segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A descaracterização do "nada se cria, tudo se copia" no campo acadêmico

Há uma velha expressão que afirma: "nada se cria, tudo se copia". Porém, em vários cenários da sociedade, esta frase não pode ser aceita em sua integridade. Sabe-se que a grande maioria dos conteúdos apresentados nas mais variadas mídias sofre muitas influências de outros conteúdos, contemporâneos ou não. Porém, copiar integralmente ideias de outrem, e sem colocar a fonte, pode ser muito mais do que influência. E pode ser perigoso.

E quando o campo acadêmico se depara com uma notícia de que um professor foi afastado de suas funções por se usufruir de ideias e conceitos, sem dar o devido crédito aos seus autores? Como fica a imagem, não só da instituição envolvida, mas do próprio cenário acadêmico do Brasil que, como já foi dito neste blog, é um dos principais países do mundo na divulgação de conhecimento científico?

Sem julgar especificamente quaisquer situação (inclusive, o caso posto em questão nesta última semana), é necessário entender, primeiramente, o que significa a palavra plágio e como este pode ser caracterizado, sobretudo no contexto educacional.

Segundo o dicionário on-line da Michaelis, disponível no Portal UOL, plagiar é "Cometer furto literário, apresentando como sua uma idéia ou obra, literária ou científica, de outrem (...) Usar obra de outrem como fonte sem mencioná-la. (...) Imitar, servil ou fraudulentamente.". Vendo esta definição, pode-se dizer que a prática do plágio, infelizmente, ocorre em vários setores da sociedade: musical, científico, literário, entre outros.

Um exemplo de acusação recente de plágio no cenário musical ocorreu com a banda de rock NX Zero, em janeiro de 2009. Segundo o site da G1, na ocasião, a banda norte-americana Taking Back Sunday acusou os brasileiros de plagiar a canção “MakeDamnSure”, do disco “Louder now”, de 2006, em “Daqui pra frente”, do disco “Agora”, lançado em 2008 pela banda brasileira, tirando o refrão original e colocando uma música em português com a mesma melodia. 

Os cantores americanos não ficaram bravos com essa história, descoberta através de um fã brasileiro, mas mostraram-se surpresos com a postura do grupo musical brasileiro. O plágio foi desmentido veementemente pelos produtores do álbum e pelo próprio NX Zero, que atribuiam à semelhança uma mera coincidência, nada de mais grave foi constatado e o caso foi arquivado.


No contexo acadêmico, plagiar trabalhos e/ou ideias de outros pesquisadores é um crime imperdoável e há um regime de "tolerância zero" que rege a comunidade científica, como afirma Sonia M. R. Vasconcelos em seu artigo O plágio na comunidade científica: questões culturais e linguísticas (arquivo online, Jul/Set 2007), pertencente à Revista Ciência e Cultura, volume 59, nº 3:

"Atualmente, há uma política de "tolerância zero" ao plágio, que vem se estabelecendo através de periódicos internacionais. Recentemente, a Elsevier estabeleceu orientações bastante detalhadas sobre questões éticas relacionadas ao artigo científico. Na definição sobre o plágio, até mesmo algumas nuances foram abordadas: 'a cópia pode ocorrer mesmo sem a reprodução exata das palavras do texto original. Este tipo de cópia é conhecido como paráfrase e pode ser o tipo de plágio mais difícil de ser detectado.' Para autores acusados de plagiar idéias ou trechos de publicações anteriores, a punição é, muitas vezes, o bloqueio de nova submissão de manuscritos pelos envolvidos nesse tipo de 'fraude'.".

De maneira geral, utilizar ideias de outras pessoas, sem citar a fonte, é uma atitude que desvaloriza o trabalho do pesquisador afetado e que pode até trazer um prazer e um status imediatos, porém o peso na consciência (e, em algumas vezes, no bolso) e os malefícios atrelados à imagem pessoal são, de forma geral, irreversíveis. Um vídeo educacional muito interessante e ilustrativo para encerrar o post é do Movimento Criança Mais Segura na Internet, em que aborda os problemas de plágio e de pirataria. 

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Media training na política - Dilma Rousseff e a cidade errada

Sabe-se que um bom relacionamento entre as empresas e a imprensa é importante para que ambas possam desenvolver os seus trabalhos com lisura e tranquilidade, e cabe aos profissionais de Relações Públicas a função de trabalhar esta faceta da organização através de treinamentos direcionados para seus grandes executivos e porta-vozes, o chamado media training. Para entender como o profissional responsável por esta área pode agir, Nemércio Nogueira* (1999, p. 27) compara esta função a três outras áreas profissionais:

- Com a medicina preventiva (assim como esta previne doenças, a comunicação empresarial precisa "evitar que a empresa ou entidade associativa venha a ter dificuldades no seu relacionamento com áreas governamentais, mídia, comunidades e outros setores específicos da opinião pública (...)");
- Com os seguros (investimento da empresa em recursos materiais e humanos, a fim de estar preparada para emergências e para evitar prejuízos maiores, caso elas aconteçam);
- Com uma corte judicial, tendo, como promotor, a mídia (podendo ser júri ou carrasco em algumas oportunidades); ao Relações Públicas, o papel de advogado de defesa; à empresa ou entidade, o lugar de réu e o curul do juiz representado pela opinião pública.


Em algumas vezes, estas práticas não são bem trabalhadas, o que pode acarretar em constrangimentos, pequenas e grandes crises de imagem. Foi o que aconteceu no último dia 21 de fevereiro, quando a presidente da República Dilma Rousseff compareceu a uma reunião do 12º Fórum Executivo dos Governadores do Nordeste, em Aracaju (SE), falando sobre experiências positivas daquela região. 

Segundo o blog Radar Político, pertencente ao jornal O Estado de São Paulo, Dilma estava conversando com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, sobre as iniciativas de produção local feitas por uma cidade nordestina: “Há de se dar suporte e fazer com que se reproduzam experiências de sucesso, como é o caso de Ibotirama, não é Eduardo (Campos, governador de Pernambuco)”.

O problema desta afirmação é que o nome da cidade estava errado: Dilma queria se referir a Toritama, pertencente ao Estado de Pernambuco, e conhecida por ser um pólo comercial de confecção de jeans. O governador logo a corrigiu e a presidente, em alto som, culpou a sua assessoria pelo erro cometido: “Não é Iotirama? Eu falei para vocês que não é Ibotirama”. “Vocês vejam o que é uma ótima assessoria. Eles acharam esse Ibotirama na internet”. Por falar em Internet, o vídeo com a falha já está disponível no Youtube.




