No Brasil, hoje, as Relações Públicas (RP) se destacam tanto como
prática profissional e empresarial como acadêmica. Não podemos mais pensar em
uma atuação consequente na área sem aliar conhecimento científico às
experiências práticas. O mercado exige aprendizado continuado e capacitação
permanente, não só na área específica, como também nos campos “matrizes” de RP: Sociologia, Psicologia, Filosofia, Economia,
Administração, Marketing, Sistemas, entre outros.
RP: história recente. Nos
Estados Unidos e no Brasil
Com o surgimento da atividade de relações públicas em 1906, a partir do
pioneiro trabalho do ex-jornalista Ivy Leei no assessoramento de
imprensa com vistas à melhoria da imagem do magnata John Rockefeller diante da
opinião pública estadunidense, tornando-se de “empresário insensível e
ganancioso” um dos chamados robber barons
- em um “grande
investidor e incentivador da Filantropia”, a
então nova profissão foi ganhando formato bem diferenciado. A propósito, o
também milionário Andrew Carnegie viria a ser, depois, outro daqueles barões a
ter mudada sua imagem pública a partir de ações de relações públicas.
No Brasil a profissão tem início em 1914, a partir do trabalho do engenheiro
Eduardo Pinheiro Lobo, relações-públicas da The
São Paulo Tramway Light and Power Company Limited, depois apenas Light
Serviços de Eletricidade e, atualmente, Eletropaulo. Pinheiro Lobo é
considerado o patrono da profissão no país.
Quatro décadas se passaram até que a atividade fosse oficializada no país.
Em 1951, surge o primeiro departamento específico de Relações Públicas em uma
empresa brasileira, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). E em 1954 é fundada
a ABRP (Associação Brasileira de Relações Públicas), mais tradicional entidade
do setor e principal esteio para a criação, em 1969, do Sistema
Conferp-Conrerp, amparando a profissão regulamentada desde 1967ii, sob
um código de conduta ética específico. Edson Schettine de Aguiar, presidente do
Conferp na gestão 1992-1995, sobre esta fase, relata
Maria Stella Thomazi, que exerceu com grande brilho todas as funções
diretivas da Associação Brasileira de Relações Públicas, em sua dissertação de
mestrado, ao analisar a questão “Administração VERSUS Comunicação Social”,
lembra que, até 1968, os profissionais de relações públicas registravam-se no
Conselho Regional de Técnicos de Administração (CRTA), nos termos da Lei 4.769
de 09/09/1965iii.
Na academia, os cursos de Relações Públicas têm seu início no mesmo ano
de 1967, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, como
uma habilitação dos recém-criados cursos de Comunicação Social.iv Posteriormente difunde-se o ensino superior de Relações Públicas por todo o
país. Hoje, há no Brasil quase uma centena de cursos de bacharelado na área.
Necessidade de aprimoramento
surge logo, no campo
Logo ao ingressar no campo de trabalho, os novos profissionais sentem a
necessidade de aprimorar seus conhecimentos a fim de, além de atualizar suas habilidades
estratégicas de implementação de projetos e planos de Relações Públicas,
agregar mais conhecimentos de Marketing, de Economia Política e de Direito,
visando sua integração ao pensamento complexo e global hoje presente nas
organizações.
Nesse contexto, muitos procuram capacitação em cursos de especialização
em comunicação empresarial ou “corporativa”, ou de Administração, de Marketing
e Relações Internacionais, entre outros. Aqueles que visam uma carreira acadêmica
recorrem a programas de mestrado ou doutorado em Ciências da Comunicação, ou em
outras áreas do conhecimento.
Falta, claramente, o stricto sensu na área de Relações Públicas. E não
só para atender à necessária educação continuada dos próprios relações-públicas
de formação, mas, também, para prover conhecimentos técnicos a outros bacharéis
interessados na visão diferenciada de Relações Públicas sobre os negócios.
Área, no CNPq, é uma só:
Relações Públicas e Propaganda - ambas sub-áreas carentes de aprofundamento científico
Os programas de mestrado e doutorado em Ciências da Comunicação, em sua
maioria, cobrem as áreas de Jornalismo, de Rádio e TV, Cinema, Semiótica e de
Cultura. O enfoque é específico em criação, mediação e recepção, deixando a
desejar em termos de conteúdos voltados a temas candentes como mídia comercial,
tecnologias de comunicação aplicadas a negócios e comunicação de marketing.
