terça-feira, 7 de maio de 2013

Chapeuzinho exorcista ou terror de época? - Determinismo, vocação e mudanças

Por Maíra Masiero

Este post começa com uma pergunta simples: o que seria da protagonista desfigurada de um filme de terror numa produção romântica, num musical da Chapeuzinho Vermelho ou num outro comercial popular? Provavelmente não se sairia tão bem na história ou, no mínimo, passaria por dificuldades para se adaptar aos objetivos de cada trabalho.

É o que a Panamericana Escola de Arte e Design mostra num comercial em que uma atriz mostra-se insatisfeita porque só é chamada para fazer filmes de terror, por sua aparência estranha, talvez incompatível com outros papéis. A assinatura final da propaganda tenta justificar a brincadeira: “Se você nasceu para uma coisa, não adianta fazer outra.”



Entre muitos comentários elogiosos nas redes sociais, há algumas ressalvas sobre o final da propaganda e a moral que ela traz: pra alguns, a sua assinatura soa como determinista, pois retrai o esforço feito por um indivíduo para conseguir melhorar em algum aspecto considerado mediano, talvez pelo uso da expressão "não adianta", que pode ser entendida como algo irreversível.

Como defesa desse argumento, houve respostas que interpretaram a assinatura de uma forma diferente, no sentido de que a pessoa pudesse fazer alguma coisa que mais se enquadrasse com seu perfil. No campo profissional, é necessário, sim, identificar claramente a vocação, porém sem se fechar para outras áreas que possam contribuir para a formação integral do indivíduo. E é nisso que a orientação vocacional precisa tomar cuidado, como mostram Josemberg M. de Andrade, Girlene R. de Jesus Maja Meira e Zandre B. de Vasconcelos no artigo O processo de orientação vocacional frente ao século XXI: perspectivas e desafios (2002):

"Outro aspecto questionado é a real finalidade do processo de OV [orientação vocacional]. Este, ao passo que é entendido como um amplo processo que induz ao conhecimento, não pode ter apenas a finalidade de informar sobre carreiras profissionais, e sim, levar o jovem a fazer uma reflexão no sentido de realizar a sua escolha profissional de forma amadurecida e consciente. Deve haver uma conscientização de que em muitos casos os serviços de orientação profissional – que prestam informações, apenas, sobre profissões – tem um alcance restrito e, algumas vezes, não chegam a resultados totalmente satisfatórios. Sabe-se que a escolha profissional não é um momento estático no desenvolvimento de um indivíduo; ao contrário, é um comportamento que se inclui num processo contínuo de mudança da personalidade (Bohoslavsky, 1993), e a OV só atinge sua finalidade quando leva em consideração essa mobilidade."

Portanto, o alcance restrito dos processos de descoberta de qual profissão seguir, aliada com as mudanças gradativas que muitas pessoas sofrem ao longo do tempo, talvez derrube a visão determinista e reforce o que a propaganda queria passar, que é a identificação com um segmento específico da ciência, sem se limitar a um nome específico de curso (por curiosidade, a Panamericana Escola de Arte e Design possui cursos em diversas áreas, como Moda, Fotografia, Comunicação, Design, entre outros). O debate está aberto.

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