No ramo da comunicação e mesmo em situações pessoais, uma notícia pode ser passada de várias formas, porém sem ludibriar os receptores da informação com falsas verdades. Mas o que seria um conteúdo verídico na visão jornalísitca? É o que Iluska Coutinho explica no artigo O conceito de verdade e sua utilização no jornalismo (2004, p. 09):
"(...) o conteúdo oferecido pelo jornal em suas páginas não seria a “verdade absoluta”, em um paralelo com o conceito filosófico, mas a expressão da verdade, um relato verdadeiro de uma situação delimitada. Uma vez que como produto as matérias jornalísticas se referem a fatos isolados, muitas vezes descontextualizados, segundo críticas freqüentes, elas se afastariam da verdade filosófica, que não aceita visões atômicas."
Tendo esta citação como norte, uma simples matéria jornalística disseminou um desentendimento entre um jogador e alguns jornalistas. Na última terça-feira, dia 25 de janeiro, o atacante do Corinthians Ronaldo decidiu realizar uma Twitcam para seus seguidores no Twitter, juntamente com o lateral Roberto Carlos e os atacantes Dentinho e Jorge Henrique e as vésperas da estreia do time na Copa Libertadores da América contra o colombiano Tolima. O resultado da popularidade do atacante nas mídias sociais foi o acesso de 18 mil internautas ao bate-papo que, antes marcado para depois do Big Brother Brasil, foi adiantado pois, segundo o site de esportes do UOL, ele não saberia dizer se conseguiria ficar acordado até o horário estipulado.
Seguindo uma linha mais provocativa, Ronaldo leu (e, talvez, consentiu) um comentário dizendo que o Palmeiras, time arquirrival, não conseguiu trazer uma média de 18 mil pessoas aos seus jogos no ano passado causando risos dos colegas. Além disso, brincou com o nome do adversário da fase de Pré-Libertadores e, numa conversa por telefone com o atacante santista Neymar (no dia, concentrado com a Seleção Brasileira sub-20 que disputa o Sul Americano da categoria no Peru), fez uma espécie de 'lobby', tentando convencê-lo a jogar no Corinthians, deixando Neymar sem graça.
O vídeo já serviria de polêmica por provocar a torcida do Palmeiras e a do Tolima, porém as diferentes interpretações jornalísticas, dadas no dia seguinte, para esta sessão de Twitcam causaram ainda mais repercussão. Como exemplos, serão discutidas as reportagens exibidas pelo Jogo Aberto (Band) e pelo Globo Esporte Paulista (apresentado por Tiago Leifert).
No primeiro programa, foi apresentada uma matéria mais crítica a respeito do bate-papo, com comentários do ex-jogador Neto, do narrador Ulisses Costa, do jornalista Leandro Quesada e do Dr. Osmar de Oliveira tendo, como foco das críticas, a provocação feita pelo Ronaldo à torcida palmeirense e ainda definiu que os jogadores falam muito e jogam pouco (vendo os últimos dois empates que a equipe conseguiu no Campeonato Paulista contra times de menor expressão).
Já no Globo Esporte, Tiago Leifert conduziu a polêmica de modo mais descontraído, não mostrando as provocações feitas para Palmeiras e Tolima, nem o 'lobby' a Neymar. Ele preferiu dar espaço a brincadeiras feitas por Ronaldo aos colegas de elenco e ainda brincou com a famigerada polêmica dos Meninos da Vila (vulgo Meninos do Twitter) do ano passado, pois um internauta chamou Roberto Carlos de "pé de alface" e ele só sorriu com a declaração.
Essa diferenciação no tratamento dado à conversa na Twitcam chamou a atenção do jogador, que, através do Twitter, elogiou Tiago Leifert e criticou de forma áspera o jornalismo esportivo da Rede Bandeirantes, chamando-a de "resto". (Um detalhe importante é que, na matéria do site do Globo Esporte aparece somente o elogio feito ao programa, tampando a crítica à outra emissora).
As declarações feitas ao jornalismo da Band tiveram uma repercussão quase de instantânea na emissora. O apresentador José Luiz Datena, o narrador Ulisses Costa e o ex-jogador Neto receberam a notícia de que estavam sendo citados negativamente pelo jogador durante o programa São Paulo Acontece. veiculado em São Paulo e pelas TV's a cabo.
Foi então que a discussão começou, com a acusação de que Ronaldo era "puxa saco" da Rede Globo, que não estava jogando bola e que não tinha responsabilidade com o que fala. Neto ainda insinuou sobre a maneira como o atacante chega para treinar, como se pode ver no vídeo a seguir, que traz também a matéria da Band sobre a Twitcam.
Ronaldo, postagens depois, se retratou, falando que tinha criticado só os profissionais, e não a emissora como um todo. Em tempo: o primeiro jogo da fase pré-Libertadores, ocorrido no Pacembu, ficou no empate em 0 a 0, decepcionante para a torcida do Corinthians (o time, na teoria, é mais forte do que o Tolima), e a torcida meio que "contrariou" as palavras de Ronaldo, pois na quarta-feira tinha menos espectadores no Pacembu do que quando o Palmeiras decidiu a seminifinal da Copa Sul-Americana contra o Goiás no Parque Antártica.
Este incidente mostra a junção de três erros: um estratégico (a provocação desnecessária de Ronaldo) e dois jornalísticos: o exagero no uso do infotenimento na reportagem da Globo (Leifert, por exemplo, não citou as piadas feitas ao Tolima e à torcida do Palmeiras, informações que muitos veículos de comunicação destacaram) e o desabafo descontrolado de Datena e Neto no programa da Band. Dois lados de um foco jornalístico que precisam se equilibrar para que polêmicas assim não aconteçam.
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