Hoje, existem no país menos de três dezenas de cursos de pós-graduação stricto sensu -
mestrado e doutorado - na área de Comunicação Social. É
pouco. E urge, portanto, a criação de cursos de Mestrado e Doutorado específicos
em Relações Públicas - o que se justifica pela
avalancha atual de demandas pela atividade e seus perfis especializados. As
maiores empresas de Relações Públicas, tais como Edelman Worldwide, Hill and
Knowlton, Burson-Marsteller e Porter Novelli, estão no país e não raro “importam”
profissionais, porque aqui o mercado viciou-se na prática “torta” de contratar
jornalistas de redação para exercer as chamadas “relações com a imprensa“ – algo impensável nos países
mais desenvolvidos, onde tal prática é tida como típico conflito de interesses - algo imoral, antiético e ilegal.
Apesar de tudo, o Brasil notabiliza-se pela qualidade de seus pesquisadores
na área. Na Intercom - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares
da Comunicação - e, mais recentemente, na
Abrapcorp - Associação Brasileira de
Pesquisadores de Comunicação Organizacional e Relações Públicas -, produz-se conhecimento que se difunde em publicações especializadas. O Brasil é tido como um país relevante em termos de pensamento
na área de Relações Públicas. Só para citar uma aproximação recente, temos
James E. Grunig, um dos seus maiores pesquisadores, vem trabalhando em parceria
com pesquisadores brasileiros. Seu livro em conjunto com Maria Aparecida
Ferrari e Fábio França, intitulada “Relações Públicas: teoria, conceito e
relacionamentos”, de 2009, é produto desta colaboração.v
O país não fica fora do seleto círculo de pesquisadores reconhecidos internacionalmente
na área com autores como Cândido Teobaldo de Souza Andrade e seus “Fundamentos psicossociológicos das
Relações Públicas”; Fábio França, com o estudo sobre a “Conceituação lógica dos públicos”; Cicilia Krohling Peruzzo,
com o seu pioneiro “Relações públicas no modo de produção capitalista” e Roberto Porto Simões com os títulos:
“Relações Públicas: função Política”, “Relações Públicas e Micropolítica” e “Informação,
inteligência e utopia: contribuição para uma teoria de relações públicas”.
A professora titular da matéria, na USP, Margarida Kunsch - cujas obras, a começar
pelo paradigmático “Planejamento de relações públicas na comunicação integrada”-
pontifica em todos os concursos públicos brasileiros e é referência
internacional no campo.
Pode citar-se, também, Luiz Beltrão, que contribui com seus estudos sobre “Folkcomunicação”, José Benedito Pinhovi e Roberto Fonseca Vieiravii - autores de consolidada produção em Relações Públicas - além de novos pesquisadores ávidos pelo desenvolvimento das pesquisas em Relações Públicas, como Daiana Stasiak com seus estudos em Relações Públicas Digitais, com o conceito de “webRP” e Marcello Chamusca, com o conceito de RP aplicado à Realidade Virtual Aumentada a partir do uso das tecnologias móveis de comunicação.
Pode citar-se, também, Luiz Beltrão, que contribui com seus estudos sobre “Folkcomunicação”, José Benedito Pinhovi e Roberto Fonseca Vieiravii - autores de consolidada produção em Relações Públicas - além de novos pesquisadores ávidos pelo desenvolvimento das pesquisas em Relações Públicas, como Daiana Stasiak com seus estudos em Relações Públicas Digitais, com o conceito de “webRP” e Marcello Chamusca, com o conceito de RP aplicado à Realidade Virtual Aumentada a partir do uso das tecnologias móveis de comunicação.
Tais exemplos - que não esgotam a produção - são suficientes para mostrar a dimensão que o campo de
estudos e pesquisas na área pode alcançar. O que não é pouco, ao constatarmos a
ainda curta “vida acadêmica” que possuem as Relações Públicas frente a outros campos mais
longevos.
A partir desta análise, inúmeros profissionais e estudiosos da área já percebem
a necessidade premente da implantação de programas de mestrado e doutorado
específicos em Relações Públicas, não se limitando esta demanda somente ao
Brasil, mas, também, a toda a América Latina. Mãos à obra, pois.
(*) Autores
Ewerton Luis Faverzani Figueiredo é relações-públicas graduado pela
Universidade Federal
de Santa Maria (UFSM). Sócio-fundador e conselheiro do IPMS - Instituto
de Pesquisa em
Memória Social (www.memoriasocial.com.br). Conrerp/4a. Região, reg.
