quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

E minha cartinha para o Papai Noel?

Por Maíra Masiero

As festas natalinas já se passaram e nos dias que se passaram, além das comidas e bebidas peculiares desta época e do sentido religioso da data (muitas vezes, esquecido), muitas crianças mandaram cartas para o Papai Noel e receberam seus presentes. Mas como surgiu esta tradição de se mandar cartas e como ela se perpetua, mesmo com o avanço da tecnologia e da gradativa inclusão digital das crianças?

Segundo matéria publicada no site Muita Pimenta, essa tradição das cartas foi adaptada de uma tradição européia em que, até os dias atuais, enviam-se cartas para membros da Igreja com pedidos de benção, de bens materiais e de oração durante o período natalino. Também é necessário lembrar que essas cartas também são entregues pessoalmente em lugares públicos - como shoppings, parques, praças, hospitais - a "Papais Noeis" que estão por esses locais.

Porém, o que é considerado, para muitos, uma prática ingênua de tentar realizar um sonho de criança ou de ter aquele brinquedo, comida ou outro desejo se concretizando, para outras pessoas, essas cartas se tornaram símbolo do consumismo. Recentemente, segundo notícia publicada na UOL Notícias, uma instituição inglesa considera que essas pequenas cartas poderiam se tornar, com o tempo, numa extensa lista de presentes capaz de causar vários problemas familiares. 

Foi lançada até mesmo uma campanha para que as crianças abandonem o envio de cartas ao Papai Noel. No Brasil, o fato de interligar consumo com crianças também é algo discutível. Na mesma matéria, Ana Maria Wilheim, diretora-executiva do Instituto Akatu (organização não-governamental que trabalha pelo consumo consciente), declara: "No Natal, a gente projeta nossos desejos, sonhos. Mas estão pegando tudo isso e jogando num produto. A gente não está mais valorizando a relação entra as pessoas."

Porém, o envio de cartas nesta época do ano ao Papai Noel também possui um outro lado: o da solidariedade e o da nostalgia em ver sonhos, antes restritos ao período infantil, se realizarem de uma hora para a outra. E algumas propagandas mostram este último lado de forma emocional, mas sem deixar de divulgar a marca.

Quando se fala em propaganda na época de Natal, é inerente lembrar-se da marca Coca-Cola e de seus comerciais clássicos, misturando caminhões enfeitados, ursos polares, famílias fascinadas, jogo de luzes e de cores, além do lembrete envolvente de que "O Natal vem vindo, vem vindo o Natal", como o da temporada 1995/1996.

Neste ano de 2012, a Coca-Cola também pensou nas cartas que as crianças mandam para o Papai Noel, mas que não conseguem ser atendidas ou mesmo chegar até o destino final. Segundo dados coletados pela marca, foram encontradas cerca de 60 mil correspondências que ficaram esquecidas (algumas datadas de 1930), sem serem entregues ao endereço do Papai Noel. 

Vendo esse esquecimento, a ação "Cartas Esquecidas do Papai Noel" selecionou 75 cartas e mostra o bom velhinho chegando a algumas casas para entregar os presentes que as pessoas pediram há vários anos atrás. É importante observar a nostalgia dos adultos em lerem as cartas que, quando crianças, destinaram ao Papai Noel e a emoção quando recebem os presentes tão esperados.


No quesito solidariedade, as cartinhas de várias crianças para o Papai Noel podem se tornar um símbolo de solidariedade e de consideração para com as pessoas que detêm menos recursos para comprar presentes aos seus filhos ou conhecidos. Um exemplo, no Brasil, é a realização há mais de 20 anos do Papai Noel dos Correios que possui um objetivo específico, segundo a instituição

"É uma ação corporativa (...) que tem como objetivo principal o envio de carta-resposta às crianças que escrevem ao Papai Noel. Além de estimular a redação de cartas manuscritas pelas crianças, a campanha incentiva a solidariedade dos empregados e da sociedade. Desde 2010, a campanha passou a contemplar, além das cartas oriundas das crianças da sociedade, as cartas de crianças de escolas, abrigos, núcleos socio-educativos e creches."

Várias empresas, entidades e universidades contribuem com os Correios, encontrando pessoas para "adotarem" as cartas, comprarem os presentes e entregar aos postos de adoção, que reencaminham esses para os Correios que fazem a entrega. Uma dessas empresas que ajudam os Correios é a Empresa Júnior de Relações Públicas (RPjr), do campus da UNESP em Bauru, e quem vai explicar melhor como foi a participação da empresa na ação de 2012 é Daiane Santana, diretora administrativa da RPjr.

"A parceria que temos com os Correios consiste em levarmos cartas de crianças carentes até 10 anos ou cursando até a 5ª série. Nós levamos essas cartas para a faculdade para que os alunos possam ter contato com o projeto e para que o maior número possível de cartas seja adotado. 
Para isso, tratamos da divulgação nas redes sociais e com cartazes pela faculdade, colocamos stands para adoção de cartas nos três horários de intervalo (manhã, tarde e noite). Tivemos uma comissão pra isso, formada por várias diretorias (Comunicação, Pesquisa & Desenvolvimento, Recursos Humanos e Projetos) mas toda a empresa ajudou a ficar nos stands. 
Este ano tivemos até o Papai Noel, que ajudou a chamar a atenção das pessoas. Além disso, a maior ajuda que temos é dos apoiadores, isto é, outras empresas juniores, projetos de extensão, centros acadêmicos, Atlética, Dafae [Diretório Acadêmico da Faculdade de Engenharia], etc... que também adotam um determinado número de cartinhas.
Neste ano, conseguimos em torno de 300 cartinhas adotadas. Os presentes foram levados para os Correios que fariam a entrega nas casas de cada criança. A única ressalva é que não poderiam ser doados alimentos ou brinquedos usados, apenas brinquedos novos. Foi um projeto extremamente gratificante! Algumas cartinhas eram bem comoventes e para nós, ajudar em um projeto como este é também um presente para nós da RPjr!"

E é por esses motivos que as cartas, consideradas atualmente como objetos raros de estarem em circulação, podem, na época natalina, ganhar uma sobrevida e ajudar muitas crianças a conseguirem ganhar os presentes de Natal. Para encerrar este post, um comercial já antigo dos Correios que mostra, de forma surpreendente (mais no final do filme), a importância do valor emocional das cartas na vida de uma pessoa.

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