Utilizando-se das comparações feitas por Nogueira, não houve a prática da "medicina preventiva" neste caso: nem a assessoria conseguiu confirmar o nome correto do município, nem a própria presidente conferiu esta informação. Não houve também um cuidado com a segurança, pois o nome desta cidade e a sua importância regional deveriam ser de conhecimento total por parte da assessoria e de Dilma, já que participaria de um Fórum de Governadores no Nordeste. Já em relação à corte judicial, Rousseff tornou-se, ao invés de ré, uma promotora, culpando totalmente e publicamente sua assessoria pelo erro cometido.


Por isso, é necessário que as empresas e pessoas públicas tenham todos os cuidados possíveis para que crises e complicações não aconteçam e, se elas forem inevitáveis, que se amenize o prejuízo e que a imagem da empresa / do indivíduo não fique prejudicada.

* Nogueira, Nemércio. Media Training. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1999.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Mídias sociais e a democratização do acesso da população ao conhecimento científico

Desde os tempos mais remotos da História da humanidade, as pessoas buscavam o conhecimento a partir de várias situações, como o aprendizado da prática da caça, da pesca e da produção de desenhos nas paredes das cavernas, por exemplo. Este ensino era passado de pai para filho (e/ou de mãe para filha) e ultrapassava as gerações que, ao longo do tempo, desenvolveram outros conhecimentos e aprimorando (ou deixando de lado) os antigos. O único porém deste ciclo é que uma parte da população não se integra (por querência ou por falta de oportunidades) a esta evolução, causando, assim, a exclusão sócio-intelectual destes envolvidos.

Os milênios vão passando, e esse ato de compartilhar conhecimentos continua válido e muito presente nesta sociedade globalizada e midiática do século XXI, muito por conta do avanço da utilização da Internet, como mostra o texto Internet e democratização do conhecimento: repensando o processo de exclusão social, tese de Mestrado em Educação de Adriano Canabarro Teixeira (2001, p, 71):

"As implicações da utilização dos serviços oferecidos pela Internet são facilmente observáveis, sobretudo como elementos de comunicação que permitem a troca de informações e de ações colaborativas entre as pessoas. O campo de aplicabilidade educacional da Internet apresenta-se amplo e fecundo, uma vez que a sua utilização apresenta novas perspectivas de acesso e construção colaborativa do conhecimento, potencializando o processo ensino-aprendizagem e a construção de novos conhecimentos, na medida em que oferece aos sujeitos envolvidos no processo inúmeras possibilidades de interação e de comunicação"

Em relação ao conhecimento científico, este processo se torna um pouco diferente, pois os estudos científicos são passados às novas gerações, na maioria das vezes, através da interpessoalidade (como numa palestra ou numa aula) ou pelos meios midiáticos, sejam tradicionais (livros, revistas científicas, anais de congressos) ou eletrônicos (portais de universidades, sites pessoais/profissionais, blogs, Twitter...). Aliás, em 2008, o Brasil era o 15º colocado na produção de conhecimento científico, superando países como Suíça e Suécia, como mostra esta reportagem da TV Brasil.



E como mostrar todo este arsenal de artigos aos públicos interessados de maneira inovadora e agradável? Um exemplo recente de como propiciar um acesso maior a conteúdos científicos aconteceu na tarde da última terça-feira, em que a Relações Públicas Carolina Terra transmitiu, via Twitcam, a defesa de sua tese de doutorado sobre mídias sociais, com o tema Usuário-mídia: A relação entre a comunicação organizacional e mídias sociais. A arguição da banca examinadora foi transmitida parcialmente, porém o conteúdo da apresentação dos estudos feitos pela pesquisadora foi passado de uma maneira inovadora e teve um compartilhamento quase que instantâneo através de mídias sociais como o Twitter.

Um outro exemplo são os chamados e-books, livros eletrônicos lançados por várias editoras e até mesmo por blogs na área de comunicação, como o Suprassumo MidiaBoom, coletivo sobre comunicação digital lançado pelo blog homônimo, que mostra artigos atualizados e com a incorporação de alguns comentários pertinentes, incentivando a integração entre leitores e editores.

Enfim, a democratização do conhecimento científico nos últimos anos ainda não foi completada, mas pode caminhar a passos largos para que mais pessoas possam ter acesso aos conteúdos científicos e, assim, poderem compartilhar por entre as gerações, como na distante época da Idade da Pedra.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Ativismo comunicacional na sociedade - A hora e a vez dos prosumidores

Antigamente, o processo natural da relação produção-consumo consistia no surgimento de produtos e serviços através, quase que somente, por empresas e instituições especializadas em determinados segmentos. O consumidor, por sua vez, quase sempre observava o produto já pronto para o uso (sem poder opinar sobre o seu conteúdo) e, em muitas situações, não tinha um canal comunicativo para exprimir suas opiniões, críticas e sugestões.

Porém, com o avanço do uso da Internet e, posteriormente, o surgimento de redes e de mídias sociais neste espaço virtual, não se pode mais negar o poder de influência que o consumidor possui em relação à concepção e ao consumo de muitos produtos (vide o chamado Boca a Boca 2.0, já discutido no RPitacos).

Muitas pessoas, atualmente, querem contribuir com as empresas em relação, por exemplo, a como realizar um lançamento de produto ou como valorizar um já existente no mercado. Outras ainda querem lançar produtos e conteúdos por conta própria, distribuindo-os através de sites de relacionamento e de compartilhamento de vídeo.

Esta maior participação e interferência dos indivíduos no controle destas relações confere um novo nome aos consumidores que assim agem: eles são, agora, prosumidores, como relata Junia Cristina Junqueira Parreira Meirelles em sua dissertação de mestrado da Universidade Anhembi Morumbi Design, interação e convergência (2008, p. 21):

"O termo prosumidores, cunhado por Alvin Toffler (apud Kerckhove, 1995) para destacar as tendências do mercado, define o consumidor que não está mais satisfeito somente em consumir e deseja participar cada vez mais da produção. São esses prosumidores os interatores que, com os serviços de internet, transformam os sistemas de comunicação do século XXI por meio da produção e publicação de conteúdo próprio."

Um exemplo recente da ação dos prosumidores ocorreu a partir de uma promoção do refrigerante Sprite, em que internautas poderiam fazer um layout para ilustrar a lata do produto a partir de um aplicativo disponível no site (inclusive, mesmo com o fim da promoção, qualquer internauta pode desenhar sua lata e compartilhar com os amigos). Além de esta iniciativa ser um exemplo de crowdsourcing advertising (como já foi discutido neste blog), os participantes desta ação puderam exercer uma prática "prosumista", ou seja, de contribuir, no quesito design, para a criação de um produto.

No mesmo artigo citado anteriormente, Meirelles afirma que o prosumidor "interage socialmente, não só utilizando os ambientes digitais como meio, mas também produzindo informações e remixando-as." (2008, p. 23). E isso fica bem evidente quando se vê a disseminação rápida dos chamados vídeo-blogs (vlogs), plataformas de conteúdo importantes para quem deseja produzir suas próprias reportagens e análises sobre determinado tema, sem apenas receber as opiniões de terceiros ou de pessoas influentes num cenário específico.

