Provavelmente muitas destas situações - nas artes plásticas, na arquitetura, em decoração de ambientes, na literatura, na música, entre outros campos - são frutos de produtos que se comportam como réplicas ou adaptações de outros originais, o que se chama de kitsch.
O termo kitsch é originado da língua alemã, e significa "trapacear, vender alguma coisa no lugar de outra" e, desde o século XVIII, é refletido como algo falso. Porém, segundo Christina Maria Pedrazza Sêga, em seu artigo O Kitsch está cult (2008, p. 02, grifos da autora), este conceito não possui apenas um significado negativo:
"Apesar de mais de um século de existência, a palavra kitsch ainda apresenta alguma confusão em seu significado, sendo muitas vezes interpretada como sinônimo de brega. Entende-se que uma coisa é brega quando está relacionada ao mau gosto. Este conceito não se estende necessariamente ao kitsch. Mesmo que muitos atribuam ao kitsch o conceito de mau gosto, nem sempre esse mau gosto é evidente aos olhos do consumidor ou do indivíduo que faz uso do kitsch, principalmente se o objeto for uma réplica do original. (...)
O conceito de kitsch ganhou uma dimensão que extrapolou o próprio conceito de arte, fazendo outros percursos e se infiltrando em diversos seguimentos de manifestações artísticas. A grande responsável por sua propagação foi a indústria cultural que reproduzia em série as obras de arte para agradar o gosto da classe média burguesa, perdendo com isso o grau de autenticidade dessas obras."
Segundo este mesmo texto, existem quatro fatores para que se classifique um objeto como kitsch: exagero, imitação, ocupação do espaço errado (um exemplo: pneus de carro enfileirados como brinquedo num parque) e perda da função original.
Na publicidade, existem vários exemplos de aplicações convincentes deste conceito, e que não apropriaram, ao produto ou serviço, uma imagem de mau gosto. Um deles é a campanha "Movimentos Artísticos", da marca de eletrodomésticos KitchenAid, que se utilizou de várias pinturas de fases da arte mundial, como Pop Art, Modernismo, Modernismo Brasileiro, Art Déco e Surrealismo, para comemorar os 92 anos da marca, tratando a culinária como uma arte.
A figura abaixo mostra uma intertextualidade entre a propaganda da batedeira Stand Mixer e o movimento do Surrealismo (mais fotos podem ser vistas na página da empresa no Facebook). Neste caso, o kitsch é visto na ocupação de um espaço errado (uma batedeira dentro de uma obra artística) e na perda da função original, por estar fora de uma cozinha (lugar mais habitual de se achar um aparelho desses).
O que se pode concluir deste case é que nem sempre o kitsch se mostra como algo brega ou constrangedor, mas, se for bem utilizado, pode enriquecer a campanha publicitária e incentivar mais pessoas a comprarem o produto.
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