A população brasileira é, como se sabe, multifacetada e com uma abrangente diversidade de opiniões e de indagações. E com esta questão que será abordada no post de hoje, não é muito diferente. Segundo dados do Censo Demográfico Brasileiro 2010, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 29 de abril deste ano em vários meios de comunicação, dentre eles o portal OGlobo, o Brasil possui quase 4 milhões de mulheres a mais do que a população masculina (97.348.809 mulheres e 93.406.990 homens).
É necessário lembrar que esta disparidade entre os dois sexos podia ser vista há muitos anos atrás, na direção oposta e no contexto social, assim como o antagonismo entre eles, como afirma Neuma Aguiar no capítulo História, mulheres, gênero: contribuições para um debate, pertencente ao livro Gênero e Ciências Humanas: desafio às ciências desde a perspectiva das mulheres, organizado pela própria autora (1997, p. 96):
"Os historiadores sociais, por exemplo, supuseram as "mulheres" como uma categoria homogênea; eram pessoas biologicamente femininas que se moviam em papéis e contextos diferentes, mas cuja essência, enquanto mulher, não se alterava. Essa leitura contribuiu para o discurso da identidade coletiva que favoreceu o movimento das mulheres nos anos 70. Firmou-se o antagonismo homem versus mulher como um foco central na política e na história que favoreceu uma mobilização política importante e disseminada."
Estas questões e outras são discutidas, atualmente, como questões de gênero. Mas o que significam estas questões na prática? Um artigo, de autoria desconhecida, publicado no site Info Jovem, esclarece estas perguntas:
"As relações de gênero criam padrões fixos do que é próprio para o feminino e para o masculino e reproduzem estas regras como um comportamento natural do ser humano criando condutas e modos únicos de se viver sua natureza sexual. Isto significa dizer que a questão de gênero têm uma ligação direta com a forma como estão organizadas na sociedade os valores, desejos e comportamentos acerca da sexualidade.
O debate sobre este tema tem se concentrado em diversos movimentos que levantam as variadas possibilidades de interpretação sobre como a sociedade conduz e impõe as relações de gênero, seja como um debate em torno da relação e distribuição de poder, ou como a questão da participação no mercado de trabalho e vida política, estes discursos são encontrados nos movimentos feminista e de masculinidades."
Um exemplo recente de uma abordagem polêmica destas relações entre homens e mulheres, baseada na questão de gênero, foi a do novo comercial da Bombril, que substituiu Carlos Moreno, o garoto-propaganda tradicional da marca durante décadas, pelas atrizes e comediantes Dani Calabresa (MTV), Marisa Orth (TV Globo) e Monica Iozzi (TV Bandeirantes). Nesta publicidade, elas satirizam o sexo oposto através, dentre outros recursos, da animalização do homem, comparando-o, como mostra o vídeo abaixo, com um cachorro que precisa ser adestrado pelas mulheres.
O fato interessante neste e em outros comerciais é que as atrizes estão vestidas de terno e gravata, denotando uma certa "masculinidade" por parte da imagem, e o cenário remonta, a não ser pela cor branca, aos reclames antigos da marca. O texto ainda mostra uma condicional para os homens que desejarem ser tratados com carinho pelas mulheres: ajudá-las nos serviços domésticos, juntamente com os produtos Bombril.
A questão de gênero se insere nestas propagandas ao passo que estas invertem, despadronizam o que o senso comum, nestes casos, geralmente atribuiria de estereótipos em relação às mulheres, como o histórico ditado: "lugar de mulher é no tanque, é na cozinha".
Este "tratamento" dado ao gênero masculino irritou um grupo de homens que, segundo notícia publicada no Portal Exame, pediu ao Conar que retirasse o comercial do ar, alegando que "o tema abordado é um estímulo à discriminação". O órgão regulamentador recebeu o pedido, porém o arquivou.
Este comercial é, para uns, uma grande "sacada" publicitária; para outros, um incentivo à discriminação; para alguns, uma "vingança feminina" às zombarias ditas por alguns homens. Para o estudo da questão de gênero, esta propaganda mostra, como diz Amílcar Torrão Filho no texto Uma questão de gênero: onde o masculino e o feminino se cruzam (2005, p. 129), "uma transformação dos paradigmas do conhecimento tradicional". Mais do que isso, uma mutação e um debate maior (aberto e polêmico) sobre os preconceitos e estereótipos que perpassam a história de homens e mulheres ao longo dos séculos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário