terça-feira, 3 de julho de 2012

Relação criança x consumo - "Uno" dilema perigoso

Por Maíra Masiero

Há um ditado bem conhecido que diz que "a propaganda é a alma de todo negócio". Mas e em relação aos produtos voltados às crianças, esse ditado é, de todo, adequado? Até que ponto os pequenos são afetados, estimulados e, muitas vezes, manipulados pelas ações publicitárias que são veiculadas todos os dias?

Neste mesmo blog, já foram mostrados alguns exemplos de como é muito tênue a linha entre a utilidade e a nocividade da propaganda destinada ao público infantil. Mais além: ao invés de apenas estimular, mesmo que indiretamente, hábitos de consumo inadequados a esta faixa etária, também pode promover a fidelização dos pequenos consumidores a uma marca, desde o berço.

Para o Instituto Alana, por meio do Projeto Criança e Consumo, pode ter sido esta última hipótese o instrumento para se identificar um marketing abusivo da empresa de automóveis Fiat, ao lançar no final de maio de 2012, em parceria com a empresa Bandeirante, uma linha infantil de carrinhos tendo, como modelos, o Uno Passeio e Uno Elétrico, semelhantes a uma linha de carros para adultos que a Fiat colocou no mercado em 2010.

Segundo declaração do Instituto para o Portal Exame, a marca estaria "utilizando-se da vulnerabilidade infantil para promover produtos associando sua marca a diversão". Além disso, há também, como foi dito, o registro da marca no inconsciente da pessoa já na sua infância, mesmo de forma inconsciente e involuntária.

E esta constatação pode ser provado por um estudo de Montigneaux (2003), citado por Roseméri Laurindo e Andressa Leal no artigo A recepção da publicidade na TV entre crianças de cinco anos (2008, p. 141-142), que mostra como é feito o reconhecimento e a captação de uma marca pelas crianças:

"(...) a partir dos cinco e seis anos a criança começa a realizar comparações entre os produtos, por atributos abstratos ou funcionais, pelo uso, pela logomarca e pelos elementos figurados. Aos seis anos as crianças são capazes de citar pelo menos um nome de marca por cada categoria de produto. Mas, para a criança dessa idade, a marca serve somente para nomear o produto, no sentido literal do termo. (...) A partir dos seis anos ela começa a entender outras dimensões. Por volta de sete a oito anos nasce o conceito da marca."

Como pode-se ver pelas indicações do produto da Bandeirante, esta faixa etária de seis a oito anos é a mais atendida por essa propaganda, e isso interfere no imaginário das crianças, que começam a assimilar a ideia de carro com a marca Fiat. Conforme a mesma matéria do Portal Exame, a Fiat ainda não tinha sido noticiada pelo Instituto, que mandaria uma carta expllicativa com orientações a respeito de como a propaganda pode influenciar negativamente as crianças.

Para concluir, não se pode esquecer que as férias escolares estão em vigor na maioria do Brasil, e que, nesta época, as crianças costumam brincar mais, seja com brinquedos físicos ou nas telas de uma televisão ou computador. Então, é necessário prestar atenção ao que os pequenos estão vendo de publicidade e se eles estão sendo influenciados pelos atrativos trazidos pela mídia. Aos profissionais de comunicação, é importante tratar o público infantil de modo diferenciado, tomando os devidos cuidados para não prejudicar o desenvolvimento do livre pensamento das crianças.

Nenhum comentário:

Postar um comentário