Ter uma opinião sobre o que acontece no mundo é algo importante para quem deseja se destacar nos âmbitos profissional e pessoal. Com o passar dos tempos, algumas pessoas que emitem suas opiniões em cenários midiáticos como, por exemplo, a televisão, o rádio e a Internet, começam a ter um reconhecimento público e passam a, de certa maneira, influenciar muitas pessoas, extrapolando até mesmo os "limites territoriais" das transmissões de seus prounciamentos. São os chamados formadores de opinião.
Um exemplo foi o que aconteceu com a jornalista Rachel Sheherazade, apresentadora do Tambaú Notícias, jornal veiculado pela TV Tambaú (afiliada do SBT em João Pessoa, capital da Paraíba, com site em manutenção) de segunda a sexta às 13h00. A apresentadora articula, dentro do jornal, comentários há cerca de um ano, duas vezes por semana, sobre os mais diversos assuntos.
No dia 03 de março de 2011, uma quinta feira, Rachel teceu comentários críticos acerca do feriado de Carnaval, que começaria, para algumas pessoas, no dia seguinte. A jornalista mostrou o chamado "lado B" da festa, ressaltando que a sua origem não é brasileira, mas sim européia (na Era Vitoriana, como ela mesma completa) e que a festa não é tão popular como se pensa, pois, nas palavras dela, "O Carnaval virou negócio, e dos ricos. Que os digam os camarotes VIPs".
Além disso, Rachel questiona o grande número de ambulâncias e de policiais nos locais onde as festas de Carnaval acontecem, em comparação ao dia-a-dia da população, e encerra declarando que o carnaval não é mais tão interessante e bom como nos tempos de outrora. O que era para ter uma repercussão local (no máximo, estadual) tornou-se fonte de discussão e polêmica por todo o Brasil e até destacado em páginas internacionais. O vídeo postado pelo canal da emissora no Youtube com a íntegra do comentário pode ser visto a seguir. Somando quase todas as reproduções do comentário, houve mais de 1 milhão de visualizações e mais de 6 mil comentários.
O comentário foi, para muitas pessoas, inesperado por se tratar de uma emissora que transmitiu os festejos carnavalescos em Salvador, investindo milhões de reais e trazendo os apresentadores Celso Portiolli e Eliana como protagonistas da cobertura. Além desta razão, o meio televisivo quase sempre mostra com maior ênfase os desfiles das escolas de samba e as festas em blocos e trios elétricos, em detrimento, muitas vezes, de outras atividades que podem ser realizadas durante estes dias de feriado, como retiros religiosos, viagens para lugares distantes da folia, entre outras programações alternativas.
Quando se percebe este contexto em relação a como o Carnaval é veiculado pelas mídias, é possível entender que a repercussão do comentário, com o intermédio das mídias sociais, foi imediata: além do grande número de acessos aos vídeos (e ao número também significativo de outras gravações apoiando e/ou criticando a jornalista), os nomes "Raquel", "Rachel" e "Sheherazade" permaneceram, não simultaneamente, 4 dias consecutivos entre os assuntos mais comentados da rede de microblogs Twitter.
As declarações de Rachel também foram discutidas em matérias nos portais de notícias Comunique-se, UOL e no blog Em Cartaz na Web, de OGlobo (destacando este último site, pelo tom de sarcasmo com que o autor do post apresenta o vídeo), além de ser destaque dos blogs de Ricardo Noblat e Luís Nassif. No âmbito internacional, os sites GlobalPost e RioGringa destacaram, impressionados, as críticas de Rachel, tão incomuns num país que valoriza demasiadamente esta festa. No dia seguinte ao comentário, Sheherazade comentou sobre a inesperada divulgação maciça de suas críticas e agradeceu à emissora pela liberdade de, segundo ela, "opinar livremente sobre qualquer assunto, sem censuras prévia ou posterior".
Segundo reportagem já citada do UOL, Rachel disse estar surpresa com a repercussão de seu comentário e revelou os motivos para criticar o Carnaval: “Na Paraíba se vive o Carnaval mais nas praias, sobretudo nas prévias carnavalescas --tanto que a ‘quarta-feira de fogo’, quando fiz o comentário, é nessas prévias. E a cidade, com comércio e repartições públicas, para; são muitos contratempos” (...) “Eu moro nas proximidades dos desfiles. Simplesmente você não consegue chegar em casa porque o trânsito congestiona, fora que é muito barulho. E não são queixas apenas minhas”. Além disso, segundo palavras da apresentadora, a intenção não era destruir o carnaval, tanto que ela cita os desfiles que acontecem no Sambródomo do Rio como um bom exemplo de organização.
Para marcar a repercussão do comentário como algo positivo para a emissora, a equipe de marketing da afiliada produziu uma propaganda ressaltando, em seu título, que "Jornalismo de verdade está ficando tão raro na Paraíba que vira notícia internacional", mostrando a repercussão de um comentário de praticamente 3 minutos e meio. Já na sexta feira pós-Carnaval, no dia 11 de março, a edição vespertina do jornal promoveu uma discussão sobre redes sociais (link disponível está dividido em Parte 1 e Parte 2), ainda motivada pelo vídeo de Rachel, com a presença da pesquisadora e professora de Comunicação Cândida Nobre e do gerente de Marketing da TV e FM Tambaú e também professor de Marketing Fábio Albuquerque.
É necessário entender, diante do caso exposto, que quase nenhuma declaração feita acerca de assuntos quaisquer fica imune a uma repercussão midiática, ainda mais se exprimida pelos formadores de opinião, e a opinião pública, na maioria das vezes, reage aos comentários e/ou atitudes. Pode-se dizer que, ao contrário do caso Prates (já analisado aqui mesmo no RPitacos), Rachel teve uma aceitação mais positiva do que negativa de seus comentários. Porém, ambos repercutiram suas opiniões e transcederam os limites territoriais, respectivamente, do Sul e do Nordeste brasileiros.
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