segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A descaracterização do "nada se cria, tudo se copia" no campo acadêmico

Há uma velha expressão que afirma: "nada se cria, tudo se copia". Porém, em vários cenários da sociedade, esta frase não pode ser aceita em sua integridade. Sabe-se que a grande maioria dos conteúdos apresentados nas mais variadas mídias sofre muitas influências de outros conteúdos, contemporâneos ou não. Porém, copiar integralmente ideias de outrem, e sem colocar a fonte, pode ser muito mais do que influência. E pode ser perigoso.

E quando o campo acadêmico se depara com uma notícia de que um professor foi afastado de suas funções por se usufruir de ideias e conceitos, sem dar o devido crédito aos seus autores? Como fica a imagem, não só da instituição envolvida, mas do próprio cenário acadêmico do Brasil que, como já foi dito neste blog, é um dos principais países do mundo na divulgação de conhecimento científico?

Sem julgar especificamente quaisquer situação (inclusive, o caso posto em questão nesta última semana), é necessário entender, primeiramente, o que significa a palavra plágio e como este pode ser caracterizado, sobretudo no contexto educacional.

Segundo o dicionário on-line da Michaelis, disponível no Portal UOL, plagiar é "Cometer furto literário, apresentando como sua uma idéia ou obra, literária ou científica, de outrem (...) Usar obra de outrem como fonte sem mencioná-la. (...) Imitar, servil ou fraudulentamente.". Vendo esta definição, pode-se dizer que a prática do plágio, infelizmente, ocorre em vários setores da sociedade: musical, científico, literário, entre outros.

Um exemplo de acusação recente de plágio no cenário musical ocorreu com a banda de rock NX Zero, em janeiro de 2009. Segundo o site da G1, na ocasião, a banda norte-americana Taking Back Sunday acusou os brasileiros de plagiar a canção “MakeDamnSure”, do disco “Louder now”, de 2006, em “Daqui pra frente”, do disco “Agora”, lançado em 2008 pela banda brasileira, tirando o refrão original e colocando uma música em português com a mesma melodia. 

Os cantores americanos não ficaram bravos com essa história, descoberta através de um fã brasileiro, mas mostraram-se surpresos com a postura do grupo musical brasileiro. O plágio foi desmentido veementemente pelos produtores do álbum e pelo próprio NX Zero, que atribuiam à semelhança uma mera coincidência, nada de mais grave foi constatado e o caso foi arquivado.


No contexo acadêmico, plagiar trabalhos e/ou ideias de outros pesquisadores é um crime imperdoável e há um regime de "tolerância zero" que rege a comunidade científica, como afirma Sonia M. R. Vasconcelos em seu artigo O plágio na comunidade científica: questões culturais e linguísticas (arquivo online, Jul/Set 2007), pertencente à Revista Ciência e Cultura, volume 59, nº 3:

"Atualmente, há uma política de "tolerância zero" ao plágio, que vem se estabelecendo através de periódicos internacionais. Recentemente, a Elsevier estabeleceu orientações bastante detalhadas sobre questões éticas relacionadas ao artigo científico. Na definição sobre o plágio, até mesmo algumas nuances foram abordadas: 'a cópia pode ocorrer mesmo sem a reprodução exata das palavras do texto original. Este tipo de cópia é conhecido como paráfrase e pode ser o tipo de plágio mais difícil de ser detectado.' Para autores acusados de plagiar idéias ou trechos de publicações anteriores, a punição é, muitas vezes, o bloqueio de nova submissão de manuscritos pelos envolvidos nesse tipo de 'fraude'.".

De maneira geral, utilizar ideias de outras pessoas, sem citar a fonte, é uma atitude que desvaloriza o trabalho do pesquisador afetado e que pode até trazer um prazer e um status imediatos, porém o peso na consciência (e, em algumas vezes, no bolso) e os malefícios atrelados à imagem pessoal são, de forma geral, irreversíveis. Um vídeo educacional muito interessante e ilustrativo para encerrar o post é do Movimento Criança Mais Segura na Internet, em que aborda os problemas de plágio e de pirataria. 

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