Como já vimos em posts anteriores, a educomunicação é uma vertente interessante para se investigar, pois lida com a conscientização das pessoas, desde cedo, a respeito dos meios de comunicação para que os indivíduos não sejam passivos à realidade e às notícias que os cercam, mas que saibam criticar as matérias e abordagens assumidas e terem um olhar diferenciado em relação à mídia de uma forma geral. Um dos conceitos que integram a educomunicação chama-se ecossistema comunicativo.
Como se imagina, o termo ecossistema submerge justamente de seu conceito biológico, ou seja, de um conjunto formado por todos os fatores que atuam de maneira simultânea sobre determinada região. No caso desta palavra aplicada a um ambiente comunicacional, seria o conjunto dos fatores internos, externos e até mesmo subliminares que compõem a distribuição e a elocução das informações educacionais.
A definição de ecossistema comunicativo foi idealizada, na América Latina, por Jesús Martín-Barbero. Há duas dinâmicas deste termo a serem compreendidas, como mostra Barbero no artigo Desafios culturais da comuicação à educação (2000, págs. 54-55):
"A primeira manifestação e materialização do ecossistema comunicativo é a relação com as novas tecnologias - desde o cartão que substitui ou dá acesso ao dinheiro, até as grandes avenidas da Intemet - com sensibilidades novas, muito mais claramente visíveis entre os mais jovens. Eles têm maior empatia cognitiva e expressiva com as tecnologias e com os novos modos de perceber o espaço e o tempo, a velocidade e a lentidão, o próximo e o distante.
(...)
Uma segunda dinâmica, que faz parte desse novo ecossistema no qual vivemos, e que é a dinâmica da comunicação, liga-se ao âmbito dos grandes meios, ultrapassando-os porém. Ela se concretiza com o surgimento de um ambiente educacional difuso e descentrado, no qual estamos imersos. Um ambiente de informação e de conhecimentos múltiplos, não-centrado em relação ao sistema educativo que ainda nos rege e que tem muito claros seus dois centros: a escola e o livro.
(...)
E é aí que se situa a segunda dinâmica que configura o ecossistema comunicativo no qual estamos imersos: o saber é disperso e fragmentado e pode circular fora dos lugares sagrados nos quais antes estava circunscrito e longe das figuras sociais que antes o administravam."
Com as definições e as dinâmicas postas, é necessário fazer uma pergunta básica mas, ao mesmo tempo, intrigante e complexa: será que os profissionais de Relações Públicas estão preparados para atuar em ecossistemas comunicativos diferentes dos habituais, seja na área educacional ou na área empresarial? Empresarial? Sim, muitas empresas possuem parcerias ou mesmo administram fundações educacionais e escolas e precisam compartilhar esta experiência com os públicos de interesse.
Uma das áreas que pode se relacionar melhor com o ecossistema comunicativo é a gestão de conhecimento, pois o gestor contribui "para a alteração do processo de comunicação organizacional em educomunicação, com atividades destinadas à manutenção do ecossistema comunicativo da instituição, em que deve haver um verdadeiro diálogo comunicativo que possibilitará a continuidade da saúde empresarial (...)" (ARASHIRO, 2009, p. 177*) O texto ainda prossegue citando a necessidade de se fazer um bom planejamento para que haja um verdadeiro e eficiente ecossistema.
*ARASHIRO, L. M. Criando laços: a gestão da comunicação e da educação em instituições de ensino privadas. In.: COSTA, M. C. C. (org.). Gestão da comunicação - Projetos de intervenção. São Paulo: Paulinas, 2009.
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