sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Um toque de informalidade na divulgação científica - A volta de Beakman às telas brasileiras

É quase um lugar comum afirmar que uma pessoa pode retirar tudo da outra, exceto o conhecimento que esta absorveu ao longo dos anos. De fato, a busca pelo conhecer deve ser uma constante na vida do ser humano, principalmente nos dias atuais, em que se aumentou consideravelmente o alcance e a velocidade com que as informações são modificadas e transmitidas.

Esta busca pelo conhecimento precisa começar ainda na infância, durante o período escolar, com o estudo de várias disciplinas, como Matemática, Português, História, Geografia, Ciências... Mas uma pergunta sempre rodeia os planos de aula da maioria dos professores: como se faz para que os alunos entendam, por exemplo, o funcionamento de um carro? Esta preocupação é válida, pois nem sempre o conhecimento científico é entendido pela maioria das crianças, como explica Suzana P. M. Mueller no artigo Popularização do Conhecimento Científico (2005, p. 01):

"(...) São notícias que chegam a nós, não cientistas, de várias maneiras, por vários canais. Como leigos, não estamos preparados para ler os textos originais, escritos por pesquisadores e dirigidos a outros pesquisadores, incompreensíveis para quem não tem o treinamento necessário. Dependemos de intermediários, pessoas e entidades que fazem usos de vários canais de comunicação e linguagens para transmitir as novidades científicas aos diversos segmentos da sociedade."

Ou seja, no caso de ensinar conceitos científicos às crianças e aos adolescentes, é necessário simplificar a linguagem e deixá-la mais lúdica para que este público-alvo entenda os processos e possa assimilá-los com mais facilidade. Com isso, a informação passa a ser muito mais do que meros dados a se decorar para uma prova no fim do semestre: a informação passa a gerar conhecimento, que fica registrado para sempre na memória da criança/adolescente.

Um dos grandes exemplos de se utilizar do entretenimento e da informalidade como ferramentas para um aprendizado mais eficiente dos conceitos científicos é a série americana O Mundo de Beakman, produzida nos anos 90, que tinha, como personagens, o professor Beakman (Paul Zaloom), o rato de laboratório Lester (Mark Ritts) e três assistentes que se revezavam durante as temporadas: Josie (Alana Ubach), Liza (Eliza Schneider) e Phoebe (Senta Moses).

Segundo o blog O Mundo de Beakman (não oficial, porém especializado na série), "O programa, produzido pela Columbia Pictures, foi baseado na tira em quadrinhos “You Can With Beakman e Jax”, criada por Jok Church, e publicada em vários jornais, dos Estados Unidos e de outros países, mais de 250 ao redor do mundo". A versão televisiva das tiras também teve o mesmo êxito, com veiculação em mais de 35 países, inclusive no Brasil, pelas TV's Cultura (1994 - 2002), Record (1997), Cl@se (2000 - 2005) e Boomerang (2006).

No programa, Beakman recebia cartas com perguntas de telespectadores americanos (na dublagem brasileira, foram colocadas cidades fictícias) e, a partir delas, realizava e ensinava experimentos científicos, além de "trazer" cientistas já falecidos e de abordar os temas do episódio com muita informalidade e leveza, como se pode ver na resposta à seguinte pergunta: "Como é que pode um refrigerante gelado ficar frio e o leite quente ficar morno?".



Como se pode ver, o tema é tratado através de ilustrações e exemplos, como a comparação do movimento dos carros com o das moléculas. Além disso, para divertir o telespectador e, consequentemente, prender a sua atenção, há o estereótipo do "cientista maluco", representado por Beakman, uma grande variedade de cores no cenário e a própria dinamicidade do programa.

Após nove anos fora do ar, a TV Cultura trouxe o seriado de volta no dia 03 de janeiro de 2011, dentro do bloco "Sessão Da Hora", e figurou entre os assuntos mais comentados do microblog Twitter durante a primeira segunda-feira de 2011, talvez pela falta de programas com este conceito na televisão brasileira, principalmente no segmento aberto e também pelo saudosismo de muitos jovens-adultos de hoje que aprenderam um pouco de Ciências, através deste programa, quando eram crianças.

Pode-se concluir que uma política de educomunicação para o ensino de conceitos científicos, adequada para a idade dos alunos e bem elaborada verbalmente e imageticamente, se torna fundamental para que estes dados possam ser assimilados não somente como "decoreba" para passar de ano, mas para serem lembrados durante toda a vida.

Um comentário:

  1. Ainda bem que tal programa voltou , sou desta época e na minha casa a TV Cultura não funcionava muito bem, era uma luta.

    Era época de Aventura de TinTin ( que terá uma versão para os cinemas este ano), Anos Incríveis, Doug , quanta nostalgia. O Mundo de Beakman passava as 19h e eu me achava gênio quando assistia e nunca esqueço a experiencia de fazer chulé artificial com cotonetes, suor de pé e uma caixa de sapato rss.

    Parabéns pelo texto.
    Quando tiver um tempo passe pelo verssatilrp.wordpress.com e deixe um comentário se puder

    @galofero

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