil que era... um Mundial, né? Diziam que era um Mundial, tem gente hoje que diz que era um torneio de verão. O que vocês vieram disputar aqui? O que vocês vieram disputar e, quando vocês cairam fora, o sentimento foi do quê? Perdemos o quê, Roberto Carlos?"

Então o lateral começou a falar sobre a visão dele, no ano de 2000, sobre o Mundial que, pra ele e pra muitos jogadores europeus, era considerado um "Mundialito", um torneio sem importância em que alguns boleiros acabavam dormindo a altas horas da madrugada, ficavam na piscina em dia de jogo, ou seja, era um verdadeiro "passeio" para times como Real Madrid e Manchester United.

A repercussão da entrevista foi quase imediata: a expressão "Mundialito" se manteve por algumas horas entre os assuntos mais comentados no Twitter e foi notícia em vários portais de notícias, como Ig, Globo Esporte, Uol, e gerando comentários negativos dos colunistas esportivos Juca Kfouri, Ricardo Perrone e Roberto Avallone. No dia seguinte, Roberto Carlos teve que se explicar, minimizando a polêmica e acusando a imprensa de distorcer a entrevista que, na visão dele, foi maravilhosa.

Concluindo, se o ator no teatro não pode falar sem representar, o jogador deveria se conscientizar de que, neste ano de 2010, ele representa a equipe do Corinthians, não mais a do Real Madrid, e que, confessando o provável "pouco caso" dos jogadores europeus ao Mundial, poderia dar às torcidas rivais que não aceitam este título do clube a conclusão de que "o Corinthians só ganhou porque vários times não deram importância ao torneio", tirando, portanto, os méritos do clube paulista e gerando uma crise de imagem do jogador em relação ao torcedor corinthiano.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Relações Públicas é curso de primeira categoria, sim!

Nas primeiras horas do dia 20 de outubro, o universo brasileiro das Relações Públicas foi assombrado com uma entrevista concedida pelo professor João Manuel Cardoso de Mello, fundador da FACAMP e da UNICAMP, sobre perguntas feitas frequentemente durante palestras ministradas por ele aos diversos grupos de vestibulandos. Dentre as perguntas, houve uma declaração, no mínimo, infeliz por parte do professor. Acompanhe a pergunta e a resposta abaixo (grifos nossos):

Escolhida a área, qual é o passo seguinte?
JM – Obtenha uma primeira informação sobre cada uma das profissões que integram a área que você escolheu. Você poderá, então, eliminar profissões para as quais você manifestadamente não tem vocação. Ou profissões claramente me-nos valorizadas no mercado de trabalho. Procure escolher profissões sólidas. Evite cursos de segunda categoria, pouco valorizados no mercado de trabalho. Por exemplo: Turismo, Relações Públicas e Hotelaria. Faça primeiro Administração e se especialize depois em Administração Hoteleira. Faça Geografia e depois se especialize em Turismo. Segundo conselho: procure escolher profissões que estejam em ascensão. Por exemplo: na área das engenharias, é notório que o engenheiro generalista, o Engenheiro de Produção, ganha crescente importância.

Depois desta declaração, ainda na madrugada, os twitteiros de Relações Públicas e de outros cursos se revoltaram com o episódio, causando uma grande repercussão no Twitter e gerando posts em blogs conceituados, como o OCappuccino, por exemplo. E um problema maior: a faculdade, até quando este post foi finalizado, ainda não se retratou acerca dessa declaração, talvez por faltar realmente um profissional de Relações Públicas para gerenciar esta crise de imagem da faculdade. Já a Associação Brasileira de Relações Públicas - São Paulo (ABRP-SP) postou uma nota em seu blog lamentando os comentários do professor.
 
Acredita-se que a entrevista já se compromete no seu próprio título: Pesquise sua vocação. Certamente é necessário pesquisar o que cada profissão exerce, quais são os atributos necessários para cada uma, porém a palavra vocação vem do latim vocare, que significa "chamamento, ato de chamar", e é uma voz interior, da alma (pra quem acredita, é um pedido de Deus), que nenhum Google vai conseguir emitir.
 
