terça-feira, 30 de agosto de 2011

Você tem vergonha de si mesmo? - Comunicação e valorização da auto-imagem

Começando este post do blog com uma pergunta: quem gosta de ser criticado em público por alguma derrota obtida na vida ou por alguma decepção que causou a alguém? Muitas pessoas não gostam de ser ridicularizadas em público ou de serem incomodadas por outros, como, por exemplo, as "cutucadas" existentes na rede social Facebook. Mas tem pessoas que desejariam esta intervenção nas redes sociais e se desesperam por isso.



Uma matéria divulgada na última sexta-feira, dia 26 de agosto, pelo Portal Exame mostra cinco personalidades que não possuem esta vergonha de serem ridicularizados por situações específicas de suas carreiras. Para focar o objeto de estudo num destes artistas, quem não se lembra, por exemplo, das danças e das poucas falas do Cigano Igor, personagem de Ricardo Macchi na novela Explode Coração, exibida pela TV Globo?



A montadora Fiat se utilizou da estatura física do ator - 1,90m -, inversamente proporcional ao número de sucessos de sua trajetória artística (na realidade, foi apenas uma novela de sucesso), para compará-lo com o ator Dustin Hoffman que, com os seus 1,65m de altura e 68 filmes no seu currículo, possui renome internacional e papeis de destaque em filmes como Perdidos na noite, A louca corrida dos milhões A primeira noite de um homem.

Esta relação serve para reposicionar o carro Cinquecento no mercado, para dizer, segundo outra matéria também publicada no Portal Exame, que, assim como um ator não precisa ser grande para demonstrar seu talento, "não é preciso ser grande para ser um ‘carrão’, já que o novo Cinquecento, apesar de pequeno, é um exemplo de sofisticação, tecnologia, bom gosto e qualidade.". A seguir, está o vídeo do comercial produzido pela agência O2 e leva a assinatura do cineasta brasileiro Fernando Meirelles.




Além deste vídeo, a matéria citada anteriormente mostra, como outros exemplos deste tipo de publicidade, comerciais com os cantores Byafra e Beto Barbosa, com o jogador de futebol Túlio Maravilha e com o lutador de MMA Anderson Silva. Todos mostrando particulariedades estranhas e, segundo muitas pessoas, até cômicas de suas carreiras esportivas e musicais. Mas o que leva uma pessoa a rir de si mesmo, e de situações embaraçosas que viveu, com tanta naturalidade, e o que move a publicidade para mostrar isto?

Decerto, esta forma de comunicação mostra estas situações como um incentivo aos receptores que, diante de todos os problemas, podem se identificar com os dos protagonistas do comercial e com o modo paciente e até engraçado destes de lidar com as situações, sem constrangimento algum. É a publicidade auxiliando na construção ou desconstrução da autoimagem das pessoas.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Sou apenas um rapaz Brasil-norte-americano... - Comunicação Intercultural x Imposição Cultural

Vive-se num mundo em que relacionar-se com culturas diferentes e promover os valores de cada um em diversos lugares - sem comprometer os conceitos primordiais da cultura do outro - são práticas imprescindíveis para, por exemplo, uma empresa multinacional ou que queira se estabelecer em outras partes do mundo, como mostra Mohammed ElHajji no artigo Comunicação Intercultural: apontamentos analíticos (2005, p. 59):

"De fato, há uma correlação estreita entre as formas organizacionais de uma comunidade e as suas instâncias de enunciação de seu projeto sócio-histórico, na medida em que, ao elaborar as suas práticas discursivas, ela procura desenvolver estratégias que atuem como dispositivos simbólicos na disputa pela imposição de sentido (ainda que plural e polifônico) tanto junto a seus próprios membros como junto à sociedade em geral. A CIC [Comunicação Intercultural] serve, então, de plataforma de reivindicação dos marcos identitários indispensáveis para a perenidade de seu ethos e de cenário de negociação dos possíveis territórios existenciais e subjetivos necessários para sua integração plena na sociedade acolhedora."

Mas até que ponto uma cultura pode se relacionar com outra, de modo que nenhuma seja prejudicada ou excluída da vivência de uma população, ou ainda que quaisquer práticas não se coloquem de maneira que haja uma imposição cultural?

Um exemplo, positivo por algumas óticas e negativo por outras, da imposição cultural ocorreu no Brasil, durante a Era Vargas, mais precisamente no período da Segunda Guerra Mundial (iniciada em 1939). O Brasil tinha muitas dificuldades para comprar produtos industriais da Europa, pelo envolvimento deste continente nos conflitos, e, por isso, teve que substituir as importações por produtos feitos no próprio território nacional, continuando um processo que se principiou na Primeira Grande Guerra.