Muitos casos de sucesso deste canal de comunicação acabam também engrenando seus trabalhos nas mídias tradicionais, como o exemplo do vlogger Felipe Neto, do Não Faz Sentido, que, com o sucesso de seus vídeos, acabou protagonizando um programa no Multishow em 2010, chamado Será que faz sentido?, e, recentemente, foi chamado pelo apresentador Tiago Leifert para estrelar quadros no Esporte Espetacular e no Globo Esporte, desferindo seus comentários no contexto esportivo. Para entender melhor o funcionamento dos vlogs, a seguir está um vídeo feito para um trabalho de comunicação e expressão da Faculdade Maurício de Nassau.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Relações Públicas e o cenário esportivo - Uma parceria que dá jogo

Para que se comece este post, é necessário lembrar que a parceria entre Comunicação e Esporte (termo tratado não em seu contexto lúdico, mas no de competitividade e de performance dos atletas) é antiga, desde as primeiras impressões de jornais com cadernos esportivos, passando pelas transmissões de jogos pelas rádios e televisões, pelo lançamento de revistas e tablóides especializados e pelo advento da Internet, com a quase instantânea transmissão e compartilhamento de notícias sobre clubes, atletas, resultados, jogos, carreiras e títulos, através de sites específicos e de canais de relacionamento que aproximam significativamente atletas, jornalistas e torcedores.

Com este contexto, como é que o profissional de Relações Públicas pode se inserir neste nicho de mercado tão competitivo e tão mutável como o dos Esportes? Será utilizada neste texto a "divisão" do trabalho das Relações Públicas em dois componentes, sugerida por Mullin, Hardy e Sutton no livro Marketing Esportivo (2004) e citada por Jéssica Raquel Batista Lima e Ary Rocco no artigo As Relações Públicas como Composto de Marketing Esportivo, apresentado no XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação - Intercom (2010, págs. 08-10).

Os dois componentes do trabalho de um Relações Públicas que foram citados no artigo são as Relações de Mídia e as Relações Comunitárias. O primeiro componente citado pode ter três abordagens (2010, p. 08), dependendo do seu papel na organização e do contexto em que esta se encontra:

- Reativas: "(...) captam e respondem indagações, essas solicitações podem se referir a entrevistas, autógrafos, aparições", além de englobar pedidos de declarações acerca de uma situação específica;
- Pró-ativas: "(...) a organização toma a iniciativa de oferecer informações e de criar publicidade";
- Interativas: auxiliam a mídia, pois cada parte pode iniciar a sua ação específica sabendo que a outra poderá cooperar quase que totalmente. Esta abordagem ligada diretamente ao marketing de relacionamento, "onde se prioriza a construção de relacionamentos duradouros, ao invés de realizar metas de relações públicas de curto prazo."

Um exemplo da utilização destas Relações de Mídia no campo esportivo está exatamente no uso das novas mídias por jogadores de futebol, técnicos e jornalistas especializados. Com o passar do tempo, estes canais podem se tornar benéficos ou maléficos aos seus usuários, desencadeando relações sólidas e harmoniosas ou crises incontroláveis envolvendo jornalistas, seguidores, empresas e jogadores. A ocorrência destas situações depende de vários fatores, dentre eles está o desempenho do atleta/time num torneio específico ou um incidente que aconteceu fora de seu ambiente profissional.

Um caso recente em que aparecem abordagens das Relações de Mídia de maneira simultânea está no uso do Twitter pelo presidente do Atlético Mineiro Alexandre Kalil. Em seu perfil na rede de microblogs, com mais de 76 mil seguidores, ele é reativo (costuma deixar o espaço sempre atualizado, captando os acontecimentos e respondendo, como no último sábado, em que se dirigiu à torcida rival do Cruzeiro, depois da vitória no clássico regional por 4 a 3 pelo Campeonato Mineiro) e pró-ativo (pela prática de anunciar as novas contratações do time pelo Twitter, como no caso do meio-campista Mancini, do zagueiro Leonardo Silva e do goleiro Giovanni).

Já as Relações Comunitárias, segundo o mesmo artigo citado inicialmente (2010, p. 09-10), são complementares às Relações de Mídia e o grande objetivo desses "são de elevar os níveis de consciência entre os consumidores e o público em geral, e com a visibilidade adquirida na comunidade, esses programas tentam criar clientela.". Há várias facetas de Relações Comunitárias e, dentre elas, está a parte da filantropia empresarial, com ações solidárias visando, além do benefício direto aos públicos necessitados atingidos, a uma imagem mais positiva da empresa/indivíduo em relação à sociedade, com a agregação de valores através de elementos emocionais e criativos.

Um exemplo da utilização das Relações Comunitárias no esporte está no quadro Futebol Social Clube, recém-lançado pelo programa Esporte Espetacular, veiculado pela Rede Globo. O repórter Thiago Asmar e o comentarista Caio Ribeiro mostram iniciativas sociais de jogadores e ex-jogadores, interagindo com o atleta e com os moradores da comunidade. Alguns programas já foram gravados na "Fundação Gol de Letra" dos ex-jogadores Raí e Leonardo, e no "Instituto Deco20" do meia do Fluminense Deco.

Seja assesorando a imagem de uma insituição, de um atleta ou ex-atleta, gerenciando crises que podem ocorrer ou cuidando da comunicação institucional de um projeto social, os Relações Públicas possuem um vasto campo de atuação a ser explorado no cenário esportivo. Para encerrar o post, um vídeo relacionado ao quadro Futebol Social Clube, com a presença do ex-jogador Raí.


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Boca a Boca 2.0 - Mudanças de comportamento do consumidor na Era Digital

Acredita-se que muitas pessoas já ouviram falar da chamada comunicação boca-a-boca, em que a informação é compartilhada de um para um: o amigo fala para outro amigo, que comenta com a mãe, que repercute com o colega de trabalho... Enfim, é uma prática realizada através de canais interpessoais (pessoalmente - face a face - ou por uma tecnologia de comunicação, como o telefone) que, com o advento das mídias sociais, tomou um novo rumo, como relatam André Petris Gollner e Carlos Machado no artigo Sites consumeristas, redes sociais virtuais e comportamento do consumidor publicado na revista Comtempo, Revista Eletrônica do Programa de Pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero, volume nº 2, ano 2, em dezembro de 2010 (p. 06):

"As redes sociais passaram a representar o antigo “boca a boca” no que se refere à transmissão de informações. Neste aspecto, Recuero (2009:25) expõe que estas estruturas sociais virtuais expandiram as possibilidades de interligação entre grupos de pessoas, assim como seus poderes de difundir informações. No espaço real a conversa pessoal é um veículo de difusão limitado, enquanto que no espaço digital as redes amplificam, multiplicam e repassam as informações."

Ou seja, nestas estruturas sociais virtuais, o boca a boca se amplifica, como se utilizasse um megafone, e acaba se multiplicando, de maneira quase que instantânea, por toda a rede mundial de computadores. Inserindo mais um exemplo, na noite da última terça-feira, dia 15 de fevereiro, ocorreu mais uma edição de um evento on-line denominado Papos na Rede, que tem a função de compartilhar conhecimentos através de discussões sobre assuntos pertinentes do cenário comunicacional. Com a condução de Márcia Ceschini e o apoio da plataforma Treina TOM, mais de 100 pessoas puderam acompanhar mais esse grande exemplo de crowdsourcing.

Nesta noite, a palestrante foi Martha Gabriel, diretora de tecnologia da NMD New Media Developers, consultora de tecnologia, design e marketing e professora dos cusos de MBA e pós graduação das Universidades Anhembi Morumbi, Belas Artes e SENAC e dos cursos de graduação de Design Digital e Games da Universidade Anhembi Morumbi.

O tema do evento foi Marketing na Era Digital (mesmo nome de um de seus três livros publicados) e, em sua apresentação, Martha ressaltou que o publico-alvo das empresas não é mais somente alvo, mas também é mídia e gerador de conteúdo. Ainda em sua fala, a palestrante exemplificou esta "nova função" do consumidor com o uso do botão RT (Retweet) na rede de microblogs Twitter: "Quando você dá um RT, você é mídia. Você está determinando que caminhos essa mensagem vai tomar".

Com essa afirmação, uma das primeiras perguntas que podem ser feitas é: por que dar um retweet num assunto específico? São vários os motivos: para promover empresas, artigos, notícias e indivíduos, não só por atitudes positivas, mas por infelicidades cometidas por um certo perfil nesta rede. Um exemplo ocorreu na úlima terça-feira, dia 15 de fevereiro, quando um funcionário postou no perfil oficial do Supremo Tribunal Federal (STF) no Twitter a frase alusiva a José Sarney: "Ouvi por aí: Agora que o Ronaldo se aposentou, quando será que o Sarney vai resolver pendurar as chuteiras?" 

Este erro gerou repercussão imediata e mais de 100 pessoas fizeram o retweet desta frase, talvez pelos motivos mais diversos (para mostrar o erro do perfil oficial de uma instituição e/ou para concordar com a afirmação). O certo é que o boca a boca 2.0 foi eficaz, porque a infeliz afirmação do funcionário se espalhou pela rede e chegou aos portais de notícias, obrigando o autor da frase a se desculpar publicamente pelo erro cometido. Mesmo com o pedido do próprio presidente do Senado de não afastar a funcionária tercerizada responsável, ela acabou sendo dispensada de suas atividades.

Além de um simples RT determinar os caminhos de uma mensagem, ele pode interferir na imagem de uma empresa ou de uma pessoa. Um exemplo disso é a reclamação feita à Brastemp, caso que já foi discutido neste blog, que levou o nome da empresa aos Trending Topics mundiais. Porém, se não fosse a divulgação do vídeo pelos RT's dados pelo Twitter, seria apenas mais uma reclamação dentre tantas outras.


 
Com isso, pode-se concluir que estas mudanças de comportamento do consumidor e do indivíduo como tal são quase que irreversíveis e, se não forem tratadas com a importância devida, podem gerar crises na imagem das organizações, porque o consumidor consegue ter uma voz, uma mídia, uma oportunidade de gerar conteúdo que, antes da mundialização dos computadores, não era tão possível e tão acessível à maioria da população.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Relações Públicas e responsabilidade social - Trote solidário, arma a favor da cidadania

Para muitos estudantes, o ano letivo já começou, com a apresentação de novas disciplinas, novos professores, trabalhos a serem cumpridos, o reencontro com os amigos e com as corriqueiras horas de estudo e de prática. Porém, este ano de 2011 será marcante para muitos jovens brasileiros: depois de muitos simulados, muitas horas de estudo e outras de provas, de sacrifícios e de lutas, a tão sonhada aprovação no vestibular de uma faculdade ou universidade (pública ou particular) é realidade.

Muita festa acontece, muitas esperanças e oportunidades se abrem. No caso da autora que vos fala, passar no vestibular da UNESP para cursar Relações Públicas foi e será um momento inesquecível na minha vida e de minha família. Seja na 1ª lista, nas outras chamadas ou no famoso "tele-bixo", a emoção de ser aprovado é a mesma. Entretanto, há sempre um pequeno receio por parte de pais e dos novos universitários: como será a recepção dos calouros, dos chamados "bixos"? Será que haverá os chamados trotes violentos por parte dos veteranos?

De fato, em quase todo começo de ano, sempre há uma notícia envolvendo recepção de calouros com trotes exagerados, humilhantes e que podem levar a sequelas físicas (como no recente caso de um menino de 14 anos que sofreu queimaduras em trote violento numa escola técnica paulista) e até ao óbito, como ocorreu em 1999 com um calouro da Universidade de São Paulo, que se afogou na piscina do clube da Faculdade de Medicina.

Mas como explicar a violência de certas práticas aplicadas aos calouros? Andryelle Vanessa Camilo, em seu artigo Do trote universitário como atentado aos direitos da personalidade do acadêmico, Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010, relata a origem da prática do trote (2010, p. 01):

"O trote é um rito de iniciação que remonta à Idade Média e designa os atos de zombaria e a imposição de tarefas a que veteranos sujeitam calouros. Trata-se de ritual de iniciação às avessas, porque perpetra a violência e o desrespeito às leis. O trote teve início na Europa e lá foi marcado pela violência desmedida. No Brasil, foi introduzido no séc. XVIII, por influência de estudantes da Universidade de Coimbra. Em 1831, em Recife, ocorreu a primeira morte oriunda de trote, seguida de várias outras tragédias. Em decorrência disso, o trote deixou de ser um ritual de integração para se tornar sinônimo de humilhação e sofrimento."

Entre cenas indesejáveis e humilhantes, um "trote do bem" começa a surgir no final do século XX como alternativa aos sofrimentos e à violência: o trote solidário, que tem por objetivo inserir o novo universitário no ambiente em que permanecerá pelos próximos anos de sua vida, além de suscitar, a quem participa, uma oportunidade de protagonizar uma ação de responsabilidade social.

