sexta-feira, 31 de maio de 2013

A "não-publicidade" e suas consequências - Mudanças na embalagem de cigarros

Por Maíra Masiero

Neste dia 31 de maio, comemora-se o Dia Mundial sem Tabaco, criado pela Organização Mundial da Saúde para conscientizar as pessoas sobre os riscos físicos e emocionais que se correm ao usar continuamente o tabaco. Porém, sempre há o outro lado da história: as pessoas que vivem da indústria do cigarro e aqueles que precisam realizar propagandas para esse tipo de produto.

Realizar publicidade de produtos que podem trazer algum malefício sério à saúde é algo complicado e arriscado, ainda mais quando uma solução viável seja a "não-publicidade" e a padronização do produto. Recentemente, o Ministério da Saúde da Irlanda anunciou que, a partir do ano que vem, eliminará vestígios de publicidade dos maços de cigarro, padronizando a aparência de todas as marcas e dando prioridade à divulgação de imagens de doenças vinculadas ao tabagismo, que ficarão na maioria do espaço da embalagem.

É necessário lembrar que ações de publicidade relacionadas com cigarros foram, ao longo do tempo, paulatinamente excluídas do cenário midiático e de eventos esportivos e culturais. Em 2000, no Brasil, foi decretada em lei a proibição da publicidade de cigarros, restrita somente aos pôsteres, banners e cartazes na parte interna dos pontos de venda.

Vale ressaltar que as empresas de fumo utilizavam demasiadamente comerciais de televisão para propagar uma ideia sedutora e de prazer para o consumo desse produto (algo que se torna bem distante da realidade de quem fuma ou de quem possui pessoas próximas com esse vício), como o vídeo a seguir, do cigarro Derby, em 1993:



A indústria do fumo, claramente, sofreu com a medida da "não-publicidade" e tentou amenizar as consequências da proibição, como mostram Thelma Guerra, Priscila Rodrigues Bezerra da Silva e Janaina Calazans no artigo Cartazes de cigarro: tragos desta publicidade (2012, p. 3):

"As empresas de fumo, preocupadas com a diminuição do consumo e o que isso refletiria no setor econômico, reagiram ao projeto na tentativa de, ao menos, amenizar o que estava sendo proposto, pois se sabia que sem a publicidade de seus produtos o consumo diminuiria. Os argumentos foram diversos, falou-se de direito de escolha, pois a publicidade ajudaria o consumidor a escolher a marca; de liberdade de expressão, insinuando uma censura; do aumento do desemprego, pois a indústria emprega milhares de brasileiros. Argumentos que foram derrubados pelo governo que respondeu também pela mídia com testemunhos de ex-fumantes, descrevendo sua trajetória e mostrando o mal que o fumo trouxe a sua vida."

Com a proibição das propagandas de cigarro, muitos publicitários apelam para as embalagens como último recurso válido pra atrair os consumidores, sobretudo os jovens, e é por esse motivo que o governo irlandês aprovou esta mudança. O mais interessante, contudo, é que, no Brasil, uma pesquisa feita em 2012, numa parceria entre Universidade de Waterloo (Canadá), Ministério da Saúde e instituições que tratam do câncer, políticas sobre drogas e de controle do tabagismo, mostra que metade dos entrevistados é favorável à adoção de uma embalagem “genérica” do cigarro: todos com a mesma cor, sem desenho e logotipos.

Ainda nesta pesquisa, é constatado que um terço dos entrevistados deixou de fumar nos últimos 25 anos por conta das restrições de propaganda no país e dos avisos nas embalagens dos cigarros. Isso pode ser mais uma prova de que a "não-publicidade" é eficaz para propiciar condições melhores de saúde para as pessoas, mas não tão eficaz assim para quem ainda vive da indústria do cigarro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário