O RPitacos encerra hoje, com este post, uma série de textos baseados numa pesquisa feita pela Data Popular e publicada no Portal Exame no começo deste ano sobre a influência de algumas celebridades na intenção de compra das classes C, D e E. A introdução para o melhor entendimento desta pesquisa e de seus desdobramentos pode ser vista neste link.
A última celebridade a ser mais destacada nesta pesquisa foi a atriz, comediante e apresentadora Regina Casé. Esta artista carioca é filha do diretor Geraldo Casé (falecido em 2008) e, desde jovem, sempre atuou em peças teatrais e fez algumas participações em novelas e séries da Rede Globo. O reconhecimento do grande público, no entanto, veio em 1986, durante a novela Cambalacho, com a personagem Tina Pepper e, dois anos depois, Casé entrou para o elenco do programa TV Pirata, protagonizando vários quadros.
Porém, a grande atuação de Regina Casé (por conta de suas marcas significativas de espontaneidade) está nos programas mais populares, no sentido de mostrar ao grande público particulariedades das grandes cidades e histórias que talvez não teriam espaço em outros programas. Alguns artigos acadêmicos correlacionam programas apresentados pela atriz com as realidades vividas e com processos comunicacionais.
De maio de 1995 a 1998, Regina Casé passou a apresentar o programa Brasil Legal (que, em 1994, já tinha ido ao ar em forma de um especial de fim de ano), que tinha o objetivo de mostrar tipos inusitados e interessantes que existiam (e ainda existem) no Brasil que, em quase todos os casos, permanecem no anonimato.
Daniela Dumaresq, em seu artigo Viagens e Encontros em Brasil Legal, apresentado no XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação - Intercom 2001, ainda ressalta o fato de este programa não ser relacionado a um gênero já existente na classificação de programas televisivos, pois "Fez humor sem necessariamente contar piadas, entrevistas sem ser jornalístico, mostrou pessoas e lugares que não costumam ter espaço na mídia, misturou ficção e realidade." (2001, p. 02). Um exemplo deste novo gênero está no vídeo a seguir, que mostra um episódio do programa de 1997, cujo tema é telefonia.
Outro exemplo aconteceu em 1999, quando foi lançado, na Rede Globo, o programa Muvuca, que misturava talk-show e reportagens especiais, unindo pessoas de diferentes universos, celebridades e anônimos. Como o próprio nome do programa sugere, a "bagunça" era organizada e, ao mesmo tempo, imprevisível, por conta de uma dicotomia por parte da persona da apresentadora, como relata Suzana Kilpp no artigo Mundos imaginados em Muvuca (artigo on-line, p. 13):
"A persona Casé é moldurada, perceba o leitor, em termos muito diversos das personas televisivas âncoras: Regina está dentro, é parte do panorama. Ela é mal arrumada sem estar fantasiada, é grosseira e muito gentil ao mesmo tempo, é prepotente mas pode submeter-se, é triste e alegre, é plural e contraditória. Ela "é" a bagunça brasileira, a (des)ordem"
Um exemplo mais recente desta aproximação de Casé com as classes menos favorecidas está em seu mais recente programa na TV Globo, o dominical Esquenta, que substitui os programas As Aventuras do Didi e Os Caras de Pau, que estão em férias. O cenário possui cores bem vivas, como o laranja e o amarelo, remetendo exatamente ao verão brasileiro, e o programa mostra algumas antigas esquetes de humor de Regina Casé e recebe convidados famosos, valorizando sempre o talento e a música brasileiras (principalmente o samba, pela proximidade do Carnaval).
Um dos momentos mais importantes para a curta história do Esquenta foi a participação, no dia 02 de janeiro de 2011, do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, numa conversa informal com Regina Casé. Dentre os assuntos abordados, Lula relata as dificuldades de se realizar obras no Brasil e de seus planos para o futuro. Pode-se dizer que houve a junção de duas pessoas que têm suas imagens atreladas ao povo simples (embora Regina Casé não viesse, necessariamente, de origem muito humilde) e que possuem, pelo menos nesta entrevista, carisma e espontaniedade em frente às câmeras. Para encerrar o post e esta série de textos, um trecho desta entrevista.
Complementando: no dia de hoje (11 de fevereiro), saiu uma notícia no site Adnews dizendo que Regina Casé é protagonista do novo comercial da Caixa, mostrando os benefícios de crédito à pessoa física. Um dos requisitos para a escolha da comediante é exatamente o despojamento e a informalidade que lhe são características.
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