Neste ano de 2011, a Comissão de Recepção dos Calouros de Relações Públicas da UNESP Bauru organiza o Projeto Acordi (Ação Consciente de Responsabilidade e Integração) que visa arrecadar, durante o período de matrículas e nas primeiras semanas de aula, itens necessários a duas instituições bauruenses: Fundação Inácio de Loyola - Família Nazaré (doação de absorvente, creme para cabelo e sabonetes) e RASC - Recuperação e Assistência Cristã (doação de chinelos, com números de 31 a 41, além de bermudas). Numa data posterior, ainda não definida, calouros e veteranos irão entregar as doações às entidades, além de promoverem atividades recreativas, sociais e culturais. O trote solidário é apoiado pela FAAC (Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação), pela Prefeitura Municipal de Bauru, pelo Fundo Social de Solidariedade e pela Secretaria do Bem Estar Social (SEBES)

De acordo com Thiago Rela Siqueira, aluno do 2º ano de Relações Públicas da UNESP e integrante da Comissão, em entrevista feita por e-mail, o projeto ACORDI surgiu a partir de conversas entre calouros e veteranos para desmistificar o estereótipo (como visto no começo) de que todo trote é violento. Nas palavras de Siqueira:  

"A idéia do Projeto surgiu, na verdade, por uma conversa com um veterano do 3º ano (O Traíra). A preocupação era tirar um pouco o estereótipo de que todo trote é violento e mostrar para os pais, bixos e sociedade que alunos de universidade pública se preocupam TAMBÉM em ajudar a comunidade. Não só isso, é uma forma também de você aproveitar uma situação para fazer o bem. Os novos alunos e pais estão todos orgulhosos pela conquista de entrar na faculdade e, a partir disso, podemos incentivar a prática de uma atitude solidária."

Elaborada a ideia, ainda segundo o aluno, a Comissão de Recepção (formada, além do Thiago, por Bárbara Quagliatto Goes, Bruna Mantuan, Fernando Merlim, Gabriel Barbosa Paes, Milena Shoji e Polianna Negri Manchon) entrou em contato com a Secretaria do Bem Estar Social, que entregou uma lista com o nome de algumas instituições, sendo duas (já citadas) as escolhidas. Mesmo ainda não ocorrendo a entrega das doações, a repercussão deste trote solidário foi quase que imediata, graças à sua divulgação nos principais sites de notícia da cidade de Bauru, como o da Prefeitura Municipal, dos jornais Bom Dia e Jornal da Cidade, além da rádio 94 Fm.

Isto mostra a importância do projeto para a formação acadêmica (organização de ações comunitárias) e moral de veteranos e calouros, além do aprendizado proveniente de uma experiência solidária. "Em relação ao aprendizado, nem preciso dizer que está sendo IMENSO. Participar da Comissão dos Bixos já é um aprendizado muito grande, mas normalmente o foco é Rpinga [festa tradicional organizada pelo curso] e Recepção. Todo o trabalho que já dá, ALIADO à organização de um Projeto Social colabora de uma maneira muito intensa no aprendizado. Não apenas profissional, mas talvez principalmente pessoal. É a certeza que você tem que, mesmo sendo um aluno que cursou um ano de faculdade, você é capaz de mobilizar muita gente. Só é necessário iniciativa, força de vontade e uma idéia.", completa Siqueira.

Aliás, os calouros que participaram da ação já reconhecem o projeto como uma grande oportunidade de compartilhar a felicidade da aprovação com aqueles que mais precisam, como relata a caloura de Relações Públicas Lais Maria Fermino de Souza, em entrevista ao RPitacos por e-mail.

"Passar na faculdade dos seus sonhos não tem preço! A partir de tantas novidades, com certeza criaremos o sentimento de união e estaremos dispostos a ajudar e receber ajuda. Por que não estender essa ajuda a outras pessoas que realmente precisam? É isso o que o Projeto Acordi – Ação Consciente de Responsabilidade e Integração, com o apoio da UNESP e também pela Secretaria do Bem-Estar Social da Prefeitura Municipal da Cidade de Bauru faz! Foi MUITO  legal saber que há a preocupação dos meus veteranos de RP em realizar essa ação! O dever cívico de cada um, explorado em trotes solidários, arrecadando itens e indo pessoalmente às instituições é uma bonita atitude de dar a nós, bixos e aos interessados, a oportunidade de promover a solidariedade e compartilhar um pouco de nossa felicidade! PARABÉNS AOS  SEUS IDEALIZADORES E ADEPTOS!"

É necessário salientar que esta atitude solidária não pode se restringir apenas ao "período de trotes", mas que a prática da responsabilidade social seja uma constante no cotidiano pessoal e profissional de calouros e veteranos, tanto que a própria Comissão acredita que o projeto terá continuidade nos próximos anos.

Para encerrar este post, um vídeo de março de 2009 mostrando um pouco do trote não-violento realizado na UNESP de Bauru e de como os veteranos ajudam os calouros perdidos nesta fase tão importante da vida: a passagem do ensino médio (ou do cursinho) para a vida universitária. Um pequeno detalhe está no fim do vídeo, nos seus últimos segundos, em que aparece a autora deste blog totalmente pintada em seu trote.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A voz de autoridade das celebridades é a voz do povo? (III) - Protagonismo popular por Regina Casé

O RPitacos encerra hoje, com este post, uma série de textos baseados numa pesquisa feita pela Data Popular e publicada no Portal Exame no começo deste ano sobre a influência de algumas celebridades na intenção de compra das classes C, D e E. A introdução para o melhor entendimento desta pesquisa e de seus desdobramentos pode ser vista neste link.

A última celebridade a ser mais destacada nesta pesquisa foi a atriz, comediante e apresentadora Regina Casé. Esta artista carioca é filha do diretor Geraldo Casé (falecido em 2008) e, desde jovem, sempre atuou em peças teatrais e fez algumas participações em novelas e séries da Rede Globo. O reconhecimento do grande público, no entanto, veio em 1986, durante a novela Cambalacho, com a personagem Tina Pepper e, dois anos depois, Casé entrou para o elenco do programa TV Pirata, protagonizando vários quadros.

Porém, a grande atuação de Regina Casé (por conta de suas marcas significativas de espontaneidade) está nos programas mais populares, no sentido de mostrar ao grande público particulariedades das grandes cidades e histórias que talvez não teriam espaço em outros programas. Alguns artigos acadêmicos correlacionam programas apresentados pela atriz com as realidades vividas e com processos comunicacionais.

De maio de 1995 a 1998, Regina Casé passou a apresentar o programa Brasil Legal (que, em 1994, já tinha ido ao ar em forma de um especial de fim de ano), que tinha o objetivo de mostrar tipos inusitados e interessantes que existiam (e ainda existem) no Brasil que, em quase todos os casos, permanecem no anonimato.

Daniela Dumaresq, em seu artigo Viagens e Encontros em Brasil Legal, apresentado no XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação - Intercom 2001, ainda ressalta o fato de este programa não ser relacionado a um gênero já existente na classificação de programas televisivos, pois "Fez humor sem necessariamente contar piadas, entrevistas sem ser jornalístico, mostrou pessoas e lugares que não costumam ter espaço na mídia, misturou ficção e realidade." (2001, p. 02). Um exemplo deste novo gênero está no vídeo a seguir, que mostra um episódio do programa de 1997, cujo tema é telefonia.



