No último domingo, dia 14 de abril, os admiradores de Chaves tiveram uma tarde de despedidas: o ator Carlos Villagrán, mundialmente conhecido pelo personagem Quico (ou Kiko, depois de uma briga judicial com Roberto Bolaños, o Chaves, que reivindicou direitos autorais do personagem da série homônima) está fazendo uma turnê de despedida, de "aposentadoria", e fez o que pode ser chamado de uma despedida da fantasia no palco do programa Domingo Legal, do SBT. Um trecho do programa (ainda com a presença caracerizada de Kiko) pode ser vista a seguir.
Durante o programa, quando foi citada a despedida do personagem, muitos se entristeceram e, após a retirada da fantasia, muitas pessoas talvez não consigam ver o ator Carlos Villagrán como ele mesmo, mas sempre se recordem de Kiko. Mas o que o episódio que iniciou esse texto tem a ver com empresas, comunicação e imagem?
Vendo esse fato, pode-se, tranquilamente, realizar uma comparação com o que acontece com a imagem de certas marcas (ou de seus protagonistas publicitários), de modo positivo ou negativo, quando são relacionadas a uma pessoa ou a uma situação específicas.
No campo da publicidade, existe um conceito que auxilia na compreensão desse cenário, que é chamado de pessoa subvertida, e que se apresenta de duas formas, como mostram Eneus Trindade e Clotilde Perez, no artigo Os múltiplos sujeitos da publicidade contemporânea (2009, págs. 29-30, grifos dos autores), referenciando essa nomenclatura dada, originalmente, por Fiorin (1999):
"(...) o fenômeno da pessoa subvertida (...) dá-se por mecanismos de embreagens internos ao discurso, na categoria de pessoa. Por exemplo, a troca de um eu por um nós, entre outras possibilidades. Para a mensagem publicitária, muitos personagens ou garotos-propaganda subvertem o seu eu para a primeira pessoa do plural, o nós, quando esse nós inclui o eu que fala e o outro ele (receptor e possível consumidor), geralmente substituído pela marca dêitica contextual «a gente». Ou ainda, quando o eu que fala, sujeito do enunciado (ator, mascote...), usa o nós para se referir à soma do eu e ela, a marca anunciante, caracterizando a embreagem de terceira pessoa do singular «ela, a marca», que também é a debreagem da enunciação-enunciada do pólo da emissão (o anunciante) no enunciado. (...)
Outra situação comum de pessoa subvertida, em mensagens publicitárias, é quando o garoto-propaganda e a marca se confundem e um passa a substituir o outro ou não se consegue desassociar um do outro. (...) Tal fenômeno remete a uma construção de efeito de subjetividade, fundamentada em aspectos da enunciação tipicamente publicitária."
Como o artigo também traz, um dos exemplos mais claros de pessoa subvertida (além do que acontece, desde já, com o personagem Kiko) é o ator Carlos Moreno, que foi garoto-propaganda da marca de lã de aço Bombril durante mais de 30 anos, inclusive tendo seu nome no Guinness Book pela longevidade nas peças publicitárias. A sua imagem tornou-se algo automático para muitas pessoas, quando se mostra a embalagem do produto. Até hoje, em alguns comentários na fanpage da marca, algumas pessoas pedem pela volta de Carlos Moreno aos comerciais.
Fonte: Jornal O Dia |
Desde então, a popularidade da marca despencou e as reclamações em sua fanpage aumentaram consideravelmente, mesmo com todo o trabalho de gerenciamento de crises realizado, e eram frequentes nas redes sociais piadas e zombarias com o caso. Na foto em destaque, vê-se uma comparação entre o produto e a seringa utilizada por Lívia Marini (Cláudia Raia), a vilã da novela "Salve Jorge" para matar suas rivais.
Com isso, é necessário observar o esforço feito pelos atores para tornarem esses personagens apenas mais um na galeria de seus papeis, e mais complicado ainda o trabalho de uma equipe para restabelecer a imagem de uma empresa após uma crise.
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