Além disso, o interesse norte-americano era que Getúlio Vargas se alinhasse ao país, oferecendo financiamentos para indústrias brasileiras, especialmente na área siderúrgica. E esse alinhamento também chegou ao âmbito cultural, como mostra D'Araújo (1997, p. 51)*:

"...foi na Era Vargas que o país entrou definitivamente na órbita econômica e cultural norte-americana. O personagem de quadrinhos Zé Carioca, criado pelos estúdios Disney, e o sucesso de Carmen Miranda nos Estados Unidos foram parte dessa estratégia, formulada, então, para fortalecer a identidade cultural e os laços de cooperação entre os dois países."

Com isso, houve o princípio de uma certa "americanização" dos comportamentos, dos costumes e dos gostos de grande parte da população brasileira. Utilizando o exemplo das histórias em quadrinhos, mesmo Zé Carioca sendo o único personagem da Disney com uma, pode-se dizer assim, nacionalidade definida, ele convive harmonicamente com os demais integrantes da turma, mostrando as belezas naturais do Brasil.



O personagem brasileiro (Joe Carioca na língua inglesa) aparece pela primeira vez em 1942, no filme Alô, Amigos e ele consegue se manter como um protagonista da "política de boa vizinhança" entre Estados Unidos e Brasil, como mostra Marcília Luzia Gomes da Costa Mendes no artigo A malandragem no imaginário nacional  - Um estudo sobre a construção do personagem Zé Carioca e suas relações com a cultura brasileira (2003, p. 10):

"Analisando a produção de Walt Disney, uma questão merece ser respondida: por que, no universo de Disney, somente Zé Carioca conseguiu manter-se, sofrendo contínua e decidida preocupação por parte dos seus produtores? (...) A resposta, é claro, parece óbvia: o Brasil é um país continental, mantendo fronteiras com diversos países sulamericanos, extremamente rico em suas potencialidades minerais e com um mercado interno plenamente favorável aos investimentos externos. Por isso mesmo, era um aliado preferencial para os interesses norte-americanos. Com essa medida e sob essa orientação, o Zé Carioca serviu como ponte para o estreitamento “simpático” das relações entre Brasil e Estados Unidos."

Com essa explicação, é necessário distinguir quais são as convergências entre a Indústria Cultural e a comunicação intercultural. Para vários autores, esta prática ocorre quando um produtor de mensagem é membro de uma cultura e o receptor/a é membro de outra. E isto ocorre quando se lançou o personagem Zé Carioca: o produtor era norte americano e os receptores eram, além de serem deste mesmo país, também brasileiros e de outras nacionalidades. Porém, o estereótipo de "malandro" que o personagem tipicamente brasileiro trouxe, mais o relacionamento respeitoso que existe entre os dois países, coisificados pelos desenhos, mostra uma imposição cultural, já que não existiam desenhos animados genuinamente brasileiros, pelo menos na amplitude e na repercussão que representavam os estúdios Disney.

*D'ARAÚJO, M.C. A Era Vargas. São Paulo: Moderna, 1997.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O trabalho das Relações Públicas no aprimoramento de inteligências

É comum ver, em vários sites, testes que decodificam o quanto o indivíduo é inteligente, através de diversos exercícios. Porém, uma pergunta que se faz é: será que somente assim se mede a inteligência de uma pessoa ou existem mais fatores que a definem?

Ao longo dos tempos, muitas teorias foram surgindo para tentar desmistificar a ideia de que haveria apenas uma forma de se medir a inteligência de uma pessoa, ou que só haveria uma única competência intelectual no ser humano, medida por testes de Quociente Intelectual (QI), como mostra a Teoria das Inteligências Múltiplas, desenvolvida pelo psicólogo cognitivo e educacional norte-americano Howard Gardner Brasilina Passarelli no artigo Teoria das Múltiplas Inteligências aliada à Multimídia na Educação: Novos Rumos Para o Conhecimento (2008, p. 06-07):


"O autor [Gardner] busca superar a noção comum de inteligência como uma capacidade geral ou potencial que cada ser humano possui em maior ou menor grau, além de questionar a assunção que a inteligência, independente de sua definição, pode ser medida através de instrumentos verbais padronizados tais como respostas-curtas e testes com lápis e papel. Seu ponto de vista considera que a cognição humana, para ser estudada em sua totalidade, precisa abarcar competências que normalmente são desconsideradas e que os instrumentos para medição dessas competências não podem ser reduzidos a métodos verbais que baseiam-se fortemente em habilidades linguísticas e lógico-matemáticas."

