quinta-feira, 28 de julho de 2011

Saber falar e saber ouvir (IV) - Kassab e o astral dos moradores de rua

Nunca é demais lembrar que as redes sociais, geralmente, não são ninhos restritos ou privativos: o que se faz e fala na Internet pode acarretar em consequências, positivas ou negativas, para a imagem de uma marca ou de uma pessoa, seja ela uma celebridade internacional, um político ou um colaborador que critica a empresa em seus perfis nas redes sociais.

Muitas vezes, algumas marcas ou indivíduos constroem seus perfis nas redes sociais sem constar uma finalidade de interação com o público e, quando tentam construir, o fazem, em certos momentos, de forma impensada e infeliz, como mostram os autores Carolina Presotti Almeida e Leonardo Magno Lopes da Silva no artigo Comunicação corporativa nas mídias sociais: o Twitter como ferramenta de relacionamento entre organizações e seus públicos (2011, p. 03):

"É possível que algumas empresas entraram nas mídias sociais para afirmar a imagem de “antenadas” ou modernas para o mercado. Entretanto, os consumidores passaram a exigir mais do que a presença nas mídias. Eles reivindicavam informações mais detalhadas, além de cobrar um atendimento mais adequado nesses ambientes, como interatividade ou agilidade. (...)"

Este atendimento adequado, quando consideramos o aspecto comunicacional, pode se referir também a como uma frase ou notícia é repassada ao público, desprovida de estereótipos, preconceitos e de expressões inadequadas. Um dos mais recentes casos de declarações polêmicas nas redes sociais foi a frase dita no microblog Twitter, no dia 25 de julho de 2011, pelo prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, durante uma visita a um albergue da Zona Leste da capital paulista. O político escreveu: "O astral dos moradores de rua está muito bom, acho que é porque o frio deu uma trégua hoje" .

Muitos perfis no Twitter se indignaram com o post do prefeito, uns alegando que este não teve sensibilidade na hora de elaborar a frase e outros atribuindo até slogans e perguntas consagradas, como "@gilbertokassab_ por que no te callás (sic)?", dentre outras postagens criticando a forma de se expressar do político. Segundo o portal de notícias G1, Kassab não acreditou que sua frase foi mal interpretada, mas que a polêmica teve um "componente político". A resposta dele aos comentários sobre a frase foi:

“Vocês sabem que essa guerra no Twitter tem uma guerrinha política também. Eu vejo com a maior humildade qualquer manifestação. Acreditem em mim, é um trabalho extraordinário [feito no albergue Arsenal da Esperança]”. (...)
“É uma polêmica positiva até porque dá visibilidade para que as pessoas possam acompanhar o excelente trabalho que existe na cidade de São Paulo com relação aos albergues” 

Além disso, a Assessoria de Imprensa da Prefeitura explicou que Kassab estava se referindo ao astral dos moradores de rua que se encontravam no albergue, e não aos que continuavam nas ruas (informações retiradas do site da Band). Mesmo com este esclarecimento, não se pode negar que a maneira com que o político colocou a sua frase foi ambígua e provocou esta confusão e, provavelmente, uma modificação negativa em sua imagem. Nas "passarelas públicas" nas quais as redes de relacionamento se tornaram ao longo dos anos, qualquer passo fora da linha é sinônimo de queda, mesmo que seja leve.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Antes da bola rolar - Importância do diagnóstico para o processo de planejamento

O título deste post quer chamar a atenção para uma comparação metafórica entre o início do processo de planejamento e um treino de futebol. Mas o que realmente uma situação tem a ver com a outra?

Geralmente, quando um time de futebol vai jogar num campo completamente desconhecido ou que passou por mudanças significativas desde a última partida em que se disputou ali, é feito um treino de reconhecimento do gramado, a fim de verificar as suas condições - se, por exemplo, a drenagem está funcionando de maneira adequada ou se não há falhas na composição do gramado, como os chamados "morros artilheiros" - e de adaptar os jogadores e o esquema tático da equipe ao tamanho e condições do campo.
Como exemplo desta prática, um vídeo do reconhecimento do gramado do estádio Mario Alberto Kempes, da cidade argentina de Córdoba, onde a seleção brasileira fez sua segunda partida pelo grupo B da Copa América no dia 09 de julho de 2011, contra o Paraguai.
Metaforicamente, esta prática também acontece quando uma nova estratégia de comunicação surge ou se começa um novo projeto ou etapa produtiva numa empresa ou instituição: é necessário entender as condições do "campo de jogo", ou seja, o contexto situacional em que se encontram as pessoas e as situações que serão afetadas por este projeto, para não ser surpreendido com possíveis problemas e dificuldades.