O segundo (e pior erro) é em relação a desvalorização das profissões sublinhadas, algo que os próprios guias de profissões desmentem. Talvez o professor não tenha lido um estudo feito nos Estados Unidos que aponta as Relações Públicas como uma das profissões do futuro. Veja um trecho importante da reportagem:

"A única profissão da área de humanas listada pelo Instituto do trabalho dos Estados Unidos é a carreira de Relações Públicas. "Num país onde o código do consumidor é o mais sério do mundo, as empresas precisam aprender a se relacionar com eles", diz o coordenador do curso de Relações Públicas da Fundação Cásper Líbero, Júlio Barbosa.
Ele acrescenta que as empresas, além de vender produtos, precisam fidelizar seus consumidores, e isto se dá com estratégias de apoio ao marketing, ações junto aos funcionários e a comunidade onde a empresa está inserida."

Isto mostra claramente a grande importância do profissional de Relações Públicas, tanto nas empresas quanto em ambientes públicos, e todo este episódio desenhado hoje pode nos servir de lição: não se deve deixar de se indignar com as situações que acontecem e que interferem, de forma direta ou indireta, na vida de cada indivíduo. E para o professor que talvez nem saiba o que é Relações Públicas, o pessoal da UNIFAMMA (Faculdade Metropolitana de Maringá) explica:

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Indivíduo Não Governamental - Um novo campo de ação para as Relações Públicas

Há muito tempo se ouve falar do grande trabalho que as Organizações Não Governamentais (ONG's) realizam nas comunidades em que estão inseridas, atuando nas áreas de responsabilidade social, cidadania, sustentabilidade, promoção da vida, entre outras, e é cada vez mais importante a divulgação destes trabalhos para uma maior conscientização do público e dos integrantes de Governos municipais, estaduais e federais. Neste ponto entra o profissional de Comunicação, para auxiliar estas instituições a propagarem as suas mensagens e o ideal da cidadania para os meios de comunicação, como relata Cicilia M. Krohling Peruzzo, em seu artigo Comunicação comunitária e educação para a cidadania:

"Os meios de comunicação comunitários/populares (...) têm assim o potencial de ser, ao mesmo tempo, parte de um processo de organização popular e canais carregados de conteúdos informacionais e culturais, além de possibilitarem a prática da participação direta nos mecanismos de planejamento, produção e gestão. Contribuem, portanto, duplamente para a construção da cidadania. Oferecem um potencial educativo enquanto processo e também pelo conteúdo das mensagens que transmitem. Por seus conteúdos podem dar vazão à socialização do legado histórico do conhecimento, facilitar a compreensão das relações sociais, dos mecanismos da estrutura do poder (...), dos assuntos públicos do país, esclarecer sobre os direitos da pessoa humana e discutir os problemas locais.".

E quando há a vontade de se mobilizar por certa causa social, porém não se encontrando recursos financeiros, ou se debatendo com a burocracia que existe para se montar a estrutura de uma ONG? Uma saída encontrada por várias pessoas, inclusive profissionais de Relações Públicas, é partir para a ação direta, promovendo ações concretas para o desenvolvimento da sociedade; é ser, portanto, um ING (Indivíduo Não Governamental).

Averaldo Nunes Rocha e Márcio Mitio Konno, do Centro Universitário Radial (SP), realizaram um trabalho chamado ING's - Indivíduos Não Governamentais - Reciclando a Cultura do Lixo, em que relatam dois casos em que a cultura do lixo foi retomada: o primeiro é de um catador de papel que, apaixonado por cinema, criou o Mini Cine Tupi, que exibe filmes e distribui pipocas gratuitamente à comunidade carente de Taboão da Serra (foto no começo do post). Já o segundo é um casal que montou uma biblioteca comunitária a partir de livros e revistas encontradas durante os seus trabalhos no processo de reciclagem de lixo. Já são mais de 16000 exemplares disponíveis no subsolo do Edifício Prestes Maia, em São Paulo (foto abaixo).