Originalmente, são sete tipos de inteligências descritas por Gardner ao longo de seus estudos. Neste mesmo artigo citado anteriormente, a autora resume um pouco de cada uma destas competências:

Linguística / Verbal: produção da linguagem, o contar-estórias, raciocínio abstrato, pensamento simbólico, padronização de conceitos, leitura e escrita. Pode ser encontrada nos poetas, teatrólogos, escritores, novelistas, oradores e comediantes.
Lógico-Matemática: referente ao raciocínio científico ou indutivo - processos de pensamento dedutivo também estejam envolvidos. Presente nos cientistas, programadores de computadores, contadores, advogados, banqueiros e matemáticos.
Visual / Espacial: habilidade de criar imagens mentais. Presente em atividades como as artes visuais, navegação, criação de mapas e arquitetura, além de jogos como xadrez.Presente nos arquitetos, artistas gráficos, cartógrafos, desenhistas de produtos industriais e artistas pintores e escultores.
Musical / Rítmica: reconhecimento de padrões tonais, sensibilidade para ritmos e batidas e manuseio avançado de instrumentos musicais. Pode ser encontrada nos compositores musicais dos mais diversos estilos, nos músicos profissionais, bandas de rock e professores de música.
Corporal: relaciona-se com o movimento físico e com a sabedoria do corpo. A habilidade de usar o corpo para expressar emoções (dança e linguagem corporal), jogar um jogo (esporte) e criar um novo produto (invenções). Esta inteligência pode ser vista nos atores, atletas, mímicos, dançarinos profissionais e inventores.
Inteligências Pessoais: são de dois tipos:
  - Interpessoal: relacionamento interpessoal e na comunicação. Esta forma de inteligência é desenvolvida nos aconselhadores, professores, terapeutas, políticos e líderes religiosos.
  - Intrapessoal: relacionada aos estados interiores do ser, à auto-reflexão e à sensibilidade frente as realidades espirituais. Pode ser encontrada nos filósofos, psiquiatras, aconselhadores espirituais e pesquisadores de padrões de cognição.

Pensando nestas competências e lembrando que "cada inteligência é relativamente independente das outras"* (GARDNER, 1994, p. xi), os comunicólogos precisam aperfeiçoar quais inteligências em si mesmo para poder identificá-las nos seus comandados/colegas de departamento? Como se vê, além das inteligências individuais que cada profissional já possui em seus códigos genéticos ou aprimorou com o tempo, a descrição da inteligência interpessoal possui muitos pontos convergentes com a Comunicação, principalmente com a área das Relações Públicas, que necessita cultivar um bom relacionamento com as pessoas ao seu redor e com os públicos com os quais a empresa/instituição interagem.

A seguir, para encerrar o post, um vídeo com maiores explicações acerca das inteligências múltiplas.



* GARDNER, H. Estruturas da Mente: A Teoria das Inteligências Múltiplas. Traduzido por Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Versatilidade temático-acadêmica em Relações Públicas - Um balanço da XI INACARP

* Este post faz parte do quadro RPrestigiando, que divulga eventos acadêmicos da área de Relações Públicas, valorizando os principais tópicos de cada dia e realimentando discussões acerca dos temas estabelecidos. Neste evento em específico, dar-se-á maior ênfase às apresentações das monografias produzidas pelos alunos.

Nos últimos dias 15, 16 e 17 de agosto, ocorreu a 11ª edição da INACARP (Integração Acadêmica dos Calouros de Relações Públicas), evento organizado pelos alunos do 4º termo (2º ano) do curso de Comunicação Social: Relações Públicas da UNESP Bauru e apoiado pela FAAC (Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação).
Como visto noutro post deste mesmo blog, o objetivo deste evento é enfatizar aos calouros do curso a importância das Relações Públicas e da pesquisa científica para a formação dos futuros profissionais da área, mostrando que o embasamento teórico é importante para que a prática possa ser feita com um pensamento mais concreto e menos tecnicista.

Os alunos do 2º ano do curso apresentam a produção acadêmica realizada no 2º termo, na disciplina de Sociologia da Comunicação. O tema central das monografias apresentadas é a Indústria Cultural e, a partir deste ponto, há estudos de vários casos que se inserem nesta temática, além do próprio desenvolvimento da teoria, que este blog tentou fazer no ano passado, tanto por esta mídia on-line como offline, no primeiro dia do evento, por intermédio de uma apresentação da autora deste blog e de César Augusto Pereira de Souza, aluno do mesmo termo.