Também é importante perceber se os "atletas" (no caso, os colaboradores/equipes de trabalho) e se os recursos financeiros e estruturais são suficientes para que a ideia possa sair do papel. Para isso, feita esta relação de fatores, realizar um bom diagnóstico, princípio de todo planejamento eficiente, é fundamental para que os resultados desejados aconteçam de fato.

Um exemplo de como o diagnóstico ajuda no exercício do planejamento é vísivel quando aplicado numa pequena empresa, como mostram Ana Cláudia Fernandes Terence e Edmundo Escrivão Filho no artigo As particularidades das pequenas empresas no planejamento estratégico: a elaboração de um roteiro prático (2001, p. 598):

"O diagnóstico estratégico pode ser dividido em análise externa, análise interna e determinação dos fatores críticos de sucesso. A pequena empresa encontra algumas dificuldades no levantamento das informações necessárias para o desenvolvimento do diagnóstico estratégico. Desta forma, as análises ambientais devem ser feitas a partir de alguns itens básicos, fazendo-se importante ressaltar que, quanto mais informações a equipe conseguir levantar, melhor será a elaboração do planejamento estratégico."

Esta última frase do excerto apresentado anteriormente reflete esta comparação: assim como o treinador de futebol precisa deste treino de reconhecimento para verificar as condições de um estádio, o profissional responsável pelo planejamento necessita observar os pontos fortes e fracos, as oportunidades e as ameaças de cada situação. Para os Relações Públicas, uma das profissões responsáveis por este planejamento, as pesquisas de opinião qualitativas e quantitativas são essenciais para que o diagnóstico seja bem sucedido.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Os caminhos das Relações Públicas no empreendedorismo

Uma das palavras que se encontra em evidência nos últimos anos é o chamado empreendedorismo. Segundo o "pai dos burros", o dicionário Michaelis on-line, empreender significa "resolver-se a praticar", executar, delinear certa situação, realizar algo, ter apreensões contínuas acerta de algum contexto. Na prática organizacional, ser empreendedor é ser uma pessoa que não tem medo de se arriscar e de lançar algo novo, seja uma ideia, um conceito, uma empresa ou outra estrutura, mas sempre se utilizando de criatividade e de inovação.
Na esfera comunicacional, este comportamento não pode ser diferente, afinal de contas é, muitas vezes, graças ao trabalho destes e de outros profissionais que a arte do empreendedorismo se realiza plenamente, inclusive utilizando-se de técnicas de Relações Públicas que precisam ter, dentre outras qualidades e requisitos, esta visão empreendedora.

Aliás, esta sigla RPE (Relações Públicas Empreendedoras) pode ser justificada baseando-se no contexto abordado pelas autoras Ana Carla Gagioni, Kay Zampieri de Figueiredo Tostes, Mariani Rufino Orthmeyer e Suellen Ramos Gouveia no artigo A atuação das Relações Públicas em empresas empreendedoras: estratégias de comunicação para a consolidação dos negócios (2003, p. 03-04):

"As Relações Públicas já são por si só uma atividade com espírito empreendedor. Cabe ao profissional desenvolver uma visão estratégica, utilizando a criatividade, inovação e iniciativa, assumir riscos calculados, sem temor de fracasso e rejeição, pois com seus erros e experiências adquire novos conhecimentos e desenvolve uma autoconfiança essencial para se lançar no mundo dos negócios.
Além disso, as Relações Públicas empreendedoras são capazes de auto-motivação, relacionada com desafios e atividades que acreditam, entusiasmando-se com idéias e projetos. São voltadas para o trabalho em equipe, delega responsabilidades e acredita nos membros, buscando sucesso nos resultados efetivos que as suas estratégias produzem."

