segunda-feira, 22 de abril de 2013

Jornalismo e Relações Públicas: áreas irmãs siamesas

Por Manoel Marcondes Neto

"Ser 'repórter' é tomar chuva, molhar-se, e embebedar-se nas fontes".

Reproduzo 'post' de hoje, publicado em 'tópico' de grupo de Relações Públicas de que participo no Facebook, por achar que a discussão pode ser ampliada:

Nas sempre ótimas discussões havidas, nas redes sociais, sobre a profissão de errepê e sua (siamesa) interface com a dos jornalistas, uma coisa especial emergiu, para mim: a necessidade que o próprio Jornalismo tem de se rediscutir à luz das possibilidades de comunicação que surgiram com as novas tecnologias e cujo caso mais emblemático é o do blog "Fatos & Dados", da Petrobras.

O “case”

Quando os jornais, sistematicamente, não publicavam na íntegra as respostas dadas pela empresa a todas as perguntas enviadas pelos jornalistas, mas apenas parte delas, e só de algumas delas, "jogando fora" grande parte do esforço da(s) assessoria(s) de imprensa da Petrobras em responder as indagações feitas - por escrito -, a estatal resolveu publicá-las, todas, na íntegra, em blog que criou especificamente para isto, e em timing concomitante à edição na qual - possivelmente - seria publicada a matéria com os "quotes-resposta" pelos jornais. Ou seja, no primeiro minuto do dia seguinte, na internet - íntegra de perguntas e repostas, "por escrito".

Absurdo!

Houve uma "grita" geral na imprensa. Como pode a empresa "furar" o jornal? Isso é um desrespeito à atividade jornalística! O jornalão "O Estado de S. Paulo" escreveu mais ou menos assim, em editorial: "...esperamos que o bom senso impere e o blog seja tirado do ar...". Sabe quando isto iria acontecer? Nunca!

Se a imprensa não faz o seu trabalho direito; não apurando, não ouvindo o outro lado, não fazendo reportagem -Gay Talese ensina que reportagem é feita gastando sola de sapato e ouvido, e não "teclando" numa sala climatizada, em casa ou na redação -, não publicando as explicações (pedidas e dadas), o "entrevistado" tem todo o direito de mostrar, ao público interessado, como respondeu às indagações da imprensa.

Jornalistas e relações-públicas: duas faces de uma mesma moeda

Boas RRPP exigem boa imprensa. Imprensa forte, assessoria de imprensa forte. Ótimo!

Imprensa fraca e assessoria de imprensa forte? Péssimo!  Pois quem passa a “fazer” os jornais são as assessorias, e por mais que isto pareça uma "vitória" para errepês e assessores, é tremenda derrota para a cidadania, a sociedade e a democracia.


Nas discussões sobre passado, presente e futuro das RRPP no Brasil, não se pode deixar de discutir - e com os coleguinhas jornalistas junto - passado, presente e futuro do exercício do jornalismo. Ambas as atividades são faces de uma mesma realidade. E temos, juntos, que decidir se são também faces de uma mesma moeda, forte ou podre.

Um comentário:

  1. Adoro este tipo de discussão. Sou jornalista de formação, mas há algum tempo atuo como assessor de comunicação, logo mais próximo de RPs.

    Em minha opinião, as novas formas de comunicação só favorecem o público. Não há mais a possibilidade das empresas ficarem "nas mãos" de alguns jornalistas ou empresários jornaleiros.

    Hoje, é possível contestar uma publicação em tempo real, contribuir com opiniões diferentes ao mesmo tempo, ampliar as informações disponíveis, deixando a interpretação final para o leitor.

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