quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Se tem, reclama; se não tem, quer; se pode, não dá...

Por Manoel Marcondes Neto

Gente que não é RP declarando que é. Gente que é RP trabalhando mal. Gente que não sabe o que o RP faz e descreve os cargos – RP puras – para os quais quer contratar pedindo formados em Jornalismo e Propaganda. Cadê o nosso Conrerp que não fiscaliza?

Essa é nossa realidade. Uma realidade crítica. Leis que não 'pegam', leis que não são cumpridas, desrespeito a uma formação especializada, falsidade ideológica de quem declara ser o que não é, impunidade. Diante de um cenário de crise como este, pode-se tomar três atitudes: (1) a indiferença (que permite que a situação crítica piore ainda mais devido ao 'correr solto'), (2) a adoção do comportamento ilegal (com o seu consequente reforço) ou (3) a não adoção do comportamento ilegal (e o consequente combate à ilegalidade).

Eu, por exemplo, devidamente legal no Conselho Profissional desde estudante, mas cansado de reclamar sobre essas mesmas situações, deixei a atitude de indiferença (1), e, além de registrado, passei a trabalhar pela profissão, no Conrerp (3). Posso dizer com segurança: só 'de dentro' é que podemos avaliar o 'como' tais situações - que são comuns a todas as profissões regulamentadas - podem ser combatidas, mudadas e mesmo extintas. É algo que exige estudo, diligência, rigor, tenacidade, paciência e perseverança - qualidades típicas de um fiscal.

Pois bem, adotamos uma estratégia, na 1a. Região, e partimos para a implementação de uma série de táticas, uma para cada situação das citadas acima. Por exemplo: "uso indevido da denominação relações-públicas". Mudamos até o enredo de um personagem de novela com a nossa ação - se o cidadão não é formado em RP não pode designar-se como tal. E no jornal O Globo, em seus Classificados, não há mais anúncios para errepês que, na verdade, procuram mesmo é por recepcionistas. São frutos de ação contínua do Conselho, aqui no Rio.

Tais ações - que estão ainda em seu início - reverteram uma situação (2009) em que os profissionais estavam descrentes e distantes para uma realidade (2012) em que nem precisamos preocupar-nos em continuar na gestão, pois que surgem pessoas interessadas em candidatar-se para continuar e ampliar o nosso trabalho. Deixamos aquela situação de ‘vidraça' – alvo de apedrejadores, para uma situação de mais consciência e noção, entre os errepês legítimos, de que só nós mesmos é que podemos mudar o atual estado de coisas.

É claro que precisamos acreditar que o Brasil será capaz de se tornar um país melhor, em que as leis sejam cumpridas - isto é fundamental. E aí, diante daquela situação de crise, encontramos aquelas duas irmãs siamesas: o medo e a oportunidade. A oportunidade está aí, diante de nós. Não temamos o tamanho do desafio de fazer valer aquilo que foi nossa opção de vida, ora! Vamos à luta pelas Relações Públicas! Denunciando os abusos. Explicando mil vezes o que é nossa missão, o que nos diferencia de outras formações no mercado.

A imagem de RP anda mal. Os próprios profissionais ‘detonam’ a profissão, queixando-se da inação de seu Conselho Profissional.

Não é crise de imagem o nosso problema. A imagem – que é algo que não podemos controlar, pois forja-se na mente de quem vê, lê e ouve – do relações-públicas e das Relações Públicas vai muito bem no Brasil de hoje.

O que vivemos é resultado da inapetência para fiscalizar os que se diziam errepês sendo picaretas, os que eram errepês de fato mas descumpriam a ética da profissão ou, ainda, os que usavam indevidamente a denominação, que é algo para que a legislação prevê combate.

Ora, se nós mesmos, errepês, formos inapetentes para lutar por nosso espaço, não será quem justamente quer ocupá-lo que virá defender princípios e legalidade. Para esses a lei é um empecilho e desmoralizar a lei, os que a cumprem e os que a defendem é um mandamento. Isto acontece em todos os ramos de atividade.

O importante é escolher um lado e agir coerentemente.

Minha escolha é pela defesa da profissão conforme foi criada e estruturada no país, por mais que tenha sido mal administrada no passado. Já fui cobrado, chamado de inadimplente e ameaçado com ‘inscrição na dívida ativa da União’ quando não devia; quando morei em São Paulo, transferi meu registro, e quando voltei para o Rio, trouxe-o de volta – uma trabalheira burocrática insana. Mas nunca cogitei parar de pagar o Conselho porque, para mim, ele simplesmente tem 'que estar lá', vivo e operante, para o desenvolvimento da área que escolhi - nos campos do saber e do fazer - é um investimento na minha profissão e não uma despesa.