Nos dois casos, os gastos são custeados pelos próprios idealizadores e há a ajuda de doadores, sem retorno financeiro para os ING's. O maior retorno, porém, para cada um deles é a recuperação da dignidade, da educação e da alegria em ser um membro desta comunidade. Talvez o maior desafio destes profissionais é a retirada de certos comentários maldosos, como se os ING's tivessem uma certa "vontade de se aparecer nas mídias", estereótipos que precisam ser retirados urgentemente, pois não é qualquer profissional que consegue se dispor abertamente ao trabalho voluntário e que precisa, algumas vezes, ter sensatez para discutir com as empresas e com os poderes públicos a fim de melhorar a vida da comunidade.

Por isso, deve-se dar muita importância a esta atuação e pensar na possibilidade do Relações Públicas ter estas iniciativas e se tornar um ING. As disciplinas de Comunicação Comunitária (ou nomes semelhantes) na graduação auxiliam os alunos a perceber as dificuldades e as carências existentes nas comunidades assistidas e, por consequência, a formar cidadãos mais conscientes e motivados a fazer o bem comum, mesmo quando a sociedade não participa. Para encerrar, um pouco mais da história do Mini Cine Tupi, através da reportagem do programa Ressoar, da Rede Record, exibido em abril de 2009.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Estimulando a criatividade e o hábito da escrita - Concursos de redação nas escolas

Uma frase antiga, mas ainda eficiente em muitos casos, afirma que "quem lê muito e bem, possui maior facilidade e eficácia na escrita". É quase que universal reconhecer a importância de se ter uma boa e fluente escrita para conseguir maiores oportunidades no universo acadêmico e no mercado de trabalho.

Porém, por quantas vezes muitas pessoas se deparam com um papel em branco, em diversas situações (seja numa prova de concurso ou vestibular, seja para postar num blog ou para apresentar um projeto aos cargos superiores), e começam a se perguntar: o que eu posso escrever aqui? Como começar meu texto? Como passar a minha mensagem de maneira coerente e simples de ser entendida por qualquer indivíduo?

Estas perguntas e o próprio hábito de ler e de se escrever periodicamente precisam ser despertados ainda desde a infância, como relata Adriana Aparecida Cassiano no texto O prazer de ler: o incentivo da leitura na educação infantil, seu Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina (2009, p. 11):

"Assim como a escrita, a leitura requer um contínuo exercício. Somos produtos de vivências e interações com o meio no qual estamos inseridos neste contexto social.(...) a leitura é um processo a ser praticado desde a tenra infância, e essa prática deve estar presente no início da vida escolar, o primeiro contato estruturado por uma metodologia prazerosa, ligada com seu desenvolvimento natural.".

Um exemplo de valorização da leitura, da escrita e da criatividade desde a infância são os concursos de redação que são organizados em várias partes do Brasil por diversas empresas. Neste post, será feita uma descrição do concurso promovido pela TV Tem, afiliada da Rede Globo que abrange várias regiões do estado de São Paulo (Bauru, Sorocaba, São José do Rio Preto e Itapetininga).

Segundo o site oficial do evento, o concurso tem o objetivo de incentivar estudantes de 1ª a 8ª séries a criarem o hábito da leitura e da escrita, através da abordagem de temas atuais. A iniciativa conta com o apoio das Diretorias Regionais de Ensino envolvidas e oferece prêmios aos alunos e professores.

Neste ano de 2010, o tema escolhido foi "S.O.S Planeta Terra", que poderia ser abordado de quatro maneiras: relato de experiência vivida, desenho, carta pessoal e artigo de opinião. As premiações às melhores redações e desenhos ocorreram no final de setembro, quase um mês depois do término das inscrições.