Outro exemplo aconteceu em 1999, quando foi lançado, na Rede Globo, o programa Muvuca, que misturava talk-show e reportagens especiais, unindo pessoas de diferentes universos, celebridades e anônimos. Como o próprio nome do programa sugere, a "bagunça" era organizada e, ao mesmo tempo, imprevisível, por conta de uma dicotomia por parte da persona da apresentadora, como relata Suzana Kilpp no artigo Mundos imaginados em Muvuca (artigo on-line, p. 13):

"A persona Casé é moldurada, perceba o leitor, em termos muito diversos das personas televisivas âncoras: Regina está dentro, é parte do panorama. Ela é mal arrumada sem estar fantasiada, é grosseira e muito gentil ao mesmo tempo, é prepotente mas pode submeter-se, é triste e alegre, é plural e contraditória. Ela "é" a bagunça brasileira, a (des)ordem"

Um exemplo mais recente desta aproximação de Casé com as classes menos favorecidas está em seu mais recente programa na TV Globo, o dominical Esquenta, que substitui os programas As Aventuras do Didi e Os Caras de Pau, que estão em férias. O cenário possui cores bem vivas, como o laranja e o amarelo, remetendo exatamente ao verão brasileiro, e o programa mostra algumas antigas esquetes de humor de Regina Casé e recebe convidados famosos, valorizando sempre o talento e a música brasileiras (principalmente o samba, pela proximidade do Carnaval).  

Um dos momentos mais importantes para a curta história do Esquenta foi a participação, no dia 02 de janeiro de 2011, do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, numa conversa informal com Regina Casé. Dentre os assuntos abordados, Lula relata as dificuldades de se realizar obras no Brasil e de seus planos para o futuro. Pode-se dizer que houve a junção de duas pessoas que têm suas imagens atreladas ao povo simples (embora Regina Casé não viesse, necessariamente, de origem muito humilde) e que possuem, pelo menos nesta entrevista, carisma e espontaniedade em frente às câmeras. Para encerrar o post e esta série de textos, um trecho desta entrevista.





Complementando: no dia de hoje (11 de fevereiro), saiu uma notícia no site Adnews dizendo que Regina Casé é protagonista do novo comercial da Caixa, mostrando os benefícios de crédito à pessoa física. Um dos requisitos para a escolha da comediante é exatamente o despojamento e a informalidade que lhe são características.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A voz de autoridade das celebridades é a voz do povo? (II) - A influência midiática de Ivete Sangalo

O RPitacos continua hoje sua série de posts baseados numa pesquisa feita pela Data Popular e publicada no Portal Exame sobre a influência de algumas celebridades na intenção de compra das classes C, D e E. A introdução para o melhor entendimento desta pesquisa e de seus desdobramentos pode ser vista neste link.

No post de hoje desta série, o foco será à cantora Ivete Sangalo, nascida em Juazeiro (Bahia) e que começou a sua carreira cantando em barzinhos na cidade de Salvador. Em 1993, alçou o posto de vocalista da Banda Eva, que vendeu mais de cinco milhões de discos durante os cinco anos de permanência da cantora.

Na Quarta-feira de Cinzas de 1999, Ivete iniciou a sua carreira como cantora solo e já no primeiro CD conseguiu receber um Disco de Ouro pelas cem mil cópias vendidas. A trajetória de Ivete continuou nestes quase 11 anos de carreira solo com mais altos do que baixos, culminando com a gravação de seu terceiro DVD no Madison Square Garden, em Nova York, com participações de artistas como Juanes, Seu Jorge, Diego Torres e Nely Furtado.

Há muitos casos de sucesso e de identificação de músicas da cantora com acontecimentos nacionais e internacionais. Citando apenas alguns exemplos, a música Festa, lançada em 2001, tornou-se, no ano seguinte, o hino do pentacampeonato da Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo FIFA, sendo a cantora convidada para recepcionar os jogadores em seu trio elétrico durante festa em Brasília, como se pode ver no vídeo a seguir.



A imagem da cantora, midiaticamente falando, é muito expressiva quando é colocada para vender produtos que exaltam a beleza feminina, como tinturas e shampoos, ou quando se precisa mostrar as belezas materiais e imateriais da cidade de Salvador e/ou do Estado da Bahia, como mostram Pricilla de S. Andrade, Paula N. M., Fernanda M. M. de Castro e Elizabete S. Kushano no artigo Campanha publicitária do verão 2005/2006 da Bahia: a importância do investimento na imagem da marca para o fomento da atividade turística no Estado, publicado no Caderno Virtual de Turismo, volume 7, nº 2 (2007, p. 86, grifos do autor):

"A terceira mensagem é transmitida pela cantora baiana de maior popularidade midiática, Ivete Sangalo, que ressalta o convite para o telespectador: "Vem que a gente tá querendo te abraçar, nosso estado de alegria contagia". Nesse momento, se estabelece uma relação mais íntima do povo baiano que aparece em segundo plano no filme, mas convida o turista através da cantora que aparece em primeiro plano com muita expressividade."

Uma das ações mais recentes em que a cantora participou foi relacionada à companhia de viagens aéreas TAM, no segundo semestre de 2010. A estratégia era trazer Ivete como uma comissária de voo numa viagem regular para Nova York (onde ela fez um show no Madison Square Garden no dia 04 de setembro) para causar um impacto aos passageiros. Em entrevista ao Portal Exame (já referenciada acima), a diretora de Marketing da empresa Manoela Amaro explica a escolha da Ivete como garota-propaganda da marca.


"[Portal Exame] Vocês mantêm parceria com Ivete Sangalo. Como a popularidade da cantora favoreceu a estratégia da companhia?
Manoela Amaro - A Ivete é elástica. Ela fala para todas as classes sem desmerecer ninguém. Ela tem as características que a gente quer trazer para a marca. Mas os resultados das campanhas com ela nós vamos levantar depois do show do Madison (Madison Square Garden, em Nova York). Em breve teremos muitas novidade com a Ivete."

De fato, a ação gerou uma grande repercussão na época e o vídeo que continha as orientações da "comissária Ivete" teve mais de 200 mil acessos no Youtube, mostrando a popularidade da cantora em todos os níveis financeiros, o que demonstra a tese relatada no começo do post anterior: a maioria das pessoas está submetida a se influenciar por uma voz de autoridade. E é com o vídeo da ação da TAM que este post se encerra.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A voz de autoridade das celebridades é a voz do povo? (I) - Huck caiu na rede e no Peixe

Esta série de posts que se inicia hoje foi inspirada numa pesquisa feita pelo Data Popular e publicada no Portal Exame em 04 de fevereiro de 2010, que mostra que aproximadamente 33% das classes C, D e E tem suas opiniões formadas graças aos artistas que estampam os anúncios. Nas palavras da notícia, "Os preferidos são Luciano Huck, que passa uma imagem de família, Ivete Sangalo, pela alegria, e Regina Casé, por ter um perfil com que a massa se identifica."  

