sexta-feira, 29 de abril de 2011

Ética e moral na comunicação - Caso Comédia MTV e a "Casa dos Autistas"

A prática da comunicação possui variados desafios e responsabilidades que precisam ser enfrentadas e suplantadas, dentre eles o zelo pela ética e por valorizar uma moral determinada. Aliás, é preocupante o uso desenfreado destas palavras sem um conhecimento solidificado, como mostra Roberto Romano no artigo Contra o abuso da ética e da moral (2011, p. 95):

"As palavras “ética” e “moral” amontoam-se nas bocas, nas telas de televisão, no cinema, na internet, nos jornais, nos livros, nos seminários de “pesquisa”. Quanto mais circulam e recebem novos adjetivos, mais loucas elas ficam. Para usar a metáfora do mercado, a de Marx, as doutrinas filosóficas sobre a ética perdem a sua qualidade de origem e na concorrência desenfreada transformam-se em produtos de pacotilha."

Utilizando-se de uma definição resumida, mas não menos esclarecedora, de Lílian Barreto Manara na monografia Ética e moral (2002, págs .20-21), enquanto a ética é "a teoria ou a ciência de uma forma específica de comportamento humano: o comportamento moral dos homens em sociedade" (a autora se utiliza de Novaes (2002) para esta definição), a moral se comporta como um conjunto de regras em que se destacam "a conduta, a prática, a ação.".

E como estes conceitos se encaixam numa análise comunicacional? No último dia 22 de março, o programa humorístico "Comédia MTV" exibiu uma esquete intitulada "Casa dos Autistas", em homenagem a um reallty show transmitido no SBT entre 2001 e 2004 chamado "Casa dos Artistas" (inclusive com o comediante Marcelo Adnet imitando Sílvio Santos). Na paródia, cinco atores do programa gritam, olham para as paredes e reproduzem trejeitos como se fossem autistas.

Segundo matéria veiculada no portal Folha Online, a cena, vista pela própria MTV como portadora de um conteúdo inapropriado, foi retirada do ar nas reprises do programa. Porém, o vídeo foi postado no Youtube e, mesmo um mês depois da exibição da cena (no segundo bloco do programa, como se verá no vídeo a seguir), causou uma grande repercussão, majoritariamente negativa, a seu respeito.



De acordo com a reportagem já citada, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) encaminhou um pedido de investigação ao Ministério Público Federal sobre o programa e o movimento Pró-Autista também se pronunciou sobre o caso. No plenário da Câmara, Cláudio Puty, outro parlamentar,  também se pronunciou negativamente contra a esquete no dia 25 de abril. No vídeo, Puty declara que "esse tipo de incentivo ao preconceito, de ridicularização daqueles que não tiveram a opção de escolher nascer ou não com autismo, é algo que causa repugnância".

Após esta repercussão negativa, o "Comédia MTV" do dia seguinte (26 de abril) se desculpou no ar por conta do quadro e, no Twitter, Adnet, além de pedir desculpas aos ofendidos, declarou que já conseguiu impedir que a cena fosse veiculada no ano passado, só que não o fez novamente em 2011 - foi o chamado "voto vencido". Já Rafael Queiroga, humorista, redator final e diretor do programa, se responsabilizou pela concepção da esquete e também se desculpou.

O que esta situação recente pode ensinar aos comunicadores em relação à ética e à moral? Primeiramente, o quadro da MTV, para muitos, violou uma lei moral, ou seja, tratou com desrespeito um semelhante, fazendo piadas que não são totalmente aceitáveis, e teve um comportamento anti-ético ao exibir esta cena em rede nacional (e mundial, já que está disponível em rede de computadores através do Youtube).

Cabe aos comunicadores refletirem sobre este caso e pensarem muito antes de mostrar situações delicadas na mídia, pois, se a intenção da MTV era conscientizar as pessoas sobre o autismo, o alvo, pelo menos na esquete, não foi atingido. Se a responsabilidade social não se apresenta pelo amor (ou pelo riso), ela pode se apresentar na crise momentânea de imagem e na sua gestão.

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