O primeiro dia do evento (15/08) foi marcado pela solenidade de abertura com discursos das autoridades presentes, por uma homenagem à Professora Doutora Maria Antonia Vieira Soares, idealizadora do evento e que irá se aposentar neste ano, uma palestra com a profissional Tania Luz Russomano, formada em Relações Públicas pela Unesp em 2008 e analista de comunicação interna e externa da Nestlé, pelo desenvolvimento da teoria sobre a Indústria Cultural e por duas palestras paradoxais.

Mas por que paradoxais? Porque relatam justamente dois momentos distintos da vivência humana: o convívio com uma multidão num lugar público para realizar algo pré-estabelecido (definição para os chamados flash mobs) e o total isolamento proposto pelo reallty show Solitários, exibido pelo SBT nos anos de 2010 e 2011, aos candidatos, que são submetidos a provas que testam a resistência, a inteligência e a perseverança de cada um. O grupo trouxe um convidado muito especial para partilhar suas experiências na competição: o vice-campeão da segunda temporada Hélio Yoshida (ocupante da cabine 6).

Em relação aos flash mobs, eles podem se inserir na Indústria Cultural, indo além da reunião de pessoas e possuindo inteiramente ou uma maior parte de valor de troca e comercial, ou não, preservando o primeiro motivo para se idealizar este tipo de mídia alternativa. No primeiro caso, o grupo citou a ação feita no estádio do Maracanã pela operadora de celulares Vivo para incentivar a seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo de 2010. Já o movimento No Pants Day, que reúne pessoas num lugar público sem calças (mas sem vulgaridade) para mudar a rotina das grandes cidades, é considerado pelo grupo um flash mob que não se insere na Indústria Cultural, por não pretender criar estereótipos, nem ter um valor de troca.

No segundo dia do evento, a discussão sobre a sociedade feminina foi predominante na primeira parte, com a apresentação das monografias sobre a série Sex and the City, que mostra quatro mulheres vivendo numa sociedade da "revolução sexual" (totalmente inseridas na Indústria Cultural), e o estudo de caso sobre o quadro que a jornalista, psicóloga e especialista em sexo Laura Muller apresenta no programa "Altas Horas", da Rede Globo, mostrando a interpretação das suas respostas na atração e a linguagem persuasiva que Muller utiliza para convencer os jovens, além de toda uma reflexão teórica sobre a sexualidade feminina.

Na segunda parte da terça-feira, foi discutida a campanha promocional "O que faz você feliz?", da empresa Pão de Açucar. O grupo ressaltou que a imagem do supermercado, antes vinculada a preços altos, com esta intervenção, mostrou-se claramente a valorização da felicidade dos consumidores e o uso de estereótipos e de fetiches, ligando este sentimento à ideologia burguesa.

A última monografia da noite tratou do documentário Blue Eyed - Olhos Azuis, produzido pela pedagoga norte-americana Jane Elliott, sobre a formação do preconceito racial na sociedade, com experiências feitas com crianças nos anos 1970 e seu workshop de conscientização para os adultos, realizado nos Estados Unidos na década de 1990.

Já o último dia de evento foi marcado pela diversidade de temas e de estudos. A primeira monografia apresentada foi a respeito do programa CQC (Custe o que Custar), da Rede Bandeirantes e mostraram a dinamicidade do programa, a linguagem simples utilizada e o uso de propagandas no decorrer dos quadros. O segundo trabalho da noite mostrou o episódio Uólace e Joao Victor: o ter humanizado no ser coisificado, da série Cidade dos Homens e o grupo pôde explicar como a Industria Cultural pode influenciar dois meninos de classes sociais distintas, mas com sonhos semelhantes.

A terceira apresentação teve como tema a Bossa Nova que se mantêm longe da Indústria Cultural, apesar de seu considerável valor de troca na sociedade (neste link, há uma reportagem sobre o show que marcou os 50 anos deste estilo musical no Brasil). A última monografia analisou o jogo Word of Warcraft jogo de RPG e ressaltou que os jogos são mercadorias e que a realidade aumentada não é mais uma realização de poucos, e sim um novo nicho para o profissional de Relações Públicas.