Mesmo ainda cursando a graduação, os futuros relações-públicas já podem exercitar a "arte" de empreender, por exemplo, pela sua inserção nas empresas juniores existentes na faculdade. Para Mariana Carareto Alves, integrante da Diretoria de Projetos da Empresa Júnior de Relações Públicas (RPjr) da UNESP Bauru, o empreendedorismo é prática constante na faculdade e possui um vínculo muito forte com a versatilidade do profissional e o exercício de trazer inovação à prática comunicacional.

"Ser empreendedor é possibilitar as mais diversas oportunidades para alcançar o sucesso. O relações-públicas se torna um a partir do momento em que, de forma inovadora, consegue produzir idéias, elaborar estratégias, planejar, realizar ações capazes de transformar a comunicação efetivamente.
Nós, estudantes e profissionais de Relações Públicas, de um modo geral, temos em nosso perfil o empreendedorismo. Desenvolvemos essa característica constantemente na faculdade, no estágio, na profissão para que em nosso trabalho do dia-a-dia saibamos a melhor forma de lhe dar com as diversas situações que nos deparamos no mercado."

Portanto, para quaisquer profissionais que anseiam ser empreendedores, é necessário, utilizando-se da colocação acima, possuir uma vivência profissional, seja dentro ou fora dos muros da faculdade, para entender as situações que virão nos anos após o término do curso e, assim, poder enfrentá-las de forma mais consciente e segura.

Para que se possa entender melhor sobre o papel do comunicador-empreendedor e o seu perfil, o portal Nós da Comunicação produziu, em fevereiro de 2009, um vídeo em que o jornalista Ricardo Gandour, diretor de Conteúdo do grupo Estado, explica um pouco desta coragem de empreender, que exige paixão pela independência (não só jornalística, mas de criação e de planejamento de ideias). Mesmo sendo a fala de um jornalista, é importante entender como se traduz o pensamento de um comunicólogo acerca de sua visão empreendedora.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Parece, mas não é - O uso de publicidade subliminar e marketing de emboscada na divulgação de marcas

Mas o que poderia ser chamado de marketing de emboscada? É uma ação estratégica que tira proveito publicitário utilizando-se de um espaço num veículo de comunicação sem oficializar um contrato com os detentores do direito. Sérgio Almeida (2001, p. 11), citado por Letícia de Carvalho Viegas na monografia Fidelização dos clientes da CEJ Implementos Agrícolas LTDA (2010, p. 24), mostra como esta prática pode ser importante para a manutenção da presença das marcas no mercado:

"Praticou-se durante todo o século passado o "marketing de emboscada". O marketing que objetivava unicamente atrair o Cliente. "Atrair" já não é mais suficiente. Hoje, mais ou tão importante que "atrair" Clientes é ter a capacidade de mantê-los na empresa, fazer com que eles voltem sempre para fazer negócios. Isso é fidelização!"
 
Uma das estratégias para 'atrair" estes clientes é mostrar a marca da empresa em situações não tão comuns ao contexto em que esta se encontra. Até mesmo uma aparentemente simples comemoração de um gol no futebol pode abrigar um marketing de emboscada. No dia 10 de julho deste ano, o time do Palmeiras derrotou o Santos por 3 a 0, em jogo válido pelo primeiro turno do Campeonato Brasileiro. Os gols do time foram marcados por Maikon Leite, Maurício Ramos e Patrick e, nas comemorações, os atletas simulam dirigir um carro.

Neste caso, porém, não é um carro qualquer: desde junho de 2010, o clube tem como um de seus patrocinadores, a montadora Fiat e, para celebrar os 35 anos de atividades no Brasil, a marca orienta os jogadores a fazerem estas simulações, além de expor a hastag #Fiat35anos nas costas das camisas dos atletas, como se pode ver no vídeo a seguir. Uma ação simples, que envolve uma grande paixão dos brasileiros - o futebol -, e pontual que, aliada com o desempenho do time na partida, pode ser associada a bons resultados também no aspecto financeiro.



Por sua vez, também é muito utilizada pelas empresas a técnica da propaganda subliminar que, segundo as autoras Lidiane Patrícia da Cruz Fernandes e Robéria Nádia Araújo Nascimento no artigo O que há por trás da nuvem de fumaça: Uma análise das embalagens de cigarro (2010, p. 7), é "toda e qualquer influência captada pelo inconsciente do consumidor, afetando a decisão deste no ato da compra sem que ele perceba que está sendo induzido."

