Por Manoel Marcondes Neto
Estamos – ao lado de nossos colegas jornalistas – livres do jugo da agora falecida "Comunicação Social", conceito herdado da Igreja Católica e das instituições militares, e podemos finalmente empreender a nossa total e completa inserção na área de Negócios, como acontecia lá nos primórdios das relações públicas contemporâneas (década de 1950), com Edward Bernays, David Ogilvy, Bertrand Canfield e Whitacker Penteado Sr. – este um pioneiro brasileiro, ao lado de Manoel Maria de Vasconcellos, que atendeu ao primeiro curso de Relações Públicas no país, na Fundação Getulio Vargas, em 1953.
À recuperação do tempo perdido, pois!
É como defende Marcelo Ficher, professor da Veiga de Almeida e coordenador do Observatório da Comunicação Institucional: “há alguns anos, venho defendendo uma partição diferente da atual para as especialidades em comunicação, agora corroborada pelo MEC; o Jornalismo, pela sua importância histórica, como pilar da democracia e da liberdade de expressão, não deve se misturar com a comunicação profissional a serviço dos negócios e no interesse de pessoas e organizações – a Propaganda e as Relações Públicas”.
E acrescento eu: Relações Públicas guardam uma peculiaridade que as distinguem – e muito – da Propaganda: a busca da harmonia (*) entre organizações, entre organizações e pessoas e, principalmente, entre o que se faz e o que se diz – algo que em tempos de (a) manifestações populares reivindicativas pelo mundo todo; (b) o alto nível de "exposure" consentido pelas pessoas nas redes sociais em busca de contato, aceitação e relacionamento; e (c) o uso dessas mesmas redes, e de seus recursos comunicacionais, pelas empresas, coloca "muito bem na foto" do mercado a nossa área, a qual opera as "relações" num contexto de transparência e verdade que as fazem mais legítimas se "públicas". Não conheço, de fato, nenhuma outra formação em ciências humanas ou sociais mais adequada ao presente e ao futuro da comunidade global.
O “Manifesto Sincrético: Relações Públicas e Administração” (Salvador, BA, 28/10/2012) deu-se na esteira de um Congresso Brasileiro de Administração. E não foi à toa que "emergiu". Explico: enquanto a maioria dos alunos da pós-graduação em Comunicação tem – incompreensivelmente – uma atitude "blasé" diante das Relações Públicas, área considerada por eles (publicitários e jornalistas em sua maioria) como uma espécie de "patinho feio" do campo da comunicação; nas turmas de pós-graduação em Gestão Empresarial e Marketing, onde estão alunos administradores, contadores, economistas, engenheiros de produção e da computação, a atenção e o interesse para com a nossa área é ENORME.
Tais perfis, eminentemente gerenciais, PERCEBEM a sutileza e a sofisticação de nosso trabalho transdisciplinar, enquanto as faculdades de comunicação prestam um desserviço e seguem fechando as turmas de Relações Públicas pelo Brasil afora, na contramão das demandas do presente e do futuro (vide a compra da CDN pelo Grupo ABC de Nizan Guanaes).
Os comunicólogos estão cada vez mais perdendo funções "core" nos negócios. Estão “na periferia” das decisões. Quem decide e faz acontecer – organizações, processos e pessoas – são outros profissionais, de formação tecnológica, hoje muito mais interessados em ouvir o que temos a dizer.
Por isso, aliás, a minha "guinada" para a Administração, a partir de 2008, com o livro sobre "Relações Públicas & Marketing: convergências entre Comunicação e Administração". Foi uma espécie de “volta para a casa”, uma vez que na fundação do bacharelado em RP no Brasil, estivemos “divididos” entre Administração e a recém-criada “Comunicação Social” – no afã do Governo Federal de então de controlar as informações. Até então, os relações-públicas registravam-se no Conselho Regional de Técnicos de Administração!
Ora, com a nossa "libertação" do jugo da “comunicologia”, qualquer escola de Negócios, de Administração, de Direito etc. poderá criar um curso de Relações Públicas independente. Nada de "ênfase", como é o caso de "RH" em Administração, ou "Comércio Exterior" em Relações Internacionais.
O que defendo é um curso independente, formando bacharéis em RP. Profissionais para atuar nas demandas contemporâneas de empresas e instituições, as quais sintetizei, em 2012, no livro “A transparência é a alma do negócio” em “4 Rs”: reconhecimento em seu meio social, relacionamento com seus públicos-chave, relevância em seu segmento de mercado e gerenciamento de uma reputação. Não mais o bacharel em "Comunicação Social com habilitação em RP" – o MEC acaba de decidir isto oficialmente (D.O.U. de 12/09/2013).
Sigamos, pois, o nosso próprio caminho de independência e crescimento - uma oportunidade histórica, que não vai se repetir.
(*) “Toda profissão tem um propósito moral. A Medicina tem a Saúde. O Direito tem a Justiça. Relações Públicas têm a Harmonia – a harmonia social”. (Seib e Fitzpatrick, Public Relations Ethics, 1995). In SIMÕES, Roberto Porto. Informação, inteligência e utopia: contribuições à teoria de relações públicas. São Paulo, Summus, 2006.
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