Por Manoel Marcondes Neto
Quando o Titanic afundou, lá no Atlântico Norte, há mais de século, a mídia não tinha o poder e a tecnologia que tem hoje, mas o mundo soube da tragédia rapidamente, em questão de horas.
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Quando o Bateau Mouche afundou na Baía da Guanabara, há um quarto de século, a mídia cobriu a tragédia “ao vivo”, em todas as suas cores.
Agora, o país inteiro parece que afundou no seu próprio “jeitinho”, com a tragédia da boate Kiss – beijo da morte dado, até hoje, em 238 pessoas que só queriam divertir-se por algumas horas, algo casual, habitual. Nenhum desses jovens estava lidando com bombas hidráulicas numa plataforma de petróleo, ou operando um guindaste numa pedreira, ou servindo numa guerra. Estavam, todos, no curso normal de suas vidas – o que, no Brasil, tornou-se um risco acima da média, acima do compreensível, acima do suportável. Por que?
1) Abre-se uma casa noturna, ou comércio, ou outro tipo de serviço (restaurante, lanchonete ou cabeleireiro) em qualquer lugar. Em imóveis não preparados para a atividade comercial, com o consequente atendimento a um grande número de pessoas. São imóveis (mal) adaptados. Quantas vezes você já se sentiu – “de cara”, ao chegar – entrando numa “arapuca”? Pense. Lembre.
2) Abre-se, quase sempre, o “negócio”, em “fase pré-operacional” (“soft opening”, para os bilíngües). Ou seja, sem todos os equipamentos, sem todos os profissionais, sem cumprimento a todas as normas – ou a nenhuma norma. É a maldição de uma malandragem que até parece bordão de humorista: “alvará em andamento...”. E isto acontece no nosso principal “portão de entrada”, o Rio de Janeiro – deu n’O Globo – falta alvará em 36 dos 56 espaços culturais do município do Rio de Janeiro. Pano rápido.
3) Uma dessas normas – de todos conhecida – é a necessária “aprovação” do “estabelecimento” pelo Corpo de Bombeiros. Ocorre que essa aprovação se resume a um conjunto de papéis, incluindo notas fiscais de compra de extintores na “firma tal”, do companheiro “bombeiro tal” mais “próximo” do local.
6) Os equipamentos de segurança (e as câmeras de “segurança”) estavam “em manutenção”, mas o estabelecimento já havia “notificado” as autoridades (in)competentes... e continuava funcionando.
7) Os extintores não eram adequados... Os extintores não funcionaram... Ninguém sabia operar os extintores... Quantas vezes ainda ouviremos, leremos, assistiremos isto?
E a última, também n’O Globo: no Brasil, só 11% das cidades têm Corpo de Bombeiros. É preciso mais notícia? E o Corpo de Bombeiros – as pesquisas confirmam, ano após ano – é a instituição em que os brasileiros mais confiam...
A mudança necessária é cultural. E por isso, árdua a e longa. Vamos encarar? Se não, é melhor ir cuidando do passaporte...
Agora, o país inteiro parece que afundou no seu próprio “jeitinho”, com a tragédia da boate Kiss – beijo da morte dado, até hoje, em 238 pessoas que só queriam divertir-se por algumas horas, algo casual, habitual. Nenhum desses jovens estava lidando com bombas hidráulicas numa plataforma de petróleo, ou operando um guindaste numa pedreira, ou servindo numa guerra. Estavam, todos, no curso normal de suas vidas – o que, no Brasil, tornou-se um risco acima da média, acima do compreensível, acima do suportável. Por que?
1) Abre-se uma casa noturna, ou comércio, ou outro tipo de serviço (restaurante, lanchonete ou cabeleireiro) em qualquer lugar. Em imóveis não preparados para a atividade comercial, com o consequente atendimento a um grande número de pessoas. São imóveis (mal) adaptados. Quantas vezes você já se sentiu – “de cara”, ao chegar – entrando numa “arapuca”? Pense. Lembre.
2) Abre-se, quase sempre, o “negócio”, em “fase pré-operacional” (“soft opening”, para os bilíngües). Ou seja, sem todos os equipamentos, sem todos os profissionais, sem cumprimento a todas as normas – ou a nenhuma norma. É a maldição de uma malandragem que até parece bordão de humorista: “alvará em andamento...”. E isto acontece no nosso principal “portão de entrada”, o Rio de Janeiro – deu n’O Globo – falta alvará em 36 dos 56 espaços culturais do município do Rio de Janeiro. Pano rápido.
3) Uma dessas normas – de todos conhecida – é a necessária “aprovação” do “estabelecimento” pelo Corpo de Bombeiros. Ocorre que essa aprovação se resume a um conjunto de papéis, incluindo notas fiscais de compra de extintores na “firma tal”, do companheiro “bombeiro tal” mais “próximo” do local.
4) Outras normas – da alçada da prefeitura (as cidades são os lugares onde os negócios efetivamente “estão”, apesar de valorosos deputados quererem criar ainda mais leis estaduais e federais sobre a matéria) – se traduzem noutros papéis. Mas ninguém vai lá checar. Nunca. Ou quase nunca. É tudo, sempre, explicado, depois da tragédia, assim: - os documentos estavam em ordem e cumpriam todas as exigências... Fiscalização? Esquece... Quando foi a última vez que você viu alguém talhado para trabalhar como fiscal (e interessado em fiscalizar, para o bem dos brasileiros) – prestando concurso para... fiscal? Quer-se o ótimo salário. Quer-se a ótima aposentadoria. Mas, o que fazer com o quotidiano e os 35 anos necessários para se chegar “lá”? “Concurseiros”, autodenominam-se.
5) Em todo e qualquer lugar há uma capacidade máxima para pessoas. Num banheiro, num cinema, num estádio. Mas, quem são os primeiros a forçar uma barra, junto ao “segurança”, para “dar uma entrada, rapidinho”? Nós mesmos.
6) Os equipamentos de segurança (e as câmeras de “segurança”) estavam “em manutenção”, mas o estabelecimento já havia “notificado” as autoridades (in)competentes... e continuava funcionando.
7) Os extintores não eram adequados... Os extintores não funcionaram... Ninguém sabia operar os extintores... Quantas vezes ainda ouviremos, leremos, assistiremos isto?
E a última, também n’O Globo: no Brasil, só 11% das cidades têm Corpo de Bombeiros. É preciso mais notícia? E o Corpo de Bombeiros – as pesquisas confirmam, ano após ano – é a instituição em que os brasileiros mais confiam...
A mudança necessária é cultural. E por isso, árdua a e longa. Vamos encarar? Se não, é melhor ir cuidando do passaporte...
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