sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Emoção exagerada ou brasilidade? - Identidade, cobertura (e torcida) nas Olimpíadas 2012

Por Maíra Masiero

Bandeiras no pódio, voltas ao redor das quadras, dos campos, dos tatames; festas nas chegadas dos campeões. Decepções de atletas com chances reais de vitória que são surpreendidos pelas "zebras". E o torcedor vibra, torce, festeja, reclama, xinga e lamenta. Por seu time favorito, pela seleção do seu país.

No Brasil, esse cenário não é diferente: o resultado de algumas competições e as surpresas positivas com resultados trazem o orgulho de ser brasileiro de volta, ao menos por alguns momentos, quando é devolvida por uma provável decepção. É o tal "espírito patriótico" que está no auge, também em terras tupiniquins...

E essa brasilidade se agiganta principalmente quando se aproximam eventos esportivos importantes, como a Copa do Mundo de futebol e os Jogos Olímpicos. Neste último, mesmo que o Brasil não tenha uma tradição tão grande em ganhar medalhas como se espera em uma Copa do Mundo, a mídia, em muitos casos, colabora para aflorar as emoções nestas competições, como mostra Vanessa Scalei de Mello no artigo Jogos Olímpicos de 2004: as narrativas televisivas e a valorização da identidade brasileira (2006, p. 06):

"(...) as narrativas dos meios de comunicação sobre o esporte utilizam recursos que suscitam o sentimento de identificação coletiva em torno da Nação. [...] o recurso jornalístico de utilizar histórias de vitórias ou derrotas coloca o presente em continuidade com o passado e funciona como defesa diante a imprevisibilidade das disputas esportivas. [...] Os jornais maximizam ou reforçam o imaginário sobre o esporte e a memória serve como um elo identitário.
[...]
As narrativas produzidas sobre o esporte, em muitos momentos, apropriam-se de elementos constitutivos das identidades para descrever qualidades dos atletas e das equipes, que são consideradas especiais e que dessa forma as distinguiriam dos demais atletas e das demais seleções."

É necessário entender também que o jornalismo desportivo, nestes eventos, costuma deixar um pouco a imparcialidade de lado para mostrar um lado mais patriótico, com uma linguagem mais próxima a do torcedor, tanto nas vitórias, com uma alegria contagiante, quanto nas derrotas, em que a decepção é um tom forte nas narrações. A seguir, o vídeo do ouro olímpico do nadador Cesar Cielo nas Olimpíadas de Pequim, em 2008, narrado por Galvão Bueno.


Para poder analisar os comportamentos dos torcedores e de parte da mídia eletrônica acerca das emoções afloradas pelas vitórias e derrotas do esporte brasileiro, foi escolhida a rede social Facebook, pois esta se tornou um dos endereços mais acessados em todo o mundo, em que pessoas e organizações se comunicam o tempo todo entre si. Sabe-se que um grande desafio para as empresas é a maneira de se comunicar com o público em potencial, seja na utilização da linguagem adequada, da imagem mais significativa ou do posicionamento da fanpage em relação a assuntos que são muito discutidos num determinado tempo e contexto.

Delimitando o ambiente digital de pesquisa, foram escolhidas duas fanpages relacionadas a emissoras de televisão brasileira: (1) a Globo Esporte, relacionada com as Organizações Globo, com mais de 2 milhões de seguidores, e (2) o Portal R7, pertencente à Record, com mais de 538 mil "curtidas". A página do Portal G1 (da globo.com) não foi objeto de análise porque simplesmente não possui nenhuma notícia a respeito de Olimpíada ou de outros esportes.

Como objetos diretos de análises, têm-se duas situações distintas e que fazem parte do esporte: a vitória e a derrota. Nesse caso, os dois assuntos a serem vistos são: a derrota do time de basquete masculino para a Argentina por 82 a 77 nas quartas de final (no último dia 08 de agosto) e a vitória do time de vôlei masculino para a própria Argentina também no dia 08 e também nas quartas de final, por 3 sets a 0. Lembrando: os dados das postagens foram verificados até o dia 10 de agosto, dois dias depois desses resultados, a fim de tentar mostrar um cenário fechado, sem muita oportunidade de novos comentários.

Iniciando a análise pelo jogo de vôlei, que foi o primeiro dentre os dois eventos, as fotos dos dois posts das fanpages (R7 e Globo Esporte) são semelhantes em seu sentido principal: despedir (ou despachar de forma soberana, mesclando as chamadas dos dois textos) a seleção rival sul-americana com um "Adiós" ou um "Tchau" mesmo aos hermanos.

O número de curtidas e de compartilhamentos foi muito grande nos dois posts, na proporção do alcance destas fanpages (R7: 860 curtidas e 713 compartilhamentos; Globo Esporte: 6220 curtidas e 2058 compartilhamentos). Dos 43 comentários que a postagem do R7 recebeu, a grande maioria (39) elogiaram e incentivaram a seleção brasileira e, dentre estes, 15 debocharam dos rivais argentinos. Dois comentários foram aleatórios (um perguntando do próximo jogo e o outro divulgando uma fanpage), um criticou o nacionalismo presente somente nas competições esportivas e outro xingou a Record sem nenhum argumento.

Já no Globo Esporte, foram 204 comentários. Dentre esses, há uma maioria de deboche à Argentina (98 comentários), outros 44 parabenizando o Brasil pela vitória e esperando o basquete entrar em quadra e, além das 23 respostas aleatórias, dos outros 13 comentários, alguns alertavam sobre a presença dos Estados Unidos (atuais campeões olímpicos) e outros pareciam prever a derrota do país no jogo seguinte entre as duas seleções.

No outro evento analisado - a derrota do basquete masculino -, o número de pessoas que curtiram e compartilharam foi muito menor (R7: 115 curtidas e 58 compartilhamentos; Globo Esporte: 3501 curtidas e 902 compartilhamentos). Entretanto, o inverso aconteceu com os comentários: foram 118 no post do R7 e 556 no do Globo Esporte.

Na primeira fanpage, foi mostrada uma manchete "seca", apenas informando a eliminação da seleção brasileira e a foto da comemoração argentina. Nos comentários, 63 deles reforçam a superioridade dos rivais no basquete, criticaram o Brasil pela falta de garra e empenho e o técnico da seleção (o argentino Rubén Magnano) pelas alterações no time e pelo mau aproveitamento dos lances livres. Outros 25 comentários elogiaram o Brasil por ter chegado até a essa fase e torcem para uma melhor sorte em 2016. Apenas um comentário citou a falta de incentivo ao esporte a longo prazo.

Já na postagem feita pelo Globo Esporte, há uma certa compensação na apresentação da notícia - "Brasil lutou... mas no confronto entre os estreantes em Olimpíadas contra os ex-campeões olímpicos, deu Argentina. (...) Clica curtir quem vibrou com o retorno do basquete brasileiro às Olimpíadas!" - e na foto, com a legenda "Lutamos até o fim!". Dos muitos comentários feitos a esta notícia, 238 comentários criticaram de maneira geral a seleção, outros 16 direcionaram suas declarações contrárias ao técnico e 44, a jogador(es) em específico, como Thiago Splitter e Nenê. Já 149 pessoas apoiaram  seleção, enaltecendo a retomada às competições de basquete depois de 16 anos de ausência em Olimpíada.

O que se pode observar nesta sintética análise é que estes brasileiros se manifestam mais na hora de uma derrota do que quando há uma vitória importante, porém, a brasilidade e a defesa da pátria - no quesito esportivo - mostram-se presentes, principalmente quando há uma disputa entre Brasil e Argentina, historicamente rivais nos desportos.

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