quarta-feira, 2 de março de 2011

Quebra de estereótipos = aceitação do consumidor? - O outro lado de Sandy Leah

Para começar este post, é necessário entender que cada indivíduo possui três imagens perante a sociedade: uma própria (vista pela pessoa quase que exclusiva, com suas qualidades e defeitos, com seus segredos e intenções), uma caracterizada pelas pessoas mais próximas, as que convivem com ela (provavelmente sabem um pouco mais da personalidade, dos valores, das intenções e das ações do indivíduo) e outra vista pela sociedade em geral (mais baseada na aparência física, nas expressões faciais e gestuais, além da própria reputação da pessoa). Estas três facetas podem se coincidir ou não, dependendo de cada indivíduo.

O que acontece em algumas situações é o fato de muitas pessoas (conhecidas ou não) assimilarem características, valores e atitudes (verdadeiros ou não) a outras, construindo concepções de perfis a partir de pré-saberes. Essa construção é chamada, por muitos, de estereótipo, por uma comparação com um certo instrumento antigo de impressão, e é considerada pejorativa por um provável distanciamento da realidade, como afirma Dylia Lysardo-Dias no artigo A Construção e a desconstrução de estereótipos pela publicidade brasileira, pertencente à revista Passando dos limites? Mídia e transgressão – Casos brasileiros (nov. 2007, p. 27):

"O termo “estereótipo” denomina, inicialmente, a placa gravada sobre o metal para a impressão de imagens e textos por meio de prensa tipográfica. Se até o início do século XX a composição era feita através de caracteres móveis, a partir dessa data surge um novo processo de reprodução em massa no qual o clichê ou estereótipo utiliza um modelo fixo.
Etimologicamente, a palavra vem do stereos que, em greco, quer dizer “sólido”. Portanto, o termo comporta em si uma referência ao que foi pré-determinado e encontra-se fixado, cristalizado. O fato de ele ser tomado como uma idéia que foi se solidificando ao longo do tempo e, por isso, possa ter se distanciado da “realidade”, fez com que fosse entendido como elemento falseador e pernicioso para as relações sociais. Assim, o termo estereótipo assume uma conotação pejorativa já que remete a um conceito falso (na origem inclusive de preconceitos sociais), uma crença desprovida de qualquer senso crítico que encerrava uma simplificação ou uma generalização sem fundamento.
"

Na última terça-feira, foi anunciada a nova garota-propaganda e musa do camarote carnavalesco da marca de cervejas Devassa, pertencente ao grupo Schincariol. A grande maioria do público se recorda que, no ano de 2010, esta bebida foi lançada no Brasil com a presença da socialite Paris HIlton, o que gerou muitos comentários pela sensualidade explícita do comercial e por algumas polêmicas, como o excessivo consumo de bebidas alcoólicas feito pela Paris e a retirada de circulação das propagandas da cerveja na televisão, no rádio, na mídia impressa e na Internet, determinada pelo Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária).

Em 2011, a celebridade escolhida para propagar a cerveja nos comerciais e no Carnaval é a cantora Sandy, que possui uma imagem, muitas vezes estereotipada por grande parte da mídia, de uma mulher mais recatada e reservada, além de ter uma forte ligação com o público infantil, muito por conta do começo precoce de sua carreira artística (juntamente com seu irmão Júnior). O primeiro comercial desta nova fase da cerveja pode ser visto a seguir.



Com isso, pode-se dizer que o novo tema de campanha da Devassa para este ano é muito sugestivo para esta "quebra de estereótipos": "Todo mundo tem um lado Devassa". É necessário notar que a expressão "todo mundo" significa que qualquer pessoa, na visão da marca, pode ter este lado mais desencanado, mais divertido, até mesmo, sob uma visão estereotipada, uma cantora como a Sandy. Segundo o Jornal O Dia, a cantora diz ter sido pega de surpresa com o convite, porém se identificou com a campanha apresentada e falou sobre a importância de buscar novas experiências profissionais:

"Enfrentei muitos desafios e muitas coisas novas. Ninguém sabe o que é trocar o certo pelo duvidoso. Antigamente tinha um público mais infantil. Agora posso fazer uma campanha como essa. Fui muito devassa nessa nas gravações. Eu me diverti muito".

A repercussão desta nova campanha da Devassa foi imediata. Na tarde de 1º de março e na manhã do dia seguinte, a tag #devassa permaneceu entre os assuntos mais comentados do Brasil no Twitter. Entre perfis indignados com a escolha da cantora e fãs comemorando o novo trabalho de Sandy, algumas piadas sobre este fato se espalham pela rede, como uma das versões de uma famosa sequência de fatos que pode (ou não) remeter a 2012: "@fabionovoa Sandy #devassa, homem na capa da Playboy, flamengo campeão.. Os sinais de 2012 se multiplicam..."

Enfim, a propaganda da Devassa pode ter contribuído para esta quebra de estereótipos relacionados à Sandy e também à própria imagem da cerveja, que muda seu foco quase que radicalmente, trazendo uma artista mais conhecida por seus trabalhos musicais do que pelas polêmicas e discussões. Do ponto de vista mercadológico, com elogios ou críticas, a empresa conseguiu divulgar suas ações de marketing, gerar polêmica e ainda fazer com que esta campanha será lembrada por todo o ano. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário