segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Intertextualidade e produções culturais - Turma da Mônica e Petrobrás nas telinhas do cinema

Um certo comunicador já dizia que "nada se cria, tudo se copia". Quando se trata de produções textuais ou até mesmo utilizando a linguagem não-verbal, pode-se dizer que esta frase está totalmente correta? Talvez o termo correto, em alguns casos, não seria necessariamente a cópia, o plágio, mas sim um intertexto, ou seja, um diálogo entre dois ou mais textos.

O postulado dialógico de Bakhtin (1929), citado por Koch, Bentes e Cavalcante (2007, p. 14)*, confirma esta afirmação: "um texto (enunciado) não existe nem pode ser avaliado e/ou compreendido isoladamente: ele está sempre em diálogo com outros textos." Foi isso que aconteceu entre dois tipos de produções textuais: o cinema e as histórias em quadrinhos.

Para celebrar a marca de 500 longas-metragens nacionais patrocinados pela Petrobrás, foram criados pequenos clipes pela companhia, homenageando produções do cinema brasileiro. O diferencial destes vídeos é a inserção de alguns personagens da Turma da Mônica em animações que relembram cenas, personagens e bordões marcantes dos filmes. Estes filmes foram veiculados durante a 19ª edição do evento Anima Mundi, um dos maiores expositores de animação do mundo, que terminou no último domingo, dia 31 de julho.

Os vídeos também estão disponíveis no canal oficial da Petrobrás no Youtube. Tropa de Elite, Cidade de Deus, O Homem que Copiava, Se Eu Fosse Você e Saneamento Básico são os filmes brasileiros homenageados pela companhia. Alguns títulos foram modificados, de acordo com a situação exposta no respectivo filme. Um exemplo disso é a participação da Mônica e do Cebolinha no filme "Tropa de Elite", de José Padilha. Ou seria "Tlopa de Elite"?


No filme, Cebolinha está discutindo com seus amigos sobre um plano infalível, ou melhor, uma estratégia para derrotar a Mônica (o que, nos quadrinhos de Maurício de Sousa, significa capturar Sansão, seu coelhinho de estimação). Durante o diálogo, Cascão não entende a palavra "estratégia" e Cebolinha mostra as diferentes traduções da palavra - em francês, inglês e grego.

Todos se divertem com a situação, Cebolinha se irrita e pronuncia a palavra "gorducha", referindo-se à Mônica. Quando isso acontece, a personagem do vestido vermelho aparece, juntamente com o personagem Capitão Nascimento. Os dois se irritam com Cebolinha, chamando-o de "fanfarrão" e utilizando o bordão "pede pra sair" - duas expressões muito utilizadas no filme "Tropa de Elite". Todos os outros meninos da turma fogem, mas Capitão Nascimento pede para Cebolinha ficar, pois iria levar uma sonora coelhada de Mônica, cena que encerra o filme e que antecipa a frase institucional da Petrobrás.

As marcas linguísticas dos personagens de Maurício de Sousa permanecem neste vídeo, como a troca da letra "r" por "l" pelo Cebolinha em frases como "Tá de bobeila?" ou na própria palavra "estratégia", mote do filme, que vira "estlatégia", entre outros; assim, também permanecem no filme os trejeitos rígidos e inflexíveis do Capitão Nascimento. A explicação que o Cebolinha profere à respeito do conceito de "estratégia" não foi invenção do cartunista, e sim um objeto de intertextualidade com uma das cenas do filme original, exibida a seguir. Enquanto Cebolinha não se impacienta com a pergunta de Cascão, o Capitão Nascimento "original" - personagem interpretado por Wagner Moura -oferece uma granada ao número 05 para que ele não durma durante a sua explicação.

 

Vendo estes exemplos, pode-se concluir que as marcas da intertextualidade estão presentes em praticamente todas as produções culturais pois, direta ou indiretamente, elas se espelharam em alguns aspectos de outros produtos e/ou produções já criadas.

* KOCH, Ingendore G. Villaça; BENTES Anna Christina; CAVALCANTE,. Mônica Magalhães. Intertextualidade: diálogos possíveis. São Paulo: Cortez, 2007.

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