Há uma certa polêmica em relação à existência ou não de mensagens subliminares em músicas e propagandas, principalmente as de teor satânico, porém o que importa neste post é como as pessoas são influenciadas pelas mensagens que vão além dos aspectos mais visíveis ao consciente humano.

O mais interessante é que até mesmo profissionais renomados e experientes da propaganda que "provocam", de uma certa maneira, estas influências, acabam sendo também influenciados, até mesmo no ato de criar uma campanha publicitária por aquilo que não se percebe à primeira vista, mas que permanece no inconsciente das pessoas. Foi o que tentou provar o mentalista britânico Derren Brown neste vídeo que encerra este post.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Valorização da profissão - Assalto à imagem do Relações Públicas na sociedade

Como valorizar a imagem de uma profissão perante a opinião pública? Na maioria das vezes, mostrando exemplos positivos de pessoas (reais ou pertencentes a uma obra de ficção) que exercem dignamente a profissão que escolheram para trabalhar. Mas nem sempre esta imagem positiva é valorizada pela grande mídia.

Surgiu no dia 12 de julho último uma discussão no grupo de Relações Públicas da rede social Facebook acerca do filme brasileiro Assalto ao Banco Central, feito numa parceria entre as empresas Fox Film do Brasil, Globo Filmes, Telecine e NET, e que será lançado nos cinemas . O filme é baseado em fatos reais, porém com personagens ficcionais, e tem, como inspiração, o maior roubo a banco do século na América Latina. Em agosto de 2005, 164.7 milhões de reais foram roubados do Banco Central em Fortaleza, Ceará, sem que fossem disparados tiros ou alarmes. Três meses de planejamento e milhões de reais foram gastos para que o crime fosse bem sucedido.

Vários detalhes poderiam chamar a atenção de um profissional de comunicação, como o lançamento de um livro homônimo um pouco antes da estréia do longa metragem, podendo expressar, segundo a matéria inserida no site, um conceito transmídia, ou seja, "permite a exploração da ficção a partir de diferentes ângulos complementares." Ou ainda a complexidade do site promocional, que traz notícias reais atualizadas sobre o destino dos personagens reais que protagonizaram o assalto, um concurso cultural sobre o filme no Facebook, encerrado no dia 08 de julho, além de outros atrativos nas mídias sociais.

Porém, o que chamou a atenção de alguns participantes do grupo foi a presença do personagem Mineiro (interpretado por Eriberto Leão), codinome de Fernando Veronese, como o "Relações Públicas" do grupo. O nome da profissão está entre aspas neste caso porque ele cursou a faculdade de hotelaria e agia "como se fosse" um comunicólogo. Num vídeo exclusivo para o canal do filme no Youtube, Eriberto Leão explica como é o comportamento de Mineiro e porque ele é chamado de Relações Públicas do grupo assaltante.


Transcrevendo a fala do ator sobre o personagem, pode-se perceber a existência de vários estereótipos que pessoas não possuidoras de um conhecimento profundo sobre a profissão assimilam como uma verdade absoluta:

"O Mineiro é o RP do bando. Ele é responsável por fazer com que as pessoas não desconfiem da presença daqueles homens ali na vizinhança (...) porque ele é boa praça, ele conversa muito bem, ele é simpático, ele é galanteador, então as mulheres ao redor gostam dele porque ele está sempre deixando algo no ar."

O primeiro ponto a salientar é a dita produção de uma "máscara" pelo Relações Públicas, ou seja, a atuação seria a de manipular a população local de modo a que esta aceite e até aprecie a presença dos integrantes do grupo naquela região. Os relações-públicas não manipulam informações, mas as gerenciam e deixam transparecer somente a verdade das instituições atendidas.

Assim como no caso do vilão Fred, da novela Passione, o estereótipo de se admitir uma pessoa para exercer esta profissão somente através da beleza, da retórica e da sedução se faz novamente presente. Mais uma vez, não se consegue enxergar as verdadeiras funções que um relações-públicas exerce nas empresas, e uma delas é mostrada por Valéria de Siqueira Castro Lopes no artigo As Relações Públicas como gestor da imagem e a importância da mensuração dos resultados em Comunicação Corporativa (2005, p. 05):

"(...) a contribuição das Relações Públicas e, conseqüentemente, seu valor econômico residem no estabelecimento e manutenção de relações bem-sucedidas com os stakeholders e o resultado desses esforços seriam: a menor oposição destes públicos aos objetivos organizacionais e um ambiente propício aos negócios. Por isso, as investigações foram conduzidas com o propósito de identificar quais eram as práticas de Relações Públicas e de Comunicação empregadas pelo mercado, além de verificar como as Relações Públicas eram percebidas pelas organizações."

