terça-feira, 30 de outubro de 2012

Comunicação e memória - O que se vê da vida

Quem não tem uma história para contar sobre a vida pessoal e/ou profissional? Seja feliz, triste, inusitada ou interessante, deixar que essas particularidades, contidas na vida de cada um, sejam expostas para um pesquisador ou para um comunicólogo é um tipo de pesquisa qualitativa que, aliada a um convincente trabalho de memória organizacional, pode contribuir para o crescimento das empresas.

Um outro tópico que também é importante ressaltar: se a compilação e a divulgação destas histórias for bem dirigida, pode servir para o enaltecimento de pessoas públicas que costumam ser mais valorizadas quando se mostram como "iguais" aos anônimos. História de vida, depoimentos, relatos, testemunhais: estes segmentos contribuem para que este resultado possa ser atingido.

Vale ressaltar que o estudo de caso que será visto neste post não se trata, propriamente, de um tipo de história de vida, mas sim de um depoimento, outro instrumento narrativo utilizado para pesquisa e entendimento do comportamento, valores e histórias dos indivíduos, como mostra Elza Dutra no artigo A narrativa como uma técnica de pesquisa fenomenológica (2002, p. 377):

"As diferenças residem nas distintas formas de agir do pesquisador, em uma e outra técnica. Diferentemente da forma como atua nas histórias de vida, no depoimento o pesquisador dirige a entrevista em direção ao assunto que lhe interessa, além do depoimento poder ser finalizado em apenas um encontro. Isto não acontece quando se pretende pesquisar uma história de vida, que exige vários encontros, os quais são dirigidos, prioritariamente, pelo narrador.
Das características que constituem o depoimento tal como as apresentadas pela autora, adotamos aquela da brevidade, podendo o depoimento ocorrer em somente um encontro, como realmente aconteceu em todas as entrevistas, e pela definição de depoimento, que se insere na narrativa. No que respeita ao relacionamento entre narrador e pesquisador, embora o depoimento se limite apenas a uma parte da história de vida do narrador, o relato da sua experiência revela e transmite dimensões existenciais que assumem configurações próprias naquele momento, com aquele pesquisador, que também é “tocado” na sua experiência por tal narrativa. Embora seja a história de algo que lhe aconteceu, naquele momento a experiência ganha um novo formato e se revela de acordo com o total da estrutura existencial das pessoas envolvidas."

No ano de 2012, foi lançado um quadro dentro do programa Fantástico, da Rede Globo, chamado O que vi da vida, em que famosos contam detalhes de suas vidas, aparentemente inéditos em rede nacional. Com duração, geralmente, de 25 a 30 minutos, as personalidades tratam de vários assuntos, como família, fé, trabalho e revelações particulares.

Um dos episódios mais comentados e polêmicos foi o da apresentadora Xuxa (maio de 2012) que, dentre outros assuntos, relatou sobre a família, o começo da carreira de modelo, como chegou na televisão, os amores, a falta de privacidade com a fama, a amizade com Michael Jackson e a declaração mais surpreendente e que gerou maior comoção: a que sofreu abusos sexuais até os 13 anos de idade. O vídeo na íntegra está disponível a seguir:



O quadro pode ser considerado um depoimento por conta de ter uma duração curta, mesmo abordando, de forma sintética, todos os campos da vida do entrevistado. Posteriormente, surgiram várias sátiras desta atração, como um post no blog da Cleycianne ou o quadro O que ri da vida, do programa Pânico na Band, em que os humoristas aparecem sem figurino contando histórias de suas vidas (verídicas ou não), como o do ator Márvio Lúcio (Carioca).

Portanto, esta divulgação de dados pode ser benéfico ou maléfico para uma empresa, organização ou pessoa pública. Com exceção de um programa humorístico, nos outros casos é necessário ter discernimento de como utilizar as informações para que se valorize verdadeiramente a pessoa e a história, sem denegrir a imagem de ninguém.

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