3270.
Manoel Marcondes Machado Neto é relações-públicas graduado pela
Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (UERJ). Doutor em Ciências da Comunicação (USP) e
secretário-geral do
Conrerp/1a. Região (2010-12). Edita o site www.rrpp.com.br. Conrerp
RJ/1a. Região, reg.
3474.
iIvy Lee fora jornalista no The New York Times e percebeu
que, ao lado da propaganda (paga, e remunerada às agências por percentual)
ainda muito tosca e apenas vendedora, teria lugar uma outra forma de relacionamento
com a opinião pública “via” imprensa. Exemplarmente,
abandonou a redação - hoje, nos EUA e na Europa o
assessoramento de imprensa e o exercício do jornalismo são incompatíveis, por
conflituoso e anti-ético - e passou a dedicar-se a uma nova
atividade, inicialmente como profissional liberal, depois como empregado em
empresas. Surgiam as relações públicas profissionais - divulgação
junto à imprensa de temas propostos pelas organizações em seu exclusivo
interesse. Não paga aos veículos, a atividade de relações públicas (remunerada
à base de honorários fixos) ganhou, na mídia, muito tempo depois, o apelido de ”free
publicity”, ou mídia espontânea, numa tradução que os jornalistas brasileiros
reprovam. 1906 é um marco porque data o primeiro “press
release” emitido por Lee, “abrindo” a
empresa aos jornalistas após um grande acidente ferroviário em Atlantic
City. Em 1919 deixou o emprego na Pennsylvania Railroad e fundou sua própria
empresa de consultoria de relações públicas, a Ivy Lee & Associates.
iiDe 1965 a 1967 os relações-públicas em exercício no Brasil
registravam-se no Conselho Regional de Técnicos de Administração (CRTA). E de
1967 a 1969 cumpriu-se o prazo de dois anos para a concessão do registro
profissional próprio (no Conselho Regional de Profissionais de Relações
Públicas - Conrerp) aos que praticavam a atividade sem formação específica
(concessão de provisionamento profissional). De 1970 em diante os relações-públicas
profissionais serão apenas aqueles bacharéis em Comunicação Social com
habilitação específica em Relações Públicas.
iii “Convergência é a palavra” (Intermezzo),
in MACHADO NETO, Manoel Marcondes. Relações Públicas e Marketing: convergências
entre Comunicação e Administração. Rio de Janeiro, Conceito Editorial. 2008. P.
102.
ivNa década de 1970, as duas áreas estiveram confrontadas na
realização da XI Conferência Interamericana de Relações Públicas (1973), quando
a Delegação Brasileira apresentou uma tese do Prof. Caio Amaral com a sugestão
de que o ensino de relações públicas fosse ministrado nas Escolas de
Administração. O assunto era bastante controvertido, pois o Governo Brasileiro
já havia decidido que o ensino de relações públicas ficaria inserido no âmbito
da Comunicação Social, nos termos da Resolução 11, de 06/08/1969, após
brilhante parecer do professor Celso Kelly, abrangendo também o ensino de Jornalismo,
de Publicidade & Propaganda e de Editoração, estabelecendo a polivalência
do diploma de Bacharel em Comunicação Social. “Convergência é a
palavra” (Intermezzo), in MACHADO NETO, Manoel Marcondes. Relações Públicas
e Marketing: convergências entre Comunicação e Administração. Rio de Janeiro,
Conceito Editorial. 2008. P. 101.
v Link para resenha: (http://revistaorganicom.org.br/sistema/index.php/organicom/article/download/219/319).
vi Autor, entre outras obras, de “Relações
públicas na internet: técnicas e estratégicas para informar e influenciar
públicos de interesse”. 2a. edição. São Paulo, Summus.
2009; “Propaganda institucional: usos e funções
da propaganda em relações públicas”. 4a. edição. São Paulo, Summus. 2003; “O
poder das marcas”. São Paulo, Summus. 1996.
viiAutor, entre outras obras, de “Relações
Públicas: opção pelo cidadão”. Rio de Janeiro: Mauad, 2002; “Comunicação Organizacional: gestão de relações públicas”. Rio de Janeiro, Mauad. 2004 e "Jornalismo e Relações
Públicas: ação e reação, uma perspectiva conciliatória possível (com Boanerges Lopes). Rio de Janeiro, Mauad. 2004.
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