Enfim, todos estes trabalhos só mostram a versatilidade do acadêmico-comunicólogo em poder enxergar as teorias apreendidas em sala em todos os lugares, nas situações até mesmo imperceptíveis num primeiro momento. Por fim, todo o trabalho de organização do evento mostra a eficiência dos futuros relações-públicas e que um evento de alunos pode, sim, ser reconhecido e consolidado no cronograma semestral da faculdade como um dos grandes eventos de Comunicação do ano letivo.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Look for me, please! - Comunicação e Economia da atenção

Este post começa com uma pergunta pessoal: você já precisou chamar a atenção de alguma pessoa por um motivo específico? Ela te respondeu da maneira que você queria, de uma forma grosseira ou não te respondeu, não demonstrou a atenção esperada? Assim também acontece com a relação entre empresas e consumidores, e existe até um termo específico para medir como acontece esta atenção: a chamada economia da atenção.

Um dos conceitos disponíveis para se explicar o que é economia da atenção é explicado por Vinícius Andrade Pereira e Andréa Dantas Hecksher no artigo Economia da Atenção e Mensagens Publicitárias na Cultura Digital Trash (2008, p. 02), apresentado no VIII Nupecom – Encontro dos Núcleos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, realizado em Natal/RN.
 

"A economia da atenção deve ser entendida como o modo como um espectador dedica sua atenção para acompanhar a uma narrativa qualquer (filme, novela, desenho animado etc) em um veículo de comunicação e, conseqüentemente, o modo como pode estar disponível para ser afetado por uma mensagem publicitária.
Dentro do modelo dos veículos de comunicação de massa, como a televisão, o processo de economia da atenção se dava, basicamente, através de um modo de funcionamento que se caracterizava por uma certa passividade por parte do telespectador em relação à interrupção da narrativa que acompanhava, aceitando resignadamente as mensagens publicitárias que se apresentavam de modo intrusivo durante esses intervalos — a ressalva estaria, quase que exclusivamente, restrita ao controle remoto, que permitia a mudança de canal neste momento."

Porém, é sabido que o consumidor não reage mais desta forma passiva e sem prestar atenção à publicidade que o cerca. Os anúncios invasivos e sem pró-atividade praticamente deixam de existir e, quando isto não ocorre, há uma certa rejeição do público. Então como valorizar a economia de atenção nestas mídias mais tradicionais?

Um exemplo utilizado, principalmente, por empresas de renome para aproveitar o foco da atenção dos indivíduos numa situação específica é utilizar o chamado merchandising (ou seja, inserir propositalmente e estrategicamente um produto de uma marca numa cena) em telenovelas/séries de grande repercussão.

Esta prática é considerada positiva, por aumentar a exibição de um determinado produto na mídia tradicional e num horário considerado nobre pelo mercado; porém, pode ter um viés negativo quando se abusa das inserções publicitárias num momento de entretenimento do telespectador e que este, teoricamente, está passivo a esta propaganda justamente pelo fato de que, se ele quiser trocar de canal naquele momento, tem a possibilidade de perder uma cena importante para a sua observãção do folhetim. Isto, se o merchandising não for controlado, pode gerar um desgate da imagem da marca e uma diminuição nas vendas, o que seria algo ineseperado para os executivos da empresa.

No vídeo a seguir, feito por alunos da Mackenzie, são mostrados exemplos de abusos no merchandising e a influência deste no ato de compra de alguns consumidores.



E a Internet, qual o papel desta rede mundial de computadores para a economia da atenção? Para responder a esta pergunta, o diretor executivo da E-brand e consultor de inovação da InBate Gilber Machado escreveu em setembro de 2003 para o site Webinsider um artigo chamado O papel da internet na Economia da Atenção. Nele, o autor relaciona este conceito ao gerenciamento de marcas, processo impulsionado pela Internet, e ao comportamento específico do internauta-consumidor.

"Segundo o Forrester Research, a internet será, até 2005, a mais importante ferramenta para gerenciamento de marcas, o item primordial no contexto da economia da atenção, pois a marca define a identidade de um produto ou serviço (...).
Os produtos vão ganhar muito mais atenção e destaque no mercado se existir uma relação de identidade, relevância e paixão entre público alvo e marca, e a internet está cada vez mais presente no processo de construção da relação de amor entre marca e consumidores.
Outro aspecto importante a ser analisado é o comportamento on demand da internet. Ao digitar o endereço de seu web site, o consumidor está, de forma espontânea, definindo o que quer ver e por quanto tempo."