Pode-se ver, pelas centenas de redações enviadas, que o projeto é recebido de maneira positiva por alunos, pais, professores e diretores de escola, e isso é benéfico para as duas partes: há maior valorização da leitura e, em contrapartida, também a consolidação da imagem da emissora neste setor, algo parecido com o Jornal da Cidade, já discutido aqui mesmo no blog. É a educomunicação começando a fazer a diferença nas empresas e na sociedade.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Modismo, saudade ou saudosismo? - Voltando a ser criança no Twitter

Ontem, dia 12 de outubro, foi comemorado em todo o Brasil o Dia da Criança, que, pelos dados do site Mundo Estranho teve sua origem em 1924 graças ao deputado Galdino do Valle Filho, que escolheu este dia por conta de ser a mesma data da descoberta da América, o "Continente-Criança" na visão européia. Porém, este dia só começou a chamar a atenção do público nos anos 60, através de uma ação promocional da fábrica de brinquedos Estrela, culmnando num aumento da venda destes produtos no mês de outubro, o que consolidou a comemoração deste dia no calendário.

Enquanto muitas crianças aproveitam a data para ganhar muitos presentes e se divertir (há de se falar que outras sofrem por não ter condições de receber um brinquedo), os adultos aproveitam o dia para tentar, ao menos por algum tempo, voltar a ser criança e recordar momentos especiais desta fase da vida, mesmo que seja na esfera online.

Nas primeiras semanas de outubro, o que se viu na rede de microblogs Twitter foi, além da já esperada menção da hastag #diadacriança (ou variantes) nos Trending Topics do dia, uma "invasão" de fotos de crianças nos perfis, como alguns famosos fizeram; até mesmo os presidenciáveis aderiram à moda, mudando suas fotografias no perfil e postando momentos com as crianças.

Vendo a grande adesão dos usuários à troca das fotos do perfil pelas do tempo de criança, é necessário fazer uma reflexão e tentar achar os motivos para esta atitude, o porquê de mostrar recordações dos tempos da infância. Seria apenas modismo, divulgação de fotos "engraçadas" ou "fofas", saudade ou saudosimo deste período da vida que não volta mais?

Pode-se dizer que cada indivíduo teve o seu motivo para participar deste "movimento"; o que é interessante discutir, além da enumeração de hipóteses para isto, é a mudança da visão do sujeito-criança na sociedade atual. Como explica Marta Regina Furlan, no artigo A construção do "ser" criança na sociedade capitalista, pertencente à revista eletrônica Terra e Cultura (2004, p. 5), a identidade e o comportamento dos pequenos mudou com a ebulição da Revolução Industrial:

"Desde a revolução industrial, a sociedade tem-se deixado seduzir pelas idéias de utilidade, produtividade e lucro, passando a identificar como fundamentais o tempo e o dinheiro. Vive-se definitivamente regulado pelo incessante “tic-tac” do relógio. (...).
A criança no mundo moderno se depara também com a pressa, a rotina, a tensão, com colegas vivendo na rua, com o trabalho infantil, a erotização, a prostituição; sendo objeto de consumo, convive também com o apressamento da infância, empurrada e seduzida cada vez mais para o futuro – o mundo adulto."

Com essa sensação de que o tempo está passando mais rápido, agravada muitas vezes pelos meios de comunicação, o mundo adulto se apresenta às crianças mais rapidamente do que o natural, podendo não dar tempo de se resolver complexos e de se completar fases provenientes desta fase da vida (como o Complexo de Édipo ou as outras fases de desenvolvimento descritas por Freud, para citar a área psicológica). E é aí que pode entrar o saudosismo da infância, ou seja, o discorrer de elogios somente a esta etapa da vida, e então se aproveita a data do dia 12 de outubro para relembrar algumas brincadeiras e atitudes feitas quando as pessoas eram crianças.
 
