sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Qual o limite do infotenimento? (III) - Quando o barco naufraga em entrevistas coletivas

Em vários posts do RPitacos, foi mostrado como a prática do infotenimento (jornalismo + entretenimento) pode ser importante para o melhor entendimento de um assunto específico, mas que também pode prejudicar a imagem de uma instituição, de uma celebridade ou até mesmo de um jornalista, se o uso desta prática não for bem ensaiado, como mostra Kees Brants no artigo Quem tem medo do infotainment? (2005, p. 12). No texto, o autor parte para os programas políticos, mas as características atribuídas por ele em relação ao entretenimento podem ser relacionadas com a veiculação de programas esportivos.

"No lado do entretenimento, a expectativa reside em tópicos com conteúdos mais voltados para o interesse humano, onde os políticos são encarados como pessoas com características específicas. Aqui, a imagem e o espectáculo são mais importantes do que a mensagem, que deve ser simples, leve e com tom emocional. O estilo será, em geral, mais informal, pessoal e aberto; procura distrair em vez de enfatizar o distanciamento e a crítica. O formato é de entretenimento, que pode ser ou ligeiramente sensacional ou abertamente espectacular. As audiências participam activamente, mostrando aplauso ou reprovação."

O último tópico dito neste trecho será abordado mais profundamente: o limite entre o aplauso e a reprovação da prática do jornalismo de entretenimento, principalmente no âmbito esportivo. Na última semana, as discussões sobre até que ponto a prática do infotenimento não interfere na rotina e no humor dos jogadores/entrevistados aumentaram por conta de um episódio ocorrido numa entrevista coletiva do atacante argentino Hernán Barcos, do Palmeiras, no dia 16 de fevereiro.

Em meio às perguntas habituais para uma situação dessas, o jornalista Leo Bianchi, do Globo Esporte, citou as brincadeiras que colegas de clube fazem em relação a aparência do atacante, comparando-o com o jurado Pedro de Lara - falecido em 2007 - e com o assistente de palco Marquito, do programa do Ratinho (SBT).

E ainda mais: segundo o site LANCENET!, Bianchi ainda mostrou fotos do cantor Zé Ramalho e perguntou se Barcos se achava um pouco parecido com o artista. O resultado desta pergunta foi a indignação do jogador em responder que não queria brincadeiras naquele momento e, com a insistência do repórter, houve mais irritação, como mostra o vídeo a seguir.


Quando se insere um lado mais humorístico nas transmissões esportivas e, sobretudo, na maneira em que se entrevista uma pessoa, é necessário ter cautela e jogo de cintura em algumas situações. Afinal, cada pessoa possui um timing para assimilar brincadeiras e para aceitá-las ou não. A reportagem do Globo Esporte no dia seguinte tentou minimizar a situação, seja no programa de televisão ou no site. O repórter justificou que o argentino não sabia quem era o cantor Zé Ramalho, porém admitiu ter sido infeliz a ideia de mostrar as fotos do artista para Barcos.

Já o portal R7, pertencente à Rede Record, tratou o desentendimento de forma mais agressiva, chegando a explicitar os palavrões que o jogador disse e ainda colocou uma reportagem, mostrando a repercussão do episódio no Twitter, principalmente no perfil do apresentador Tiago Leifert, que chegou até a chamar seguidores que contrariaram a atitude de Bianchi para as vias de fato.

O que fica deste episódio é justamente o cuidado que se precisa ter ao abordar o tema do infotenimento e, acima de tudo, conhecer o comportamento do público a ser abordado nestas situações, para que episódios como o ocorrido entre o repórter e o jogador não sejam frequentes.

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