Não por outra razão PAREI DE SÓ RECLAMAR e estou hoje naquela condição de 'vidraça', propondo-me a fazer parte da gestão da autarquia, em minha Região. Quem não acredita no Sistema, não acredita em profissão regulamentada, não acredita em leis serem respeitadas no Brasil, não acredita em ser possível viver em um país civilizado, não gosta mesmo de Conselhos Profissionais e prefere ser o que passarei a denominar ‘militante da entropia’ – um tema, entropia, que entendo bem porque interessa-me como objeto teórico em Comunicação Social: ministrei a disciplina Teoria Geral de Sistemas por três anos na ECO/UFRJ.

Sou militante da civilização e da harmonia social.

Não acredito que a humanidade vai acabar em barbárie, tipo 'cada um por si' - algo, aliás, muito distante de uma 'ideologia' das Relações Públicas (é preciso conhecer bem o pensamento de Roberto Porto Simões). Acredito que a sociedade avance, mas esse avanço não vem de quem apedreja, só vem de quem se dispõe a mergulhar as mãos e a cabeça na problemática com o fim de solucioná-la. Que quer, enfim, AGIR em prol da profissão.

O resto é blá-blá-blá!

Com o objetivo claro de desestabilizar o sistema legal da profissão regulamentada. Lamento que algumas pessoas se deixem abater por terem tido uma, ou duas, ou três, ou cem experiências ruins com o Conselho, pois um Conselho é, afinal, feito de pessoas e pessoas falham. Mas ESTE Conselho é nosso. E só nós podemos torná-lo melhor. E nossa profissão é a única regulamentada na área da Comunicação Social. A sociedade e a cidadania dependem de nós para se defender da comunicação institucional enganosa, parcial, incompleta, que induz a erro, a más escolhas e más decisões. Não serão publicitários ou jornalistas que se levantarão contra uma comunicação institucional mal feita. Afinal, os primeiros a constroem e os segundos tem a missão precípua de investigar e denunciar, tornando públicas suas contradições. Não cabe a ninguém mais, além do errepê, melhorar, aconselhar, consertar a comunicação institucional quando ela ainda está ‘no forno’, dentro da organização.

Engaje-se. Essa luta é sua!

Se você sabe como um órgão poderia ser melhor, lute por isso NELE, porque uma regra básica da Sociologia é "não se modifica um sistema de fora – a mudança nasce, sempre, dentro do próprio sistema". Fizemos isto no Rio. Mudamos o Conrerp, mudamos sua percepção, mudamos, até, sua imagem (!), angariamos apoios, angariamos, relativamente, mais registrados que na última década inteira. É possível mudar o 'status quo' no país todo, pois. É só querer e colocar mãos à obra. As eleições para o Sistema estão aí – acontecem dia 15 de outubro. E as chapas tem que se inscrever até 06 de setembro. Quem se habilita?

Um comentário:

  1. É absolutamente irritante a postura de várias pessoas ligadas a Conselhos Regionais, e pelo jeito você não é exceção infelizmente, criticando subliminar ou explicitamente aqueles que criticam. Ora bolas, estamos numa sociedade democrática, em que a expressão de pessoas e profissionais é livre e faz parte justamente do jogo dialógico entre aqueles que se candidatam (POR LIVRE E ESPONTÂNEA VONTADE) para ocuparem cargos de representação de categoria, e aqueles que são representados. Pode até existir, na sua opinião e na de vários, uma certa apatia exagerada nos representados, que delegam tudo para os representantes eleitos, e assim fica-se naquele ciclo vicioso de encontrar culpados para inoperâncias: "ah, é culpa dos RPs que não se registram, ou é culpa dos RPs que se registram mas não participam" e "ah, é culpa das diretorias dos Conselhos que não fazem nada, sequer fiscalizam" e outras frases congêneres. Agora, tão legítimo quanto um RP se candidatar e ser eleito pras diretorias é ele ter maturidade pra perceber e aceitar e ter competência pra aproveitar as críticas que vierem. Francamente, Marcondes, não esperava você do lado desta visão restrita e reducionista sobre "aqueles que criticam". Fico absolutamente decepcionado.

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