Para encerrar, um vídeo que mostra esta comemoração do Dia da Criança pelos adultos, através de uma reportagem da GazetaOnline, postado no dia 06 de outubro:
 

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Conexão humana 24 Horas online: é viável? - Comercial Claro

Nesta primeira década do Século XXI, uma das mudanças mais significativas em relação à comunicação foi o aumento exponencial da velocidade de compartilhamento das informações, principalmente com a popularização do uso da rede mundial de computadores (Internet) e das mídias e redes sociais, como Orkut, Facebook, Twitter, entre outras.

As atualizações de programas, notícias, sites e até mesmo do status das pessoas, muitas vezes, obrigam os indivíduos a se conectar em tempo quase que integral às mídias para não ser "passado para trás", principalmente quando se trata da Internet, como expressa Ildemar Egger Júnior, em seu artigo Da necessidade da utilização da Internet no mundo moderno:

"Ou você é alguém@algum_lugar.com ou você não é ninguém. Não nos cansamos de repetir esta afirmação feita pelo executivo da Novell para expressar a real e notória necessidade das pessoas estarem conectadas com este mundo virtual, aparentemente complicado, porém com um enorme potencial que nos parece difícil ser explicado."

Sabe-se que a Internet é muito importante para o desenvolvimento de indivíduos e grupos durante estas últimas décadas. Mas até que ponto se faz necessária a conexão ininterrupta (que pode se tornar viciante) em sites e plataformas online, em detrimento, na maioria das vezes, dos relacionamentos interpessoais e da comunicação offline? Qual é o verdadeiro grau de importância destas duas vertentes?

Um comercial a ser discutido, baseado nas discussões acima, se chama Backgrounds, criado pela agência Ogilvy&Mather para a operadora de telefonia celular Claro, que estreou no último dia 30 de setembro.



Neste comercial, o produto a ser vendido é um pacote de acesso a Internet que daria acesso grátis e ilimitado pelo prazo de um ano às redes sociais e mostra as vantagens em estar conectado em tempo integral através dos personagens Paulo, Camila e Ana: saber que certa pessoa vai jantar (no caso da Camila sobre Paulo), ter uma repercussão e respostas sobre quem vai a este encontro, utilizando o Twitter (como Paulo, que recebeu "um monte de reply"), receber um aviso do chefe para comparecer a uma reunão na mesma hora do encontro (como Ana) e postar em tempo real as fotos do jantar.

O objetivo deste comercial é mostrar as vantagens em se estar conectado em tempo integral às mídias. Porém, esta comunicação é feita de maneira solitária em quase todo o vídeo, à exceção do encerramento, em que os amigos estão juntos no jantar; mesmo assim, a personagem segura o celular e, ao mesmo tempo em que interage com as pessoas, continua conectada ao mundo exterior. Esta busca pela perpétua conexão é discutida no artigo Internet e Cultura: um novo olhar, veloz e voraz, escrito por Wilson de Oliveira Souza:

" (...) a informação pode provocar dependência. Essa busca desesperada pode estar gerando uma crise desencadeada por excesso de informação. (...). É a saturação comunicacional, que é tão perigoso quanto a carência de informação. Nos Estados Unidos já estão surgindo estudos par tratar do caso, que já fez nascer o profissional do conhecimento, cuja tarefa é ajudar no manuseio e tratamento da enxurrada de dados disponíveis (...)."

Com isso, pode-se refletir acerca de como se pode balancear os relacionamentos on e off, que estão e estarão sempre presentes na vida de muitos indivíduos, para que não haja uma dependência crônica em relação ao tempo gasto com as mídias, principalmente com o computador. Para ilustrar este encerramento, um vídeo feito por alunos da IESB falando sobre os efeitos positivos e negativos da Internet.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Estratégia de coração - Comunicação comunitária no Movimento Saúde

Uma das vertentes em que os profissionais de comunicação, incluindo os Relações Públicas, podem atuar é servindo à comunidade em que se vive, ou seja, gerindo e efetivando a chamada comunicação comunitária.

