quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Mídia e educação: caminhos que se cruzam

Por Maíra Masiero

Quando se fala nas funções da mídia, uma delas é disseminar conhecimento a todas as pessoas, especialmente àquelas que não possuem condições de realizar cursos pagos, de comprar recursos para se informar, dentre outras impossibilidades. Mas como a mídia pode contribuir para que a educação seja valorizada, praticada e assimilada pelas pessoas?

Antes de tudo, é necessário entender o que é, de fato, educação, e como este conceito pode dialogar com as mais variadas mídias. Há muitas explicações, dadas por vários autores, sobre o que seria "educação", por conta das abordagens e da formação de cada pesquisador, educador ou especialista na área. Como exemplo, Hegel tem uma visão didática e filosófica acerca da educação, como mostra Pedro Geraldo Novelli no artigo O conceito de Educação em Hegel (2001, p. 67):

"Nesse sentido faz-se necessário cogitar sobre a dialetização da educação segundo Hegel, visto que, para ele, a totalidade do real engloba a educação. Hegel lança desafios contundentes sobre a compreensão do real e, de igual modo, tais desafios podem afetar a prática pedagógica assim como sua conceituação.
(...)
A prática pedagógica é motivada em Hegel por uma visão específica de homem que se vincula à época do filósofo, mas que possui traduções que lhe são particulares. O espírito universal é traduzido pelo espírito particular. A particularização do universal é sempre uma degradação, um empobrecimento do absoluto, mas não é senão assim que o particular pode existir."


Outro pensador, o brasileiro Paulo Freire, via a educação como um passo para a construção de uma consciência crítica na população, para que esta pudesse ver as situações não da maneira padrão, mas com um olhar diferenciado, principalmente para os mais oprimidos. É o que descreve Alexandre Becker na tese A concepção de educação de Paulo Freire e o desenvolvimento sustentável (2008, pp. 56-57):

"Freire, desde seus primeiros escritos, estava comprometido com a construção da consciência crítica, com uma nova maneira de educar, que contribuísse para que as pessoas pudessem analisar melhor a realidade vivida e fossem capazes de agir sobre essa realidade,  transformando-a (...)
Este comprometimento de Paulo Freire direciona-se em elaborar uma pedagogia comprometida com a melhoraria  das condições de existência das populações oprimidas. E essa pedagogia  não seria construída ignorando a realidade em que estavam inseridos os  educandos a quem ela se dirigia e tão pouco ignorando a consciência que dela eles faziam."

E como conciliar estes dois conceitos com o uso das mídias para fins educacionais? Primeiramente, como mostra a definição de Hegel, é preciso incentivar as pessoas a pensar por sua própria conta, sem muitos intermediários, e ser crítico acerca do mundo ao redor. É uma tarefa difícil, pois não se consegue chegar a neutralidade de pensamento, porém é uma possibilidade que se assinala.

Para o conceito de Freire, a formação de uma consciência crítica, principalmente aos mais jovens, se mostra primordial para o desenvolvimento de uma sociedade mais pensativa e mais comprometida com as ações sociais, políticas e intelectuais. Com isso, a mídia tem um papel fundamental nesta formação.

Um exemplo é o projeto Mídia Jovem, realizado em Aracaju/SE numa parceria entre o Governo local, o Instituto Recriando e a Oi Futuro. Segundo o site oficial do projeto, ele atende a algumas comunidades populares de Sergipe, "como instrumento de estímulo à criatividade, participação social e protagonismo de adolescentes e jovens, contribuindo para a redução do índice de evasão escolar, melhoria da aprendizagem, promoção da (re)integração social, valorização da cultura regional e promoção da cultura de paz."

Um dos objetivos deste projeto é o protagonismo juvenil na mídia, em que os próprios adolescentes, com uma câmera na mão, façam suas próprias reportagens (em áudio e vídeo), denunciando problemas em seus bairros e contribuindo para o crescimento da cidade e de sua própria consciência crítica acerca do mundo. O projeto ganhou destaque e uma matéria na TV Brasil, em 2011, cujo vídeo encerra este post, mostrando um dos caminhos possíveis para conciliar mídia e educação.

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