quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Cultura, Propaganda e Sonho

Por Manoel Marcondes Neto

Cultura e Propaganda: quem dá mais? 

Foi divulgado no início de setembro o balanço do mercado da propaganda no Brasil. O investimento publicitário no primeiro semestre de 2012 – e é interessante que o Projeto Inter-Meios (que monitora a atividade publicitária no país) refira-se a “investimento” e não a “despesa” – atingiu R$ 14,28 bilhões, num crescimento de 11,02% em relação ao mesmo período do ano anterior.

TV: a gente se vê por aqui. 

Mais uma vez a TV aberta foi o meio preferido dos anunciantes; nada menos que 64,81% do “bolo” publicitário ficou com o veículo de massa (apesar da “intelligentsia” brasileira ter “decretado”, há muito, o fim da comunicação de massa). Digo eu: nunca vivemos tão “massivamente” como hoje: nos produtos, nos serviços, no dinheiro, na cultura e, óbvio, na comunicação. 

Internet: pra que te quero? 

Os investimentos com publicidade na internet foram os que mais cresceram no semestre, com alta de 18,14%, atingindo R$ 738,9 milhões. De acordo com Salles Neto, presidente do Grupo Meio & Mensagem, que coordena o Projeto Inter-Meios, “a entrada das novas mídias e de novos consumidores na rede de computadores foram os principais fatores para o crescimento” da mídia “web” – que já é a quarta maior “fatia” no faturamento total do setor publicitário, com uma participação que chegou a 5,17%, ultrapassando o meio “rádio” e ficando atrás apenas da TV aberta, meio “jornais” e meio “revistas”.

Participação minoritária nos orçamentos públicos, em todos os níveis: a Cultura.

Nessa toada, o mercado publicitário chegará a 30 bilhões em 2012, mais ou menos 1% do PIB – o valor percentual que a UNESCO sugere aos países que gastem (por que não invistam?) em Cultura, sob risco de “involução” social.

Infelizmente sofremos, no Brasil, dessa enfermidade. Involuímos a passos largos. A educação piora, a cultura mingua, 30% dos brasileiros vivem “de pés no chão”, sem asfalto ou outro “piso”, 25% ainda queimam ou enterram o próprio lixo e mais da metade não tem esgoto sequer coletado. Tratamento de esgoto? Nem 20% dos lares. Talvez cheguemos ao nível da barbárie medieval europeia antes de 2050. Nesse ano, o sucesso global do horário nobre não será mais uma Avenida Brasil, mas o “remake” de Memórias de um sargento de milícias. Façam suas apostas, senhores! Aliás, basta ir ao subúrbio carioca, à periferia de São Paulo ou às satélites “cidades” do Distrito Federal para encontrar bárbaros à luz do dia. As chacinas matam 40 mil ao ano, assim como o trânsito. Dois “vietnams” por ano! Brasil: um país de todos... os males.

Direitos Culturais – eu quero os meus!

E a Constituição Federal de 1988 apregoa, solene: - o Estado garantirá pleno exercício dos direitos culturais. Que direitos? Onde estão listados? Quanto o Estado brasileiro destina a tal mister? Vamos perguntar isso à nova ministra da Cultura; quem sabe ela não relaxa e aproveita para se livrar da mala sem grife que estava tendo que carregar na cidade de São Paulo?

A presidenta (esse vocábulo me arrebenta) disse que vai destinar R$ 3 bilhões à Cultura da companheira Marta. Isto todos dizem... desde Sarney. O problema é que contingenciam a Cultura no meio do caminho e a pasta nunca passou do mísero bilhão executado por ano.

Um exercício de ficção.

O que você acha que seria do Brasil se todo o dinheiro “investido” na propaganda que você vê na TV, ouve nas rádios, clica na internet e se aborrece de ver nas ruas, postes, paredes, espaldares de poltronas do avião e até portas de banheiros em restaurantes, fosse gasto em cultura? Programas de visitação infanto-juvenil a museus e centros culturais, produção de programas de TV para um nível um pouco mais elevado que um QI de ameba, ou o prometido vale-cultura destinado à compra de livros, CDs e DVDs de produção cultural nacional? Teríamos uma perspectiva melhor de vida comunitária, sem dúvida.

Aliás, n’O Globo de 19 de setembro, a manchete: “gastos com campanhas municipais chegará a R$ 3 bilhões”. E se todo esse lixo eleitoral – Zé do Posto, Jó do Açougue, Leo da Hemodiálise – fosse revertido às artes, à produção artística – não a de “famosos”, mas a dos que frequentam os mais de 3.500 pontos de cultura, por exemplo – política exitosa única do Governo Lula que a ministra-irmã fez a proeza de esmorecer...

Pela fusão da Educação com a Cultura, já!

Mas enquanto isso não chega, que tal escrever ao seu congressista predileto e sugerir a ele que brigue, em Brasília, pela volta da Cultura à esfera da Educação? Eles nem precisariam mudar a placa do ministério, porque a sigla MEC continua lá.

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