segunda-feira, 25 de abril de 2011

Evolução dos relacionamentos e reposicionamento das marcas - Análise do novo slogan da Rede Globo

Há um ditado popular que diz: "manda quem pode, obedece quem tem juízo". Pois esta frase foi seguida (e, em algumas empresas, até hoje funciona assim) por muito tempo nas plataformas de comunicação entre as empresas e os seus públicos, com a utilização de modelos radicalmente assimétricos

Com o passar dos tempos, especialmente após a popularização do acesso à Internet e às mídias sociais, algumas empresas de vários segmentos, inclusive os meios de comunicação, começaram a entender a importância de uma maior proximidade com os receptores de suas ideias, conteúdos e valores, e, por consequência, compreenderam que esses públicos poderiam se tornar valiosos emissores para as organizações. 

Seria, portanto, uma tentativa de um modelo de comunicação altamente simétrico de duas mãos, que pode se iniciar através da reformulação de um slogan, demonstrando um reposicionamento da marca/empresa em relação aos clientes/públicos desejados e, com o auxílio das Relações Públicas, inserindo efetivamente a organização/empresa/meio de comunicação na sociedade, como mostra Grunig no artigo A função das relações públicas na administração e sua contribuição para a efetividade organizacional e societal. (Tradução de John Franklin Arce), pertencente à revista Comunicação e Sociedade (a. 24, n. 39, p. 67-92), publicada pela Umesp (2003, p. 88):

"(...) o modelo simétrico de duas mãos é a abordagem mais ética de relações públicas e que o modelo é eficaz quando aplicado à realização dos objetivos da organização.
(...)
O princípio de simetria significa que os valores e problemas das organizações e dos públicos são ambos relevantes. O diálogo de duas mãos faz com que as relações públicas sejam inerentemente éticas e faz com que a organização seja mais responsável para com a sociedade."

Um exemplo recente da modificação de uma assinatura para que estas ideias comecem a tomar forma na consciência dos públicos ocorreu no último domingo, dia 24 de abril. Neste dia, a Rede Globo de Televisão apresentou oficialmente seu novo slogan, substituindo a assinatura A gente se vê por aqui que, por sete anos, identificou a linha de comunicação da emissora com o público. De acordo com Luis Erlanger, diretor geral da Central Globo de Comunicação, em declaração divulgada pelo site Meio & Mensagem, o slogan A gente se liga em você foi idealizado a partir da realização de pesquisas qualitativas e quantitativas, a fim de identificar uma linha coerente de comunicação com os seus públicos.

O lançamento da nova campanha institucional da emissora, com a locução do jornalista e apresentador Pedro Bial, ocorreu no intervalo do Fantástico e mostrou alguns dos principais programas, novelas e apresentadores do canal, além de imagens de várias coberturas jornalísticas feitas pela emissora durante o último ano, como o resgate dos mineradores chilenos, as enchentes que destruíram a serra fluminense e a ocupação do Complexo do Alemão pelos militares, mostrando a responsabilidade da emissora com a sociedade no âmbito de transmitir informações.



O que é importante ressaltar acerca desta mudança de assinatura, ainda em relação à evolução dos relacionamentos entre os públicos, é o caráter mais pessoal, individual, que foi atribuído ao novo slogan com o uso da palavra você, e de união entre emissora e telespectador, com a inserção, no final do vídeo, de vários entrelaçamentos de mãos, representando a unidade entre estes dois elementos da comunicação.

Algo também para ser lembrado é a rápida citação dos esportes no começo do vídeo instituicional, com maior destaque ao futebol, à Fórmula 1 e à natação (sem destacar um atleta específico), sem mostrar nenhum jornalista ou programa esportivo em específico, o que pode significar uma certa unicidade entre a equipe esportiva da Globo, sem elevar ou rejeitar quaisquer pessoas.

Por fim, a própria expressão "se liga" do slogan denota, além de, novamente, a união entre os públicos, que os acontecimentos vividos pelas pessoas, as sugestões de quadros e programas oferecidos pelos telespectadores, as críticas e elogios vindos das mídias sociais; enfim, o que o receptor-emissor comenta possui importância para a emissora. A expressão também apresenta uma passividade bem menor do que a do slogan anterior ("A gente se vê"): ou seja, não é apenas espiar, observar o que acontece no mundo, mas tentar, de alguma forma, modificar e transformar as realidades com a ajuda do público. E é desta forma, portanto, que, com a evolução dos relacionamentos entre emissores-receptores e receptores-emissores, as marcas se reinventam e buscam o equilíbrio entre o observar, o ouvir, o falar e o agir.

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