segunda-feira, 4 de abril de 2011

Qual é o limite do infotenimento? (II) - Dia da Mentira no Globo Esporte São Paulo

Neste blog, foram vários os posts retratando até que ponto o uso do infotenimento é saudável para dinamizar as coberturas jornalísticas (principalmente, as esportivas). Nesta última semana, houve um programa que pode trazer esta discussão novamente à tona.

Na última sexta-feira, muitas pessoas "comemoraram" o chamado dia da mentira - até mesmo o Google e o Youtube se aproveitaram da data para disseminar informações inverídicas. O interessante é que o dia 1º de abril foi escolhido para "celebrar" esta prática por conta de uma falha de comunicação. Segundo o site Brasil Escola, o rei da França, Carlos IX, após a implantação do calendário gregoriano, instituiu o dia primeiro de janeiro para ser o início do ano. Como as notícias demoravam muito para chegar às pessoas, fato que atrapalhou a adoção da mudança da data por todos.

Antes dessa mudança, o ano novo era comemorado do dia 25 de março até mais de uma semana depois, ou seja, no dia primeiro de abril. Algumas pessoas não gostaram da mudança no calendário e continuaram a comemorar na data antiga. Isso virou motivo de gozação, por parte das pessoas que concordaram com a nova data, e passaram a fazer brincadeiras com os radicais. Estas causaram dúvidas sobre a veracidade da data, confundindo as pessoas, por isso o surgimento do dia 1º de abril como dia da mentira. 

Geralmente, nesta data, os programas jornalísticos costumam exibir reportagens sobre esta faceta humana do ponto de vista comportamental, psicológico, muitas vezes sem se deixar influenciar diretamente pela data, publicando notícias falsas. Entretanto, a edição paulista do Globo Esporte decidiu pautar o jornal de 1º de abril incorporando o contexto da data.

O apresentador Tiago Leifert, diferentemente do habitual, vestiu-se de terno e gravata (assim como os repórteres Leonardo Bianchi e Renato Peters) e apresentou as notícias sentado em frente à uma bancada tradicional de telejornal. Com um semblante mais sério (dissolvido somente em alguns momentos), Leifert fez questão de ressaltar nos três blocos que "hoje é primeiro de abril, PRIMEIRO DE ABRIL!" (quase gritando para as câmeras). 

O Globo Esporte aproveitou a data para ironizar alguns clubes grandes paulistas e se utilizou, em algumas chamadas da escalada, de várias expressões de duplo sentido, como "Muricy está perto do fogão" (seria do Botafogo ou uma exibição de um dote culinário deste técnico de futebol, como mostra a figura que aparece na sequência da chamada?) ou "Neymar diz que fica no Santos, mas aparece no Real" (a seguir, é mostrada uma cédula com a fisionomia do atacante santista). 

Ainda no primeiro bloco, foram apresentadas notícias sobre o São Polo (um time de caiaque), do Corinthians alagoano (com a reportagem de Klebs Lós) e do Juventus, time paulistano com sérios riscos de ser rebaixado para a Série B1 do Campeonato Paulista e que trouxe novamente um técnico que deixou o time no começo do ano para trabalhar no Barueri, rival da mesma divisão estadual. Esta última notícia gerou uma "enquete interativa" no Globoesporte.com sobre se era correto este acolhimento por parte do Juventus.


No terceiro bloco, além da cobertura do grande clássico do Campeonato Paulista entre São Caetano e São Bernardo e de mais "gols da rodada" (só que agora, a de futebol society), a mentira que mais repercutiu (positiva e negativamente) nos portais de notícias e nas mídias sociais foi exibida, justamente, no encerramento do jornal. Um dos grandes argumentos para torcedores de outros times ridicularizarem o Corinthians é o fato de que o time ainda não conquistou a Copa Libertadores da América. 

Com este contexto, Leifert encerrou este Globo Esporte dizendo: "O Globo Esporte tá (sic) terminando, mas não sem antes de prestar uma merecida homenagem. Hoje é dia 1º de abril, Dia da Mentira, aniversário do 1º título do Corinthians na Libertadores da América". Em seguida, um vídeo mostrava uma montagem comemorativa do título inédito. Logo após o fim do jornal, o termo "GESP", que já estava entre os mais comentados na rede de microblogs Twitter, gerou vários comentários, bons e ruins, sobre a ironia final do Globo Esporte. Os portais de notícias na Internet, como o Portal Imprensa e Uol Esportes, repercutiram o fato, além de gerar comentários de colunistas esportivos e televisivos, como Milton Neves e Maurício Stycer.

A TV Corinthians respondeu às mentiras proferidas por Leifert e brincou, também no encerramento de um de seus programas, com o apresentador, insinuando a sua homossexualidade, ao parabenizá-lo pelo primeiro aniversário de casamento com Paulão, jogador de basquete da segunda divisão paulista. Muitas pessoas, inclusive corinthianos, não gostaram desta ironia apresentada pela televisão, achando-a muito pior do que a do Leifert. O vídeo está disponível a seguir.



O que se pode concluir destas situações é que o uso do infotenimento foi totalmente explícito nesta edição do Globo Esporte e, como já foi debatido neste mesmo blog, é necessário delimitar as fronteiras desta prática para que o jornalismo não se perca em meio às ironias e brincadeiras.
Já no segundo bloco, houve uma reportagem mostrando algumas mentiras históricas contadas na história do futebol, além da apresentação dos gols da Copa do Brasil, houve notícias sobre o Corinthians paranaense e o Palmeira piauiense e uma matéria sobre a faceta "piloto de avião" de Cacá Bueno.

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