Por Maíra Masiero
No próximo dia 12 de outubro, será comemorado em todo o Brasil o Dia da Criança, que, de acordo com matéria do site Mundo Estranho, teve sua origem em 1924 graças à iniciativa do deputado Galdino do Valle Filho, que escolheu este dia por conta de ser a mesma data em que a América, o "Continente-Criança" na visão europeia, fora descoberta por Cristóvão Colombo em 1492. Porém, esta comemoração só começou a chamar a atenção do público na década de 1960, através de uma ação promocional da fábrica de brinquedos Estrela, aumentando a venda destes produtos no mês de outubro, o que consolidou a comemoração deste dia no calendário.
Ou seja, como pode-se perceber, os festejos de 12 de outubro não foram intensificados por uma questão social ou lúdica, mas sim pela inserção do consumismo na vida dos pequenos, que já não querem ser mais chamados assim por muito tempo. Há, inclusive, o que Postman (2006) chama de "adultificação", ou seja, a transformação súbita da criança num adulto em miniatura, como explica Alexandre Silva dos Santos Filho na tese A dimensão estética do brinquedo: contributos críticos à educação estética da criança (2009, p. 27-28):
"(...) Ao longo dos séculos, a infância foi abalada no seio da própria sociedade capitalista, quando teve que se tornar um produto cultural – a criança precisava também ser incluída no grupo dos consumistas, de algum modo exigiram-se mudanças na sua estrutura conceitual, deformando-a.
A criança, diz Postman (2006), ganha uma falsa autonomia diante dos mecanismos econômicos e é “adultificada”, pois a posse de artefatos proporcionada pelo consumo simula o viver sob as condições de um juízo adulto e estabelece intimidade com temáticas do quotidiano – crime, gravidez precoce, consumo de drogas, doenças venéreas, alcoolismo etc. Em pleno século XXI, a concepção de adulto miniatura ganha novamente um sentido: a criança deixa de ser protegida pelas instâncias sociais que se comprometeram em construir um mundo mais adequado e humano; instalam-se o caos, a fome, a miséria, o abandono, o infanticídio, a pedofilia, os abusos sexuais, a prostituição, o tráfico de crianças e tantos outros problemas."
Com isso, a fase da infância, para muitas crianças, torna-se minúscula diante dos atrativos que a vida adulta traz para cada um, e muito disso se deve à excessiva intervenção do marketing nessa faixa etária. É como se vários pequenos tivessem uma vontade contrária a de um certo personagem infantil, que não queria crescer de jeito nenhum: o mundialmente conhecido Peter Pan.
É notória a influência dos meios de comunicação para transformar uma celebração destinada às crianças num "aquecimento" comercial para as festas de final de ano, e as próprias crianças entram neste ritmo acelerado que o consumismo traz, graças a algumas ações de comunicação que se tornam desnecessárias em relação ao público infantil, como a sensualização precoce, o apelo exacerbado à cultura do "ter", a exposição às propagandas de produtos impróprios para a faixa etária, dentre outras características.
Isso não quer dizer que deveria acontecer uma total extinção da publicidade destinada às crianças, mas é necessária uma atenção maior a essa idade e aos valores de que ela precisa para crescer na hora e momento certos, a fim de se tornar um cidadão mais consciente de seu papel na sociedade.
Para exemplificar esta preocupação, em 2011 foi realizado um debate, numa parceria entre a Videoteca da PUC-SP e o Instituto Alana, sobre o consumismo e a publicidade infantil, e de como esses dois aspectos interferem na mentalidade e nos desejos das crianças. Desta iniciativa, surgiram alguns vídeos que possuem o objetivo de esclarecer detalhes do tema proposto, como esse que encerra o post de hoje.
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