Há uma frase famosa que afirma que o Brasil possui uma paixão nacional: o jogo de futebol. Mas, infelizmente, em alguns contextos, esse sentimento avassalador que várias pessoas (jogadores, técnicos, dirigentes ou torcedores) exalam pelos seus times favoritos pode trazer malefícios à sociedade, gerando atos violentos que podem incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo, gerando a generalização da violência no futebol.
E quais são as interfaces entre os meios de comunicação e a prática ou prevenção da violência, seja no campo de jogo ou fora dele? A XIII Jornada Multidisciplinar, promovida pelo Departamento de Ciências Humanas (CHU) da FAAC (Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação) da UNESP Bauru entre os dias 10, 11 e 12 de maio, mostrou algumas respostas para esta pergunta.
Na segunda noite de evento, o palestrante Luiz Henrique de Toledo, professor do Departamento de Ciências Sociais da UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), realizou uma conferência acerca do tema Futebol, Violência e Sociedade. Numa das muitas perguntas da platéia após a explanação, uma delas questionou a influência do uso de expressões bélicas no campo esportivo, como "atacante", "balaço", "batalha" entre outras, na propagação da violência nos estádios e, como uma continuação, indagou sobre o uso das mídias sociais (um meio de comunicação, portanto), como o Orkut, para que membros de torcidas organizadas possam se reunir e combinar brigas em determinados lugares.
O que se destacou na resposta do palestrante foi comparar estas mídias como se fossem uma "rua virtual", e até mesmo considerar uma substituição, uma incorporação deste lugar público à esfera online, retirando as pessoas do convívio offline. Partindo desta metáfora, podem-se comparar os veículos de comunicação a semáforos que, em certos casos, indicam o que deve e o que não deve ser feito. É de conhecimento geral que, no Brasil, os semáforos (ou sinaleiros, dependendo da tradição linguística de cada região) possuem três cores: vermelho (indicando a obrigatoriedade da parada dos carros num determinado cruzamento), amarelo (indicando atenção) e verde (permitindo o movimento dos carros).
Assim como o semáforo, o uso dos meios de comunicação pode ser promotor da violência (concedendo, assim, um perigoso sinal verde) ou prevenir que ela aconteça, emitindo sinais vermelhos e amarelos para os públicos esperados.
Um caso de sinal verde para a violência no futebol, no aspecto moral e de maneira on-line, aconteceu na noite de quarta-feira, dia 11 de maio, quando uma internauta se utilizou do Twitter para emitir mensagens ofensivas aos nordestinos, principalmente contra a torcida do Ceará que, naquele dia, eliminou o time do Flamengo da Copa do Brasil. Houve revolta por parte das pessoas ofendidas e um clima de ódio pôde ser vista nos comentários seguintes a esta declaração. Trata-se de uma violência psicológica que, se não for combatida com rigidez pelos órgãos públicos, infelizmente poderá ultrapassar as esferas virtuais.
Como um exemplo midiático de tentativa de conscientização dos torcedores a respeito da paz no futebol, a Rede Globo lançou no ano de 2010 duas campanhas para promover esta ideia (nos campeonatos Paulista e Carioca), utilizando-se de atrizes famosas da emissora, vestidas com camisas de times de futebol, que alertam para a importância do espírito esportivo e do combate à violência dentro e fora dos estádios. A seguir, o vídeo veiculado em São Paulo (para quem quiser conferir o vídeo carioca que possui praticamente o mesmo roteiro, o link é este):
Porém, as medidas efetivas para se resolver o problema da violência no futebol brasileiro não conseguem se consolidar na prática, bem como as leis existentes para coibir o vandalismo dentro dos estádios (como o lançamento de copos nos estádios, para citar um exemplo comum) não conseguem ultrapassar o sinal verde. Enfim, quem mais perde neste jogo é o torcedor comum que só deseja ver o seu time jogar, só quer observar os lances bonitos, as emoções de uma partida, e que, às vezes, é barrado pelo sinal vermelho da intolerância e da violência.
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