Este gerenciamento de marcas, como foi visto, é importante para que a economia da atenção possa ser vista de maneira mais ampla, pois permite que os profissionais responsáveis enxergem os gostos, costumes e valores dos públicos-alvo. Portanto, é importante estimular e conquistar o público para que ele possa ser, no sentido metafórico, um filho obediente ao chamado dos pais em realizar algo que os agrade, que os faça sentir bem.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Relações Públicas e o ecossistema comunicativo

Como já vimos em posts anteriores, a educomunicação é uma vertente interessante para se investigar, pois lida com a conscientização das pessoas, desde cedo, a respeito dos meios de comunicação para que os indivíduos não sejam passivos à realidade e às notícias que os cercam, mas que saibam criticar as matérias e abordagens assumidas e terem um olhar diferenciado em relação à mídia de uma forma geral. Um dos conceitos que integram a educomunicação chama-se ecossistema comunicativo.
Como se imagina, o termo ecossistema submerge justamente de seu conceito biológico, ou seja, de um conjunto formado por todos os fatores que atuam de maneira simultânea sobre determinada região. No caso desta palavra aplicada a um ambiente comunicacional, seria o conjunto dos fatores internos, externos e até mesmo subliminares que compõem a distribuição e a elocução das informações educacionais.

A definição de ecossistema comunicativo foi idealizada, na América Latina, por Jesús Martín-Barbero. Há duas dinâmicas deste termo a serem compreendidas, como mostra Barbero no artigo Desafios culturais da comuicação à educação (2000, págs. 54-55):

"A primeira manifestação e materialização do ecossistema comunicativo é a relação com as novas tecnologias - desde o cartão que substitui ou dá acesso ao dinheiro, até as grandes avenidas da Intemet - com sensibilidades novas, muito mais claramente visíveis entre os mais jovens. Eles têm maior empatia cognitiva e expressiva com as tecnologias e com os novos modos de perceber o espaço e o tempo, a velocidade e a lentidão, o próximo e o distante.
(...)
Uma segunda dinâmica, que faz parte desse novo ecossistema no qual vivemos, e que é a dinâmica da comunicação, liga-se ao âmbito dos grandes meios, ultrapassando-os porém. Ela se concretiza com o surgimento de um ambiente educacional difuso e descentrado, no qual estamos imersos. Um ambiente de informação e de conhecimentos múltiplos, não-centrado em relação ao sistema educativo que ainda nos rege e que tem muito claros seus dois centros: a escola e o livro.
(...)
E é aí que se situa a segunda dinâmica que configura o ecossistema comunicativo no qual estamos imersos: o saber é disperso e fragmentado e pode circular fora dos lugares sagrados nos quais antes estava circunscrito e longe das figuras sociais que antes o administravam."
Com as definições e as dinâmicas postas, é necessário fazer uma pergunta básica mas, ao mesmo tempo, intrigante e complexa: será que os profissionais de Relações Públicas estão preparados para atuar em ecossistemas comunicativos diferentes dos habituais, seja na área educacional ou na área empresarial? Empresarial? Sim, muitas empresas possuem parcerias ou mesmo administram fundações educacionais e escolas e precisam compartilhar esta experiência com os públicos de interesse.

Uma das áreas que pode se relacionar melhor com o ecossistema comunicativo é a gestão de conhecimento, pois o gestor contribui "para a alteração do processo de comunicação organizacional em educomunicação, com atividades destinadas à manutenção do ecossistema comunicativo da instituição, em que deve haver um verdadeiro diálogo comunicativo que possibilitará a continuidade da saúde empresarial (...)" (ARASHIRO, 2009, p. 177*) O texto ainda prossegue citando a necessidade de se fazer um bom planejamento para que haja um verdadeiro e eficiente ecossistema.

*ARASHIRO, L. M. Criando laços: a gestão da comunicação e da educação em instituições de ensino privadas. In.: COSTA, M. C. C. (org.). Gestão da comunicação - Projetos de intervenção. São Paulo: Paulinas, 2009.  

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Sorvete em 31 segundos ou de graça? - Planejamento e otimização do tempo

Este post começa de forma diferente, mostrando o que uma simples câmera escondida pode ser relacionada com conceitos de administração e de planejamento nas mais diversas organizações.

A pegadinha está no video a seguir, que mostra a primeira parte do programa Festival SBT 30 anos que é dedicada ao apresentador Celso Portiolli (brincadeira começa no tempo de 2min55s), exibido no dia 09 de julho de 2011. Nesta situação, numa sorveteria previamente escolhida, uma atriz promete à vítima que o sorvete ficaria pronto em 31 segundos e, se isso não acontecesse, este seria servido de graça. Propositalmente, quando o ponteiro do relógio se aproxima do número 06, há um dispositivo que o faz voltar um pouco até que o sorvete fosse servido ao cliente.



Na vida cotidiana, não se tem um relógio com estas características, e nem o tempo biológico pode retroceder desta maneira para que os projetos, em dia, atrasados ou ainda mais complexos do que se imaginara, possam ser entregues "sozinhos". Quando acontece este erro de cálculo no planejamento de qualquer ação, aceitar o erro e corrigi-lo é a melhor saída. Porém, esta situação poderia ser evitada, e o sorvete, pronto nos 31 segundos prometidos, se viesse à lembrança de algum funcionário os conceitos de otimização do tempo

Karlof (1995, p.), citado por Carlos Alberto Nogueira de Lima, Ítalo Romano Eduardo e Maria Salete Oliveira (2000, p. 20) no artigo O uso do tempo como fator para a otimização da gestão pública, define otimização como:

“Fazer com que algo funcione da melhor maneira possível, pelo balanceamento dos vários fatores envolvidos. Uma técnica para calcular a melhor distribuição de recursos para um determinado objetivo, levando-se em conta determinadas limitações.”

E quais seriam estes fatores envolvidos? Dentre tantos que poderiam ser citados, alguns são importantes, como a proatividade dos colaboradores, as condições físicas e materiais para que os trabalhos sejam realizados com eficiência e eficácia. Como diz uma frase clichê, mas verdadeira no mundo dos negócios, "Time is money" (tempo é dinheiro), ou como diriam os autores deste no mesmo artigo citado anteriormente (2000, p. 24):

"(...) o uso do tempo deve levar sempre em conta que cada momento não utilizado ou utilizado de maneira inadequada, jamais poderá ser recuperado."

No caso da pegadinha, o tempo foi recuperado somente graças ao movimento do ponteiro do relógio, propositalmente inserido por um integrante do programa. Porém, como já foi dito, na vida cotidiana real, não se consegue fazer isso com o tempo de realização de um trabalho, por exemplo. Por isso, é fundamental ter consciência da importância da otimização do tempo, seja em quaisquer setores em que o profisisonal de Comunicação irá trabalhar, porque é melhor demorar 32 segundos para montar um sorvete do que ter que vendê-lo gratuitamente.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Perceber aquilo que não se vê - Relações Públicas e fenomenologia

Muitos já ouviram aquele ditado de que nem tudo o que parece é, ou seja, que as imagens que são vistas de maneira superficial e rápida nem sempre conseguem expressar as verdadeiras facetas de, por exemplo, uma ambiente organizacional ou de um projeto específico. Para que a essência possa aparecer em maior quantidade do que a simples aparência dos objetos e das pessoas pode mostrar, podem ser utilzados vários processos, dentre eles a fenomenologia

A fenomenologia pode ser vista como uma resposta "ao filósofo que não se contenta com o conhecimento natural, o diretamente dado e apoucadamente questionado, pedindo por uma clarificação dos conceitos fundamentais (...)" (GARNICA, 1997, p. 113)* Ou seja, o que seria mais explícito, mais óbvio aos olhos do pesquisador, poderia ser questionado livremente e visto com um olhar além do senso comum, da explicação-padrão.


Fabio Botelho Josgrilberg, no artigo A Fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty e a pesquisa em Comunicação (2006, p. 224), mostra a visão de um dos autores que tentam explicar a aplicação da fenomenologia em diversas áreas do conhecimento:
"Na Fenomenologia da percepção, Merleau-Ponty buscou dar continuidade ao esforço de demonstrar os limites do saber científico, superar as diversas dicotomias que permeiam as ciências e reconhecer a fundação de qualquer conhecimento na experiência do mundo vivido. Poder-se- iam citar alguns desses pares colocados em questão como, por exemplo, sujeito/objeto, alma/corpo, interior/exterior e pensamento/linguagem. A intenção por trás da tentativa de ir além desses pares indicava um esforço de superação tanto do objetivismo positivista quanto do intelectualismo."

Com essa definição, pode-se perguntar: o que tem a ver a atividade de Relações Públicas e o processo de fenomenologia? O relações-públicas, numa empresa ou instituição, precisa ter um olhar apurado para perceber as "entrelinhas" dos diálogos presentes, tanto de comunicação externa ou interna. Além disso, como foi dito no texto anterior, é necessário superar a visão simplista que existe em relação às dicotomias, como sujeito/objeto, alma/corpo, para que as relações humanas sejam mais autênticas. Enfim, dentre tantas áreas de atuação dos Relações Públicas, a fenomenologia é importante para que se tenha este olhar diferenciado perante o fazer comunicacional. 

