segunda-feira, 21 de abril de 2014

Comunicação em meio à morte - A despedida midiática de Luciano do Valle

Por Maíra Masiero

Lidar com uma situação de morte, seja de algum parente ou pessoa conhecida, é complicado para qualquer pessoa e em qualquer situação. Isso se agrava quando ações de comunicação precisam ser feitas (muitas vezes, de forma urgente) para homenagear as pessoas mais célebres que já não estão vivas, inserindo-as (ou retomando-as) na memória coletiva de um povo, como mostram Elizabeth Rondelli e Micael Herschmann, no artigo A mídia e a construção do biográfico: o sensacionalismo da morte em cena (2000, p. 204):

"Esse tipo de material mediático - obituários, artigos que resumem trajetórias de vida e obra, exibição televisiva de funerais, programas que rendem homenagens, etc. - apresenta-se como um objeto privilegiado para a discussão da fronteira e da articulação entre as memórias individuais e coletivas (nacionais) hoje. Tais narrativas sugerem um 'enquadramento da memória', a inserção de uma trajetória de vida particular na memória coletiva, e se oferecem como um recurso estratégico e, por vezes, didático, para se proceder à reconstrução de alguns momentos da história nacional e/ou coletiva que tenta arrebatar o público, sobretudo pelo impacto emocional causado pela morte de um personagem público definido, inserindo, desta forma, este público num certo momento da história."
No último final de semana, a locução esportiva perdeu uma de suas referências: Luciano do Valle, que faleceu no sábado enquanto estava se preparando para mais uma viagem, a fim de cobrir o jogo entre Atlético Mineiro e Corinthians, pela primeira rodada do Campeonato Brasileiro. E como homenagear, de uma forma sensível e justa, uma pessoa que se tornou ícone para o público, e que se despede no meio de um feriado prolongado que abrange a Páscoa e o dia de Tiradentes?

Muitas foram as iniciativas para tentar amenizar a tristeza dos amigos e admiradores e para explicitar a importância de Luciano para o esporte brasileiro como um todo, e o Grupo Bandeirantes conseguiu exprimir o sentimento de todos os colegas próximos por meio de um vídeo - mostrando partes importantes da trajetória do locutor - e de toda a cobertura do velório, ocorrido na Câmara Municipal de Campinas durante todo o dia 20 de abril.

Além de colocar uma faixa preta desde a tarde de sábado, em sinal de luto, os narradores das partidas do Brasileiro no domingo ficaram um minuto sem falar no começo dos jogos, e ainda resgataram um antigo slogan da emissora, idealizado por Luciano entre os anos de 1980 e 1990: "Bandeirantes, o canal do esporte".

Uma outra ação para homenagear o narrador que iria para a sua 11ª Copa do Mundo foi feita pelo Ituano Futebol Clube, último time a se sagrar campeão paulista pela voz de Luciano, em sua última partida no dia 13 de abril. A TV Ituano reprisou, no dia 20, a última transmissão dele, no mesmo horário do jogo na semana anterior, causando uma boa repercussão entre os seguidores da página do clube e de sua televisão no Facebook.

Já o programa SportsCenter, da ESPN Brasil, já reconhecido por suas chamadas diferenciadas e por noticiar os fatos com bom humor, utilizou-se da escalada para fazer um homenagem "vállida" ao narrador, colocando as suas narrações nos momentos marcantes do sábado esportivo no Brasil e no mundo.



Como se pode observar, um dos principais desafios da mídia é lidar com o falecimento de uma pessoa, sem recorrer a sensacionalismos baratos, mas mostrando o legado que ele(a) deixa para as próximas gerações e continuando o trabalho

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