Assim, os profissionais de Relações Públicas precisam levar ao conhecimento geral a verdadeira identidade da profissão, para, assim, evitar que os estereótipos predominem no imaginário coletivo. 

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Relações Públicas e branding - Parceria importante na comunicação organizacional

Ter um preço bom no mercado ainda garante, por si só, uma grande quantidade de vendas a um produto? Mostrar os atributos, as vantagens e as qualidades daquilo que se é vendido já é totalmente suficiente? Nos primeiros anos do século XXI, estes tópicos, mesmo em conjunto e muito mais de forma individual, muitas vezes não bastam para que o consumidor se decida inteiramente pelos produtos e serviços de uma empresa ou por uma marca específica.

No dia 30 de junho, o portal Exame trouxe uma reportagem especial sobre as estratégias que algumas marcas utilizam no mercado para se diferenciar, não só em relação aos preços e à qualidade do produto ou serviço anunciado. Dentre estas técnicas para promover um discurso coerente e uníssono da marca, o processo de branding é um dos mais visados. Mas o que significa este termo? Utilizando-se de vários autores, Sandra Regina Rech e Daniela Nunes Farias, no artigo O branding como vantagem competitiva para marcas do setor de moda (2008, p. 03-04), mostram, resumidamente, como houve a origem do termo branding e como esta prática se popularizou no Brasil.

"O branding é um novo campo de especialização. Schmitt e Simonson (2002) relatam que o conceito e gerenciamento de marca remontam à década de 30, arquitetado por empresas de bens de consumo acabados como a Procter & Gamble. No Brasil, as primeiras ações de branding possuem um pouco mais de uma década (Rodrigues, 2006). Ainda nos anos 90, o marketing das empresas era voltado para a construção de marca sem considerar seu caráter simbólico. Atualmente, o valor simbólico das marcas passou a ser mais bem observado e seu destaque está no fato de que a marca é considerada como o maior ativo que uma empresa pode ter, pois que "mais que um produto, a marca vende um estilo de vida" (COBRA, 2007, p. 45). O branding está diretamente ligado à administração da marca, e surge com o propósito de levar as marcas além da sua natureza econômica, fazendo com que essas adentrem na vida dos consumidores e passem a fazer parte da sua cultura (MARTINS, 2005)." 

Muitas vezes, como foi dito na citação anterior, é necessário realizar um trabalho além do viés mercadológico para reforçar a imagem da marca e promover valores e atitudes que beneficiem a comunidade como um todo, e não somente o aspecto financeiro da empresa. Um exemplo de como isso pode acontecer está presente na indústria de comésticos Natura que criou, em 2005, o Movimento Natura, com o objetivo, segundo o site oficial do projeto, de desenvolver e incentivar vários projetos para transformar o país em um local melhor para se viver, engajando milhares de consultores em projetos como o AfroReggae, Canta Brasil (apoiados pela Natura), Crer para Ver e Respeito SP (idealizados pelo Movimento), dentre outros.

A seguir, está um vídeo institucional do Projeto Reciclagem, também idealizado por este Movimento, em que consultoras e consultores Natura recolhem voluntariamente embalagens de produtos e as direcionam para cooperativas de catadores, gerando menor impacto ambiental e inclusão social para as pessoas que ali trabalham.



E como os profissionais de Relações Públicas podem interferir para que o processo de branding possa funcionar com eficiência e gerar os resultados necessários? É necessário entender que o processo de gerir uma marca passa por várias facetas de responsabilidade deste profissional, como o monitoramento da imagem e reputação da marca, da qualidade dos relacionamentos entre os públicos interno e externo e da inserção de um conceito de marca. São estes aspectos que os autores Marcello Chamusca, Márcia Carvalhal e Henrique Wendhausen destacam no artigo As Relações Públicas como Ferramenta de Branding (2006, p. 13):

"(...) o branding pode ser uma ótima oportunidade para as relações públicas se valorizarem no ambiente corporativo e se estabelecerem como ferramenta útil de qualificação das relações organizacionais, uma vez que, a cada dia, percebemos a necessidade das grandes corporações buscarem a excelência nos relacionamentos como forma de estabelecerem e ampliarem seus negócios, além do desenvolvimento grandes marcas, cheias de significação, para uma sociedade dominada pelo consumo de significados."

Com isso, pode-se ver a importância do uso coerente e eficiente da Comunicação para construir um sólido branding para as empresas e suas marcas, e evitar que sua imagem se edifique sobre a areia e acabe se deteriorando na primeira "crise-tempestade" que houver.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Da televisão para a Internet - Convergências de mídias na transmissão da Copa América

Este post começa com uma pergunta: seria possível um computador ser colocado no interior de uma televisão, ou poderia ocorrer o processo inverso? Logicamente, no contexto físico, seria impossível abrir uma televisão para inserir um monitor, um CPU e outros hardwares presentes nesta máquina. Porém, dos pontos de vista tecnológico e midiático, a junção daqueles dois componentes é possível e se tornou uma ferramenta importante nestes primeiros anos do Século XXI.
Uma das grandes vantagens da convergência de mídias é a possibilidade de interrelacionar vários contextos e provocar uma maior interação entre eles. Como exemplo, Pierre Lévy (1999), citado por Eduardo Campos Pellanda no artigo Convergência de mídias potencializada pela mobilidade e um novo processo de pensamento (2003, p. 02), relaciona e diferencia os contextos midiáticos e orais, em relação a participação dos receptores e ao alcance de sua mensagem:

"A principal diferença entre o contexto midiático e o contexto oral é que os telespectadores, quando estão implicados emocionalmente na esfera do espetáculo, nunca podem estar implicados praticamente. Por construção, no plano de existência midiática, jamais são atores. A verdadeira ruptura com a pragmática da comunicação instaurada pela escrita não pode estar em cena com o rádio ou a televisão, já que estes instrumentos de difusão em massa não permitem nem uma verdadeira reciprocidade nem interações transversais entre participantes. O contexto global instaurado pelas mídias, em vez de emergir das interações vivas de uma ou mais comunidades, fica fora do alcance daqueles que dele consomem apenas a recepção passiva, isolada.”

A convergência de mídias, assim, pode contribuir para que o contexto oral possa se aproximar do midiático no que diz respeito ao espírito colaborativo que pode ser aflorado nos telespectadores, principalmente nestes últimos anos com a relativa popularização das mídias sociais e do acesso da grande parte da população à Internet.

Um exemplo bem sucedido desta convergência acontece desde a última quarta-feira, dia 06 de julho, quando o portal GloboEsporte.com começou a fazer a transmissão da Copa América pelo site de maneira mais irreverente e dinâmica, sem deixar de transmitir informações releveantes sobre as partidas e as seleções e utilizando-se das mídias sociais para atrair o público. Segundo matéria publicada no próprio portal, a equipe de jornalistas do site, que participam destas transmissões, é formada por José Ilan, Marcelo Russio, Cássio Barco, Zé Gonzalez e Cintia Barlem.

Porém, não é só este elenco que compõe os comentários e as análises das partidas, e é neste ponto que a convergência de mídias se faz presente: os apresentadores do Globo Esporte São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente, Tiago Leifert e Alex Escobar, além do humorista Felipe Neto, também se fazem presente em alguns jogos, com seus comentários e intervenções irreverentes, mostrando uma interação constante entre profissionais e programas de televisão e quadros especialmente feitos para a Internet, que se avolumou nos últimos anos.

