Como já foi visto em vários posts deste blog, uma política eficiente de gestão de crises é imprescindível para qualquer empresa quando alguma situação inesperada ocorre. E, nesta política, é muito importante comunicar a veracidade dos fatos à imprensa de forma imediata, como discorre Maria Gabriela Gama em seu artigo Quando o Inferno desce à Terra: a gestão de crises e a sua problemática* (2000, p. 537):
"Perante um cenário de crise, a organização debate-se com uma série de questões às quais tem de dar respostas imediatas (...). Assim, os órgãos de comunicação social têm toda a legitimidade de exercer pressão para que lhes sejam dados todas as informações relevantes para esclarecimento dos diferentes públicos.
Há sempre a tentação para negar o que de facto aconteceu e, se possível, abafar os aspectos mais negativos. As especulações que se fazem em torno da organização são fruto do silêncio e não há nada que agrade mais aos órgãos de comunicação social do que descobrir que a organização está a camuflar o que na realidade aconteceu."
Por esta ótica das especulações, a gestão de crises também é necessária para os clubes de futebol, que também podem ser consideradas como organizações (desportivas, no caso). Esta importante prática não deve ser planejada só na época em que o time perde um campeonato ou uma partida importante: uma situação inesperada pode acontecer, como a própria expressão antecipa, a qualquer momento; no caso à seguir, num início de temporada futebolística brasileira.
O início do mês de janeiro é, geralmente, um período em que há poucas notícias a respeito de esportes dentro das quadras e campos (tanto que, como viu-se recentemente neste blog, muitas retrospectivas e matérias especiais são reservadas para estes dias). Os olhos dos telejornais especializados se voltam para a preparação dos times e as contratações para a próxima temporada, principalmente se forem jogadores renomados. Porém, nenhuma tentativa de contratação foi tão falada neste ano de 2011 como a do meio-campista Ronaldinho Gaúcho, que estava no time italiano do Milan.
Desde julho de 2010, havia o interesse do Palmeiras em repatriar o jogador, contudo a novela começou de fato em dezembro, quando o Grêmio, clube em que Ronaldinho atuou entre 1998 e 2001, entrou nas negociações e se apoiou, dentre outras vantagens, no quesito emocional para trazê-lo de volta ao Brasil. E então começou a épica disputa, ainda com Flamengo, Palmeiras e (talvez) Corinthians, para contar com o jogador na temporada de 2011.
Mas, dentre tantas notícias desencontradas e tantos personagens, o aspecto mais importante a se analisar neste post ocorreu na sexta feira, no Estádio Olímpico, no que seria a apresentação oficial de Ronaldinho como jogador do Grêmio, com direito a caixas de som reservadas no dia anterior, um helicóptero exclusivo para o clube, shows com artistas gaúchos (como o do ex-vocalista do Engenheiros do Hawaii) e reserva de reforços policiais.
Seria uma grande festa para reforçar, não só o elenco do time, mas a própria imagem do Grêmio, pois veículos de imprensa de todo o mundo estariam cobrindo a apresentação. Porém, a festa para o provável retorno de Ronaldinho ao Grêmio não ocorreu, frustando os torcedores que se aglomeraram nas dependências do Estádio Olímpico desde o período da manhã e revoltando Paulo Odone, presidente do clube. Palavras dele: "Mandei retirar tudo, mandei retirar e vou tirar junto o responsável. Não tem nada de novo, o Ronaldinho só será jogador do Grêmio quando assinar contrato". Esta situação indesejada virou motivo de chacota de torcedores rivais, como o vídeo abaixo que mostra no que resultou a festa armada pelo clube gaúcho:
Mesmo assim, os torcedores e dirigentes gremistas acreditavam num adiamento da festa para a semana seguinte. Porém, com o avanço das negociações de Ronaldinho com o Flamengo e com outras exigências propostas por Assis, irmão e empresário do jogador, o time porto-alegrense deu por encerrada a tentativa de contratação no fim da tarde do dia 08 de janeiro, interferindo negativamente na imagem do atleta junto aos torcedores gremistas. O Palmeiras, outro clube interessado no atleta, desistiu no dia seguinte.
Independentemente de qual clube irá contratar Ronaldinho Gaúcho (no caso, o Flamengo, que acertou com o atleta e seu empresário na noite de 10 de janeiro), o marketing do Grêmio saiu perdendo por gerar uma crise desnecessária no clube, contratando serviços e profissionais para uma festa que poderia não acontecer, como foi o caso. Se o objetivo desta movimentação de sexta feira era pressionar o atleta e o empresário, isto também não foi alcançado, pois os dois estavam no Rio de Janeiro. Quem mais perdeu (ou ganhou - só o tempo dirá) com estes acontecimentos desencontrados foi o torcedor gremista, que se sentiu enganado.
*In: Comunicação e Sociedade 2, Cadernos do Noroeste, Série Comunicação, Vol. 14 (1-2), 2000, 535-542.
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