Há muito tempo se ouve falar do grande trabalho que as Organizações Não Governamentais (ONG's) realizam nas comunidades em que estão inseridas, atuando nas áreas de responsabilidade social, cidadania, sustentabilidade, promoção da vida, entre outras, e é cada vez mais importante a divulgação destes trabalhos para uma maior conscientização do público e dos integrantes de Governos municipais, estaduais e federais. Neste ponto entra o profissional de Comunicação, para auxiliar estas instituições a propagarem as suas mensagens e o ideal da cidadania para os meios de comunicação, como relata Cicilia M. Krohling Peruzzo, em seu artigo Comunicação comunitária e educação para a cidadania:
"Os meios de comunicação comunitários/populares (...) têm assim o potencial de ser, ao mesmo tempo, parte de um processo de organização popular e canais carregados de conteúdos informacionais e culturais, além de possibilitarem a prática da participação direta nos mecanismos de planejamento, produção e gestão. Contribuem, portanto, duplamente para a construção da cidadania. Oferecem um potencial educativo enquanto processo e também pelo conteúdo das mensagens que transmitem. Por seus conteúdos podem dar vazão à socialização do legado histórico do conhecimento, facilitar a compreensão das relações sociais, dos mecanismos da estrutura do poder (...), dos assuntos públicos do país, esclarecer sobre os direitos da pessoa humana e discutir os problemas locais.".
E quando há a vontade de se mobilizar por certa causa social, porém não se encontrando recursos financeiros, ou se debatendo com a burocracia que existe para se montar a estrutura de uma ONG? Uma saída encontrada por várias pessoas, inclusive profissionais de Relações Públicas, é partir para a ação direta, promovendo ações concretas para o desenvolvimento da sociedade; é ser, portanto, um ING (Indivíduo Não Governamental).
Averaldo Nunes Rocha e Márcio Mitio Konno, do Centro Universitário Radial (SP), realizaram um trabalho chamado ING's - Indivíduos Não Governamentais - Reciclando a Cultura do Lixo, em que relatam dois casos em que a cultura do lixo foi retomada: o primeiro é de um catador de papel que, apaixonado por cinema, criou o Mini Cine Tupi, que exibe filmes e distribui pipocas gratuitamente à comunidade carente de Taboão da Serra (foto no começo do post). Já o segundo é um casal que montou uma biblioteca comunitária a partir de livros e revistas encontradas durante os seus trabalhos no processo de reciclagem de lixo. Já são mais de 16000 exemplares disponíveis no subsolo do Edifício Prestes Maia, em São Paulo (foto abaixo).
Nos dois casos, os gastos são custeados pelos próprios idealizadores e há a ajuda de doadores, sem retorno financeiro para os ING's. O maior retorno, porém, para cada um deles é a recuperação da dignidade, da educação e da alegria em ser um membro desta comunidade. Talvez o maior desafio destes profissionais é a retirada de certos comentários maldosos, como se os ING's tivessem uma certa "vontade de se aparecer nas mídias", estereótipos que precisam ser retirados urgentemente, pois não é qualquer profissional que consegue se dispor abertamente ao trabalho voluntário e que precisa, algumas vezes, ter sensatez para discutir com as empresas e com os poderes públicos a fim de melhorar a vida da comunidade.
Por isso, deve-se dar muita importância a esta atuação e pensar na possibilidade do Relações Públicas ter estas iniciativas e se tornar um ING. As disciplinas de Comunicação Comunitária (ou nomes semelhantes) na graduação auxiliam os alunos a perceber as dificuldades e as carências existentes nas comunidades assistidas e, por consequência, a formar cidadãos mais conscientes e motivados a fazer o bem comum, mesmo quando a sociedade não participa. Para encerrar, um pouco mais da história do Mini Cine Tupi, através da reportagem do programa Ressoar, da Rede Record, exibido em abril de 2009.
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