Um fato que deve ser considerado, para maior entendimento, é que a grande maioria das pessoas, de qualquer classe econômica, são suscetíveis a serem influenciadas por algo (ou alguém) para formarem as suas opiniões que, na realidade, não são totalmente próprias, e sim lapidadas pela Indústria Cultural. Explicado isto, o objetivo dos posts é como as três celebridades citadas na matéria conseguem ter esta influência positiva diante do público, mesmo quando enfrentam polêmicas e crises. (Sim, dos posts: nesta semana, o RPitacos tentará entender como a imagem dos três artistas se construiu, como esta influência foi conquistada e quando uma gestão de crises bem sucedida conseguiu solucionar problemas).


Hoje, o estudo de caso será baseado no filho de um jurista e de uma urbanista, no estudante de direito que se tornou jornalista, apresentador de televisão e empresário, além de ser casado com outra apresentadora famosa. Luciano Huck possui mais de dez anos de carreira, entre programas de rádio (Torpedo Pan e Mingau, na Jovem Pan) e televisão (Circulando, na TV Gazeta de São Paulo, Programa H, na Bandeirantes e, há 10 anos, apresenta o Caldeirão do Huck, nas tardes de sábado pela Rede Globo).

É interessante perceber a mudança na imagem artística de Huck ao longo dos anos. Se no final do século XX, o apresentador era mais conhecido pelas personagens femininas que lançava, como a Tiazinha e a Feiticeira, atualmente Huck possui uma imagem ainda voltada ao público jovem, porém com um ar mais amadurecido (muito por conta de seu casamento com Angélica) e mais comprometido com as causas sociais: Huck foi idealizador em 2003 do Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias, que tem, como objetivo (retirado do próprio site da organização), "proporcionar aos jovens oportunidades de trabalho em que eles realizem e conquistem sua independência".

Em relação ao campo da privacidade, Huck passou da fase de mostrar explicitamente o relacionamento com suas namoradas, como se vê nesta reportagem da Veja em 4 de agosto de 1999, e a promoção do "bom-mocismo" e do chamado casal celebridade perfeito Huck e Angélica foi reportagem de capa desta mesma revista na edição 2202, lançada em 02 de fevereiro de 2011 (disponível no acervo digital da revista) e que gerou uma certa polêmica pelo fato da Veja colocá-los na capa, em meio a outros assuntos como a crise no Egito, por exemplo.

Como se vê, a imagem de Huck quando se é atrelada a alguma marca ou empresa, é quase certeza de sucesso. Recentemente, em dezembro de 2010, houve o caso da parceria entre o apresentador da TV Globo e a empresa Peixe Urbano, fundada há oito meses e pioneira no Brasil no ramo das compras coletivas. Huck se tornou um sócio minoritário desta organização pois acredita na filosofia do site, segundo a reportagem do jornal O Globo. A seguir está o vídeo hospedado no canal oficial da empresa em que Huck confirma a parceria.



Muitas pessoas passaram a conhecer o trabalho e as promoções do Peixe Urbano a partir do Twitter do apresentador (que detêm o segundo posto em número de seguidores no Brasil, perdendo somente para o jogador de futebol Kaká) e, com isso, a utilização deste serviço de compra coletiva aumentou e ficou mais conhecido. Ainda falando em seguidores, os do "Twitter-sede" da empresa chegam quase a 47 mil, sem contar as "contas-filiais", ou seja, as que representam as principais cidades em que o Peixe está, como São Paulo, Rio de Janeiro, Campinas e Natal, entre outras.

Outro exemplo é a parceria do apresentador com o banco Itau, mais precisamente com o cartão Itaucard. Huck é o protagonista de vários comerciais, exaltando as vantagens de se ter o serviço e, segundo matéria publicada no site da ABERJE, "a proposta da campanha, elaborada pela DPZ, é divulgar que - além da possibilidade de comprar ingressos para cinema e futebol pela metade do preço - agora o desconto de 50% vale também para parques e atrações turísticas." Segundo o diretor de atendimento da DPZ Elvio Tipeppo, Huck foi escolhido por conseguir falar com todos os públicos que estão na carreira de clientes do banco. O making of de uma destas campanhas e o comercial em si estão no vídeo que encerra este post.

 

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Os extremos podem se tocar - As disputas modernas entre Davi e Golias no âmbito empresarial

Este post tem o objetivo de mostrar a importância da aproximação, ao longo do tempo, de vários extremos (graças à globalização e a algumas de suas ferramentas, como se verá posteriormente) e de como o mais forte deles, nos dias atuais, nem sempre consegue vencer ou atingir o seu objetivo, seja no campo empresarial, esportivo ou noutros ambientes. E nada mais sugestivo para iniciar esta reflexão do que relembrar a clássica história bíblica envolvendo o pequeno Davi e o gigante Golias, retirada do livro I Samuel 17 da Bíblia Católica (alguns versículos serão tirados desta seleção para melhor entendimento do texto):

"Saiu do acampamento dos filisteus um campeão chamado Golias, de Get, cujo talhe era de seis côvados e um palmo. Trazia na cabeça um capacete de bronze e no corpo uma couraça de escamas, cujo peso era de cinco mil siclos de bronze. Tinha perneiras de bronze e um dardo de bronze entre os ombros. (...) 
Apresentou-se ele diante das tropas israelitas e gritou-lhes: Por que viestes dispostos a uma batalha? Não sou eu filisteu, e vós os escravos de Saul? Escolhei entre vós um homem que desça contra mim. Se ele me vencer, batendo-se comigo, e matar-me, seremos vossos escravos; mas, se eu o vencer e o matar, então sois vós que sereis nossos escravos e nos servireis! (...) 
Davi disse-lhe: Ninguém desanime por causa desse filisteu! Teu servo irá combatê-lo. Combatê-lo, tu?!, exclamou o rei. Não é possível. Não passas de um menino e ele é um homem de guerra desde a sua mocidade. (...) O Senhor, acrescentou [Davi], que me salvou das garras do leão e do urso, salvar-me-á também das mãos desse filisteu. Vai, disse Saul a Davi; e que o Senhor esteja contigo! (...)
Davi cingiu a espada de Saul por cima de sua armadura e tentou andar com aquela equipagem inusitada. Mas disse a Saul: Não posso andar com isso, pois não estou habituado!  E, tirando a armadura, tomou seu cajado e escolheu no regato cinco pedras lisas, pondo-as no alforje de pastor que lhe servia de bolsa. Em seguida, com a sua funda na mão, avançou contra o filisteu. De seu lado, o filisteu, precedido de seu escudeiro, aproximou-se de Davi, mediu-o com os olhos, e, vendo que era jovem, louro e de delicado aspecto, desprezou-o.  (...) Levantou-se o filisteu e marchou contra Davi. Davi também correu para a linha inimiga ao encontro do filisteu. Meteu a mão no alforje, tomou uma pedra e arremessou-a com a funda, ferindo o filisteu na fronte. A pedra penetrou-lhe na fronte, e o gigante caiu com o rosto por terra. Assim venceu Davi o filisteu, ferindo-o de morte com uma funda e uma pedra."

