sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Os extremos podem se tocar - As disputas modernas entre Davi e Golias no âmbito empresarial

Este post tem o objetivo de mostrar a importância da aproximação, ao longo do tempo, de vários extremos (graças à globalização e a algumas de suas ferramentas, como se verá posteriormente) e de como o mais forte deles, nos dias atuais, nem sempre consegue vencer ou atingir o seu objetivo, seja no campo empresarial, esportivo ou noutros ambientes. E nada mais sugestivo para iniciar esta reflexão do que relembrar a clássica história bíblica envolvendo o pequeno Davi e o gigante Golias, retirada do livro I Samuel 17 da Bíblia Católica (alguns versículos serão tirados desta seleção para melhor entendimento do texto):

"Saiu do acampamento dos filisteus um campeão chamado Golias, de Get, cujo talhe era de seis côvados e um palmo. Trazia na cabeça um capacete de bronze e no corpo uma couraça de escamas, cujo peso era de cinco mil siclos de bronze. Tinha perneiras de bronze e um dardo de bronze entre os ombros. (...) 
Apresentou-se ele diante das tropas israelitas e gritou-lhes: Por que viestes dispostos a uma batalha? Não sou eu filisteu, e vós os escravos de Saul? Escolhei entre vós um homem que desça contra mim. Se ele me vencer, batendo-se comigo, e matar-me, seremos vossos escravos; mas, se eu o vencer e o matar, então sois vós que sereis nossos escravos e nos servireis! (...) 
Davi disse-lhe: Ninguém desanime por causa desse filisteu! Teu servo irá combatê-lo. Combatê-lo, tu?!, exclamou o rei. Não é possível. Não passas de um menino e ele é um homem de guerra desde a sua mocidade. (...) O Senhor, acrescentou [Davi], que me salvou das garras do leão e do urso, salvar-me-á também das mãos desse filisteu. Vai, disse Saul a Davi; e que o Senhor esteja contigo! (...)
Davi cingiu a espada de Saul por cima de sua armadura e tentou andar com aquela equipagem inusitada. Mas disse a Saul: Não posso andar com isso, pois não estou habituado!  E, tirando a armadura, tomou seu cajado e escolheu no regato cinco pedras lisas, pondo-as no alforje de pastor que lhe servia de bolsa. Em seguida, com a sua funda na mão, avançou contra o filisteu. De seu lado, o filisteu, precedido de seu escudeiro, aproximou-se de Davi, mediu-o com os olhos, e, vendo que era jovem, louro e de delicado aspecto, desprezou-o.  (...) Levantou-se o filisteu e marchou contra Davi. Davi também correu para a linha inimiga ao encontro do filisteu. Meteu a mão no alforje, tomou uma pedra e arremessou-a com a funda, ferindo o filisteu na fronte. A pedra penetrou-lhe na fronte, e o gigante caiu com o rosto por terra. Assim venceu Davi o filisteu, ferindo-o de morte com uma funda e uma pedra."

Há algumas décadas atrás, o contato entre muitas das grandes empresas e os seus clientes era menos direto e mais impessoal, com a utilização de frases prontas nos atendimentos via telefone e de cartas em formato padrão, feitas pela própria empresa para as mais diversas situações (quando chegavam, por exemplo, pedidos, reclamações, sugestões, críticas, etc.).

Quando alguma pessoa se sentia prejudicada por certa empresa, ela tomava todas as medidas legais, acabava (ou não) recebendo uma indenização pelo dano que ela sofreu e acabava perdendo a confiança nessa organização, por esta apresentar uma imagem diferente do que a pessoa acreditava. Porém, o prejuízo que a empresa sofria por conta deste erro tinha um alcance geralmente pequeno e local pois, naquela época, os pequenos consumidores tinham poucas oportunidades de vencer grandes empresas: estas (os Golias) continuariam a ter sucesso em outras praças, mesmo com a reclamação feita por uma determinada casa (o Davi).

Entretanto, no Terceiro Milênio, um "pequeno" consumidor pode ocasionar uma grande crise de imagem (mesmo que reversível) numa grande empresa, como foi visto já neste blog no caso da Brastemp. Com a ajuda do maior compartilhamento de dados entre as pessoas, incidentes individuais se transformam em pedras que podem, em alguns casos, desestruturar sólidas organizações.

Um outro exemplo (além do já conhecido time africano do Mazembe, que eliminou o gaúcho Internacional no Mundial Interclubes em 2010, e que gerou um post neste blog), no campo esportivo, de que não se pode mais menosprezar os "Davi's" que aparecem no caminho dos Golias ocorreu na noite da última quarta-feira, dia 02 de fevereiro, na 1ª fase da Taça Libertadores da América.

O time do Corinthians (o Golias deste exemplo), de grande tradição e contando com jogadores consagrados como Ronaldo e Roberto Carlos, disputou uma vaga na fase de grupos com o desconhecido (para muitos) time colombiano do Deportes Tolima (representando Davi). No primeiro jogo realizado no Brasil, houve empate sem gols (e isso já era considerado uma façanha para os torcedores do Tolima) e o que era, para muitos, improvável aconteceu: no jogo de volta, o time colombiano venceu por 2 a 0 e eliminou o Corinthians. Era a primeira vez que um time brasileiro não passava da 1ª fase da competição (a chamada "Pré-Libertadores").

Assim como no caso da Brastemp, um pequeno Davi, que talvez nunca imaginou jogar contra o Corinthians ou ainda enfrentar um jogador como o Ronaldo (três vezes escolhido como o melhor do mundo), gerou uma considerável crise no time brasileiro, com direito a muitas reclamações e até a apredejamento de carros de jogadores e de membros da comissão técnica. A imagem do "Golias-Corinthians" foi prejudicada nesta situação, com direito a provocações postadas no Youtube, como o funk do "Toliminado", criado pela equipe do site Bola nas Costas, que encerra este post.

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