E o domingo nos brinda com mais uma edição de O Globo, na
soleira da porta. Coisa antiga...
Além de toda a propaganda dominical – o percentual de
“conteúdo jornalístico” é mínimo – a edição de ontem traz um caderno (inteiro!)
intitulado “Rio em Transformação”.
Que bonito é...
Será um pássaro, um avião, uma reportagem, um editorial? Não.
É só o departamento comercial do veículo fazendo jornalismo de faz-de-conta em
sua inefável “retranca” PROJETOS DE MARKETING (assim mesmo, em caixa alta)!
Há muito tempo O Globo publica esses cadernos – uma evolução
(em termos de receita para o veículo, mas involução na prestação de serviços e na
ética para com os leitores) do batido modelo “Informe Publicitário”.
Por que batido?
Porque este é o nome quase cinquentenário do tipo de técnica
que os jornais utilizam para publicar algo do interesse de outrem (uma empresa) em suas páginas, não declaradamente um
“anúncio” – algo travestido em “matéria”, mas inteiramente escrito e produzido
pelo anunciante. O destaque (um fio gráfico em volta, a tipologia diferente ou
o texto-título “Informe Publicitário”) é obrigatório.
E O Globo – quem mais? – inovou! E, de tempos em tempos, nos
entulha com este calhamaço de papel entintado.
E presta, mais uma vez,
um desserviço chamando o “Informe Publicitário” de “Projeto de Marketing”.
Isto não é marketing. Qual é o “produto”? Qual é a
praça? Qual é o preço? Qual é a promoção? Projeto de quê? Marketing de quê? Da
cidade? Do veículo? Sim, do veículo, porque é a única coisa que pode estar à
venda nessa transação mercadológica. Autopromoção muito bem cobrada.
E qual é o “babado”
desta vez?
Surpresa! É o alcaide do Rio de Janeiro, genuíno herdeiro de
Cesares, fazendo propaganda mais-do-que-antecipada de seus feitos. Com fotos
caprichadas, textos orgulhosos, títulos exclamativos, slogans convincentes! Se o “leitor” é analfabeto, não tem
importância. A enxurrada de imagens deixa o mais descrente infeliz convencido
de que mora no paraíso terrestre...
“Meu” Rio...
Já na capa, uma foto de mais um “empreendimento” carioca adotado
pelas Organizações Globo, o MAR (Museu de Arte do Rio). Sim, aquele mesmo do
capítulo final da novela... na “matéria” intitulada “Além dos tapumes”. Na
quarta capa, o título garrafal é “A hora e a vez da zona norte”!
E vão-se sucedendo “manchetes” bombásticas. Parece até a
“escalada” do Jornal Nacional: “Uma cidade interligada”, “Transporte público de
alto desempenho para todos”, “A joia do subúrbio”, “Cariocas reencontram sua
história”, “Nova rotina para pais e alunos”, “Legado olímpico e social”,
“Centro de operações pronto para o desafio”, “Cresce a cobertura básica de
saúde”. Ufa! É muita “notícia” boa. Será que o “leitor”
não desconfia?
Quanto terá custado o
caderno de oito páginas?
Nunca menos de 1,5 milhão de reais. Mixaria para a
prefeitura! Não daria para fazer meio-posto de saúde, ou meia-calçada, ou meia-creche.
Que se gaste em mídia, então. E nem precisa licitar – o Rio só tem um jornal de
“grande” circulação...
E as “Organizações”
agradecem.
Concordo com a opiniao do amigo. Mas acho importante ressaltar que sempre havera verba de publcidade para os governos. Faz parte. Questionar quantas casas populares e hospitais poderiam ser feitos não me parece uma comparação justa.
ResponderExcluirQuestionar o bom uso da verba dedivulgacao da prefeitura sim me parece correto.
Abs