* GARNICA, A. V. M. Algumas notas sobre pesquisa qualitativa e fenomenologia. Interface — Comunicação, Saúde, Educação, v.1, n.1, 1997.  Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/icse/v1n1/08.pdf. Acesso em: 04 aug. 2011.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Intertextualidade e produções culturais - Turma da Mônica e Petrobrás nas telinhas do cinema

Um certo comunicador já dizia que "nada se cria, tudo se copia". Quando se trata de produções textuais ou até mesmo utilizando a linguagem não-verbal, pode-se dizer que esta frase está totalmente correta? Talvez o termo correto, em alguns casos, não seria necessariamente a cópia, o plágio, mas sim um intertexto, ou seja, um diálogo entre dois ou mais textos.

O postulado dialógico de Bakhtin (1929), citado por Koch, Bentes e Cavalcante (2007, p. 14)*, confirma esta afirmação: "um texto (enunciado) não existe nem pode ser avaliado e/ou compreendido isoladamente: ele está sempre em diálogo com outros textos." Foi isso que aconteceu entre dois tipos de produções textuais: o cinema e as histórias em quadrinhos.

Para celebrar a marca de 500 longas-metragens nacionais patrocinados pela Petrobrás, foram criados pequenos clipes pela companhia, homenageando produções do cinema brasileiro. O diferencial destes vídeos é a inserção de alguns personagens da Turma da Mônica em animações que relembram cenas, personagens e bordões marcantes dos filmes. Estes filmes foram veiculados durante a 19ª edição do evento Anima Mundi, um dos maiores expositores de animação do mundo, que terminou no último domingo, dia 31 de julho.

Os vídeos também estão disponíveis no canal oficial da Petrobrás no Youtube. Tropa de Elite, Cidade de Deus, O Homem que Copiava, Se Eu Fosse Você e Saneamento Básico são os filmes brasileiros homenageados pela companhia. Alguns títulos foram modificados, de acordo com a situação exposta no respectivo filme. Um exemplo disso é a participação da Mônica e do Cebolinha no filme "Tropa de Elite", de José Padilha. Ou seria "Tlopa de Elite"?


No filme, Cebolinha está discutindo com seus amigos sobre um plano infalível, ou melhor, uma estratégia para derrotar a Mônica (o que, nos quadrinhos de Maurício de Sousa, significa capturar Sansão, seu coelhinho de estimação). Durante o diálogo, Cascão não entende a palavra "estratégia" e Cebolinha mostra as diferentes traduções da palavra - em francês, inglês e grego.

Todos se divertem com a situação, Cebolinha se irrita e pronuncia a palavra "gorducha", referindo-se à Mônica. Quando isso acontece, a personagem do vestido vermelho aparece, juntamente com o personagem Capitão Nascimento. Os dois se irritam com Cebolinha, chamando-o de "fanfarrão" e utilizando o bordão "pede pra sair" - duas expressões muito utilizadas no filme "Tropa de Elite". Todos os outros meninos da turma fogem, mas Capitão Nascimento pede para Cebolinha ficar, pois iria levar uma sonora coelhada de Mônica, cena que encerra o filme e que antecipa a frase institucional da Petrobrás.

As marcas linguísticas dos personagens de Maurício de Sousa permanecem neste vídeo, como a troca da letra "r" por "l" pelo Cebolinha em frases como "Tá de bobeila?" ou na própria palavra "estratégia", mote do filme, que vira "estlatégia", entre outros; assim, também permanecem no filme os trejeitos rígidos e inflexíveis do Capitão Nascimento. A explicação que o Cebolinha profere à respeito do conceito de "estratégia" não foi invenção do cartunista, e sim um objeto de intertextualidade com uma das cenas do filme original, exibida a seguir. Enquanto Cebolinha não se impacienta com a pergunta de Cascão, o Capitão Nascimento "original" - personagem interpretado por Wagner Moura -oferece uma granada ao número 05 para que ele não durma durante a sua explicação.

 

Vendo estes exemplos, pode-se concluir que as marcas da intertextualidade estão presentes em praticamente todas as produções culturais pois, direta ou indiretamente, elas se espelharam em alguns aspectos de outros produtos e/ou produções já criadas.

* KOCH, Ingendore G. Villaça; BENTES Anna Christina; CAVALCANTE,. Mônica Magalhães. Intertextualidade: diálogos possíveis. São Paulo: Cortez, 2007.