Há algumas décadas atrás, o contato entre muitas das grandes empresas e os seus clientes era menos direto e mais impessoal, com a utilização de frases prontas nos atendimentos via telefone e de cartas em formato padrão, feitas pela própria empresa para as mais diversas situações (quando chegavam, por exemplo, pedidos, reclamações, sugestões, críticas, etc.).

Quando alguma pessoa se sentia prejudicada por certa empresa, ela tomava todas as medidas legais, acabava (ou não) recebendo uma indenização pelo dano que ela sofreu e acabava perdendo a confiança nessa organização, por esta apresentar uma imagem diferente do que a pessoa acreditava. Porém, o prejuízo que a empresa sofria por conta deste erro tinha um alcance geralmente pequeno e local pois, naquela época, os pequenos consumidores tinham poucas oportunidades de vencer grandes empresas: estas (os Golias) continuariam a ter sucesso em outras praças, mesmo com a reclamação feita por uma determinada casa (o Davi).

Entretanto, no Terceiro Milênio, um "pequeno" consumidor pode ocasionar uma grande crise de imagem (mesmo que reversível) numa grande empresa, como foi visto já neste blog no caso da Brastemp. Com a ajuda do maior compartilhamento de dados entre as pessoas, incidentes individuais se transformam em pedras que podem, em alguns casos, desestruturar sólidas organizações.

Um outro exemplo (além do já conhecido time africano do Mazembe, que eliminou o gaúcho Internacional no Mundial Interclubes em 2010, e que gerou um post neste blog), no campo esportivo, de que não se pode mais menosprezar os "Davi's" que aparecem no caminho dos Golias ocorreu na noite da última quarta-feira, dia 02 de fevereiro, na 1ª fase da Taça Libertadores da América.

O time do Corinthians (o Golias deste exemplo), de grande tradição e contando com jogadores consagrados como Ronaldo e Roberto Carlos, disputou uma vaga na fase de grupos com o desconhecido (para muitos) time colombiano do Deportes Tolima (representando Davi). No primeiro jogo realizado no Brasil, houve empate sem gols (e isso já era considerado uma façanha para os torcedores do Tolima) e o que era, para muitos, improvável aconteceu: no jogo de volta, o time colombiano venceu por 2 a 0 e eliminou o Corinthians. Era a primeira vez que um time brasileiro não passava da 1ª fase da competição (a chamada "Pré-Libertadores").

Assim como no caso da Brastemp, um pequeno Davi, que talvez nunca imaginou jogar contra o Corinthians ou ainda enfrentar um jogador como o Ronaldo (três vezes escolhido como o melhor do mundo), gerou uma considerável crise no time brasileiro, com direito a muitas reclamações e até a apredejamento de carros de jogadores e de membros da comissão técnica. A imagem do "Golias-Corinthians" foi prejudicada nesta situação, com direito a provocações postadas no Youtube, como o funk do "Toliminado", criado pela equipe do site Bola nas Costas, que encerra este post.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Um toque de informalidade na divulgação científica (II) - Aprendendo Inglês com música na televisão

*Este post pode ser considerado uma continuação do texto em que foi analisado o programa O Mundo de Beakman, veiculado pela TV Cultura, vendo a sua importância em divulgar conhecimentos científicos através da informalidade e de elementos lúdicos.

Não é novidade alguma saber que o domínio da língua inglesa é essencial para que qualquer indíviduo possa ser incorporado ao competitivo mercado de trabalho. Mesmo com a popularização do estudo deste idioma, através de uma disciplina obrigatória nos ensinos Fundamental e Médio, há sempre o risco de os alunos se desmotivarem a falar e escrever em Inglês, por conta do processo da "decoreba" ou pela falta de recursos midiáticos em algumas cidades brasileiras.

Uma solução muito utilizada nas escolas regulares e nas especializadas no ensino de idiomas é a inserção de músicas (em sua maioria, conhecidas dos alunos) para facilitar o aprendizado, pois muitas canções que são ouvidas permanecem no consciente humano por muito tempo, como afirmam Adriana Libera Parizotto Hazt e Ivete Pauluk no artigo A função social e linguística da música na aprendizagem da Língua Inglesa (2008, p. 07):


"Existem razões cognitivas, afetivas e lingüísticas que justificam a utilização de músicas na sala de aula. Estas razões são fundamentadas nas teorias da aprendizagem. [...] Parece que nossas mentes têm uma propensão natural para repetir os sons do ambiente, para que possamos atribuir-lhes sentidos. As canções podem fortemente ativar o mecanismo de repetição e aquisição da linguagem, assim como as crianças aprendem canções sem muito esforço. MURPHEY (1992) destaca que a música “gruda” em nós e ecoa em nossa mente, o que pode nos proporcionar prazer, ou aliviar o estresse. Isto vem a reforçar a idéia de que as canções atuam em nossa memória curta ou longa."

Esta ideia de relacionar o ensino de Inglês com a utilização de canções chegou à televisão entre as décadas de 1960 e 1980 com o programa Inglês com Música, transmitido pela TV Cultura, e que voltou à grade de programação da emissora em 2010, numa parceria entre a UNIVESP TV, canal digital 2.2 da Fundação Padre Anchieta, e o Centro Paula Souza.

Professora e criadora da versão antiga do programa, Marisa Leite de Barros volta a trazer uma música a cada programa para ser analisada e estudada por equipes de estudantes das Escolas Técnicas (Etecs) e das Faculdades de Tecnologia (Fatecs) de São Paulo. Além de Marisa, a cantora e apresentadora Amanda Acosta também comanda o programa (em alguns episódios, há a presença de Miranda Kassin na apresentação) e canta as músicas estudadas juntamente com a plateia. A seguir, está um vídeo do programa Vitrine (TV Cultura) mostrando os bastidores deste programa.




O programa sempre traz uma música atual ou antiga, porém conhecida do público alvo, ou seja, os jovens, com o objetivo de promover a pronúncia correta das palavras e a inserção de novas palavras no vocabulário. Para dinamizar o ensino, nesta temporada do programa há um game entre as duas escolas participantes, com exercícios para fixar o aprendizado.

Pode-se dizer que o Inglês com Música é considerado um grande exemplo de como ensinar a língua inglesa de forma mais solta e animada e serve também para que os profissionais de Comunicação entendam a importância, em alguns casos, de usar dinâmicas e outras ferramentas mais descontraídas para repassar uma mensagem ou para fixar um conceito na memória dos públicos.