Quando se observa o artigo Comunicação comunitária: Uma revisão dos conceitos fundamentais, de Antonio Carvalhal, apresentado no INTERCOM de 2007 (p. 4), pode-se perceber que "a mídia convencional (...) continua exercendo suas atividades de modo com que se crie uma diferença entre o mundo retratado pela mídia e o mundo que as pessoas vivem, criando então uma cultura da mídia". Ou seja, é necessário, na visão do autor, que a comunidade (e, por consequência, a mídia) possa mostrar, de maneira menos fantasiosa e mais realista, as realidades presentes na vida da população.

Dois grandes exemplos de como esta forma de comunicação é realizada são os programas Movimento Saúde (logo está embaixo) e Dia de Alerta sobre o uso excessivo do álcool, ambos feitos pela PROEX (Pró-Reitoria de Extensão Universitária) - UNESP no mês de outubro, que possuem o objetivo de conscientizar a comunidade para que se tenha uma maior qualidade de vida, com a prática de exercícios e a moderação em relação ao consumo de bebidas alcoólicas.

Os programas são feitos desde 2006, e surgiram devido a uma necessidade do público. Segundo a pró-reitora Maria Amélia Máximo de Araújo, em matéria veiculada na época, no ano de 2005 os casos de doenças cardiovasculares, como hipertensão, e de pessoas obesas e com sobrepeso aumentaram em torno da comunidade. “Formamos, então, uma comissão que elaborou atividades e informações para reverter esse quadro”, disse a reitora.

Várias intervenções foram e são feitas através destes projetos (mediados por alunos, professores e profissionais), como medição de glicemia, avaliações físicas e psicológicas, distribuição de panfletos informativos e preenchimento de questionários, além da distribuição de sorvetes aos que contribuem com os projetos. No ano de 2010, os eventos aconteceram no dia 05 de outubro, em vários campus da UNESP, como Bauru, Marília, Botucatu e Ourinhos, por exemplo.

O que se pode dizer destas intervenções, frutos da Comunicação Comunitária é que elas contribuem para que os olhos e a consciência comunitárias se abram a uma reflexão acerca do sedentarismo e ao consumo excessivo de álcool, tão disseminados na sociedade, muitas vezes pelos meios de comunicação, e praticar a responsabilidade social, propondo mudanças culturais e comportamentais e se relacionando com as comunidades residentes próximas a cada campus da UNESP.

P.S: Gostaria de agradecer a todos que torceram por mim e comunicar que virei bixete de novo. Calma, não abandonei o curso de Relações Públicas: eu fui chamada no processo seletivo do blog OCappuccino e serei uma das colaboradoras do blog. Aproveito para agradecer a equipe do blog, pela confiança e pela oportunidade, e prometo me empenhar para trazer sempre assuntos interessantes e pertinentes ao campo dos Relações Públicas. OBRIGADO a todos, mais uma vez!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Comunicação e timidez: uma parceria possível?


* Antes de começar o texto, gostaria de agradecer a Laís Machado Rocha, aluna do 2º ano de Relações Públicas da UNESP Bauru pela sugestão deste pertinente tema.

Muitos manuais de profissões e guias do estudante espalhados pelo mundo atribuem aos futuros profissionais de Comunicação uma exigência: a extroversão, ou seja, a capacidade de se relacionar com as pessoas que estão ao redor sem titubear, de falar em público sem sentir vergonha ou medo de causar algum constrangimento.

Porém, nem todas as pessoas possuem esta característica e pensam até em desistir de concorrer a certas vagas no mercado de trabalho; mas seria o fato de se ter timidez um impedimento para pessoas que queiram seguir a área comunicacional?

Para se discutir isso, é necessário entender o que é timidez. Segundo o ICOH (Instituto de Comunicação Humana), a timidez pode ser definida como "inibição de comportamento e a ansiedade causadas pela presença de outra pessoa, principalmente uma pessoa nova, não-familiar. Esta inibição e ansiedade são provocadas porque o tímido avalia o outro como uma ameaça, um estímulo negativo à sua integridade física e psicológica." Ou seja, falar para uma ou muitas pessoas desconhecidas é, para algumas pessoas, um grande desafio e um tormento inestimável, como se fosse realmente uma ameaça.

E quanto a convivência, as conversas com outras pessoas desconhecidas são necessárias para o trabalho, como lidar com isso? É necessário controlar os sintomas desta timidez (suor frio, cabeça baixa, por exemplo) através da autopercepção. A fonoaudióloga Maria Bernadette Marques, no artigo Timidez e Empregabilidade, retoma esta saída:

"A autopercepção é muito importante, pois é a partir dela que partiremos em busca de solução para essa alteração emocional. (...) É preciso exercitar diariamente a prática da auto-superação e do autocontrole, pois só assim será possível vencer a timidez."

Um ramo que pode ajudar os tímidos a se relacionarem melhor é a área da Psicologia, mais especificamente o chamado dessensibilização sistemática, integrante do Behaviorismo, que consiste em tirar o medo através de um processo dividido em pequenos passos, numa "escala crescente da intensidade do estímulo (hierarquia de ansiedade)"**, até que se consiga expor o indivíduo ao estímulo condicionado do medo (no caso, a falar para públicos desconhecidos).

Portanto, não é empecilho para a comunicação se ter timidez, porém é necessário controla-la para que se tenha um maior desempenho no campo profissional. Para concluir, aqui está um vídeo da Revista Você S.A, trazendo dicas práticas para se vencer a timidez no trabalho, com a colaboração do especialista em comunicação Reinaldo Passadori.



** MOREIRA, M. B. & MEDEIROS, C. A. Princípios básicos da Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2007, págs. 40-41.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Perder vale a pena? - Seleção Brasileira de Vôlei

O anseio de muitas empresas e de muitos times esportivos nos dias de hoje está numa simples palavra: GANHAR, seja prêmios importantes, seja novos clientes ou fornecedores, seja uma inserção maior na mídia ou uma parceria essencial para o crescimento das ações. Como relatam M. Lucia Silva e Katia Rubio, no artigo Superação no Esporte: limites individuais ou sociais? (2003, p. 6), "a autoconfiança em ganhar influencia favoravelmente no esforço realizado, sendo que o contrário também é verdade, quando a pessoa mantém expectativas de perder.".

Perder quase sempre é associado a algo negativo, prejudicial ao sujeito envolvido. Logicamente, há situações pessoais em que ter perdas é benéfico, como uma pessoa muito acima do peso emagrecer e ter a sua saúde restabelecida. Mas no campo esportivo e empresarial, perder pode valer a pena?

Foi a situação vista neste último fim-de-semana, durante a realização do Mundial Masculino de Vôlei, na Itália. Os times de Brasil e Bulgária, ambos no mesmo grupo, já estavam classificados para a próxima fase e, numa combinação incrível e inexplicável, o segundo colocado da chave teria adversários "mais fáceis" (no caso, República Tcheca e Alemanha) e o primeiro, mais dificuldades ao enfrentar Cuba e Espanha; ou seja, quem perdesse aquele jogo, em tese, seria o maior ganhador do dia e viajaria menos para continuar na competição. Os dois times se esforçaram para perder o jogo, com times cheios de reservas e jogando com menor qualidade do que o habitual. O time brasileiro acabou perdendo por 3 a 0, o que gerou protestos da torcida ao final do jogo e dos jogadores da seleção contra o regulamento do torneio.

O mais interessante é que o técnico Bernadinho é conhecido no ramo empresarial como grande palestrante motivacional, publicando até um livro em 2006 sobre sua história e trazendo dicas para se tornar um vencedor. Uma das frases atribuídas a ele neste site relata o seguinte: "Deve-se exigir mais de quem tem mais a dar. É fundamental conhecer as pessoas para motiva-las". Pode-se dizer que a seleção brasileira de volei tem muitas virtudes a dar, pois ganhou muitos títulos na primeira década do século XXI. Portanto, era motivador e menos tenso vencer a Bulgária para ter mais forças para ganhar os dois próximos jogos, mesmo contra equipes mais difíceis, até porque o retrospecto da seleção em relação a Cuba, por exemplo, é favorável, mesmo com a derrota na primeira fase.