Portanto, a convergência de mídias é um processo que já se tornou realidade e que necessita do trabalho eficiente dos comunicólogos para se concretizar, seja num ambiente de redação jornalística, seja numa empresa ou numa instituição pública ou privada. Para encerrar este post, a seguir está o vídeo de uma entrevista do autor do livro A Biblia do Marketing Digital, o consultor e palestrante Claudio Torres, ao jornalista Heródoto Barbeiro, no programa Mundo Corporativo da CBN, falando um pouco sobre convergência no modo de atendimento ao cliente, que pode ser comparado, metaforicamente, ao "atendimento jornalístico" dado ao público que quer ser bem informado e participar da construção da notícia.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Festas juninas no Brasil: manutenção da tradição x influência midiática - Festa de São João em Bocaina

Como já foi dito numa das últimas postagens deste blog, há um verdadeiro debate acerca de como a influência de elementos da Indústria Cultural pode ajudar na manutenção ou na destruição de tradições culturais centenárias, especialmente as relacionadas com o período das Festas Juninas. Um exemplo de como esta linha tênue ocorre aconteceu no último mês de junho, na cidade de Bocaina, interior de São Paulo.
Para comemorar a festa do padroeiro da cidade, São João Batista, há mais de um século, é feita uma grande fogueira em frente à Igreja Matriz, que representa uma tradição católica: Santa Isabel combinou com Maria que, quando seu filho João Batista nascesse, iria acender uma fogueira para marcar este momento.

Em Bocaina, quando o relógio marca meia-noite do dia 24 de junho, após a benção proferida pelo sacerdote, fiéis devotos do santo passam descalços sobre o braseiro da fogueira, para demonstrar a sua fé ou para fazerem/cumprirem promessas, e garantem que não se queimam ao atravessar este "tapete" de brasas. Algumas pessoas, no entanto, passam sem a devida preparação (física e espiritual) para se aparecer perante as câmeras ou quando estão alterados pela bebida ou por outros fatores: nesses casos, é mais comum ver pessoas queimando os pés e indo, posteriormente, à Santa Casa. Nos mais de cem anos de tradição, não se tem notícia de nenhum ano em que ninguém passou pela fogueira.

Esta festa se tornou uma das mais tradicionais Festas Juninas do interior paulista, sendo divulgada em todas as afiliadas locais de emissoras como Rede Globo, SBT e Rede Record. Houve até uma tímida (em relação ao horário de exibição, que ocorreu na madrugada) projeção nacional no ano de 2009, com a exibição de uma matéria feita pelo repórter Rodrigo Leitão no programa A Noite é uma Criança, na TV Bandeirantes. Essa matéria ressaltou as tradições da festa, mostrando a procissão do mastro, a Missa e a passagem dos fiéis pelas brasas.



Porém, uma grande oportunidade de exposição das tradições surgiu neste ano de 2011, com a vinda de uma gravação do programa Pânico na TV!, da RedeTV! O quadro escolhido para ilustrar a chegada da equipe até Bocaina foi o do personagem Christian Pior, chamado A Glamurosa Vida da Classe C, em que são mostradas festas e costumes de cidades simples e pequenas do Brasil. Com muita ironia e demasiado uso de sarcasmo, Pior, representante alegórico de uma classe com maior poder aquisitivo, visita as cidades e interage com seus habitantes. A matéria em Bocaina foi gravada no dia 23 de junho e exibida no dia 03 de julho, e está disponível para visualização a seguir.



Já no começo do vídeo, há um detalhe que chama a atenção e que se repete por toda a matéria: não se cita, em nenhum momento, o nome da cidade; somente há referências ao que diz respeito a "interior de São Paulo". Além disso, a passagem dos fiéis pela brasa é comparada a um "esporte radical da classe C", pelo perigo exposto ao se passar pela fogueira.

Depois dessa introdução, Pior começa a entrevistar algumas pessoas, dentre elas os homens responsáveis pela organização da fogueira - que garantem a ausência de prêmios para quem passa, outros com nomes estranhos (acompanhados por vídeos de batidas de carro), um professor de musculação fora dos "padrões estéticos", algumas meninas que começam a assediá-lo e não enxergam a etiqueta de grife da roupa do personagem, outras pessoas que se aglomeram em frente à fogueira esperando a passagem dos fiéis.

Com isso, Pior ainda reclama de como as pessoas gritam, como se tivesse jogado milhares de baratas em cima delas e mostra a chamada "Juju da classe C". Nem o padre da paróquia escapou das perguntas ácidas e intertextuais de Pior, relacionando "latim" com "latindo", e tentando convencê-lo a converter a Rua Augusta. Depois, a matéria mostra o personagem subindo no palco, sem mostrar os cantores que estavam se apresentando por lá.