Só o tempo dirá se a seleção fez uma boa escolha perder para a Bulgária. Mas a motivação dos brasileiros em assistir volei ficou, mesmo que por pouco tempo, manchada e comprometida, assim como nos episódios de Rubens Barrichello e Felipe Massa na Fórmula 1. Abaixo, está um video motivacional baseado em apontamentos do livro do treinador já citado; os torcedores brasileiros esperam esta motivação nos próximos jogos.

sábado, 2 de outubro de 2010

Mudanças de posicionamento da imagem - Yakult e seus lactobacilos vivos

Muitos profissionais da área de comunicação sabem bem como é trabalhosa e longa a jornada para se construir a boa imagem de um produto, e consolidá-lo no seu segmento de mercado como modelo, tanto em qualidade, como exclusividade, entre outros aspectos. Em termos de marketing, o posicionamento de um produto pode ser explicado sob a ótica de Francisco Antonio Serralvo e Márcio Tadeu Furrier, no artigo Fundamentos do Posicionamento de Marcas – Uma Revisão Teórica (2003, p. 4):

"Um objeto está posicionado quando pode ser identificado em um lugar, por comparação aos lugares que outros objetos ocupam. A percepção de posicionamento está vinculada ao modo e às variáveis usadas para definição dos pontos de referência, e quanto mais os posicionamentos forem semelhantes, maior deve ser a percepção de grupos de referência."
E para redirecionar a posição de uma empresa, como mostrar outros produtos menos conhecidos do grande público, sem causar a ele estranhamento? Foi o que a empresa japonesa Yakult tentou fazer, principalmente no mercado brasileiro, em que muitas pessoas conhecem somente o leite fermentado da marca, que contém os "lactobacilos vivos". Este vídeo a seguir é em comemoração aos 40 anos da empresa no Brasil, completados em 2008, e o leite fermentado é mostrado em grande parte do comercial.



Mas nem só de alimentos vive a empresa. A Yakult, desde 1999, possuia uma linha de cosméticos vendida no Brasil através de vendedores porta-a-porta, como as concorrentes Natura e Avon. Os produtos eram variados: óleos de banho, creme para as mãos, desodorantes e perfumes.

 
Após dez anos de atividade no mercado brasileiro, a empresa decidiu, em março de 2009, fechar a fábrica deste segmento, por conta da crise econômica e pelo alto custo de importação da matéria-prima japonesa, e direcionou seu foco novamente no setor alimentício. A notícia foi repercutida em alguns sites especializados, como o portal Época, Cosmética News e Portal Administradores. Alguns especialistas em marketing já previam o insucesso desta linha de cosméticos no Brasil, como Francisco Alberto Madia de Souza, em coluna para o portal da Revista Marketing:

"Quando a Yakult decidiu enveredar pelo território dos cosméticos no Brasil, utilizando a mesma marca, Yakult, colocamos o tema em debate entre a equipe de consultores do MadiaMundoMarketing e a conclusão foi unânime: sem a menor chance. Infelizmente, estávamos com a razão. Yakult, “lactobacilos vivos”, construiu uma franquia e uma posição no território dos alimentos, mais especificamente na categoria leite, com força e personalidade. Ponto. Daí a transformar-se em cosméticos, esquece. (...) Assim, pelo êxito alcançado, Yakult é Yakult; para sempre, amém."

Pode-se concluir disso que a Yakult ficou tão identificada com a questão alimentícia que houve este estranhamento em relação a área dos cosméticos. Talvez se fosse utilizado outro nome para esta linha (como a Nestle utiliza para rações caninas), o resultado poderia ser outro.