Apenas na segunda metade da matéria de oito minutos é que se mostra as pessoas que passaram pela fogueira, e uma pergunta que se repetiu a vários deles era se tinham plano de saúde, como se aquele gesto pudesse provocar alguma consequência, e ainda houve a comparação com o feito de Dani Bolina, que conseguiu andar sobre as águas num espaço específico por certo período de tempo. Por fim, Pior não tem coragem de passar na fogueira e entrevista as pessoas que atravessaram os braseiros.

O mais intrigante nesta reportagem é que a conotação religiosa é deixada totalmente de lado, assim como o cuidado em mencionar o nome da cidade (como já foi visto anteriormente) e de se contar a história desta tradição aos telespectadores. Com esses fatores, a pergunta fica: a exposição de tradições culturais na mídia pode ajudar ou atrapalhar a sua perpetuação para as gerações futuras? Como a mídia pode ser usada para contribuir para a preservação histórica de uma tradição, não esteriotipando-a perante a sociedade?

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Memória e resgate profissional - Relações Públicas com muitas histórias para contar

Quem nunca teve uma história para contar, por mais simples ou complicada, por mais alegre ou triste ou por mais esquisita ou divertida que seja? Quem já relatou algum fato do passado com todos os detalhes, seja ele bom ou ruim, seja valorizando uma conquista ou lamentando uma perca? Com essas perguntas, pode-se concluir que dar valor a cada história é importante para que a própria vida do indivíduo tenha sentido, pois ele saberá de onde veio e para qual lugar ele poderá chegar.

Assim também acontece com as empresas: graças ao trabalho de profissionais, principalmente do cenário da Comunicação e da História, há, atualmente, um grande interesse pelo resgate institucional da história da organização, que consiste em buscar fatos, objetos, expressões midiáticas e pessoas importantes do passado que contribuem para o momento atual e futuro de uma organização. Este interesse é justificado por Ana Maria Strohschoen no artigo Um Estudo sobre como algumas empresas da região trabalham seu Histórico: o que pode ser Memória Institucional no contexto destas práticas (2006, p. 09):

"Resgatar a história passou a ser, assim, um projeto importante para muitas empresas que perceberam que tanto os registros físicos do passado como as pessoas que vivenciaram os momentos históricos estavam se perdendo. Com eles, ia-se também a compreensão dos processos passados e, conseqüentemente, de seus reflexos no presente. E parte do know-how técnico-administrativo e o conhecimento dos valores que marcaram a cultura original da empresa igualmente ficavam distantes da realidade das novas gerações de gestores. (...)"

E por que não aplicar estas técnicas de resgate da memória também no âmbito profissional? No último dia 30 de junho, foi lançado o blog História das Relações Públicas: textos e resumos, um projeto de autoria dos alunos do 3º ano de Relações Públicas da UNESP Bauru, sob a coordenação do Prof. Dr. Célio José Losnak. Segundo o texto de apresentação do blog, o objetivo do projeto é:

"apresentar uma relação de textos acadêmicos abordando aspectos da História das Relações Públicas e oferecendo, aos alunos e estudiosos da área, material para aprofundar o conhecimento em torno da trajetória profissional, das transformações do conhecimento e dos debates em torno da teoria e prática das Relações Públicas no Brasil."

São 48 textos de alunos que resumem obras conhecidas e reconhecidas sobre a história das Relações Públicas no Brasil em seus vários aspectos, desde o momento do aparecimento histórico da profissão, passando pela celebração dos 50 anos dos primeiros cursos regulares no Brasil, os principais fatos do centenário da profissão em terras brasileiras (1906-2006), até os mais diversos enfoques das Relações Públicas (comunitárias, internacionais, nos movimentos sociais, na área organizacional, na ditadura, entre outros).

Este blog mostra a importância de se enxergar a história da profissão, reconhecer seus possíveis erros no passado, para não os cometer no presente e no futuro, e rememorar os grandes acertos e descobertas que possibilitaram a existência e a perseverança destes profissionais.

É também valorizar os autores (pesquisadores, professores, discentes e profissionais) que contribuíram para que o arsenal teórico de Relações Públicas pudesse existir e ser acessível a tantas pessoas.

É, por fim, incentivar a nova geração de profissionais advindos da faculdade a (re)construir a história desta atividade com suas próprias mãos, obras, ideias e significados. E esta foto é a da sala que fez este trabalho acontecer!